O Poder de Curar a Partir do Interior
Em virtude do seu poder redentor, Jesus pode remover o aguilhão da morte ou restaurar a saúde espiritual de uma alma em conflito.
Irmãos e irmãs, desejo expressar minha profunda gratidão pelo maravilhoso impacto que o Presidente Howard W. Hunter teve sobre os membros da Igreja no curto período em que serviu como profeta. Do Havaí à África Oriental vi membros respondendo ao desafio que ele nos lançou de sermos mais cristãos e freqüentadores do templo. Hoje apóio o Presidente Gordon B. Hinckley como profeta, vidente e revelador, bem como Presidente da Igreja. Assistindo à entrevista coletiva em que se anunciou a nova Primeira Presidência, recebi o testemunho do Santo Espírito sobre seu chamado profético e a preparação que o precedeu. Também senti naquele momento e sinto agora a mesma confirmação a respeito do Presidente Thomas S. Monson e do Presidente James E. Faust, como seus conselheiros, e do Presidente Boyd K. Packer como Presidente Interino do Quórum dos Doze. E hoje sinto o Espírito com relação ao Élder Henry B. Eyring. A maneira do Senhor de preparar profetas é uma obra maravilhosa e um assombro.
Pouco tempo atrás fui ao enterro do filho de um amigo. No início da semana o rapaz voltava para casa com amigos, tarde da noite, quando o motorista de outro carro adormeceu. O segundo carro atravessou a área central que divide a pista e chocou-se de frente com o primeiro. O acidente ocorreu tão rapidamente que quase não havia marcas de pneus na estrada e os dois carros ficaram destruídos. O acidente ceifou três vidas, incluindo a do filho de meu amigo, que tinha dezessete anos.
Refletindo sobre o ocorrido, pensei nas lições ensinadas pela morte—especialmente a morte de pessoas queridas. A primeira lição é que a vida é curta, morra-se aos dezessete ou aos oitenta anos. Para um jovem de dezessete anos, oitenta anos parece uma eternidade. Mas para alguém de setenta, oitenta anos não é um longo período probatório.
Segundo, a morte lembra-nos de que existe um espírito no homem. Ao vermos o que restou de nosso jovem amigo, era óbvio que algo além de sangue deixara seu corpo. A luz do espírito já não lhe animava o semblante nem brilhava em seus olhos. Ele, também, entregara o espírito, mas ainda bem jovem.
Outra lição ensinada pela morte é a importância das famílias eternas. Assim como há pais que recebem um recém-nascido na Terra, as escrituras ensinam que familiares amorosos recebem os espíritos no paraíso e ajudam-nos a ajustar-se à nova vida. (Ver Gên. 25:8; 35:29; 49:33.) Enquanto me encontrava diante do caixão, pensei que a separação não era apenas um choque para os pais, mas também para o jovem, ao encontrar-se de repente do outro lado do véu. Suponho que ele tivesse desejado dizer uma vez mais a seus pais o quanto os amava. Irmãos e irmãs, o céu somente existe se as famílias forem eternas.
A quarta lição, e talvez a mais importante, trata do propósito da vida. A fim de ser significativa, a vida precisa constituir-se de mais do que os prazeres efêmeros da juventude. É preciso que exista um plano. A morte, mesmo que acidental, precisa fazer parte do plano. Desenvolver a fé no Criador e vir a conhecê-lo é o âmago do plano. Ter esperança com relação ao próprio destino eterno e experimentar alegria também deve fazer parte do propósito da vida.
A morte ensina que não recebemos uma plenitude de alegria na mortalidade e que a alegria eterna pode ser conseguida apenas com a ajuda do Mestre. (Ver D&C 93:33–34.) Assim como o paralítico, junto ao tanque de Betesda, precisava de alguém mais forte do que ele para curar-se (ver João 5:1–9), nós também dependemos dos milagres da expiação de Cristo para que nossa alma liberte-se da dor, do sofrimento e do pecado. Se pais que estão sofrendo e seus entes queridos tiverem fé no Salvador e em Seu plano, o aguilhão da morte será suavizado, pois Jesus toma para Si a dor dos que crêem e consola-os por meio de Seu Santo Espírito. Por intermédio de Cristo, curam-se corações partidos e a paz substitui a ansiedade e a dor. Na semana passada, recebi uma carta dos pais do rapaz, contando-me a paz que encontraram pela sua fé em Cristo. Sabem que tornarão a ver o filho e estarão com ele nas eternidades. Como disse Isaías a respeito do Salvador: “Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou ( … ) e pelas suas pisaduras fomos sarados.” (Isaías 53:4–5)
O profeta Alma também falou sobre o poder curador de Cristo, ao ensinar os gideonitas. Referindo-se a Cristo, Alma afirmou que Ele “tomará sobre si as suas enfermidades, para que se lhe encham de misericórdia as entranhas, ( … ) para que saiba, segundo a carne, como socorrer seu povo”. (Alma 7:11–12.) Seja qual for a origem da dor, Jesus compreende e cura o espírito, assim como o corpo.
O Salvador, como membro da Trindade, conhece cada um de nós pessoalmente. Isaías e o profeta Abinádi afirmaram que, quando Cristo pusesse Sua alma “por expiação do pecado, (veria) a sua posteridade”. (Isaías 53:10; comparar com Mosias 15:10.) Abinádi explica que “sua semente” são os justos, aqueles que seguem os profetas. (Ver Mosias 15:11.) No jardim e na cruz, Jesus viu cada um de nós e não apenas tomou sobre si nossos pecados, mas também experimentou nossos sentimentos mais profundos, para saber como consolar-nos e fortalecer-nos.
Como parte de Seu poder redentor, Jesus pode remover o aguilhão da morte ou restaurar a saúde espiritual de uma alma sofredora. ⌦As escrituras estão cheias de exemplos, mas uma jovem irmã coreana ensinou-me indelevelmente esta lição. No início de 1994, em uma conferência de estaca em Seul, Coréia, conheci Kim Young Hee, uma jovem na casa dos vinte. Observei seu belo rosto enquanto esperava sua vez de falar, sentada em uma cadeira de rodas. Quando chegou sua vez, um irmão empurrou a cadeira para o púlpito, mas um pouco de lado, de modo que ela pudesse ver e ser vista. Deu-lhe um microfone e ela contou sua história.
Quando jovem era saudável, tinha um ótimo emprego e estava satisfeita com a vida. Não era cristã. Em 1987, sofreu um terrível acidente de carro que a deixou paralítica da cintura para baixo. Após sua recuperação em um hospital, voltou para a casa dos pais, imaginando o que a vida lhe reservava. Sentia-se desanimada e vazia. Um dia bateram a sua porta. A mãe atendeu e duas mulheres americanas perguntaram se podiam transmitir-lhes uma mensagem sobre Jesus Cristo. A mãe hesitou, mas a filha ouviu as vozes e convidou-as a entrar. Elas eram missionárias de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Kim Yount Hee aceitou o convite para receber as palestras missionárias. Leu o Livro de Mórmon, orou sobre sua veracidade, começou a freqüentar a Igreja e recebeu um testemunho da divindade da restauração. Ela foi batizada.
Ao prestar testemunho na conferência da estaca, disse: “Sei que o Pai Celestial não olha para a aparência exterior, mas para o coração. Sei também que o verdadeiro milagre é a cura interior, a mudança no coração, a perda do orgulho. Embora meu corpo físico talvez não seja curado na mortalidade, meu espírito sentiu o poder de cura do Espírito Santo. E, na ressurreição, um corpo físico restaurado e perfeito abrigará novamente meu espírito e eu receberei a plenitude da alegria.”
Ao ouvi-la, o Espírito testificou-me os grandes milagres da expiação e o poder do Salvador para curar corações quebrantados, para curar a partir do interior. A parábola do Salvador sobre os dez leprosos adquiriu novo significado. Lucas descreveu o encontro de Jesus com os leprosos. Ao verem o Salvador, clamaram: “Jesus, Mestre, tem misericórdia de nós.” Jesus respondeu: “Ide, e mostrai-vos aos sacerdotes.” Ao seguirem seu caminho, ficaram limpos. Um deles voltou, caiu aos pés do Mestre com o rosto em terra, e agradeceu. Jesus perguntou: “Não foram dez os limpos? E onde estão os nove?” E então Jesus disse àquele que voltara: “Levanta-te, e vai; a tua fé te salvou.” (Ver Lucas 17:12–19.) Ao ficar são, o leproso grato foi curado em seu interior, assim como no exterior. Naquele dia, nove leprosos foram curados exteriormente, mas apenas um teve a fé para tornar-se são. O décimo leproso e a irmã Hee foram transformados eternamente por sua fé no Salvador e pelo poder curador de Sua expiação.
A expiação do Salvador no jardim e na cruz é íntima e infinita. Infinita porque vigora nas eternidades. Íntima porque o Salvador sentiu as dores, sofrimentos e enfermidades de cada um. Conseqüentemente, Ele sabe como tomar sobre Si nossos sofrimentos e aliviar nossas cargas a fim de que sejamos curados a partir do interior, sejamos pessoas sãs e recebamos alegria eterna em Seu reino. Que nossa fé no Pai e no Filho ajude cada um de nós a tornar-se são. Em nome de Jesus Cristo. Amém. 9