Testemunhas de Deus
“Essencialmente, o que o Pai requer de nós é mais que uma contribuição; é compromisso total, devoção plena, tudo o que somos e tudo o que podemos ser.”
Quando penso nas bênçãos que Deus nos tem concedido e nas inúmeras belezas do Evangelho de Jesus Cristo, compreendo que, ao longo do caminho, são-nos solicitadas certas contribuições em retribuição, contribuições de tempo ou dinheiro ou outros recursos. São todas valiosas e todas necessárias, mas não constituem nossa oferta total a Deus. Essencialmente, o que o Pai requer de nós é mais que uma contribuição; é compromisso total, devoção plena, tudo o que somos e tudo o que podemos ser.
Por favor, entendei que não me estou referindo somente ao compromisso para com a Igreja e suas atividades, embora isso precise de contínua ênfase. Não, refiro-me mais especificamente ao compromisso demonstrado em nossa conduta pessoal, nossa integridade pessoal, nossa lealdade ao lar, à família e à comunidade, bem como à Igreja. É óbvio que todas essas lealdades são inter-relacionadas e intimamente ligadas, porque o ensino e o exemplo do Senhor Jesus Cristo modelam nossa conduta e formam nosso caráter em todas as áreas da vida — pessoal, no lar, na vida profissional e comunitária, e na devoção para com a Igreja que leva seu nome.
Se pautarmos nossa vida pela do Mestre, e adotarmos seu ensino e exemplo como nosso padrão supremo, não encontraremos dificuldade em sermos consistentes em todas as ocupações, pois estaremos comprometidos a um único e sagrado padrão de conduta e crença. Seja em casa ou nos negócios, seja na escola ou muito depois de sairmos dela, estejamos agindo totalmente sós ou com uma porção de outras pessoas, nosso curso será claro e nossos padrões óbvios. Teremos decidido, como diz o Profeta Alma, “servir de testemunhas de Deus em qualquer tempo, em todas as coisas e em qualquer lugar em que (nos encontremos), mesmo até a morte”. (Mosiah 18:9.)
Tal lealdade inclui, o apoio à igreja institucional, mas um dos objetivos dessa igreja é alterar e melhorar também nosso procedimento em todos os outros aspectos da vida, onde quer que estejamos e sejam quais forem as condições em que nos encontremos, “mesmo até a morte”.
Permiti-me recordar apenas um dos magníficos exemplos das escrituras, em que três pessoas, relativamente jovens, foram fiéis a seus princípios e se apegaram à sua integridade, mesmo diante da probabilidade de que isso lhes custasse a vida.
Aproximadamente quinhentos e oitenta e seis anos antes de Cristo, Nabucodonosor, rei da Babilônia, marchou contra a cidade de Jerusalém e conquistou-a. E ficou tão impressionado com as qualidades e o saber dos filhos de Israel, que levou vários deles para sua corte.
Os israelitas se viram em apuros no dia em que Nabucodonosor fez um ídolo de ouro e ordenou que toda a província da Babilônia o adorasse, uma ordem calmamente recusada pelos três jovens israelitas: Sadraque, Mesaque e Abednego. Tomado de “ira e furor”, o rei ordenou que fossem conduzidos à sua presença. (Daniel 3:13.) E informou-lhes que, se não se prostrassem diante da imagem de ouro no momento indicado, seriam “lançados, na mesma hora, dentro do forno de fogo ardente”. Depois indagou com empáfia: “E quem é o Deus que vos poderá livrar das minhas mãos?” (Vers. 15.)
Os jovens responderam cortesmente, mas sem hesitação:
“Não necessitamos de te responder sobre este negócio” (a ameaça de morte), disseram eles. “Eis que o nosso Deus, a quem nós servimos, é que nos pode livrar; ele nos livrará do forno de fogo ardente, e da tua mão, ó rei.
E, se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses nem adoraremos a estátua de ouro que levantaste.” (Vers. 17–18.)
Logicamente, Nabucodonosor ficou mais furioso ainda e ordenou que uma das fornalhas fosse aquecida sete vezes mais que o normal. Depois, mandou que os três valentes jovens fossem lançados ao fogo, totalmente vestidos. Na verdade, o rei insistiu tanto, e o fogo estava tão quente, que os soldados que levavam Sadraque, Mesaque e Abdenego caíram mortos quando foram lançar seus prisioneiros na fornalha, devido ao calor excessivo.
Então aconteceu um dos grandes milagres a que os fiéis têm direito, segundo a vontade de Deus. Os três ficaram andando calmamente no meio da fornalha, sem se queimarem. Na verdade, quando o próprio rei, espantado, mandou que saíssem, suas roupas estavam imaculadas, a pele livre de qualquer queimadura e nenhum cabelo de suas cabeças fora chamuscado. Os três fiéis e corajosos jovens não tinham nem cheiro de fumaça.
“Bendito seja o Deus de Sadraque, Mesaque e Abednego”, exclamou o rei, “que… livrou os seus servos, que confiaram nele,… preferindo entregar os seus corpos, para que não servissem nem adorassem algum outro deus, senão o seu Deus.
… Então o rei fez prosperar a Sadraque, Mesaque e Abednego, na província da Babilônia.” (Daniel 3:28, 30.)
A capacidade de ater-se aos próprios princípios, de viver com integridade e fé de acordo com o que se acredita — é isto que importa, é esta a diferença entre contribuição e compromisso. Essa devoção ao princípio certo, na vida individual, no lar e na família, e em todo lugar em que encontramos e influenciamos outras pessoas, essa devoção é que Deus requer de nós, em última instância.
Lembro-me de que, anos atrás, nosso falecido e querido companheiro, Presidente Stephen L. Richards, proferiu um discurso na universidade, intitulado “Testado e Não Encontrado em Falta”. Ele referiu-se ao povo de nossa época, inclusive aos jovens de nossos dias, que precisam ser capazes de resistir às várias provas de fidelidade e lealdade que a vida nos impõe a todos, de tempos em tempos. Nenhum de seus exemplos foi tão dramático como ser lançado numa fornalha ardente, mas a integridade envolvida era a mesma, bem como a necessidade de compromisso com princípios elevados. Dizia ele:
“Como (nos) sentimos a respeito de honra e integridade? Qual é (nossa) reação à mentira polida para facilitar o (relacionamento) social? Até onde toleramos a supressão ou distorção de fatos para conseguir vantagem comercial? Aceitamos sem remorso o velho provérbio de que tudo se permite no amor, na guerra, na política e no atletismo universitário?…
Quão sagrado consideramos o bom nome alheio? (Passamos adiante) pequenas indiscrições apimentadas, na conversa social,… repetindo rumores e histórias não submetidas à prova da (verdade)?” (Stephen L. Richards, Where Is Wisdom? Salt Lake City: Deseret Book Co., 1955, pp. 80-81.)
No mesmo sentido, pronunciouse o Presidente Spencer W. Kimball:
“Posso não ser capaz de eliminar o lixo pornográfico, mas eu e minha família não precisamos comprá-lo ou apreciá-lo.
Posso não ser capaz de fechar negócios escusos, mas posso manter-me afastado de áreas de fama questionável e má reputação.
Posso não ser capaz de reduzir consideravelmente os divórcios do país ou salvar todos os lares desfeitos e crianças frustradas, mas posso manter a harmonia na minha casa, meu casamento feliz, meu lar um céu e meus filhos bem ajustados.
Posso não ser capaz de fazer cessar o crescente clamor de mais liberdade das leis baseadas na moral, ou mudar todas as opiniões sobre liberalidade sexual e crescentes perversões, mas posso garantir devoção a todos os ideais e padrões elevados em meu próprio lar, e posso esforçar-me para dar à minha família uma vida espiritual feliz e interdependente.
Posso não ser capaz de impedir todos os subornos e desonestidades nas altas esferas, mas posso ser pessoalmente honesto e reto, cheio de integridade e genuína honra.” (Spencer W. Kimball, Faith Precedes the Miracle, Salt Lake City: Deseret Book Co., 1972, p. 247.)
Essas são algumas das provas rotineiras mas decisivas de nossa época, em que precisamos estar dispostos a permanecer fiéis, com integridade e honra. Na verdade, mesmo no caso de polidez social, devemos estar dispostos a “servir de testemunhas de Deus em qualquer tempo, em todas as coisas e em qualquer lugar em que (nos encontremos), mesmo até a morte”. (Mosiah 18:9.)
Permiti-me concluir, ressaltando um lugar na sociedade em que é preciso mostrar força e compromisso, se quisermos sobreviver como nação, como povo ou mesmo como igreja plenamente bem sucedida. É preciso simplesmente haver amor, integridade e princípios vigorosos em nosso lar. Precisamos de um compromisso inabalável para com o casamento, os filhos, e a moralidade. Temos de ter sucesso onde ele mais importa para a próxima geração.
Certamente, é mais forte e belo o lar em que as pessoas são sensíveis aos sentimentos alheios, procurando servir-se mutuamente, esforçando-se para viver em casa os princípios que demonstram num ambiente mais público. Precisamos esforçar-nos mais em viver o evangelho no círculo familiar. Nosso lar merece nosso mais fiel compromisso. A criança tem o direito de sentir-se segura no lar, de sentir que aquele é um lugar de proteção dos perigos e males do mundo lá fora. União e integridade familiar são necessárias para atender a essa necessidade. A criança precisa de pais felizes em seu relacionamento conjugal, que trabalhem juntos alegremente, buscando a vida familiar ideal, que amem os filhos com amor sincero e abnegado, e que tenham compromisso para com o sucesso da família.
Disse o Presidente N. Eldon Tanner: “Imaginai só a reviravolta, se a vida familiar fosse regida por total integridade. Haveria completa fidelidade. Os maridos seriam fiéis à esposa e estas ao marido. Não haveria ninguém vivendo em relacionamento adulterino à guisa de casamento. No lar haveria muito amor, filhos e pais se respeitariam mutuamente… (De que outra forma nossos filhos darão) valor à honestidade e integridade?” (A Liahona, outubro de 1977, p. 16.)
Uma vida de sucesso, a boa vida, a vida reta cristã, requer algo além de contribuição, ainda que toda contribuição seja valiosa. Em última instância, ela requer compromisso de toda alma, profundamente arraigado, eternamente acalentado, aos princípios que sabemos verdadeiros nos mandamentos dados por Deus. Necessitamos de tal lealdade à Igreja, mas esta precisa ser imediatamente interpretada como lealdade em nossos hábitos e conduta pessoal, integridade na comunidade e nos negócios, e, a bem do futuro, devoção e caráter em nosso casamento, lar e família.
Se formos leais e fiéis aos nossos princípios, comprometidos com uma vida de honestidade e integridade, então nenhum rei, prova ou fornalha ardente será capaz de nos fazer baixar nossos padrões. Para o sucesso do reino de Deus na terra, sejamos testemunhas dele “em qualquer tempo, em todas as coisas e em qualquer lugar, mesmo até a morte”. (Mosiah 18:9.)
Em nome de Jesus Cristo, amém.