A Verdade É a Questão
Todo conhecimento é inútil a menos que busque as raízes da verdade, as quais não podemos encontrar sem que antes nos tornemos honestos.
Em Doutrina e Convênios 1:4, lemos: “E a voz de advertência irá a todos os povos pela boca de Meus discípulos, os quais escolhi nestes últimos dias”.
Essa mensagem de advertência nos faz lembrar que nós, seres humanos, somos filhos espirituais de um Pai Celestial, que é o autor e consumador de toda a verdade, e que estamos perdidos nesse estado mortal e decaído, a não ser que deixemos a Luz de Cristo, ou Espírito da verdade, tornar-se nosso guia constante e eterno no caminho de nossa vida.
Na mensagem da Restauração, aprendemos que durante a vida mortal nosso livre-arbítrio é testado por meio da ligação inseparável do nosso espírito com os elementos desta terra, a “carne”, ou o “homem natural” (vide D&C 88:15). Com essa revelação aprendemos não somente a causa do sofrimento da humanidade, mas também recebemos as chaves e o poder para eliminá-lo de uma vez por todas. A medida que nossa mente se abre com o estudo do plano de salvação, percebemos que em nossa vida o “eu verdadeiro”, ou “filho espiritual de Deus”, criado em inocência e beleza, está empenhado numa luta de vida ou morte contra os elementos da terra, a “carne”, que, no presente estado, é seduzida e influenciada pelo inimigo de Deus.
Pelas revelações do Livro de Mórmon, sabemos que esse inimigo luta com toda a fúria e astúcia para tornar todos os homens tão miseráveis como ele próprio (vide 2 Néfi 2:27). É Jesus Cristo que, com sua luz, procura e encontra os filhos de Deus que anseiam e lutam pela verdade e pela retidão e que clamam por ajuda. Sem Cristo, perdemos essa batalha interior. Sem seu plano de redenção e seu sacrifício expiatório, estaríamos todos perdidos. Já sabíamos disso antes de vir à terra e podemos senti-lo agora, quando sua luz nos vivifica a mente com compreensão (D&C 88:11).
A questão é a verdade, amados irmãos, e só se pode chegar à verdade por meio de inflexível educação de si mesmo e de uma grande honestidade para enxergar o eu verdadeiro, o filho de Deus, em sua inocência e potencial, em contraste com a nossa outra parte, a carne, com seus desejos egoístas e tolos. Somente num estado de honestidade pura podemos ver a verdade em sua dimensão completa. A honestidade pode não ser tudo, mas, sem dúvida, tudo é nada sem honestidade. Em seu estado final, a honestidade é um dom do Espírito, por meio do qual os verdadeiros discípulos de Cristo sentem a força para prestar testemunho da verdade com tanto poder, que ela penetra no fundo do coração das pessoas.
Um grande exemplo do efeito da pregação dos profetas encontra-se no Livro de Mórmon. O rei Benjamim, devido ao seu amor e preocupação pelo bem-estar do povo, pregou o plano de salvação, e fez isso de tal forma que o povo reconheceu sua própria nulidade, indignidade e decadência (Mosiah 4:5). Esse último passo na compreensão da honestidade, que nos leva a vermos a nós mesmos em estado pecador e mortal, fez o povo do rei Benjamim clamar a uma só voz: “Oh! Tende misericórdia de nós e aplicai o sangue expiatório de Cristo, para que possamos receber o perdão de nossos pecados” (Mosiah 4:2).
Iniciando-se ao ouvir a verdade, o discípulo de Cristo está, portanto, constantemente, até mesmo em suas atividades regulares, lutando o dia todo, por meio de oração silenciosa e de reflexão, para manter-se consciente de quem é, para conservar-se em um estado de humildade e brandura de coração. É o profeta Morôni quem diz: “Por causa da humildade e brandura de coração vem a visitação do Espírito Santo, o Consolador, que nos enche de esperança e perfeito amor” (Morôni 8:26).
Com uma melhor compreensão desse conflito mortal dentro de nós, perceberemos que só podemos pedir e receber ajuda do Senhor, que é o Deus da verdade, se formos total e incondicionalmente honestos.
Essa guerra tem de ser enfrentada por todos os filhos do Pai Celestial, quer eles saibam da sua existência ou não. Mas sem um conhecimento claro do plano de salvação e sem a influência da divina luz de Cristo para trazer-nos esta consciência, a guerra é travada no subconsciente, e portanto, desconhecemos sua frente de combate e não temos possibilidade de vencer. As guerras interiores, lutadas no subconsciente, com frentes de combate desconhecidas, levam-nos a fracassos que atormentam o nosso subconsciente. Tais fracassos refletem-se em nossa vida consciente como expressões de sofrimento, tais como insegurança, infelicidade, falta de fé e testemunho ou reações de nosso subconsciente, que se manifestam como orgulho, arrogância ou até mesmo crueldade e indecência.
Não! Não há salvação sem Cristo, e Cristo não pode estar conosco a não ser que paguemos o preço da luta constante pela honestidade.
Uma das grandes tragédias em nossa vida é que o adversário, através das influências da “carne”, pode induzir-nos ao erro, levando-nos a criar falsas imagens ou percepções da verdade. Nosso cérebro, o grande computador onde todas as lembranças da vida estão armazenadas, pode também ser programado pela “came”, com suas idéias egoístas, para enganar o eu espiritual. Sem um esforço constante, por meio de oração e meditação, com a finalidade de alcançarmos autoconsciência e honestidade intrínsecas, o nosso intelecto pode, baseado em verdades aparentes, iludir-nos das mais diferentes formas para impressionar, obter ganhos e intimidar.
Sobre isso, o apóstolo Paulo escreveu: “ Porque haverá homens amantes de si mesmos,…, soberbos, blasfemos,…profanos,…
Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela…
Que aprendem sempre, e nunca podem chegar ao conhecimento da verdade” (II Timóteo 3:2,5, 7).
Todo conhecimento é inútil, a menos que busque as raízes da verdade, as quais não podemos encontrar sem que antes nos tornemos honestos. Esforçando-nos por consegui-lo, subitamente aprendemos a orar. Paulo disse: “Porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós” (Romanos 8:26).
Iluminados pelo Espírito da verdade, seremos então capazes de orar por uma capacidade maior de suportar a verdade em vez de ficarmos irados por causa dela (vide 2 Néfi 28:28). Na profundidade de tal oração, poderemos finalmente ser levados àquele local solitário onde subitamente nos vemos nus, com toda sobriedade. Terminadas estão todas as pequenas mentiras de autodefesa. Vemo-nos em nossas vaidades e falsas esperanças de segurança carnal. Ficamos espantados ao ver nossas muitas deficiências, nossa falta de gratidão nas menores coisas. Estamos naquele local sagrado onde, aparentemente, poucos têm a coragem de entrar, pois é aquele local de dor inextinguível, em fogo e abrasamento. É aí que nasce o verdadeiro arrependimento. É aí que acontecem a conversão e o renascimento da alma. Por aí passaram os profetas antes de serem chamados a servir. Aí os conversos se encontram antes de sentirem o desejo de se batizar para a remissão dos pecados. É aí que ocorrem as santificações, rededicações e renovação de convênios. É aí que subitamente compreendemos e aceitamos a expiação de Cristo. É aí que, depois de firmar solenes compromissos, a alma começa a “cantar o cântico do amor que redime” e que nasce uma fé inabalável em Cristo (Alma 5:26). É aí que subitamente vemos os céus abertos ao sentirmos todo o impacto do amor do Pai Celestial, que nos enche de alegria indescritível. Com tal amor no coração, nunca mais seremos felizes sendo somente nós mesmos ou vivendo nossa própria vida. Não ficaremos satisfeitos até que tenhamos colocado nossa vida nos braços do amoroso Cristo, e até que ele se tenha tornado o autor de todas as nossas ações e aquele que profere todas as nossas palavras. Como ele disse:
“Eu sou a videira, vós as varas: quem está em mim, e eu nele, esse dá fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (João 15:5).
Ouçamos pois, amados irmãos, a voz de advertência e abracemos o espírito da verdade, para sermos considerados inocentes por meio da expiação de nosso Senhor. Em nome de Jesus Cristo, amém.