Recursos para a família
Segunda Sessão: Comunicar-se com Amor


Segunda Sessão

Comunicar-se com Amor

“O Marido e a mulher têm a solene responsabilidade de amar-se mutuamente e amar os filhos, e de cuidar um do outro e dos filhos.”

“A Família: Proclamação Ao Mundo”

Objetivos da Sessão

Nesta sessão, ajude os participantes a:

  • Compreender que, ao tornarem-se mais semelhantes a Cristo e passarem por uma mudança de coração, seu desejo e sua capacidade de comunicar-se de modo eficaz e adequado aumentarão;

  • Aprender habilidades de comunicação que aumentem sua capacidade de entender e externar sentimentos dolorosos;

  • Compreender que o comportamento cristão e a boa comunicação fortalecem o casamento.

O Amor e a Boa Comunicação

Os profetas e apóstolos modernos ensinaram que os pais devem amar um ao outro e aos filhos: “O marido e a mulher têm a solene responsabilidade de amar-se mutuamente e […] e de cuidar um do outro”.1

A comunicação no casamento inclui todos os pensamentos, sentimentos, atos ou desejos transmitidos de modo verbal ou não-verbal entre marido e mulher. A boa comunicação é uma manifestação de amor. Contribui para a compreensão e respeito mútuos, reduz conflitos, aumenta o amor e abre o caminho para os níveis mais elevados de intimidade humana. Todos os casais casados podem aprender a comunicar-se de modo eficaz.

O Presidente Spencer W. Kimball ensinou o valor da boa comunicação:

“Há algo mágico nas palavras usadas de modo adequado. Há quem as empregue da maneira correta e há quem não tenha o menor cuidado.

As palavras são meios de comunicação, e símbolos errôneos transmitem impressões equivocadas, e o resultado é a desordem e os mal-entendidos. As palavras constituem a base de toda a nossa vida e são as ferramentas de nossos negócios, a expressão de nossas afeições e o registro de nosso progresso. As palavras levam o coração das pessoas a palpitar e fazem correr lágrimas de solidariedade. As palavras podem ser sinceras ou hipócritas. Muitos de nós têm um vocabulário reduzido e, assim, são inabilidosos ao falar.”2

A Magnitude dos Problemas de Comunicação

Num estudo nacional de 21.501 casais casados, o psicólogo David H. Olson, da Universidade de Minnesota, e sua colega Amy K. Olson verificaram que a comunicação ineficaz é um dos dez maiores empecilhos para a satisfação conjugal. Oitenta e dois por cento dos casais desejavam que o cônjuge externasse os sentimentos com mais freqüência. Outras respostas relacionadas à comunicação, embora não figurem na lista das dez maiores dificuldades, também foram muito citadas: 75 por cento das pessoas tinham dificuldade para perguntar ao cônjuge o que ele deseja, 72 por cento não se sentiam compreendidas, 71 por cento disseram que o cônjuge não discutia problemas ou dificuldades com o outro e 67 por cento disseram que o cônjuge fazia comentários que as magoavam.3 O estudo também revelou a “comunicação satisfatória” como o principal indicador de um casamento feliz.4

Enternecer o Coração

Os casais fazem o máximo progresso na melhora de suas habilidades de comunicação quando têm um coração contrito e a disposição de perdoar e pedir perdão. As pessoas podem enternecer o coração a despeito do que o cônjuge decida fazer.

Victor Cline, psicólogo e membro da Igreja, observou: “Verifiquei, em trinta anos de aconselhamento conjugal, que aprender novas técnicas de comunicação, assistir a seminários sobre técnicas de relacionamento ou ler todos os melhores livros sobre o assunto não ajudam a curar as feridas conjugais, a menos que as pessoas envolvidas desenvolvam um espírito contrito ou sintam o coração enternecer-se. Esse abrandamento do coração precisa acontecer, por via de regra, em ambos os cônjuges, mesmo que o principal culpado pelos problemas seja um deles. Embora nunca se possa forçar um cônjuge a mudar, você pode mudar. Você pode optar por amar e perdoar a despeito de tudo mais que venha a acontecer. O resultado, em geral, será uma modificação na atitude e comportamento do cônjuge também”.5

As escrituras sugerem que a maneira de uma pessoa comunicar-se está relacionada ao tipo de pessoa que é. Jesus ensinou: “O que sai da boca, procede do coração” (Mateus 15:18). Tiago declarou em sua epístola: “Se alguém não tropeça em palavra, o tal é perfeito, e poderoso para também refrear todo o corpo” (Tiago 3:2). Melhorar a comunicação pode exigir mudanças fundamentais no caráter, no modo de pensar, nos sentimentos, no comportamento. Como seguidores de Cristo, procuramos ser como Ele, conforme Sua diretiva ao ensinar os discípulos nefitas: “Que tipo de homens devereis ser? Em verdade vos digo que devereis ser como eu sou” (3 Néfi 27:27).

Melhorar a Comunicação

As recomendações a seguir ajudarão os casais a melhorar a comunicação em seu casamento.

Eliminar as Palavras Destrutivas

Durante mais de vinte anos, o psicólogo John Gottman estudou as interações entre casais. Identificou quatro problemas de comunicação que tendem a destruir o casamento:

  • Criticar: “Atacar a personalidade ou caráter de alguém, (…) em geral atribuindo culpa”.

  • Desprezar: Insultar ou rebaixar o cônjuge; indicar por palavras ou atos que o considera “estúpido, repulsivo, incompetente, um perfeito idiota”.

  • Ficar na defensiva: Ficar sempre na defensiva diante de reclamações, críticas ou desdém apresentando desculpas, negando, discutindo, queixando-se ou jogando o problema nas costas do cônjuge, em vez de tentar resolvê-lo.

  • Isolar-se: Afastar-se física ou emocionalmente do outro quando ocorrer um desacordo, tornando-se uma parede intransponível.6

Alguns maridos e mulheres, sem se darem conta, dizem e fazem coisas que os impedem de compartilhar e escutar. Os maus hábitos tornam-se profundamente arraigados após anos de repetição e reforço. Às vezes, os problemas são mais profundos e envolvem cônjuges que obstruem intencionalmente a comunicação por causa da ira, pensamentos negativos, frustração pessoal, malícia ou indiferença. Pode ser que esses casais precisem de auxílio eclesiástico e profissional para resolver seus problemas. Se os cônjuges se depararem com obstáculos de comunicação em seu relacionamento, devem examinar sua maneira de falar um com o outro e o motivo pelo qual falam assim e resolver quaisquer problemas subjacentes.

Além de eliminar formas de comunicação destrutivas, os cônjuges devem aumentar a comunicação positiva. “[A] proporção mágica é de 5 para 1”, afirmou Gottman. Quando sentimentos e interações positivos ocorriam cinco vezes mais do que as interações e sentimentos negativos, “era provável que o casamento permanecesse estável”.7

Em seu estudo, Gottman verificou que os cônjuges satisfeitos e felizes eram mais positivos um com o outro. Essas pessoas interagiam de modo positivo:

  • Demonstrando interesse pelo que o cônjuge tinha a dizer;

  • Sendo afetuosos por meio de atos de ternura, andando de mãos dadas e externando amor;

  • Mostrando atenção com gestos carinhosos como pequenos presentes ocasionais e telefonemas;

  • Demonstrando e externando gratidão, elogiando e manifestando orgulho pelo cônjuge;

  • Mostrando que se importavam quando o cônjuge estava com problemas;

  • Tendo empatia, mostrando que compreendiam e sentiam o que o cônjuge estava sentindo;

  • Sendo tolerantes, mostrando ao cônjuge que aceitavam e respeitavam o que dizia, mesmo quando discordavam;

  • Brincando e divertindo-se juntos, sem serem ofensivos;

  • Externando alegria quando estavam entusiasmados ou contentes.8

Embora o objetivo maior seja eliminar totalmente a negatividade, os cônjuges devem tentar, nesse ínterim, aumentar as interações positivas e diminuir as interações negativas.

Reconhecer e Aceitar as Diferenças

Algumas pessoas se comportam como se acreditassem que seu cônjuge deve pensar e agir exatamente como eles. Se os cônjuges reconhecerem, aceitarem e apreciarem suas diferenças, serão mais compreensivos e atentos às necessidades e modo de agir um do outro.

Muitos livros e artigos populares e acadêmicos já foram escritos sobre as diferenças entre os homens e as mulheres, principalmente sobre os estilos e modos de comunicação. Na verdade, duas pessoas — sejam elas quais forem — podem diferir de modo significativo entre si. Alguns escritores e professores afirmam que as mulheres dão mais valor à interdependência, à ligação com os outros e à cooperação e que lidam com os problemas tentando chegar a um consenso, escutando, fazendo perguntas, externando sentimentos e citando seus próprios problemas. Essas pessoas afirmam, por outro lado, que os homens tendem a dar maior valor à independência, liberdade, status e autoridade e que lidam com os problemas agindo para resolvê-los, dando conselhos, tranqüilizando e achando soluções.

Embora esses livros e artigos sejam interessantes e costumem ter sucesso, as diferenças descritas variam de pessoa para pessoa e de cultura para cultura. Tendências sociais, criação familiar e a atividade profissional influenciam a maneira de pensar e comunicar-se das pessoas, bem como sua forma de relacionar-se com os outros. O marido e a mulher devem entender que o cônjuge é uma pessoa que tem formas diferentes de comunicar-se. Essas diferenças não precisam ser um empecilho; uma diferença de comunicação ou um modo diferente de reagir a determinada situação pode tornar-se um ponto forte num relacionamento conjugal.

Identificar Pensamentos Destrutivos

As pessoas terão dificuldade para comunicar-se de maneira positiva se tiverem pensamentos negativos sobre seu cônjuge. Os pensamentos negativos tendem a ser distorcidos; as pessoas costumam superestimar seus pontos fortes e ao mesmo tempo concentrar-se nas fraquezas do cônjuge. Os alunos podem começar a corrigir quaisquer pensamentos distorcidos que tiverem combatendo-os, procurando evidências de que são inexatos, mudando a perspectiva sobre as atitudes questionáveis do cônjuge e considerando que pode haver boas intenções por trás de seu comportamento. Também podem orar para que o Senhor os ajude a ver o cônjuge como Ele o vê. Às vezes, quando um cônjuge é bondoso e gentil ao falar com o outro, ambos desenvolvem pensamentos e sentimentos positivos.

Gottman verificou que, ao terem pensamentos destrutivos, as pessoas tendem a sentir-se vítimas ou ter acessos de indignação; esses pensamentos podem ocorrer separadamente ou em conjunto.9 As pessoas que se sentem vítimas do cônjuge tendem a ter medo dele; sentem-se acusadas injustamente, maltratadas ou desvalorizadas. Algumas sentem tanto medo que não se atrevem a defender-se. Sentem que têm justificativa para sentir-se vítimas e usam essa condição como desculpa para eximirem-se da responsabilidade de salvar seu casamento.10

As pessoas que se sentem injustiçadas desenvolvem “hostilidade e desprezo” pelo cônjuge que os magoou. Acham que sua ira é justificável e às vezes querem vingar-se. As pessoas que se sentem magoadas ou iradas em geral não estão dispostas a usar boas modalidades de comunicação. Não consideram importante escutar nem tentar compreender.11

Embora seja aceitável que as pessoas levem em conta suas próprias necessidades no casamento, alguns maridos e mulheres são egocêntricos e põem em primeiro lugar sua autogratificação. Podem culpar os outros, em vez de aceitarem a responsabilidade pelos problemas ou mentir sobre seus atos ou negá-los. Podem desprezar ou humilhar o cônjuge por ele não estar à altura de suas expectativas egoístas.

Às vezes as pessoas se sentem tão oprimidas por sua própria negatividade ou a do cônjuge que se tornam hostis, ficam sempre na defensiva ou se isolam e se fecham. Então, a comunicação construtiva se torna quase impossível.

Usar Boas Técnicas de Comunicação

Os cônjuges podem praticar e consolidar técnicas que os ajudarão a comunicar-se melhor. Ao substituírem velhas formas destrutivas de comunicação por maneiras novas e melhores de relacionamento, criam um melhor ambiente que pode conduzir à mudança de coração descrita no início desta sessão. Contudo, a comunicação bem-sucedida envolve riscos. Quando os cônjuges abrem os canais de comunicação, começam a sentir-se mais seguros para expressar-se em assuntos sensíveis que tinham receio de abordar antes. Podem surgir diferenças e conflitos. No entanto, a dor que resulta disso costuma ser temporária. As feridas da relação começam a sarar quando os cônjuges conseguem compreender e aceitar os sentimentos um do outro. Ao chegarem ao ponto de discutir problemas subjacentes com tato e sensibilidade, os cônjuges serão capazes de resolver os problemas.

As sugestões a seguir ajudarão os casais a melhorar a comunicação.

Mostrar-se interessados e atenciosos quando o cônjuge estiver falando. As pessoas podem demonstrar de modo não-verbal que se interessam mantendo contato visual — sem encarar — e prestando atenção em vez de mostrarem-se distantes ou entediados.

Quando um cônjuge estiver perturbado e precisar conversar, o outro deve deixar de lado seus interesses pessoais e escutar. Se outras obrigações o impedirem, o casal deve combinar para continuar o diálogo logo que possível. Ao ouvirem-se mutuamente, os cônjuges devem estar atentos a sua própria linguagem corporal e mostrar que estão escutando ao fazerem sinais com a cabeça ou dizerem “Entendo”, “Hmm hmm” e assim por diante. O Élder Russell M. Nelson, do Quórum dos Doze, aconselhou-nos: “Reservar tempo para conversar é essencial para manter intactas as linhas de comunicação. Como o casamento desempenha um papel primordial na história de nossa vida, merece o horário nobre!”12

Fazer perguntas. Um cônjuge pode convidar o outro a exprimir-se fazendo perguntas como: “Parece que há algo que o perturba. Gostaria de falar a respeito?”

Alguns cônjuges tentam evitar conflitos e hesitam antes de dizer o que pensam e sentem, temendo provocar desentendimentos. Por esse motivo, não tratam de assuntos sensíveis. Todavia, é pouco provável que os sentimentos mudem a menos que sejam discutidos. O cônjuge pode ajudar o outro a tocar nesses assuntos delicados fazendo perguntas sobre seus pensamentos e sentimentos com o desejo genuíno de compreender seu ponto de vista. Quando um compreende a perspectiva do outro, ambos podem começar a empenhar-se juntos para achar soluções.

Ouvir ativamente. Os bons ouvintes reformulam de vez em quando aquilo que ouvem. Ao fazerem-no, demonstram interesse e o desejo de compreender a mensagem do interlocutor. Caso tenham entendido mal, o outro poderá esclarecer.

Os cônjuges podem dizer: “Deixe-me reformular o que acho que você disse para ter certeza de que compreendi corretamente”. (Por exemplo: “Você está magoada porque não conversei com você antes de comprar o sofá. Sentiu-se excluída e ignorada. É isso mesmo?” ou “Você acha que quebrei nossa regra de sempre tomarmos decisões importantes juntos quando comprei o sofá e isso a magoou. Entendi bem?”) As pessoas podem repetir o que entenderam do que o outro quiz dizer até que seu interlocutor chegue à conclusão que foi compreendido. Os ouvintes não devem inserir seus próprios preconceitos para passarem uma mensagem. Devem aceitar os pensamentos e sentimentos do outro, em vez de criticá-los ou julgá-los.

Expor as intenções. Ao abordarem um assunto difícil, as pessoas podem primeiro identificar e expor suas intenções — o que querem para o relacionamento, para o cônjuge e para si mesmas. Se suas intenções forem boas, o cônjuge compreenderá que pretendem resolver problemas, não criticar ou reclamar.

Quando surgem problemas no casamento, a pessoa que se sente atingida pode às vezes externar apenas sentimentos negativos ou usar formas de comunicação destrutivas como criticar, desprezar, ficar na defensiva ou fechar-se. Esse tipo de comportamento tende a prejudicar a relação, levando o cônjuge a sentir-se rejeitado, inaceitável, humilhado, triste, magoado ou irado. Um método melhor é os cônjuges abordarem um problema com a idéia de que o resolverão, em vez de apenas reclamarem a respeito. Portanto, podem começar expondo sua intenção de resolver o problema. Por exemplo: “Quero que saiba que o amo e que valorizo imensamente nossa relação. Há um problema que precisamos discutir. Desejo que o solucionemos a fim de continuarmos a nos sentir próximos e de bem um com o outro”.

Usar frases na primeira pessoa do singular. As pessoas devem usar frases com o pronome “eu” quando estiverem aborrecidas, em vez de construí-las usando o outro como sujeito.

Uma frase na primeira pessoa do singular externa sentimentos pessoais e explicita as razões por trás deles (por exemplo: “Fico chateado quando o aluguel não é pago em dia e quando os gastos não são lançados no canhoto do talão de cheques”), em vez de jogar a culpa nas costas do cônjuge. As frases com o pronome “eu” mostram ainda que assumimos a responsabilidade pelos sentimentos pessoais (por exemplo: “Estou irritado” em vez de “você me irrita”).

As frases com “você” pressupõem julgamento e costumam transmitir informações distorcidas sobre o cônjuge (por exemplo: “Você é preguiçoso” ou “Você nunca limpa o que suja”). As frases com “você” são um convite ao ressentimento, a posturas defensivas e à retaliação.

Não ficar na defensiva e concordar com a verdade. As pessoas devem concordar com o que for verdade ao receberem críticas ou acusações. Quando assumem a responsabilidade por seus erros, podem acalmar as discussões e aumentar sua credibilidade. Caso neguem a verdade, tenderão a intensificar os problemas e se mostrarão fracos e culpados.

Gottman afirmou que a tendência de ficar na defensiva é uma das mais perigosas formas de comunicação destrutiva. Observou que “pode conduzir a espirais intermináveis de negatividade”. Ficar na defensiva inclui negar responsabilidade, lançar mão de desculpas, discordar, criticar, atacar, ser cínico ou sarcástico e lamentar-se.

A atitude contrária consiste em assumir responsabilidade, reconhecer os erros, buscar soluções para os problemas, concordar sinceramente para efetuar mudanças e reconhecer respeitosamente os sentimentos do cônjuge. Gottman observou que os cônjuges que aprendem a não ficar na defensiva quase sempre melhoram seu casamento: “A tática mais importante para pôr fim à postura defensiva na comunicação é decidir ter um estado de espírito positivo em relação ao cônjuge e reintroduzir os elogios e a admiração no relacionamento”.13

Ao concordarem com a verdade e aprenderem a comunicar-se sem ficar na defensiva, as pessoas podem lembrar-se da eficácia de simplesmente dizerem: “Desculpe”. Um pedido sincero de perdão diminui os conflitos e abranda a ira e a discórdia.

Elogiar honestamente. Os elogios sinceros melhoram a comunicação e ajudam as pessoas a sentir-se bem. Como Gottman sugeriu, “o fato de relembrar o cônjuge (e você mesmo) que você o admira muito, costuma ter um impacto vigoroso e positivo sobre o restante da conversa”.14 Esses elogios fortalecem o relacionamento.

Expressar as preferências com clareza. A escritora Susan Page observou que alguns cônjuges passam anos sem externar suas preferências ou expectativas.15 Algumas expectativas são simples, como levar o lixo para fora de casa ou tirar a mesa depois do jantar; outras são menos prosaicas. Page sugeriu que as expectativas não comunicadas podem prejudicar um relacionamento durante anos. Quando suas expectativas não são atendidas, as pessoas tendem a sentir-se decepcionadas, frustradas e iradas, mesmo que não tenham expressado seus desejos ou anseios. Podem até acabar por ficar desiludidas com a relação.

Alguns motivos comuns para não externar os desejos e expectativas incluem pensamentos como: “Ele deveria saber o que quero”; “Ela vai achar que estou criticando”; “Devo contentar-me com o que tenho” ou “Nunca vou ter mesmo o que desejo, então por que pedir?” Contudo, ao pedirem o que desejam, as pessoas mostram que assumem responsabilidade no relacionamento. O processo de pedir costuma fortalecer o relacionamento. Mesmo que um pedido não seja atendido ou crie um conflito, pelo menos trará à questão à baila. Depois de expressa, poderá ser abordada e por fim resolvida.16

As pessoas devem usar de bom senso ao pedirem o que desejam, lembrando que nem todas as solicitações são adequadas. Elas devem:

  • Definir mentalmente com clareza o que desejam, antes de fazer o pedido;

  • Escolher o momento certo para fazer o pedido. É menos provável que o cônjuge seja compreensivo se estiver preocupado com outros assuntos;

  • Ser específicas; por exemplo, poderiam dizer: “Poderia levar o lixo, por favor?” em vez de “Eu gostaria que você fosse mais prestativo”;

  • Descrever brevemente o pedido sem se desfazer dele como forma de justificá-lo; por exemplo, poderiam dizer: “Eu gostaria de um beijo de despedida antes de ir trabalhar”, em vez de, “Sei que é pedir muito e que às vezes você não está totalmente acordada, mas eu me sentiria melhor se…”;

  • Pedir sem fazer exigências. “Você se importaria de…” é uma boa frase introdutória. As pessoas devem entender que o cônjuge tem o direito de dizer não, principalmente se o pedido for descabido.17

Se o pedido parecer adequado e a pessoa tiver fortes sentimentos a respeito e ainda assim o cônjuge o negar, o pedido pode ser formulado de outra maneira. Pode ser que o cônjuge demore para entender o significado e a importância da solicitação.18

Examinar o Modo de Comunicação (Processo versus Conteúdo)

Às vezes os casais dão tanta atenção às questões imediatas, como quem vai pagar as contas ou levar o lixo, que não reconhecem que a maneira de comunicarem-se (o processo) é o maior problema. Tentam sanar problemas de comunicação continuando a fazer coisas que não funcionam, como gritar, discutir ou repreender. Em vez de ajudarem a resolver os problemas, essas coisas contribuem para a continuação do conflito. Se os cônjuges avaliarem e mudarem seus processos de comunicação, tornando-os mais eficazes, resolverão melhor os conflitos e ganharão novas perspectivas que culminarão numa melhor interação.

Um casal buscou terapia porque a esposa tinha medo dos acessos de ira do marido. Durante uma discussão, ele esmurrou a parede do quarto e quebrou parte do revestimento de madeira. Na terapia, ele afirmou que jamais faria mal a alguém, ao passo que ela afirmava que bater em objetos poderia levá-lo um dia a agredir pessoas. (Questões de conteúdo.)

Em vez de deixar o casal discorrer indefinidamente sobre a possibilidade de o marido bater em alguém, o terapeuta voltou a atenção para o modo como eles costumavam lidar com os desentendimentos, incluindo o atual. A esposa sempre reclamava sobre problemas que a incomodavam. O marido sentia que ela lhe atribuía a culpa e ficava emocionalmente esgotado. Sem saber o que dizer, parava de falar e se distanciava. Ela interpretava o afastamento dele como uma rejeição dos sentimentos dela. Em seguida, ela seguia-o de um cômodo ao outro, exigindo que dialogasse. Ele acabava explodindo.

Depois que o casal identificou o processo, o terapeuta ajudou-os a mudar sua maneira de tentar resolver os problemas. A esposa aprendeu a expressar seus sentimentos de maneira menos intrusiva, ao passo que o marido aprendeu a ouvir e a responder de modo adequado aos sentimentos da esposa.

Comunicar-se com Eficácia

O Élder Marvin J. Ashton, do Quórum dos Doze, indicou como as pessoas podem aprender uma comunicação mais amorosa: “Oro ao Pai Celestial para que nos ajude a comunicar-nos com mais eficácia no lar por meio da disposição de fazermos sacrifícios, escutarmos, externarmos nossos sentimentos, evitarmos os julgamentos, resguardarmos as confidências e da disposição de praticarmos a paciência. (…) A comunicação pode aumentar a união familiar se nos empenharmos e fizermos sacrifícios para isso”.19

Notas

  1. “A Família: Proclamação ao Mundo”, A Liahona, outubro de 2004, p. 49.

  2. “Love Versus Lust”, em Brigham Young University Speeches of the Year (Provo: Brigham Young University, 1962), p. 2.

  3. David H. Olson e Amy K. Olson, Empowering Couples: Building on Your Strengths (Minneapolis: Life Innovations, Inc., 2000), pp. 7, 24. Há mais informações em www.prepare-enrich.com. Não se trata de um site oficial da Igreja e o fato de ser citado aqui não implica endosso.

  4. Empowering Couples, p. 9.

  5. “Healing Wounds in Marriage”, Ensign, julho de 1993, pp. 18–19.

  6. Why Marriages Succeed or Fail, de John Gottman, Ph.D. Todos os direitos reservados © 1994 por John Gottman. Reimpresso com a permissão de Simon & Schuster, Inc. NY. Páginas 72–95. Citações das páginas 73 e 79.

  7. Why Marriages Succeed or Fail, p. 57.

  8. Why Marriages Succeed or Fail, pp. 59–61.

  9. Why Marriages Succeed or Fail, p. 105.

  10. Why Marriages Succeed or Fail, pp. 105–107.

  11. Why Marriages Succeed or Fail, pp. 107–108.

  12. Conference Report, abril de 1991, p. 28; ou Ensign, maio de 1991, p. 23.

  13. Why Marriages Succeed or Fail, p. 181.

  14. Why Marriages Succeed or Fail, p. 196.

  15. The 8 Essential Traits of Couples Who Thrive (New York: Dell Publishing, 1997), p. 152.

  16. The 8 Essential Traits, pp. 152–153.

  17. The 8 Essential Traits, pp. 157–158, 160–161.

  18. The 8 Essential Traits, p. 161.

  19. Conference Report, abril de 1976, p. 82; ou Ensign, maio de 1976, p. 54.

Imprimir