“Não Vos Vanglorieis da Fé Nem de Grandes Obras”
“Deixai que os outros tomem conhecimento de realizações pela observação… Jactância diminui a credibilidade e muitas vezes afasta amigos, companheiros de trabalho, familiares e até mesmo aqueles que podem estar observando-nos à distância.”
Quando menino, eu gostava de ouvir a história do Rei Artur. Nela, Guinevere, a rainha, dá este conselho a Lancelot, o mais corajoso dos cavaleiros da Távola Redonda: “Não acho que deve declarar-se ao mundo antes de haver provado o seu valor. Por isso, não proclame seu nome, mas espere até que o mundo o faça.”
Quão mais efetivo é, também em nossos dias, deixar que o mundo veja nossas boas obras em lugar de apregoarmos nossas realizações ou apontarmos nossos feitos magníficos.
Devemos evitar os efeitos nocivos causados pela ostentação do aumento de números ou de crescimento. Quão melhor é deixar que outros aquilatem nossas realizações, em lugar de interpretarem mal nossa repetição contínua de percentagens, progresso ou êxito familiar.
Jactar-se é glorificar a si próprio, falar em vão ou de maneira vaidosa, ou falar principalmente dos próprios feitos. Jactar-se é falar com orgulho ou ter orgulho, vangloriar-se do que se faz ou tem, ter orgulho de possuir.
As pessoas jactanciosas freqüentemente querem atrair toda atenção. Provavelmente não se dão conta das conseqüências de sua maneira de agir.
Amon dá-nos excelentes diretrizes para pôr nosso sucesso na devida perspectiva.
“E aconteceu que, tendo Amon pronunciado essas palavras, seu irmão Aarão o censurou, dizendo: Temo, Amon, que tua alegria te leve a vangloriar-te.
Mas Amon lhe disse: Não me vanglorio de minha própria força nem de minha própria sabedoria, mas eis que meu gozo é completo; sim, meu coração transborda de alegria e me regozijo em meu Deus.
Sim, e sei que nada sou; quanto à minha força, sou débil; portanto, não me vangloriarei de mim mesmo, mas me gloriarei em meu Deus, pois que com sua força tudo posso fazer; sim, eis que fizemos muitos milagres nesta terra, pelo que louvaremos o seu nome para sempre.” (Alma 26:10–12.)
Nós podemos ser muito mais efetivos em nossas conversas e conduta se evitarmos o efeito degradante do que poderia ser classificado como jactância. Devemos, sabiamente, deixar que os outros tomem conhecimento de realizações pela observação, em lugar de parecer que as estamos alardeando ao mundo. Jactância diminui a credibilidade e muitas vezes afasta amigos, companheiros de trabalho, familiares e até mesmo aqueles que podem estar observando-nos à distância.
Somos humildemente gratos pelo número crescente de conversões, pelos muitos missionários que temos no campo e pela evidência de compromissos maiores para com a Igreja.
Recordamos a resposta de um de nossos profetas, Spencer W. Kimball, quando informado do grande número de missionários servindo no campo. Disse ele: “Estou grato, mas não impressionado.” Ele expressou gratidão, mas exortou os membros da Igreja a não se vangloriarem de nada, a buscarem patamares mais elevados e novos horizontes.
Nosso Salvador, Jesus Cristo, a cuja Igreja pertencemos, ficaria desapontado se alguma vez déssemos a impressão de que os esforços e labuta, empregados na edificação de seu reino, são baseados unicamente na sabedoria e no poder do homem.
Numa recente conferência especial de mulheres, um dos oradores falou de seu considerável sucesso no ramo imobiliário e como tudo o que ele tocava se transformava em ouro. Procurara, igualmente, levar uma vida fiel e fora um servo muito ativo no evangelho. Depois fora chamado para presidir uma missão. Aparentemente, fora um presidente de missão muito bom, e, subseqüentemente, voltara para seu estado de origem. Durante a vida inteira experimentara um sucesso após outro: era um líder reconhecido em sua comunidade e formara um próspero negócio. Ser chamado como presidente de missão como que incutira em sua mente que “havia conseguido”, que era um sucesso total.
Ao voltar da missão, uma combinação de mudanças nas taxas de juros e outros fatores comerciais fizeram seu negócio, antes tão próspero, malograr. Na verdade, perdeu tudo o que tinha. Contando seu caso, ele disse: “Então percebi que me tornara um tanto pretensioso — que, embora sentisse ter um testemunho de Jesus Cristo, em minha mente eu conseguira todas essas coisas maravilhosas com meu próprio esforço, minha inteligência e assim por diante. Quando fui atingido pelas dificuldades, comecei a perceber quão ofensiva deve ter parecido aos outros e ao Pai Celestial a presunção de ter realizado tudo por mim mesmo. Senti-me como tendo levado uma vida de arrogância e vanglória.”
O conselho de Helamã a seus filhos, Néfi e Léhi, pode dar-nos forças nos dias de hoje:
“Por conseguinte, meus filhos, desejo que pratiqueis o bem…
E agora, meus filhos, eis que tenho algo mais a desejar de vós; e o meu desejo é que não pratiqueis o bem para vanglória, mas que o pratiqueis para aumentar o vosso tesouro no céu, sim o qual é eterno.” (Helamã 5:7–8.)
Helamã queria que os filhos fizessem o bem pelos motivos certos — não para jactar-se, mas para juntar tesouros nos céus.
“Não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita” é um conselho muito repetido. (Mateus 6:3.) Isto se aplica particularmente quando tivermos oportunidade de confortar, consolar ou aconselhar algum semelhante que estiver confuso, perturbado ou desanimado. Qualquer sucesso que possamos ter conseguido, tentando ajudar, geralmente não deve ser discutido e, muito menos, servir de motivo de vanglória. O serviço humilde, silencioso e compassivo é muito alentador para a alma; quem precisa ressaltar o objeto ou local de boas obras?
“Pois embora um homem receba muitas revelações e tenha poder para realizar muitos milagres, contudo, se ele se vangloria de sua própria força, e menospreza os conselhos de Deus e segue os ditames de sua própria vontade e desejos carnais, cairá e suscitará sobre si a vingança de um Deus justo.” (D&C 3:4.)
Como é fácil ao homem acreditar que o sucesso material foi conseguido só por sua própria capacidade e empenho. Tudo que é bom provém do Senhor.
Consideração pelos sentimentos alheios deve ser sempre importante para os santos dos últimos dias. É justo estarmos felizes pelo número de filhos com que fomos abençoados, pelos missionários que serviram, os casamentos de nossos descendentes no templo e realizações de familiares nossos; mas outros, não tão afortunados, podem sentir-se culpados ou inadequados. Talvez tenham estado orando há muito tempo pelas mesmas bênçãos das quais nos vangloriamos. Essas pessoas podem sentir que não estão nas boas graças do Senhor.
Por esta razão, nosso apreço deve ser sincero e nossa gratidão expressa freqüentemente ao Pai Celeste — mas sem alarde.
Possamos ter grata consciência da fonte de nossas bênçãos e de nossa força, mas evitemos reclamar crédito indevido por realizações pessoais.
Muitas vezes, quando ficamos falando de onde estávamos e onde estamos agora, e do que conseguimos espiritual e financeiramente, suscitamos antes ressentimento do que respeito.
Não é bom vangloriar-se dos próprios feitos, mesmo que seja de forma inocente. Com demasiada freqüência, a pessoa que se vangloria de alguma coisa dá a impressão de mais interesse por si própria do que pelos outros.
Minha experiência, no decorrer dos anos, como participante de esportes de equipe, tem demonstrado que o “astro” que se vangloria de seus feitos e recordes está procurando encrenca. Os atletas com recordes que continuam a impressionar são os que apontam, e realmente reconhecem, as qualidades de companheiros, técnicos e diretores, e são gratos a Deus por seus muitos talentos e aptidões.
Em competições atléticas, os oponentes parecem esperar ansiosos a oportunidade de derrotar aqueles que se vangloriam de sua própria força. Davi deve ter sentido grande satisfação ao derrotar Golias, o jactancioso e desafiador gigante.
É agradável a Deus que humildemente reconheçamos seus poderes e influência em nossas realizações, em lugar de indicar, por palavras ou alusões, que somos os responsáveis por feitos notáveis.
Tiago 3:5 nos ensina que “a língua é um pequeno membro, e gloria-se de grandes coisas”. Nenhum santo dos últimos dias consciente permitirá que seus comentários, atitudes ou expressões sejam interpretados como vanglória de sua própria força. Aqueles que persistem em vangloriar-se dos próprios feitos deixam de reconhecer as verdadeiras fontes da realização pessoal.
A história nos ensina que as pessoas que se jactam de sua própria força não têm sucesso duradouro. É preciso lembrar-nos, constantemente, de que não nos devemos vangloriar de nossa fé ou obras poderosas, mas sim glorificar a Deus por suas bênçãos e bondade para conosco. Deus nos ajudará a entender que a humildade precisa ser nosso alicerce para que a bondade do Senhor continue fluindo para nós e de nós. O homem jactancioso por certo cairá, porque nenhum homem persevera apenas por sua própria força. Os companheiros de uma pessoa jactanciosa ou convencida não esperam que ela alcance grandes alturas na vida, pois sua atitude é a de quem já se encontra no alto.
Um dos pecados mais comuns entre as pessoas do mundo é confiar no braço de carne e depois vanglqriar-se dele. Isto é um grande mal. É um pecado nascido do orgulho, um pecado capaz de criar um estado de espírito que impede o homem de voltar-se para Deus e de aceitar sua graça salvadora. Quando alguém, consciente ou inconscientemente, passa a exaltar-se por causa de suas riquezas, seu poder político, seu saber mundano, sua aptidão física, sua habilidade empresarial ou até mesmo suas obras de retidão, não está em sintonia com o Espírito do Senhor.
Convém que todos aprendamos a lição do Salvador, que repetidamente reconhecia o Pai e o louvava em todas as coisas. Na verdade, esse precedente foi estabelecido no conselho pré-mortal, quando Jesus Cristo prometeu atribuir ao Pai os frutos de tudo que realizasse: “E seja tua a glória para sempre.” (Moisés 4:2.)
Durante seu ministério mortal, Jesus fez reviver a filha de Jairo. “E seus pais ficaram maravilhados; e ele lhes mandou que a ninguém dissessem o que havia sucedido.” (Lucas 8:56.) Marcos diz “e mandou-lhes expressamente que ninguém o soubesse”. (Marcos 5:43.)
Esse feito maravilhoso que transformou a morte em vida, que prestou testemunho da divindade daquele que já então prenunciava sua futura vitória sobre a tumba, que só podia ser realizado em retidão e unicamente pelo poder de Deus — este poderoso milagre deveria, segundo Mateus, divulgar sua fama por todo o país, por seus próprios méritos. (Vide Mateus 4:24.)
De fato, os pais não poderiam ocultar o que já era de conhecimento público; todas as pessoas daquela região logo saberiam, devido à atuação do próprio Jesus nos eventos sucessivos, que a menina que estivera morta agora vivia. Sua morte havia sido anunciada abertamente à multidão. Jesus respondera, diante da multidão, que, não obstante sua morte, ela “será salva”. (Lucas 8:50.) Todo o povo logo saberia que ela estava viva, e era lógico jque ficasse imaginando como, e por que meios, ela revivera.
Foi recomendado aos pais que não o contassem a ninguém, mas que deixassem o relato desse evento portentoso para outras pessoas conhecedoras do milagre. Nós, como conselho fundamental do evangelho, incentivamos aqueles que gozam dos dons do Espírito e possuem os sinais que sempre seguem os que crêem, a terem por mandamento não vangloriar-se dessas bênçãos espirituais. Em nossos dias, depois de citar os milagrosos sinais que sempre acompanham os que têm fé e os que crêem nas verdades ensinadas por Jesus antigamente, disse o Senhor:
“Mas um mandamento lhes dou, que não se vangloriem com estas coisas, nem delas falem diante do mundo; pois estas coisas vos são dadas para o vosso proveito e para salvação.” (D&C 84:73.)
Talvez a ordem de que “a ninguém dissessem” significasse que não deveriam alardear a notícia, para que suas almas não se enchessem de orgulho — de um complexo de superioridade. Houve vezes em que Jesus ordenou aos beneficiários de seu poder curador que falassem e testificassem da bondade de Deus para com eles, e outras em que limitou a extensão e detalhes de seu testemunho.
As muitas admoestações das escrituras, para evitarmos a vanglória, mostram que devemos reconhecer a fonte de todas as nossas bênçãos.
Tudo é concedido por Deus. Todo talento, criatividade, capacidade, discernimento e força provém dele. Por nossa própria força não podemos fazer coisa alguma, conforme Amon admitiu a seu irmão. (Vide Alma 26:10–12.) Quando buscamos o louvor do homem mais que o de Deus, torna-se fácil cair.
A vanglória deixa de existir quando buscamos a ajuda do Senhor e agradecemos-lhe tudo o que somos e temos.
Deus nos ajude a aceitar humildemente a força e orientação com que nos abençoa. As pessoas sábias e empenhadas na obra do Senhor louvarão seu nome para sempre e evitarão até mesmo a aparência de qualquer atitude ou situação que destaque realizações ou jactâncias pessoais.
Deixo-vos meu testemunho especial da veracidade desta grande obra. Todos podemos compartilhar mais efetivamente nosso conhecimento e testemunho se não nos vangloriarmos de nossos feitos. Isto eu digo em nome de Jesus Cristo, amém.