“Uma Voz de Alegria”
“A vida pode ser amarga ou doce. Só depende de nós decidir se queremos refletir vozes de tristeza ou de alegria.”
Menos de quatro meses após a organização de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, os líderes passaram por intensa perseguição. Tornou-se necessário viver meio às escondidas. Durante este período de provação, Joseph Smith recebeu a seguinte revelação:
“Eis que tu foste chamado e escolhido para escrever o Livro de Mórmon e para o meu ministério, e livrei-te de tuas aflições e tenho-te aconselhado, pelo que tens sido livrado de todos os teus inimigos e dos poderes de Satanás e das trevas!…
Sê paciente nas aflições, pois terás muitas; suporta-as, pois eis que estou contigo, mesmo até o. fim dos teus dias” (D&C 24:1, D&C 8).
As palavras “pois eis que estou contigo, mesmo até o fim dos teus dias” foram uma voz de alegria do Senhor para seu amado profeta. A mensagem do Senhor para Joseph e para nós é: “Vós sois capazes, e eu vos ajudarei.”
Há pouco tempo lemos nos jornais locais uma reportagem sobre os efeitos devastadores de um incêndio, que destruiu completamente um prédio de apartamentos para pessoas de baixa renda. Muitos foram retirados às pressas, por medida de segurança. Viram seus lares e bens terrenos sumirem na fumaça e no fogo. Um senhor idoso, que escapara do incêndio, foi entrevistado. Quando lhe perguntaram: “O senhor conseguiu salvar alguma coisa?” ele respondeu: “Só o que você está vendo — as roupas do corpo.” O comentário seguinte foi significativo e emocionante. Ele simplesmente disse: “Graças a Deus, ninguém se feriu gravemente nem morreu.”
O que ouvimos nesta tragédia? Uma voz de alegria vinda de alguém que poderia estar amargurado e rancoroso com a situação, mas que preferiu falar de coisas que sabia terem maior valor. Ele superou a perda de bens materiais. Viu além do presente e soube ser grato e demonstrar esperança nas pessoas e nas condições do futuro.
Desapontamentos, mortes, perdas e fracassos são reais e difíceis de serem enfrentados; entretanto, não devem fazer com que falemos palavras ásperas, guardemos ressentimentos e tenhamos atitude negativa. O evangelho nos encoraja a desenvolvermos a capacidade de aprender com o passado e com o presente, além de visualizarmos as oportunidades que poderemos desfrutar futuramente.
De Doutrina e Convênios recebemos este conselho: “Agora, que ouvimos nós no evangelho que recebemos? Uma voz de alegria! Uma voz de misericórdia dos céus; e uma voz de verdade saindo da terra; novas alegres para os mortos; uma voz de alegria para os vivos e mortos; novas alegres de grande gozo. Quão formosos são sobre os montes os pés daqueles que trazem novas alegres de boas coisas” (D&C 128:19).
O Senhor deseja que juntemos nossas vozes de alegria à dele, para transmitir força, e coragem e felicidade a seus filhos.
Lembro-me de que, quando era menino, fui com meu pai visitar uma viúva idosa, e muito pobre. Levamos-lhe duas caixas de mantimentos. Quando estávamos saindo, ela fez um comentário que me tocou o coração. Disse: “Obrigada, bispo, e, por favor, volte mais vezes, mesmo que seja só para dizer olá.”
Provavelmente esta foi a primeira vez que percebi que alimentos eram apreciados, mas que palavras de encorajamento e visitas tinham ainda maior valor.
Num mundo em que freqüentemente se ouvem vozes pessimistas e negativas, a voz de alegria é muito bem-vinda. Parece que algumas pessoas vivem com dúvidas, medo do futuro, e pesar pelo passado. Se temos a tendência de criticar e humilhar, fazemos com que as vozes de alegria sejam silenciadas. Precisamos de pessoas que nos tragam alegria, que nos encorajem e transmitam otimismo.
Palavras de gratidão simples, mas sinceras, elevam a alma e dão alegria. Mark Twain comentou que poderia sobreviver dois meses com um bom elogio. Nas palavras dos provérbios de Salomão: “Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo” (Provérbios 25:11).
O incentivo pode ser rápido e simples, entretanto, é de vozes de alegria que todos necessitam.
Quase todos os militares que estão retornando da guerra, são exemplos de vozes de alegria, pois lembram-nos que certas preciosidades da vida, como a independência e a liberdade, são mais importantes do que a própria vida. Muitos tiveram a vida mudada para sempre; entretanto, suas vozes de alegria são mais fortes que as interrupções e sacrifícios que fizeram por todos nós. A esperança floresce eternamente para aqueles que confiam nos princípios inspirados de Deus e os seguem.
Os ensinamentos do evangelho trouxeram alegres novas para todo o mundo. As mensagens sutis nos trazem à mente atitudes que nos ajudam a enfrentar os desafios com menos dificuldade. Pesquisas têm confirmado que o rancor prejudica mais a pessoa que o guarda do que aquela que o causou.
Erma Bombeck escreveu um livro sobre jovens vítimas de câncer. Enquanto preparava o livro, chegou à conclusão de que as vozes que esses jovens emitiam eram cheias de bom humor e otimismo, e “isto os mantinha em plena atividade na vida. Talvez rir e crer em si mesmos fosse a razão de sua sobrevivência” (Erma Bombeck, I Want to Grow Hair, I Want to Grow Up, I Want to Go to Boise, New York: Harper & Row, 1989).
Um rapaz de dezesseis anos disse: “Sabe, se eu não tivesse senso de humor, não teria chegado até aqui.” (Ibid.)
A autora entrevistou vários jovens com câncer e leu muitas cartas enviadas por eles. Ela notou que a palavra atitude era muito repetida.
“Eles se orgulhavam de estarem lutando contra algo maior e mais forte do que eles… contra uma doença que talvez os subjugasse, mas ainda possuíam algo que seu inimigo não lhes podia tomar — a esperança, que é uma arma formidável… Quando tudo o mais falhar, saque a arma mais poderosa que há — a ESPERANÇA — e continue lutando” (Ibid.).
Palavras de esperança e de alegria são repetidas inúmeras vezes nas escrituras, para nos ajudarem a pensar e agir positivamente.
Isaías diz de Jesus Cristo: “E, olhando nós para ele, nenhuma beleza víamos, para que o desejássemos…; homem de dores, e experimentado nos trabalhos: e… era desprezado, e não fizemos dele caso algum” (Isaías 53:2–3).
Embora o sofrimento de Jesus esteja além de nossa compreensão, sua voz de alegria nos relembra:
“Tende bom ânimo, eu venci o mundo” (João 16:33). Jesus nos desafia a sermos felizes e otimistas. Assim como os pacientes com câncer descobriram, e as pesquisas médicas comprovaram: “O coração alegre serve de bom remédio, mas o espírito abatido virá a secar os ossos” (Provérbios 17:22).
Recentemente, durante uma conferência regional na Califórnia, um coral bem ensaiado, formado por membros de várias estacas, apresentou belas melodias. Enquanto ouvia e observava, fiquei impressionado com quatro pessoas, na fileira da frente, que participavam do coro, cantando, não com a voz, mas com as mãos. Pensei comigo mesmo quão maravilhoso era que o regente estimulasse a participação delas. Sem a vantagem da melodia e de uma letra audível, elas foram capazes de se apresentar com orgulho, sentindo-se parte do coro, para expressar uma mensagem de alegria e servir de inspiração para toda a congregação.
Consideração, cortesia e respeito fizeram de suas vozes de alegria motivo de fortalecimento e conforto.
Obrigado, Senhor, pelas nobres almas que podem e conseguem superar as tempestades da vida com vozes sinceras de alegria, que sobrepujam o presente e tornam os princípios do evangelho de Jesus Cristo reais e edificantes.
“Sigamos pois as coisas que servem para a paz e para a edificação de uns para com os outros” (Romanos 14:19).
Certa manhã, após uma noite de intensa dor e sofrimento, um marido, acometido de doença terminal, disse à esposa com grande emoção: “Estou muito grato hoje.” “Grato por quê?” perguntou ela, que bem conhecia seus sofrimentos e provações. Ele replicou: “Por Deus ter me concedido o privilégio de estar mais um dia com você.” Uma voz de alegria é muito reconfortante, quando o desespero pode parecer mais apropriado.
Quão útil e compensador seria se todos também agradecêssemos a Deus por mais um dia. Agradecer por quê? Pela oportunidade de cuidar de negócios inacabados, de expressar gratidão, de arrepender-se, de corrigir erros, de influenciar de modo positivo um filho desobediente, de ajudar alguém que pede socorro… em suma, de agradecer a Deus por mais um dia de preparação para encontrá-lo.
“E Pedro e João subiam juntos ao templo à hora da oração, a nona.
E era trazido um varão que desde o ventre de sua mãe era coxo, o qual todos os dias punham à porta do templo, chamada Formosa, para pedir esmola aos que entravam.
O qual, vendo a Pedro e a João, que iam entrando no templo, pediu que lhe dessem uma esmola.
E Pedro, com João, fitando os olhos nele, disse: Olha para nós.
E olhou para eles, esperando receber deles alguma coisa.
E disse Pedro: Não tenho prata nem ouro; mas o que tenho isso te dou: Em nome de Jesus Cristo o Nazareno, levanta-te e anda.
E, tomando-o pela mão direita, o levantou, e logo os seus pés e artelhos se firmaram.
E, saltando ele, pôs-se em pé, e andou, e entrou com eles no templo, andando, e saltando, e louvando a Deus.
E todo o povo o viu andar e louvar a Deus” (Atos 3:1–9).
Ouvi agora a proclamação de alegres novas de Pedro:
“Varões israelitas, por que vos maravilhais disto? Ou, por que olhais tanto para nós, como se por nossa própria virtude ou santidade fizéssemos andar este homem?” (Atos 3:12).
Pedro, pelo poder do Sacerdócio, ordenou: “Em nome de Jesus Cristo o Nazareno, levanta-te e anda.”
Então, os pés do homem coxo levaram as alegres novas a todos que estavam no templo para ouvir e ver.
Quão emocionante, encorajadora, e significativa foi a atitude de certos pais que, quando souberam da morte acidental do filho, que cumpria uma missão de tempo integral, disseram com perfeita brandura e compreensão: “Brevemente teremos outro filho na missão, cujo tempo e serviço também estarão nas mãos do Senhor. “Durante tragédias, as inabaláveis vozes de alegria ajudam a edificar mulheres, homens e o reino de Deus.
Nós podemos escolher as reações que teremos diante de dificuldades e desafios. Um modo de aprender como incorporar a voz de alegria nos momentos de tragédia ou felicidade é aplicar os princípios do evangelho, que nunca ensinam a sermos subjugados pelo negativo, pela tristeza, ou pelo cinismo.
Com as diretrizes que nos foram dadas nas escrituras e nas palavras dos profetas, aprendemos que a vida é uma escola. Autocomiseração e desânimo não provêm dos ensinamentos do evangelho de Jesus Cristo. Entretanto, a vida pode ser amarga ou doce. Só depende de nós decidir se queremos refletir vozes de tristeza ou de alegria.
As vozes de alegria nem sempre estiveram à disposição das massas. Morrer queimado foi um método muito usado para punir aqueles que se aventuravam a ler os manuscritos da Bíblia ou publicar aquelas obras de alegria.
Pouco a pouco, os costumes foram mudados por pessoas valentes. Atualmente, temos escrituras e palavras de profetas para estudarmos. Com a ajuda do Espírito Santo, podemos compreender a doutrina de salvação e viver de acordo com ela.
As vozes de alegria das escrituras nos relembram que não precisamos andar pela vida sozinhos. Cristò veio ao mundo para que tenhamos vida e a tenhamos mais abundantemente. “Pois sabemos que é pela graça que somos salvos, depois de tudo o que pudermos fazer” (2 Néfi 25:23; grifo nosso).
Que nos lembremos de que a bondade, fundada em motivos puros e propósitos retos, pode e deve ser praticada em silêncio, com voz suave, ou em segredo. Podemos programar-nos para edificar, incentivar, e transmitir força.
Que grande voz de alegria foi ouvida quando o Salvador, Jesus Cristo, após ser atormentado, ridicularizado, maltratado e crucificado, numa voz de misericórdia, alegres novas e verdade, foi capaz de dizer: “Pai, perdoâ-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lucas 23:34).
Presto-vos testemunho de que sei que Deus sente-se feliz quando pregamos alegres novas de verdade, retidão, e de que ele é real. Minha voz de alegria hoje é: Deus vive. Jesus é o Cristo. Que nada nem ninguém vos afaste desta verdade. Declaro-vos esta mensagem, com voz de alegria, em nome de Jesus Cristo, amém.