O Sacerdócio Aarônico:
Retornai Com Honra
“Vós que possuís o Sacerdócio Aarônico, sede obedientes, exercitando o livre-arbítrio com retidão. Sede dignos e estai preparados para realizar bem vosso chamado.”
Queridos irmãos, sinto-me feliz com a oportunidade de discursar como bispo, hoje à noite. Quero falar sobre o Sacerdócio Aarônico, dizendo, em primeiro lugar, o que ele não é. Não é uma atividade; e, em segundo lugar, não é um sacerdócio no qual avançamos conforme a idade. Avançamos devido à dignidade pessoal.
Agora vamos falar sobre o que o Sacerdócio Aarônico é.
Os anos de Sacerdócio Aarônico são um período preparatório no qual nos preparamos, na terra, para sermos dignos de retornar com honra à presença do Pai Celestial.
Não podemos lembrar-nos que já vivemos com o Pai Celeste e Jesus Cristo e que participamos de reuniões semelhantes a esta, onde o plano do Pai para nosso progresso foi explicado. Não conseguimos lembrar que Lúcifer, um filho de Deus, o Pai, e irmão de Jesus Cristo, se rebelou contra o plano de Deus e, em sua revolta, prometeu que nos levaria de volta para casa. Mas ele nos teria negado o livre-arbítrio, a liberade de decidir. Não nos lembramos de que o plano dele não foi aceito por nós porque, sem escolha, não haveria propósito em vir a este mundo mortal. Não teríamos oposição nem arrependimento. Não aprenderíamos a ser obedientes.
Portanto, preferimos não apoiar Lúcifer, pois se o tivéssemos feito, nunca teríamos podido progredir na vida terrena, com o objetivo de voltar à presença do Pai Celestial.
Todos nós aqui na terra somos vencedores, pois preferimos vir a este mundo mortal, descrito por Alma como tempo de preparação. (Vide Alma 12:24, 26; 34:32; 42:10, 13.)
O entendimento de tais conceitos nos dará uma perspectiva eterna, quando tivermos escolhas importantes a fazer.
Quando jovem, servi na Força Aérea dos Estados Unidos, como piloto de bombardeiro a jato. Cada unidade de nosso esquadrão tinha um lema para inspirá-la em seus esforços. O lema de nossa unidade, escrito do lado de nosso avião, era “Retornai com Honra”. Era uma lembrança constante de nossa determinação de voltar com honra para a base, somente depois de termos despendido todos os esforços para completar com sucesso cada aspecto de nossa missão.
Este lema, “Retornai com Honra”, pode ser aplicado a nós em nosso plano eterno de progresso. Tendo vivido com o Pai Celestial e vindo habitar a terra, temos que demonstrar determinação em voltar com honra ao lar celestial.
Como retornar com honra ao Pai Celestial?
Assim como os pilotos de aviões devem obedecer a certas regras, a fim de evitar desastres, existem leis, ordenanças e convênios que devem ser compreendidos e obedecidos durante este estado de provação, este tempo de preparação, se quisermos alcançar nossa meta, a vida eterna.
O evangelho preparatório é a parte importante do plano total do evangelho que nos dá a oportunidade de ficar prontos para um trabalho maior, as ordenanças do templo e a vida eterna.
A quarta regra de fé delineia os primeiros princípios e ordenanças do evangelho. São eles:
“Primeiro, fé no Senhor Jesus Cristo; segundo, arrempendimento; terceiro, batismo por imersão para remissão dos pecados; quarto, imposição das mãos para o dom do Espírito Santo.”
Élder Bruce R. McConkie, um homem de grande fé, disse: “A fé é um dom de Deus, dado como recompensa da retidão pessoal … Quanto maior for a medida de obediência às leis de Deus, maior será a investidura do (dom da fé).” (Mormon Doctrine, segunda edição, Salt Lake City: Bookcraft, 1966, p. 264; grifo original.)
Em outras palavras, a obediência às leis e ordenanças do evangelho é essencial para obtermos fé no Senhor Jesus Cristo.
Doutrina e Convênios ressalta este ponto importante, de forma muito simples. O Senhor diz:
“Guarda os meus mandamentos continuamente… E, a não ser que faças isto, onde estou não poderás vir.” (D&C 25:15.)
O Senhor nos diz claramente: “Se me amardes, guardareis os meus mandamentos.” (João 14:15.)
Quando nos preparávamos para ser pilotos, passamos horas num dispositivo de treinamento que simulava um vôo real. Lá, um instrutor nos ensinava sobre as emergências que poderiam ocorrer ao pilotar um bombardeiro a jato, na velocidade do som. Para cada emergência aprendíamos procedimentos para evitar desastres maiores. Treinávamos cada um desses procedimentos muitas vezes, para que, no caso de uma emergência real, aplicássemos o que era chamado resposta automática ou condicionada. Saberíamos exatamente o que fazer se acendesse a luzinha indicando que o avião estava em chamas, ou se o painel chamasse nossa atenção para algum outro defeito técnico no avião. Seríamos até capazes de predeterminar a altitude na qual nos projetaríamos para fora do avião, a salvo, se ele pegasse fogo ou ficasse fora de controle.
Este processo de treinamento pode ser comparado às lições que aprendemos no lar e nos quoruns do Sacerdócio Aarônico — o tempo de preparação de nossa vida.
Estamos aqui, nesta reunião do sacerdócio, para aprender as coisas necessárias que nos prepararão para sermos valentes e dedicados portadores do sacerdócio. Preparamo-nos para receber leis e convênios maiores, tais como obediência, sacrifício, serviço, castidade e consagração de nosso tempo e talentos. Por que o fazemos? Devemos aprender tudo isso antes de irmos ao templo, porque essas coisas nos ajudarão a ser missionários valentes, dedicados companheiros eternos e pais devotados. Prepararmo-nos para voltar com honra à presença do Pai Celestial, com toda a nossa família.
Descrevo a seguir um incidente que ilustra o que poderá acontecer se não usarmos este tempo sabiamente.
Tive um amigo querido, um bom jogador de futebol americano. A equipe dele teve a oportunidade de participar de um jogo importante no Ano Novo. Diante de 100.000 espectadores e uma grande audiência de televisão, eles perderam com uma diferença muito grande de pontos. O que aconteceu foi que ele e os outros membros de sua equipe não seguiram as regras que o treinador lhes havia dado. Pagaram caro por isso. Tiveram de enfrentar as conseqüências de saber que não estavam preparados para jogos importantes; tiveram que viver com o fantasma de um escore extremamente embaraçoso.
Os anos se passaram. Dois membros dessa mesma equipe de futebol estavam em minha unidade de treinamento de vôo. Um deles era um aluno exemplar e bem disciplinado, um piloto modelo, que havia aprendido bem sua lição, com o revés sofrido naquele importante jogo.
O outro, no entanto, ainda não tinha aprendido a ouvir aqueles que possuem mais conhecimento e experiência. Quando chegou a hora de aprender os procedimentos de emergência e condicionar suas respostas mentais e físicas, de modo a reagir automática e quase instantaneamente, abraçou o instrutor e disse: “Marque três horas de treinamento de emergência para mim.” E depois, ao invés de praticar, foi nadar, praticar tiro ao alvo e jogar golfe. Mais tarde, durante o treino, o instrutor lhe perguntou: “O que é que você vai fazer quando passar por uma emergência e não estiver preparado?” Sua resposta: “Eu nunca vou precisar abandonar o avião; nunca vou passar por uma situação de emergência.” Ele nunca aprendeu os procedimentos de emergência que devia ter praticado no treinamento preparatório.
Poucos meses mais tarde, numa missão noturna, chamas foram vistas no calmo céu do Texas. Acendeu-se a luz indicando fogo. Quando o avião em chamas caiu para 5.000 pés, o jovem piloto que o acompanhava disse: “Vamos dar o fora daqui!” E, mesmo empurrado por violenta força centrífuga, o rapaz que levou a sério o treinamento conseguiu sair do avião e saltar. Seu pára-quedas se abriu imediatamente e ele caiu fortemente no chão. Sofreu ferimentos graves, mas sobreviveu.
Meu amigo que nunca sentiu necessidade de treinar permaneceu no avião e morreu na queda. Ele pagou o preço por não ter aprendido as lições que poderiam ter-lhe salvo a vida.
Quando luzes de aviso aparecem em nosso caminho, nosso progresso eterno pode ficar bloqueado, e este é o preço que pagamos por negligenciarmos o aviso. Se as ignoramos, podemos não retornar com honra.
As luzes de aviso de natureza pessoal são ativadas por muitas razões. Por exemplo, o uso do álcool, tabaco, drogas, deve acionar o sistema de alarme porque, quando decidimos usar tais substâncias nos tornamos escravos delas, e nosso livre-arbítrio é limitado. Devemos estar preparados com uma resposta já condicionada para rejeitá-las — são substâncias prejudiciais — ou estaremos pondo em risco o direito de sermos guiados e dirigidos pelo espírito, e a possibilidade de voltar ao Pai Celeste com honra.
As vezes é difícil escolher bons amigos, mas são eles que influenciam as escolhas importantes que fazemos na vida.
Não podemos desculpar nossa conduta, culpando a conduta de nossos amigos ou a pressão que exercem sobre nós.
Sabeis como reconhecer um verdadeiro amigo? O amigo verdadeiro é aquele que nos ama e protege. Ao procurarmos reconhecer uma verdadeira amizade devemos procurar dois elementos importantes:
A companhia do amigo verdadeiro facilita nossa vivência do evangelho.
Da mesma forma, o amigo verdadeiro não nos impõe escolher o seu jeito de ser ou o jeito de ser do Senhor. Ele nos ajuda a retornar com honra.
Aplicando estes dois princípios fundamentais à nossa seleção, podemos determinar que tipo de amigos teremos e que tipo de amigos seremos.
Como portadores do Sacerdócio Aarônico, que tipo de amigos somos? Somos do tipo que sempre faz questão de que os que os rodeiam saibam que lhes será mais fácil viver os princípios do evangelho, tais como a Palavra de Sabedoria ou a lei da castidade, quando estiverem conosco? Será que nossos amigos sabem que nunca terão que escolher o que nós queremos fazer ou o que o Senhor gostaria que eles fizessem?
Não há nada mais triste para um bispo ou pai do que ouvir uma jovem declarar que o rapaz que amava, e no qual confiava tanto, disse que, se ela o amasse realmente, o provaria, violando com ele as leis sagradas da moralidade. Possamos esta noite decidir que, aparecendo em nossa vida luzes que indiquem perigos desta natureza, nossa mente já terá decidido fazer o que é certo: lembrar quem somos e agir de acordo com esse conhecimento.
Aprender bem vossas responsabilidades no Sacerdócio Aarônico é como a experiência do piloto aprendiz que faz treinamento simulado. O portador do Sacerdócio Aarônico deve ser pré-condicionado a obedecer aos padrões do evangelho de maneira automática. Saberá qual será sua resposta, e o adversário não triunfará sobre ele, porque estará pré-condicionado a guardar os mandamentos, mesmo sob pressão.
Espero que os portadores do Sacerdócio Aarônico compreendam a importância de preparar, abençoar e distribuir o sacramento. É tão importante que o façamos com as mãos limpas e o coração puro! E muito importante que os jovens com quem servimos no Sacerdócio Aarônico saibam que o estamos fazendo dignamente, e que a congregação possa olhar para a mesa do sacramento e confiar na dignidade dos membros do sacerdócio para realizar as ordenanças do Senhor.
Todos os domingos, quando participamos da sagrada ordenança do sacramento, e as bênçãos do pão e da água são proferidas pelo sacerdote, prometemos três coisas. Na oração, o sacerdote fala em nome dos presentes, de modo que todos podem renovar seus convênios:
Prometemos, primeiro, lembrar-nos sempre de nosso Salvador, Jesus Cristo, e de seu sacrifício expiatório.
Segundo, tomar novamente sobre nós o nome de Cristo, o que nos permite renovar o convênio batismal.
Terceiro, guardar seus mandamentos, renovando os convênios de obediência. (Vide Doutrina e Convênios 20:77-79.)
Se cumprirmos estas três promessas, receberemos uma das maiores bênçãos: teremos o seu Espírito conosco sempre, o que significa que teremos o Espírito Santo para guiar-nos, proteger-nos e dirigir-nos diariamente.
Renovar tais convênios, de modo que tenhamos o seu espírito conosco e permanecer no caminho estreito e apertado que nos conduz à vida eterna, retornando com honra, é o motivo pelo qual assistimos à reunião sacramental todas as semanas. (Vide 2 Néfi 31:17-21.)
Salientei a importância da obediência. Embora seja ela tão importante, as pessoas às vezes são enganadas e obedecem usando o processo de seleção. Um jovem pode reconhecer que deve ser obediente, mas fazer só parte do que lhe foi ordenado, segundo seleção própria.
O Senhor nos diz em 2 Néfi:
“E muitos dirão: Comei, bebei e diverti-vos, porque amanhã morreremos; e tudo nos irá bem.
E muitos também dirão: Comei, bebei e diverti-vos; não obstante, temei a Deus — ele justificará a prática de pequenos pecados; sim, menti um pouco, aproveitai-vos das palavras de alguns, abri uma cova ao vosso vizinho; não haverá mal nisso. Fazei todas estas coisas porque amanhã morreremos; e, se acontecer estarmos culpados, Deus nos castigará com uns poucos açoites e, ao fim, seremos salvos no reino de Deus.” (2 Néfi 28:7-8.)
Como o Senhor nos ensinou, isto é um engano. A iniqüidade, mesmo que seja só um pouquinho, nunca foi felicidade. (Vide Alma 41:10.) E nunca será. Ela nos impede de retornar com honra ao Pai Eterno.
Lembrai que o Senhor nos disse: “Guarda os meus mandamentos continuamente… E, a não ser que faças isto, onde eu estou não poderás vir.” (Doutrina e Convênios 25:15.)
Muitos jovens entram no campo missionário depois de grandes sacrifícios. Talvez tenham que adiar planos para uma carreira profissional, deixar de lado o atletismo, realizações artísticas, bolsas de estudo. Pode ser grande sacrifício financeiro da família. Talvez até tenham deixado para trás uma jovem a quem amavam profundamente e que poderão perder para outro rapaz que volte antes para casa, vindo da missão.
Seja, porém, qual for o sacrifício que o indivíduo ou a família tenha feito para que saiam em missão, ou em qualquer outro sentido, a menos que os missionários escolham a obediência, consagrando todo o seu tempo, talentos e recursos a serviço do Senhor, enquanto estiverem no campo missionário, não poderão compreender completamente as grandes bênçãos que o Senhor armazenou para eles. E eles serão mais eficientes se aprenderem a ser obedientes antes de saírem em missão.
Para podermos retornar com honra precisamos ter o Espírito Santo conosco todos os dias. Vós, portadores do Sacerdócio Aarônico, sede obedientes, exercitando o livre-arbítrio com retidão. Sede dignos e preparai-vos para realizar bem vosso chamado.
Como pai, abraço meus rapazes quando saem para a missão, e sussurro em seus ouvidos: “Retornai com honra.” Posso visualizar o Pai Celestial abraçando-nos quando saímos de sua presença, murmurando: “Retornai com honra.”
Que possamos lembrar quem somos e ser obedientes aos mandamentos do Senhor, retornando com honra à presença do Pai Celestial, com nossas famílias, é a minha oração, em nome de Jesus Cristo, amém.