Guardamos a Fé
Podemos encontrar ensinamentos maravilhosos em lugares distantes e isolados, onde é difícil estabelecer uma religião ou viver os princípios do evangelho.
Devido à natureza do chamado de uma Autoridade Geral, devemos visitar várias nações, lugares e grupos. Em alguns desses locais existem riscos e perigos. Essas áreas operam sob circunstâncias que, freqüentemente, nos impedem de chegar aos lugares que devemos visitar.
Certa vez recebi a designação de visitar uma estaca localizada nas belas montanhas do Peru. Havia mais de dois anos que essa unidade da Igreja não era visitada por uma Autoridade Geral, por causa dos perigos da viagem. Após conseguirmos a devida autorização e com o auxílio do presidente da missão, iniciamos uma viagem de cinco horas até o magnífico vale do Rio Mantaro.
Quando chegamos à sede da estaca, fomos recebidos pelo presidente e seus conselheiros. No momento em que nos viram, seus rostos iluminaram-se e abraçamo-nos forte e fraternalmente. Três anos antes, dois de nossos queridos missionários haviam sido assassinados naquela cidade. Depois de abraçar o presidente perto de meu coração, na tentativa de transmitir-lhe todo o meu amor, perguntei: “Sofreram muito nesse período que não pudemos vir?” Com os olhos cheios de lágrimas, respondeu: “Nós sofremos muito, mas guardamos a fé.” Esta simples frase tocou-nos o coração e sentimos que a mão do Senhor estivera com eles nos momentos difíceis que passaram como povo e como membros da Igreja.
Durante nossa reunião aprendemos muitas coisas, uma das quais foi como guardar a fé em áreas como aquela, longe das grandes cidades e da sede da Igreja. Fomos capazes de distinguir, com as coisas que aprendemos, pelo menos cinco princípios que os ajudaram a vencer as dificuldades.
Primeiro: Eles nunca deixaram de confiar no Senhor e depositaram Nele toda a sua fé. Este era o alicerce de sua confiança. Confiavam no fato de que Ele os protegeria e guiaria. O Senhor disse: “Se tiverdes fé em mim, tereis poder para fazer tudo quanto me parecer conveniente.” (Morôni 7:33)
Às vezes, no desespero, procuramos outros caminhos, outros guias; mas por não compreenderem nossas necessidades espirituais, nem sempre estão preparados para ajudar. Não estão preparados para dar-nos os conselhos e as revelações necessárias nas situações difíceis.
Temos o grande exemplo dos filhos de Mosias, que suportaram muitas adversidades e provações. Devido a sua confiança no Senhor, “( … ) o Senhor os visitou com seu Espírito e disse-lhes: Consolai-vos; e eles foram consolados. ( … ) Contudo sereis pacientes nos sofrimentos e aflições, para dar-lhes bons exemplos em mim; e farei de vós instrumentos em minhas mãos para a salvação de muitas almas.” (Alma 17:10–11)
Segundo: Eles continuaram a orar. Todo membro, seja adulto, criança ou adolescente, cumpriu fervorosamente este santo dever, orando em particular e em família com toda sua fé. Como sabemos, a oração é o meio de nos comunicarmos com nosso Pai Celestial. Ele nos ouve porque somos Seus filhos e porque nos ama; Ele estará pronto para abençoar-nos quando guardarmos Seus mandamentos.
Instruindo os nefitas, o Salvador ensinou: “Orai ao Pai no seio de vossa família, sempre em meu nome, a fim de que vossas mulheres e vossos filhos sejam abençoados.” ⌦(3 Néfi 18:21). Ninguém lhes poderia dar mais certeza de que o Pai os ouviria do que Seu próprio Filho.
Terceiro: Eles nunca deixaram de estudar as escrituras. Nelas encontraram fé para vencer o medo, soluções para seus problemas, o divino consolo do Mestre, o terno conselho do Pai e, especialmente, a certeza de estarem sendo guiados para a vida eterna com justiça.
“Examinais as escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam.” (João 5:39). Eles cumpriram esse mandamento, apesar de suas dificuldades. Um dos santos de lá disse: “Nunca estivemos tão próximos do Senhor como quando estávamos lendo as escrituras.”
Quarto: Eles cumpriram os programas do sacerdócio. Devido ao incidente fatal ocorrido no lugar, foi necessário retirar os missionários de tempo integral. A fim de substituir o auxílio perdido, tornou-se necessário organizar os ex-missionários para ensinar o evangelho aos que desejavam ouvi-lo. Receberam-se referências dos membros. O ensino familiar progrediu. Ninguém foi esquecido. Como disseram, eles guardaram a fé.
Quinto: Humilharam-se perante o Senhor. Purificaram sua vida; arrependeram-se; tentaram viver juntos como santos, dividindo a maior parte do que tinham, jejuando quando surgiam problemas ou eram ameaçados.
Estes princípios simples e vigorosos permitiram que se sentissem apoiados, fossem preservados e continuassem fiéis e ativos como membros da Igreja.
Podemos encontrar ensinamentos maravilhosos em lugares distantes e isolados, onde é difícil estabelecer uma religião ou viver os princípios do evangelho. Também podemos pensar que é difícil viver em tais lugares e guardar a fé. Apenas sua confiança em Deus e sua fé em Jesus Cristo os ampara, muda e purifica.
Guardar a fé também deve ser um desafio para os que estão sozinhos na Igreja, para aqueles cujas famílias não se converteram, para aqueles que perderam um companheiro, cônjuge ou filho. É preciso muita coragem para prosseguir, mas sempre recebemos consolo do alto.
Nossos pioneiros não reclamaram; não negaram a fé nem retrocederam. É difícil imaginar a profunda solidão do povo da Igreja durante aqueles primeiros anos em que eram um pequeno grupo, os únicos membros da Igreja em toda a face da Terra. Foram perseguidos, humilhados, expulsos e alguns foram assassinados. A fé, que desenvolveram no Senhor em face de tanta adversidade, tornou-os fortes e também humildes. Deve ter sido muito difícil guardar a fé com tanta oposição, tanta solidão, tanta angústia. Foi uma época gloriosa, uma época de mártires, uma época em que se estabeleceu o alicerce de uma religião corajosa e inspiradora como a nossa.
A respeito desse assunto, disse o Presidente Kimball: “O sofrimento pode transformar pessoas em santos, ao aprenderem paciência, longanimidade e autocontrole. Os sofrimentos de nosso Salvador fizeram parte de seu aprendizado.” [Tragedy or Destiny (Tragédia ou Destino), Brigham Young University Speeches of the Year, Provo, Utah; BYU Extension Division, 6 de dezembro de 1955, p. 5.]
Como somos gratos por aqueles que, com seu exemplo singelo, nos possibilitam perseverar, sem esmorecer, na tentativa de retornar a nosso Pai! Talvez o isolamento faça com que as cidades pequenas e distantes se tornem mais fortes e mais puras.
Ao término da conferência daquela estaca, assegurei aos membros que Deus os amava, que a Primeira Presidência e os Doze Apóstolos estavam atentos a eles e que por esse motivo estávamos lá—para prestar-lhes nosso testemunho de que eles faziam parte da Igreja, de que não os havíamos esquecido e que orávamos por eles. Havia gratidão em seus corações e tornaram a sorrir como membros que haviam sido consolados pelo Espírito do Senhor.
Fazendo a última oração em uma das sessões da conferência, um senhor de aproximadamente oitenta anos de idade mostrou bem como eles se lembram dos profetas. Disse ele na oração: “Pai Celestial, agradecemos-Te por trazeres um de Teus servos ao Vale Mantaro, lugar onde Teu amado servo, o Presidente Kimball, ajoelhou-se para abençoar esta terra, a fim de que nos alimentasse e sempre nos desse o ⌦sustento.”
Como somos privilegiados por estarmos hoje na presença dos profetas de Deus e receber sua terna influência. Devido ao crescimento mundial da Igreja, muitos de nossos bons membros nunca tiveram o privilégio de estar perto destes maravilhosos líderes; eu, porém, vos testifico que eles amam as Autoridades Gerais, que seguem seus ensinamentos e aguardam humilde e pacientemente o dia em que poderão estar aos pés dos profetas.
As condições dos povos e das nações modificam-se devido ao progresso mundial; contudo, em muitos lugares, seja nas montanhas geladas, nos agradáveis vales, às margens dos rios ou nos lugares desolados, onde se puderem encontrar membros da igreja, sempre haverá quem viva esses princípios básicos; e, por assim fazer, abençoam o restante do povo. Que enfrentemos corajosamente nossos desafios terrenos, a despeito de onde vivermos ou que situações difíceis sejamos chamados a enfrentar. Guardemos a fé.
Somos felizes, hoje, por termos a oportunidade de apoiar um novo profeta e seus conselheiros, que amamos e sustemos. Nos próximos dias, em quase todas as nações da Terra, mesmo nos povoados e cidades mais remotos, nossos membros também terão o privilégio de erguer a mão, com prazer, para apoiá-los da forma que fizemos hoje.
Algum dia nossa jornada terrena terminará e retornaremos à presença de nosso Pai Celestial. Oro para que nesse dia tenhamos a mesma coragem do Apóstolo Paulo e prestemos o mesmo testemunho que ele prestou a Timóteo: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.” (II Timóteo 4:7)
Que o Senhor nos abençoe para continuarmos sendo valentes, humildes e fiéis. Em nome de Jesus Cristo. Amém. 9