Um Modelo de Retidão
“Quando estabelecemos um modelo de retidão em nossa vida, comprometemomos com o Pai Celestial a fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para ajudar os outros a reproduzir esse modelo em sua vida.”
Há muitos anos, quando meus filhos eram muito pequenos, a tarefa de alimentá-los e de trocar fraldas parecia tão interminável quanto o gelo que cobria o chão, do lado de fora de nosso apartamento, que ficava numa área militar. Quando sinto pena de mim mesma, procuro fazer algo por outrem. Naquele inverno, minhas necessidades eram grandes: portanto, eu precisava de uma grande solução. Decidi fazer um paletó esporte para meu marido. Não tendo experiência como alfaiate, comecei procurando o melhor molde e tecido que pude encontrar. Com grande entusiasmo comecei a ler as instruções. Meu coração quase parou. Eram páginas e páginas delas, 138 passos, se estou bem lembrada. Estava além da minha capacidade. Nos dias seguintes levei o molde comigo a todos os lugares para onde ia. Finalmente, decidi não seguir mais que dois passos por dia, para não desanimar. Completados os dois passos, eu lia as instruções para a tarefa do dia seguinte. Ocasionalmente me apressava e tinha que desmanchar o que já havia feito, mas, felizmente, quando a fazenda é boa, a costura desmanchada não aparece, se os pontos forem cuidadosamente removidos. Poucos meses mais tarde eu havia criado uma obra de arte. O molde havia tornado possível o milagre. Desde aí passei a dar muito valor aos moldes.
A medida que aprendi mais a respeito, tornei-me grande apreciadora dos moldes ou modelos que o Senhor nos dá. As escrituras apresentam moldes detalhados para a realização do seu trabalho. Especificam como construir um tabernáculo, uma arca, um alterar, e templos. Os materiais são importantes; o propósito é grandioso. E então nos é dado aquele que é o mais importante de todos, o modelo de retidão estabelecido por Jesus Cristo, um “exemplo dos que haviam de crer nele para a vida eterna” (I Timóteo 1:16). Em todas as circunstâncias imagináveis, dos tempos antigos aos dias modernos, vemos a repetição do mesmo modelo — fé no Senhor Jesus Cristo, arrependimento, batismo, dom do Espírito Santo.
Os moldes são feitos para serem repetidos. Todo o modelo de retidão é digno de ser duplicado; no entanto, existem aqueles que acham que o princípio de retidão envolve subir alguma escada imaginária. Achamos que progredimos quando subimos acima dos outros. Em minha opinião isto é orgulho. Em Alma nos é dito: “O pregador não era melhor que o ouvinte, nem o mestre melhor que o aprendiz; e eram assim todos iguais, e todos trabalhavam, cada um de acordo com suas forças” (Alma 1:26). A retidão é reproduzida num sentido horizontal, não vertical. Quando estabelecemos um modelo de retidão em nossa vida, comprometemo-nos com o Pai Celestial a fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para ajudar os outros a reproduzir esse padrão em sua vida. Isto pode acontecer vez após outra, até que, como diz Isaías, “os moradores do mundo (aprendam) justiça” (Isaías 26:9).
Em Doutrina e Convênios o Pai Celestial nos diz: “Eu vos darei um modelo em todas as coisas, para que não sejais enganados” (D&C 52:14). Se não quisermos ser enganados, devemos procurar modelos de retidão para nossa vida. Eu gostaria de mencionar três deles: a oração, o estudo das escrituras e o serviço em benefício do próximo.
Depois de termos aprendido a importância da oração, podemos reproduzir na vida de outros o hábito de orar diariamente, por meio do ensino e do bom exemplo. Minha filha mais nova disse que a oração se tornou mais significativa para ela ao observar a irmã mais velha ajoelhar-se ao lado da cama, à noite, quando achava que os outros já estavam dormindo. Quando estudante da BYU, eu costumava ajoelhar-me em oração junto com oito colegas de quarto, todas as manhãs, às 6h30, e depois comíamos juntas. Tenho certeza de que se minhas antigas colegas soubessem, anos mais tarde, que. eu e meu marido não estávamos orando com nossos filhos, ficariam preocupadas. Que modelo importante elas estabeleceram para mim! Está acontecendo o mesmo nos lares de hoje?
Há poucos meses eu estava ajoelhada, orando com uma jovem família em Albuquerque, Novo México. Senti um calor tão gostoso quando abri os olhos e olhei ao redor do círculo! Foi como se eu estivesse vendo as famílias do mundo todo passando pela mesma experiência. E de se esperar que, com o estabelecimento de um modelo de oração em nossos lares, cada pessoa da família ajude a reproduzir esse modelo para outros, como o fizeram minhas colegas de quarto.
O estudo das escrituras nos ajuda a aumentar o entendimento do modelo de retidão. E-nos dito, ao vivermos as palavras de Deus: “Ao fiel ele dará linha sobre linha, preceito sobre preceito” (D&C 98:12). Recebo incentivo com os exemplos de leitura de escritura que presencio. Tenho uma filha que gosta de esquentar os pés antes de ir para a cama. Adoro vê-la sentada no banheiro, com os pés enfiados na água quente, e lendo as escrituras. Meus dois netos, de dois e quatro anos, com satisfação relatam o recebimento de adesivos no seu gráfico de progresso pessoal, cada dia que proferem suas orações e ouvem histórias das escrituras. Esses modelos fundamentais sempre precisarão ser ensinados a nossos filhos, para que continue a haver retidão.
Prestar serviço com amor é outro belo modelo de retidão, aprendido com freqüência nos lares. As escrituras ensinam o valor desse trabalho, e os líderes testificam de sua importância. Harold Glen Clark, primeiro presidente do Templo de Provo, escreveu para seus netos uma história chamada “Passe para Entrar no Céu”. O Irmão Clark escreveu:
“Estive pensando qual teria sido a coisa que fiz que talvez mais tenha agradado ao Senhor. Ser presidente do quorum dos diáconos? Ser bispo? Ser patriarca? Ser presidente do templo?
Então descobri o que provavelmente foi. Aconteceu quando eu tinha 16 ou 17 anos de idade. Minha mãe, que com freqüência cuidava de pessoas menos afortunadas, estava tomando conta de dois velhinhos ao mesmo tempo. Alguém lhe disse brincando: ‘Por que você não coloca um cartaz, dizendo: Aceitam-se velhinos?’ eu não achei engraçado, pois fui a pessoa designada para tomar conta de um deles. Tinha que banhá-lo, vestir-lhe a roupa, despi-lo e ajudá-lo a comer na mesa. Na época eu estava com 16 anos, gostava de me divertir e tinha, muitas vezes, que ficar cuidando do avô, enquanto meus colegas jogavam uma bela partida de basquetebol lá fora.
Certa vez, enquanto meus colegas me chamavam, eu estava ocupado com a entediante tarefa de tirar o pijama molhado desse avô. Fiquei impaciente e contrariado, mas, então, senti a mão dele tremer na minha. Virei-me, e contemplando-lhe os olhos cheios de lágrimas, ouvi-o dizer: ‘Que Deus o abençoe, meu rapaz. Você nunca vai se arrepender de fazer isto por mim.’
Fiquei tão triste por ter-me mostrado impaciente… Até hoje me sinto bem quando lembro a ajuda que prestei a um velhinho incapaz de cuidar de si mesmo.
Acho que quando fazemos algo por alguém, que não pode fazer por si mesmo, nos aproximamos de Deus, pois é isto o que ele e seu Filho estão fazendo o tempo todo, movidos pelo puro amor que sentem por nós.” (Manuscrito não publicado.)
Nossos jovens precisam de modelos para estabelecerem um padrão de retidão em sua vida. Ao pensar em meu compromisso para com a juventude da Igreja, as palavras do Elder Boyd K. Packer ganharam novo significado para mim. Ele comentou as admoestações de Alma e Helamã, ao falarem sobre a Igreja em seus dias. Citando Elder Packer: “Eles preveniram sobre o crescimento rápido, o desejo de serem aceitos pelo mundo e de serem populares, e particularmente sobre a prosperidade. Cada vez que tais condições existiam ao mesmo tempo, a Igreja se desviava de seu curso” (Discurso proferido no seminário de representantes regionais, 30 de março de 1990).
Continuei a pensar na juventude da Igreja. Observemos a transição pela qual passam os jovens, dos doze aos dezoito anos. As condições relatadas no Livro de Mórmon estão quase sempre presentes na vida deles — um período de crescimento rápido, desejo de serem como os outros, de serem populares, e, freqüentemente, de prosperidade. Um modelo de retidão pessoal, que inclui a oração, o estudo das escrituras e o serviço, é a resposta para evitar os perigos mencionados no Livro de Mórmon. Néfi sabia disto quando pediu ao Senhor: “O Senhor, rodeia-me com a túnica da tua justiça.” (2 Néfi 4:33.)
No dicionário, a palavra modelo vem com a explicação: “aquilo que serve de exemplo ou norma”. Nosso Salvador Jesus Cristo estabeleceu um modelo e pediu que o seguíssemos. Néfi pergunta: “Poderemos nós seguir a Jesus, a menos que queiramos guardar os mandamentos do Pai?” (2 Néfi 31:10).
Agradeço a todas as pessoas de todas as idades, cuja vida nos ajuda a contemplar esse modelo de retidão. Agradeço por termos um profeta vivo. Poucos dias depois de ser chamada como conselheira na Presidência Geral das Moças, a Primeira Presidência da Igreja se aproximou da cadeira onde eu estava sentada, para designar-me e dar-me uma bênção. Conscientizei-me então de que o profeta de Deus estava para impor as mãos sobre minha cabeça, e foi grande a minha reverência. Depois da bênção, quando me virei para olhar o profeta de frente, senti-me despreparada para contemplar a mganificência do seu espírito. Testifico que Ezra Taft Benson é um profeta de Deus e que Jesus Cristo é nosso Salvador. Ele nos deu um modelo de retidão que nos levará de volta ao Pai Celestial. Presto este testemunho em nome de Jesus Cristo, amém.