Guardar Convênios e Honrar o Sacerdócio
Em algumas assembléias legislativas do mundo existem grupos denominados “a leal oposição”. No evangelho de Jesus Cristo, não encontro esse princípio.
Irmãos, nunca antes estive diante deste grande grupo do sacerdócio com maior humildade do que nesta noite. Fervorosamente oro não só por compreensão, mas também para que eu não seja mal interpretado. Honestamente peço ajuda ao Espírito Santo e compreensão a meus irmãos. Declaro meu amor e profundo respeito pelo sacerdócio desta igreja. Em breve, vós, rapazes e meninos, recebereis a responsabilidade de dirigir espiritualmente vossos lares e a Igreja. É essencial que entendais a importância de guardar os convênios e honrar o sacerdócio que portais.
Como prefácio aos temas específicos que desejo discutir, creio ser importante estabelecer alguns princípios fundamentais, como os entendo. O propósito da obra do Senhor é “proporcionar a imortalidade e a vida eterna ao homem” (Moisés 1:39). Deus tem dado o sacerdócio ao homem várias vezes desde os dias de Adão, a fim de executar o grande plano de salvação para toda a humanidade. Por meio da fidelidade, as bênçãos transcendentais de vida eterna fluem da autoridade do sacerdócio.
Para que essas bênçãos do sacerdócio floresçam, há uma constante necessidade de união no sacerdócio. Devemos fidelidade à liderança que foi chamada para presidir e portar as chaves do sacerdócio. As palavras do Presidente J. Reuben Clark Jr. ainda ecoam em nossos ouvidos: “Irmãos, sejamos unidos.” Ele explicou:
“Uma parte essencial da união é a lealdade.… Lealdade é uma qualidade bastante difícil de se possuir. Requer a capacidade de abandonar o egoísmo, a cobiça, a ambição e todas as qualidades inferiores da mente humana. Não se pode ser leal a menos que se esteja disposto a render-se.… As preferências e desejos pessoais devem ser eliminados e deve-se ver apenas o grande propósito que se acha adiante” (Imortalidade e Vida Eterna, Curso do Sacerdócio de Melquisedeque, 1969, p. 178).
Qual é a natureza do sacerdócio? O Profeta Joseph Smith disse que o sacerdócio “é a autoridade eterna de Deus, por meio da qual o universo foi criado e é governado, as estrelas vieram a existir e a grande autoridade da exaltação opera em todo o universo.” (Discourses, p. 130; Gospel Kingdom, p. 29).
O Profeta Joseph Smith ensinou ainda que o sacerdócio “foi instituído ‘desde antes da fundação da terra, quando as estrelas da alva juntas alegremente cantavam e todos os filhos de Deus rejubilavam’, e é o sacerdócio maior e mais santo, segundo a ordem do Filho de Deus” (Ensinamentos do Profeta Joseph Smith, p. 162). Não há dúvida de que o poder do sacerdócio excede nossa compreensão. O Profeta Joseph Smith, na versão inspirada da Bíblia, falou sobre este grande poder, ensinando que todos os que são ordenados por esta ordem e este chamado devem ter poder, pela fé, de fender montanhas, dividir mares, secar rios e tirá-los de seu curso; afrontar os exércitos das nações, dividir a terra, romper todos os laços, permanecer na presença de Deus, pela vontade do Filho de Deus que é desde antes da fundação do mundo (vide TJS, Gênesis 14:30-31).
O sacerdócio opera num sistema de ordem sublime. Não é, entretanto, de natureza instável. Deve ser conferido por ordenação, com ofícios específicos. E portado por homens que estão sob o sagrado dever de realizar a obra de Deus para bênção de homens, mulheres e crianças igualmente. Ninguém pode declarar ter a autoridade do sacerdócio a menos que esta lhe tenha sido abertamente conferida por aqueles que a possuem e “que a Igreja saiba que [a pessoa] tem autoridade e que foi apropriadamente ordenad(a) pelos líderes da Igreja” (D&C 42:11). O exercício dos poderes do sacerdócio é governado pelas chaves do sacerdócio. Essas chaves estão nas mãos das Autoridades Gerais e locais que presidem a Igreja. Aqueles que detêm as chaves são responsáveis pelo ritmo de liderança e orientação da obra do Senhor na terra. Claramente, como Alma afirma, os pastores da Igreja são responsáveis pela proteção do rebanho:
“Pois qual é o pastor entre vós que, tendo muitas ovelhas, não zela por elas, para que os lobos não se aproximem e devorem seu rebanho? E, se um lobo entra no meio de seu rebanho, não o põe para fora?” (Alma 5:59).
Aqueles que possuem chaves, as quais incluem a autoridade judicial ou disciplinar, têm a responsabilidade de manter a Igreja limpa de toda iniqüidade (vide D&C 20:54; D&C 43:11). Bispos, presidentes de estaca, presidentes de missão e outros que têm a responsabilidade de manter a Igreja pura devem realizar esse trabalho num espírito de amor e bondade. Não deve ser feito em espírito de punição, mas sim de ajuda. Todavia, não é de modo algum bom que os oficiais presidentes de um irmão ou irmã que transgrediu façam vista grossa a suas transgressões. Algumas palavras envolvendo este assunto vêm do Presidente John Taylor:
“Ademais, tenho ouvido falar de alguns bispos que têm tentado encobrir as iniqüidades dos homens; a estes eu digo, em nome de Deus, que terão que se responsabilizar por tal iniqüidade; e se qualquer um de vós quiser ter parte nos pecados dos homens, ou apoiá-los, terá que responsabilizar-se por eles. Estais ouvindo, bispos e presidentes? O Senhor vos responsabilizará por isso. Não estais em posição de perverter os princípios de retidão nem de encobrir as infâmias e corrupções dos homens” (em Conference Report, abril de 1880, p. 78).
A respeito deste assunto, exortamos os irmãos presidentes a buscarem o Espírito do Senhor, estudarem as escrituras e o Manual Geral de Instruções e serem guiados por eles. A disciplina da Igreja não é limitada apenas aos pecados sexuais, mas inclui outros, como assassínio, abortos, roubo, furto e outras desonestidades; desobediência deliberada às regras e regulamentos da Igreja, defesa ou prática da poligamia, apostasia, ou qualquer outra conduta não cristã, incluindo desafio ou escárnio ao ungido do Senhor, contrária à lei do Senhor e à ordem da Igreja.
Como funciona o sacerdócio? As decisões dos líderes e dos quoruns do sacerdócio devem seguir o padrão dos quoruns presidentes. “As decisões destes quoruns…serão feitas em toda justiça, em santidade, em humildade de coração, mansidão e longanimidade, em fé, virtude e conhecimento, temperança, paciência, piedade, amor fraternal e caridade” (D&C 107:30).
Em algumas assembléias legislativas do mundo, há alguns grupos denominados “a leal oposição”. No evangelho de Jesus Cristo não encontro esse princípio. O Salvador deu-nos este solene aviso: “Sede um; e se vós não sois um, não sois meus” (D&C 38:27). O Senhor deixou claro que, em cada quorum presidente, toda decisão “deverá ser tomada pela voz unânime do mesmo; isto é, todo membro de cada quorum deve estar de acordo com suas decisões” (D&C 107:27). Isto significa que, após franca e aberta discussão, as decisões são tomadas em conselho, sob a direção do oficial presidente que detém a autoridade máxima para decidir. A decisão é então apoiada, pois nossa união origina-se da total concordância aos princípios de retidão e resposta unânime à ação do Espírito de Deus.
Livre discussão e expressão são encorajadas na Igreja. Certamente as manifestações dos membros na maioria das reuniões de jejum e testemunho, ou na Escola Dominical, ou na Sociedade de Socorro e reuniões do sacerdócio atestam esse princípio. Todavia, o privilégio de livre expressão deve operar dentro de limites. Em 1869, George Q. Cannon explicou os limites da expressão individual:
“Um amigo quis saber se nós considerávamos apostasia um membro da Igreja ter, honestamente, opinião diferente daquela das Autoridades da Igreja… Respondemos que…podíamos aceitar que um homem pudesse honestamente divergir das Autoridades da Igreja e ainda assim não ser um apóstata; mas não podíamos aceitar que o homem publicasse essas diferenças de opinião e procurasse, por meio de argumentações, sofismas e protestos especiais, impô-las ao povo a fim de produzir divisão e contenda e de colocar as ações e conselhos das Autoridades da Igreja, se possível, numa perspectiva falsa, sem que tal homem fosse um apóstata, pois essa conduta é apostasia, como entendemos esse termo” (Gospel Truth, sel. Jerreld L. Newquist, 2 vols., Salt Lake City: Deseret Book Co., 1974, 2:276-77).
Entre as atividades consideradas apóstatas para a Igreja, inclui-se o membro: “(1) agir repetidamente em clara, ostensiva, deliberada e pública oposição à Igreja ou seus líderes; (2) persistir em ensinar como doutrinas da Igreja informações que não o são, após ser corrigido pelo bispo ou autoridade maior; ou (3) continuar a seguir os ensinamentos de cultos apóstatas (como os que defendem o casamento plural), após haver sido corrigido por seu bispo ou autoridade maior” (Manual Geral de Instruções, 1989, p. 10-4).
Os homens ou mulheres que publicamente persistem em desafiar doutrinas, práticas e estatutos básicos da Igreja apartam-se do Espírito do Senhor e perdem o direito de ocupar cargos ou ter influência na Igreja. Os membros são incentivados a estudar os princípios e doutrinas da Igreja, a fim de entendê-los. Depois, se questões forem levantadas e houver diferenças de opinião, os membros são incentivados a discutir os assuntos em particular com os líderes do sacerdócio.
Há uma certa arrogância em se pensar que qualquer um de nós pode ser mais espiritualmente inteligente, mais instruído ou mais justo do que os Conselhos chamados para presidir-nos. Esses Conselhos estão em mais sintonia com o Senhor do que qualquer indivíduo a quem eles presidam, e cada membro individual desses Conselhos é geralmente orientado pelo Conselho. Nesta Igreja, onde temos liderança leiga, é inevitável que alguns tenham autoridade sobre nós, tendo um passado diferente do nosso. Isso não significa que um indivíduo com outras qualificações vocacionais ou profissionais honradas tenha menos direito ao espírito de seu chamado do que quem quer que seja. Entre os grandes bispos de minha vida encontram-se um pedreiro, um merceeiro, um fazendeiro, um leiteiro e um proprietário de uma fábrica de sorvetes. O que lhes faltava em termos de instrução formal era insignificante. Eram homens humildes e, por serem humildes, foram ensinados e magnificados pelo Espírito Santo. Sem exceção, foram grandemente fortalecidos enquanto aprendiam a labutar diligentemente para cumprir seus chamados e servir aos santos a quem presidiram. Assim é com todos os chamados da Igreja. O Presidente Monson nos ensina: “A quem o Senhor chama, o Senhor qualifica” (Thomas S. Monson, A Liahona, julho de 1988, p. 44).
Como devem os portadores do sacerdócio tratar as mulheres da Igreja? As irmãs desta igreja, desde o início, sempre deram uma grande e maravilhosa contribuição para a obra do Senhor. Elas contribuem enormemente com inteligência, trabalho, cultura e requinte em prol da Igreja e de nossas famílias. Os serviços das irmãs, ao avançarmos em direção ao futuro, são mais do que nunca necessários para ajudarem a estabelecer os valores, a fé e o futuro de nossas famílias, assim como o bem-estar de nossa sociedade. Elas precisam saber que são valorizadas, honradas e apreciadas. As irmãs que servem como líderes precisam ser convidadas a participar e a falar e precisam ser incluídas em nossas reuniões de conselho de ala e estaca, particularmente no que se refere a assuntos das outras irmãs, dos jovens e das crianças.
Como devem os portadores do sacerdócio tratar a esposa e outras mulheres da família? A esposa precisa ser tratada com carinho. Ela precisa ver o marido chamá-la bem-aventurada e as crianças precisam ouvir seus pais louvarem generosamente sua mãe (vide Provérbios 31:28). O Senhor valoriza suas filhas na mesma medida que valoriza seus filhos. No casamento, nenhum é superior; cada um tem sua responsabilidade divina primordial e diferente. Para a esposa, a principal destas diferentes responsabilidades é a da maternidade. Acredito firmemente que nossas queridas e fiéis irmãs desfrutam um enriquecimento espiritual especial que é inerente à sua natureza.
O Presidente Spencer W. Kimball declarou: “Ser uma mulher justa em meio às cenas finais desta terra, antes da segunda vinda de nosso Salvador, é um chamado especialmente nobre…Outras instituições da sociedade podem vacilar, ou mesmo cair, mas a mulher justa pode ajudar a salvar o lar, o qual talvez seja o último e único santuário que alguns mortais conhecem em meio às tempestades e discórdias” (Ensign, novembro de 1978, p. 103).
O sacerdócio é apenas uma autoridade justa. Qualquer tentativa de usá-lo no lar como uma arma para praticar abuso ou impor domínio injusto é uma completa contradição dessa autoridade e resulta em sua perda. Como portador do sacerdócio, o pai tem a responsabilidade primordial de reivindicar do Senhor bênçãos espirituais e materiais para si e para sua família, mas essas bênçãos podem somente ser reivindicadas em retidão e caso ele honre o sacerdócio. O Senhor nos ensina que “nenhum poder ou influência pode ou deve ser mantido por virtude do sacerdócio, a não ser que seja com persuasão, com longanimidade, com mansuetude e ternura, e com amor não fingido” (D&C 121:41). Em minha opinião, nas escrituras existem poucas palavras de maior significado do que a bela linguagem da seção 121 de Doutrina e Convênios, que fala de como o sacerdócio deve ser exercido:
“Com benignidade e conhecimento puro, que grandemente ampliarão a alma, sem hipocrisia e sem dolo.
Reprovando às vezes com firmeza, quando movido pelo Espírito Santo; e depois, mostrando um amor maior por aquele que repreendeste, para que não te julgue seu inimigo;
Para que ele saiba que a tua fidelidade é mais forte do que os laços da morte.
Que as tuas entranhas também sejam cheias de caridade para com todos os homens e para com a família da fé, e que a virtude adorne os teus pensamentos incessantemente; então tua confiança se tornará forte na presença de Deus; e, como o orvalho dos céus, a doutrina do sacerdócio se destilará sobre a tua alma.
O Espírito Santo será teu companheiro constante e o teu cetro um cetro imutável de retidão e verdade; e o teu domínio um domínio eterno e sem medidas compulsórias que fluirá a ti para todo o sempre” (vs. 42-46).
O Presidente Spencer W. Kimball declarou, com respeito aos convênios do sacerdócio: “Não há limite para o poder do sacerdócio que portais. Só estais limitados quando não viveis em harmonia com o Espírito do Senhor e limitais a vós mesmos no poder que exerceis” (The Teachings of Spencer W. Kimball, Salt Lake City: Bookcraft, 1982, p. 498). O Presidente Kimball declarou ainda: “Um homem quebra o convênio do sacerdócio transgredindo os mandamentos — mas também deixando de fazer seus deveres. Sendo assim, para ele quebrar esse convênio basta não fazer nada” (The Teachings of Spencer W. Kimball, p. 497).
Outro grande lembrete de nossas obrigações e bênçãos é o juramento e convênio do sacerdócio, como descrito na seção 84 de Doutrina e Convênios. É-nos dito que as transcendentes obrigações dos portadores do sacerdócio são: “[Atender] diligentemente às palavras de vida eterna”, prestar “ao mundo todo testemunho” e instruir o mundo quanto ao “julgamento que está por vir” (vs. 43, 61, 87). Então, há a maravilhosa promessa que diz que, se formos fiéis nas responsabilidades do sacerdócio, seremos “santificados pelo Espírito”, tornar-nos-emos “os eleitos de Deus” e tudo o que o “Pai possui ser-[nos]-á dado” (vs. 33,34,38). Quão mais importante é receber “tudo que [o] Pai possui” do que buscar ou receber qualquer outra coisa que esta vida oferece!
As bênçãos que coroam nossa vida são resultado da obediência aos convênios e do respeito às ordenanças recebidas no templo sagrado, incluindo-se o novo e sagrado convênio do casamento, que é ponto culminante da investidura sagrada.
No desejo de termos “mente-aberta”, de sermos aceitos, estimados e admirados, não brinquemos com as doutrinas e os convênios que nos foram revelados, nem com os pronunciamentos daqueles a quem foram dadas as chaves do Reino de Deus na terra. Para todos nós, as palavras de Josué ecoam com crescente aplicabilidade.
“Escolhei hoje a quem sirvais:… porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor” (Josué 24:15).
Que o Espírito do Senhor esteja conosco para ajudar-nos a magnificar esta grande autoridade do sacerdócio, eu oro em nome de Jesus Cristo, amém.