“Guarda-te, E Que Te Não Esqueças do Senhor”
“A História repetidamente confirma que a abundância de bens terrenos pode ser tanto uma bênção como maldição, dependendo de como essas coisas são encaradas e usadas.”
Damos as boas-vindas às Autoridades Gerais apoiadas esta manhã como novos membros dos Quoruns dos Setentas. São homens de fé e devoção, com uma vasta bagagem de experiência na liderança da Igreja. Seu chamado é um reflexo do constante crescimento da Igreja no mundo inteiro.
Quando as tribos de Israel se preparavam para cruzar o Jordão, a fim de entrarem na terra de Canaã, Moisés lhes deu instruções e conselho finais. Eles estavam prestes a entrar na terra que Josué e Calebe haviam descrito como a “terra que mana leite e mel” (Números 14:8). Seria uma grande mudança na situação de Israel. Durante uma geração inteira haviam conhecido somente a desolação de lugares desertos, dependendo do Senhor para sua subsistência diária.
Moisés estava preocupado com a capacidade do povo de enfrentar a transição radical que estavam prestes a viver. “Ouve, ó Israel”, dizia ele, “hoje passarás o Jordão, para entrar a possuir nações maiores e mais fortes do que tu; cidades grandes, e muradas até aos céus” (Deuteronômio 9:1).
“Havendo-te pois o Senhor teu Deus introduzido na terra que jurou a teus pais, Abraão, Isaque e Jacó, te daria, grandes e boas cidades que tu não edificaste.
E casas cheias de todo o bem, que tu não encheste, e poços cavados, que tu não cavaste, vinhas e olivais, que tu não plantaste, e comeres, e te fartares.
Guarda-te, e que te não esqueças do Senhor, que te tirou da terra do Egito da casa da servidão” (Deuteronômio 6:10–12).
As preocupações expressas por Moisés pelo seu povo têm sido repetidas por outros líderes profetas durante todas as dispensações do evangelho. Parece que um dos efeitos inevitáveis da aplicação dos princípios do evangelho na vida de um povo é que suas condições materiais também melhoram. Isto não significa que têm o direito ou a expectativa de se tornarem ricos de bens terrenos todos os que aceitam o evangelho de Cristo. Entretanto, o Senhor deixou claro que, quando o povo é obediente, ele deseja abençoá-lo, atendendo a suas necessidades e proporcionando-lhe conforto para que não viva carente.
Disse o Senhor ao Profeta Joseph Smith: “E fiz rica a terra, e eis que ela é o meu pedestal, portanto, sobre ela outra vez me porei de pé.
E agora me disponho e condescendo em vos dar maiores riquezas, mesmo uma terra de promissão, uma terra que mana leite e mel, sobre a qual não haverá maldição quando o Senhor vier” (D&C 38:17–18).
Historicamente, a abundância com que o Senhor tem abençoado seu povo prova ser um de seus maiores testes. Os ciclos de aquisição de riqueza mundana e seu subsequente declínio estão perfeitamente documentados nos anais escriturísticos e históricos.
A preocupação de Moisés para com seu povo provou-se justificada nos anos seguintes à sua entrada na terra de Canaã. Foi quando se estabeleceram nessa terra fértil que começaram a não dar o devido valor à sua abundância e a se esquecer da fonte real dessas bênçãos. Moisés os havia aconselhado: “Porque o Senhor teu Deus te mete numa boa terra, terra de ribeiros de águas, de fontes, e de abismos, que saem dos vales e das montanhas;
Terra de trigo e cevada, e de vides, e figueiras, e romeiras; terra de oliveiras, abundante de azeite e mel;
Terra em que comerás o pão sem escassez, e nada te faltará nela: terra cujas pedras são ferro, e de cujos montes tu cavarás o cobre.
Quando pois tiveres comido, e fores farto, louvarás ao Senhor teu Deus pela boa terra que te deu.
Guarda-te para que te não esqueças do Senhor teu Deus, não guardando os seus mandamentos, e os seus juízos, e os seus estatutos que hoje te ordeno:
Para que, porventura, havendo tu comido e estando farto, e havendo edificado boas casas, e habitando-as,
E se tiverem aumentado as tuas vacas e as tuas ovelhas, e se acrescentar a prata e o ouro, e se multiplicar tudo quanto tens,
Se não eleve o teu coração e te esqueças do Senhor teu Deus, que te tirou da terra do Egito, da casa da servidão;…
E digas no teu coração: A minha força, e a fortaleza de meu braço, me adquiriu este poder.” (Deuteronômio 8:7–14, Deuteronômio 17.)
Pouco tempo depois de os santos dos últimos dias haverem entrado no Vale do Lago Salgado, enquanto lutavam em pobreza para estabelecer ali seu lar e sobreviver numa terra que fora deserta, chegaram notícias da descoberta de ouro no norte da Califórnia. A novidade espalhou-se por todo o país, e os caçadores de fortuna, de passagem pela região do Lago Salgado, a caminho dos campos de mineração, falavam de suas esperanças de ficarem ricos nos recém-descobertos garimpos. Para alguns dos santos que eram tão pobres foi uma grande tentação.
Brigham Young, pressentindo o clima reinante entre alguns do povo, disse: “Espero que as minas de ouro estejam, pelo menos a mil e trezentos quilômetros… Prosperidade e riqueza embotam os sentimentos humanos.” (Journal History of the Church, 8 de julho de 1849.)
E, com sua maneira direta, acrescentava tempos depois: “Meu maior medo quanto a este povo é que ele se torne rico neste país se esqueça de Deus e de seu povo, prospere, abandone a Igreja e vá para o inferno. Esse povo suporta ataques, espoliação, pobreza e toda sorte de perseguições, mantendo-se fiel. Meu maior medo, porém,… é que não possa resistir à riqueza” (James S. Brown, Life of a Pioneer, Salt Lake City: Geo. Q. Cannon and Sons Co., 1900, pp. 122-123).
Em sua inspirada sabedoria, o Presidente Young sentiu algumas das mesmas apreensões que Moisés tivera para com as tribos de Israel.
Seus conselhos aos antigos santos refletem os sentimentos expressos por Jacó no Livro de Mórmon. Esses homens não achavam que houvesse algo de inerentemente errado na riqueza; o perigo era que obscurecesse o reconhecimento da mão do Senhor nessas bênçãos, e que não usassem a abundância para abençoar outros e realizar os propósitos do Senhor. Diz Jacó:
“Prezai vossos irmãos como a vós mesmos; sede amáveis para com todos e liberais com vossos bens, para que eles possam ser ricos como todos e liberais com vossos bens, para que eles possam ser ricos como vós.
Mas, antes de buscardes as riquezas buscai o reino de Deus.
E, depois de haverdes obtido uma esperança em Cristo, conseguireis riquezas, se as procurardes; e procurá-las-eis com o fito de praticar o bem; para vestir os nus, alimentar os famintos, libertar os presos e dar conforto aos doentes e aflitos” (Jacó 2:17–19).
A cobiça de riqueza tem resultado muitas vezes em avareza, desonestidade e ganância. A aquisição de bens tem freqüentemente produzido orgulho, convencimento e arrogância.
Um episódio na época de Alma no Livro de Mórmon ilustra o ciclo ocorrido tantas vezes, quando um povo é abençoado materialmente pelo Senhor e depois se afasta dele. No caso em questão, o povo nefita lutava para vencer os efeitos de uma devastadora guerra civil e uma invasão lamanita.
Não só houve perda de muitas vidas, mas a destruição nas terras e propriedades fora suficiente para ameaçar seriamente a perspectiva de recuperação. Alma descreve assim as condições: “Mas o povo estava aflito, sim, grandemente aflito pela perda de seus irmãos e também de seus rebanhos e gado, assim como pela perda de suas culturas de cereais, que foram pisadas pelos pés e destruídas…
E tão grandes eram suas aflições que todos tinham motivos para se lamentar, sim, e pensavam que os juízos de Deus haviam caído sobre eles devido a suas maldades e abominações; foi despertada neles, portanto, a lembrança de seus deveres.
E começaram a estabelecer a igreja mais plenamente; sim, muitos foram batizados nas águas do Sidon, reunindo-se à igreja de Deus.” (Alma 4:2–4.)
Esse redespertar espiritual do povo teve um grande efeito. A paz retornou à terra. A Igreja prosperou em seu rápido crescimento. Não é de surpreender que logo o povo tenha começado de novo a ter uma vida abundante.
As bênçãos espirituais concedidas pelo Senhor foram acompanhadas de abundância material. Infelizmente, os nefitas não passaram nessa prova. Três anos depois de sua anterior tragédia, Alma descreve seu povo assim: “Os membros da igreja começaram a tornar-se orgulhosos, por causa de sua excessiva riqueza, de suas delicadas sedas, seus finos panos de linho e seus muitos rebanhos e gado, ouro, prata e toda espécie de coisas preciosas, que haviam obtido pelo seu trabalho; e por causa de tudo isso começaram a tornar-se orgulhosos e a usar vestimentas muito luxuosas.” (Alma 4:6.)
A História repetidamente confirma que a abundância de bens terrenos pode ser uma bênção ou uma maldição, dependendo de como essas coisas são encaradas e usadas. Quando as consumimos para nossa própria satisfação, invocamos tragédia.
Riqueza é uma coisa relativa. As condições variam enormemente de um lugar para outro, no mundo de hoje. Àquilo que alguns consideram o mínimo necessário para viver, para outros seria abundância, até mesmo extravagância. Em qualquer condição, os desafios relacionados à prosperidade material continuam os mesmos. A mensagem que ressalta das páginas da história e dos conselhos do Senhor e seus profetas é clara:
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Buscai primeiro o reino de Deus.
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Não busqueis riquezas para satisfazer vossos próprios deleites.
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Não cobiceis.
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Vesti os nus.
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Alimentai os famintos.
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Confortai os doentes e aflitos.
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Pagai dízimos e ofertas.
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Reconhecei o Senhor em todas as coisas.
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Sede gratos.
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Sede humildes.
As palavras de Moisés às tribos de Israel são apropriadamente aplicáveis a nós:
“Para que temas ao Senhor teu Deus, e guardes todos os seus estatutos e mandamentos… tu, e teu filho, e o filho de teu filho, todos os dias da tua vida, e que teus dias sejam prolongados,
Ouve pois, ó Israel, e atenta que os guardes, para que bem te suceda, e muito te multipliques, como te disse o Senhor Deus de teus pais, na terra que mana leite e mel” (Deuteronômio 6:2–3).
E “quando… tiveres comido, e fores farto, louvarás o Senhor teu Deus [pelo bem] que te deu” (Deuteronômio 8:10). Em nome de Jesus Cristo, amém.