A Liahona
Confiar no Senhor
Maio de 2024


Confiar no Senhor

O nosso relacionamento com Deus crescerá até ao ponto em que estivermos dispostos a colocar a nossa confiança n’Ele.

Na nossa família às vezes jogamos um jogo a que chamamos de “Exercício Louco de Confiança”. Provavelmente já o jogaram também. Duas pessoas ficam em pé, a alguns passos uma da outra, uma delas de costas viradas para a outra. Ao sinal da pessoa que está atrás, a da frente deixa-se cair de costas nos braços da sua amiga.

A confiança é a base de todos os relacionamentos. Uma questão fundamental para qualquer relacionamento é: “Posso confiar na outra pessoa?” Um relacionamento só se constrói quando as pessoas estão dispostas a confiar umas nas outras. Não há relacionamento se uma das pessoas confiar completamente e a outra não.

Cada um de nós é uma filha ou filho amado de um amoroso Pai Celestial.1 Mas, embora essa genealogia espiritual forneça uma base, por si só não cria um relacionamento significativo com Deus. Um relacionamento só pode ser construído quando escolhemos confiar n’Ele.

O Pai Celestial deseja construir um relacionamento próximo e pessoal com cada um dos Seus filhos espirituais.2 Jesus expressou esse desejo quando orou: “Para que todos sejam um como tu, ó Pai, és em mim, e eu, em ti; que também eles sejam um em nós”.3 Deus procura ter um relacionamento tão próximo e pessoal com cada filho espiritual para que possa partilhar tudo o que tem e tudo o que é.4 Este tipo de relacionamento profundo e duradouro só pode desenvolver-se quando construído sobre uma confiança perfeita e completa.

Da Sua parte, o Pai Celestial tem trabalhado desde o início para comunicar a Sua confiança absoluta no potencial divino de cada um dos Seus filhos. A confiança está na base do plano que Ele apresentou para o nosso crescimento e progresso, antes de virmos à Terra. Ele ensinar-nos-ia as leis eternas, criaria uma Terra, dar-nos-ia corpos mortais e o dom de escolher por nós mesmos e permitir-nos-ia aprender e crescer ao fazermos as nossas próprias escolhas. Ele deseja que escolhamos seguir as Suas leis e voltemos para desfrutar de vida eterna com Ele e com o Seu Filho.

Sabendo que nem sempre faríamos boas escolhas, Ele também preparou um caminho para escaparmos das consequências das más decisões. Ele providenciou-nos um Salvador — o Seu Filho, Jesus Cristo — para expiar pelos nossos pecados e tornar-nos limpos novamente, sob a condição de arrependimento.5 Ele convida-nos a usar, com regularidade, o precioso dom do arrependimento.6

Todos os pais sabem como é difícil confiar minimamente num filho e deixá-lo tomar as suas próprias decisões, especialmente quando sabem que este, provavelmente cometerá erros e, consequentemente, sofrerá. No entanto, o Pai Celestial permite-nos que façamos as escolhas que nos ajudarão a alcançar o nosso potencial divino! Tal como ensinou o Elder Dale G. Renlund, o “[Seu] objetivo como pai não é ordenar que os Seus filhos façam o que é certo, mas sim, o de ajudar os Seus filhos a escolher fazer o que é certo e, em última instância, a tornarem-se semelhantes a Ele”.7

Apesar da confiança de Deus em nós, o nosso relacionamento com Ele só poderá crescer na medida em que estivermos dispostos a colocar a nossa confiança n’Ele. O desafio é: vivemos num mundo decaído e todos já sentimos a nossa confiança ser traída pela desonestidade, manipulação, coerção ou por outras circunstâncias. Uma vez traídos, podemos ter dificuldade em confiar novamente. Estas experiências negativas de confiança com mortais imperfeitos podem até ter impacto na nossa disposição de confiar no Pai Celestial.

Há vários anos, dois amigos meus, o Leonid e a Valentina, manifestaram interesse em se tornarem membros da Igreja. Ao começar a aprender sobre o evangelho, o Leonid achou difícil orar. No início da sua vida, o Leonid tinha sofrido manipulação e controlo por parte dos seus superiores e desenvolveu uma desconfiança em relação à autoridade. Estas experiências afetaram a sua capacidade de abrir o coração e expressar sentimentos pessoais ao Pai Celestial. Com o tempo e com o estudo, o Leonid adquiriu uma melhor compreensão do caráter de Deus e vivenciou o amor de Deus. Eventualmente, a oração tornou-se uma forma natural de ele expressar gratidão e o amor que sentia por Deus. A sua crescente confiança em Deus, orientou-o, a ele e à Valentina, a fazer convénios sagrados para fortaleceram o seu relacionamento com Deus e um com o outro.

Se uma perda de confiança anterior está a impedir-vos de confiar em Deus, sigam o exemplo do Leonid. Continuem, pacientemente, a aprender mais sobre o Pai Celestial, sobre o Seu caráter, os Seus atributos e os Seus propósitos. Procurem e registem experiências em que sentiram o Seu amor e poder na vossa vida. O nosso Profeta, o Presidente Russell M. Nelson, ensinou que quanto mais aprendermos sobre Deus, mais fácil será confiar n’Ele.8

Às vezes, a melhor maneira de aprender a confiar em Deus é simplesmente confiar n’Ele. Tal como no “Exercício Louco de Confiança”, às vezes só precisamos de estar dispostos a cair para trás e deixar que Ele nos segure. A nossa vida mortal é um teste. Os desafios que nos levam para além da nossa capacidade surgem com frequência. Quando o nosso próprio conhecimento e compreensão são inadequados, é natural procurarmos ajuda de outras fontes. Num mundo saturado de informação, o que não faltam são fontes que promovam as suas soluções para os nossos desafios. Contudo, o conselho simples e comprovado de Provérbios fornece o melhor conselho: “Confia no Senhor de todo o teu coração”.9 Demonstramos a nossa confiança em Deus voltando-nos primeiramente para Ele quando confrontados com os desafios da vida.

Depois de terminar a faculdade de direito em Utah, a nossa família enfrentou uma decisão importante: onde é que iríamos trabalhar e morar. Depois de nos aconselharmos uns com os outros e com o Senhor, sentimo-nos orientados a mudar a nossa família para a região este dos Estados Unidos, longe dos nossos pais e irmãos. Inicialmente, as coisas correram bem e sentimos a confirmação da nossa decisão. Mas, depois, tudo mudou. Houve redução de funcionários no escritório de advocacia e enfrentei a perspetiva de não ter emprego nem seguro de saúde no exato momento em que a nossa filha Dora nasceu, com sérios problemas de saúde e necessidades especiais a longo prazo. Enquanto enfrentava estes desafios, recebi um chamado que exigiria muito tempo e comprometimento.

Nunca tinha enfrentado tal desafio e senti-me sobrecarregado. Comecei a questionar a decisão que tínhamos tomado bem como a confirmação da decisão. Tínhamos confiado no Senhor e era suposto que as coisas corressem bem. Eu tinha caído para trás e agora parecia que ninguém me iria segurar.

Certo dia, vieram claramente à minha mente e ao meu coração as seguintes palavras: “Não perguntes porquê, pergunta o que Eu quero que aprendas”. Agora fiquei ainda mais confuso. No exato momento em que eu estava a debater-me com a minha decisão anterior, Deus convidava-me a confiar ainda mais n’Ele. Ao olhar para trás, este foi um ponto crucial na minha vida, o momento em que percebi que a melhor maneira de aprender a confiar em Deus era simplesmente confiar n’Ele. Nas semanas seguintes, observei maravilhado, à medida que o Senhor revelava milagrosamente o Seu plano para abençoar a nossa família.

Bons professores e formadores sabem que o crescimento intelectual e a força física só acontecem quando a mente e os músculos são exercitados. Da mesma forma, Deus convida-nos a crescer ao confiar na Sua orientação espiritual, através de experiências que exercitam a alma. Portanto, podemos ter a certeza de que, independentemente do grau de confiança em Deus que tenhamos demonstrado no passado, outras experiências de crescimento de confiança ainda estão por vir. Deus está focado no nosso crescimento e progresso. Ele é o maior mestre, o formador completo que está sempre a exercitar-nos para nos ajudar a melhor entender o nosso potencial divino. Isto incluirá sempre um convite futuro para confiar um pouco mais n’Ele.

O Livro de Mórmon ensina o padrão que Deus usa para nos exercitar de forma a construir relacionamentos fortes connosco. No Vem, e Segue-Me, estudámos recentemente como a confiança de Néfi em Deus foi testada quando ele e os seus irmãos foram ordenados a voltar a Jerusalém para obter as placas de latão. Depois das suas tentativas iniciais falharem, os irmãos desistiram e estavam prontos para voltar ao deserto sem as placas. Mas, Néfi escolheu depositar total confiança no Senhor e conseguiu obtê-las.10 Esta experiência provavelmente fortaleceu de igual maneira a confiança de Néfi em Deus quando o seu arco se partiu e a família passou fome no deserto. Mais uma vez, Néfi escolheu confiar em Deus e a família foi salva.11 Estas experiências sucessivas deram a Néfi uma confiança ainda mais forte em Deus para a enorme tarefa, que exigia muita confiança e que ele teria de enfrentar em breve — a construção de um navio.12

Através destas experiências, Néfi fortaleceu o seu relacionamento com Deus ao confiar n’Ele de forma consistente e contínua. Deus usa o mesmo padrão connosco. Ele faz-nos convites pessoais para fortalecer e aprofundar a nossa confiança n’Ele.13 Cada vez que aceitamos e agimos de acordo com um convite, a nossa confiança em Deus aumenta. Se ignorarmos ou recusarmos um convite, o nosso progresso será interrompido até que estejamos prontos para agir quando recebermos um novo convite.

A boa notícia é que, independentemente da confiança que escolhemos, ou não, depositar em Deus no passado, podemos escolher confiar em Deus hoje e todos os dias daqui em diante. Prometo que sempre que assim procedermos, Deus estará lá para nos segurar e o nosso relacionamento de confiança ficará cada vez mais forte, até ao dia em que nos tornarmos um com Ele e com o Seu Filho. Então, poderemos declarar como Néfi declarou: “Ó Senhor, confiei em ti e em ti confiarei sempre”.14 Em nome de Jesus Cristo. Amém.

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