Paz Interior
“A despeito das desoladoras condições no mundo e dos desafios pessoais que atingem a vida de todosy a paz pode ser uma realidade.”
Nos últimos meses, a paz tem sido uma preocupação muito grande para as pessoas do mundo inteiro. Quando a paz mundial foi ameaçada, muitos países entraram na guerra. Os noticiários mostraram vívidas imagens de devastação, sofrimento e destruição, e do tumulto que a guerra provoca na vida das pessoas. Ela causa profunda ansiedade e destrói famílias, empregos e estudos. Consome recursos que poderiam ser melhor aproveitados em outras partes. Somos sumamente gratos por ter a Guerra do Golfo terminado mais rapidamente e com menos baixas do que o esperado. Sentimos grande compaixão pelas famílias de todos os países envolvidos, que perderam entes queridos, e pelas vítimas inocentes da guerra, especialmente as crianças. Oramos agora por uma paz duradoura, quando homens “converterão as suas espadas em enxadões e as suas lanças em foices… nem aprenderão mais a guerrear”. (Isaías 2:4.)
Nas escrituras, paz significa ausência de lutas, contendas, conflitos ou guerras, ou então calma e bem-estar interiores, nascidos do Espírito, que é um dom de Deus a todos os seus filhos, e também segurança e serenidade no coração da pessoa. O dicionário diz que paz é um estado de tranqüilidade ou calma, ausência de pensamentos ou emoções inquietantes, e harmonia em relações pessoais. (Vide Webster’s Ninth New Collegiate Dictionary.)
Embora desejemos a paz, vivemos num mundo assolado pela fome, dor, angústia, solidão, doença e pesar. Vemos o divórcio com todos os conflitos e padecimentos, especialmente para as crianças inocentes, que ficam no meio. Filhos rebeldes, desobedientes, causam pesar e ansiedade aos pais. Problemas financeiros provocam estafa e perda de auto-respeito. Alguns entes queridos cedem ao pecado e à iniqüidade, abandonam seus convênios e seguem o “próprio caminho, segundo a imagem do seu próprio Deus”. (D&C 1:16.)
O valor da paz no coração não pode ser medido. Quando estamos em paz, livramo-nos da ansiedade e do medo, sabendo que com o auxílio do Senhor poderemos fazer tudo o que se espera ou requer de nós. Podemos enfrentar cada dia, cada tarefa, cada desafio com segurança e confiança no resultado. Temos liberdade de pensamento e ação, liberdade para ser feliz. Mesmo os encarcerados por longos períodos, como prisioneiros de guerra, podem ter paz de espírito. Muitos deles descobriram que seus captores não podem privá-los da liberdade de pensar, mesmo quando as mais severas limitações lhes são impostas. Poucas bênçãos de Deus, se é que alguma, são mais valiosas para nossa saúde espiritual do que a recompensa da paz interior. Na revelação moderna, disse o Salvador: “Mas-aprendei que aquele que pratica as obras de justiça receberá a sua recompensa, sim, paz, neste mundo e vida eterna no mundo vindouro.” (D&C 59:23.)
A despeito das desoladoras condições no mundo e dos desafios pessoais que atingem a vida de todos, a paz pode ser uma realidade. Podemos permanecer calmos e serenos, a despeito da indizível turbulência que nos cerca. Conseguir harmonia interior depende de nosso relacionamento com o Salvador e Redentor, Jesus Cristo, da disposição de imitá-lo, vivendo os princípios que ele nos deixou. Ele nos fez um convite: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.” (Mateus 11:28-30.)
A frase: “Cala-te, aquieta-te” (Marcos 4:39), que o Salvador proferiu quando acalmou as ondas revoltas, pode ter a mesma influência calmante sobre nós, quando somos atingidos pelas tormentas da vida. Durante a páscoa judaica, o Salvador ensinou aos discípulos: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou: não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.”(João 14:27.) Referindo-se aos ensinamentos dados aos discípulos, disse Jesus: “Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.” (João 16:33.)
Em sua epístola aos romanos, Paulo nos dá uma chave para encontrarmos a paz prometida pelo Senhor. Diz ele: “A inclinação do espírito é vida e paz.” (Romanos 8:6.)
A mãe de uma numerosa família, que era uma pessoa fiel, aprendeu a encontrar paz aceitando o convite do Salvador de vir a ele e encontrar descanso. Ela obedecia aos mandamentos de Deus e tinha fé no Senhor Jesus Cristo. Resolveu, então, fazer tudo o que estivesse ao seu alcance para solucionar problemas e enfrentar desafios, e depois, quando sentia que não podia fazer mais nada, ela transferia o fardo para o Senhor e deixava o resultado em suas mãos.
Disse o Presidente David O. McKay: “A paz de Cristo não é alcançada pela busca das coisas superficiais da vida, e não é conseguida sem que brote do coração da pessoa.” Disse mais, que essa paz está “condicionada à obediência aos princípios do Evangelho de Jesus Cristo… Nenhum homem que não seja fiel ao que tem de melhor em si, que transgrida a lei, cedendo à paixão, aos apetites, às tentações, a despeito de sua consciência acusadora, ou ao tratar com seus semelhantes, sendo indigno de sua confiança, pode estar em paz consigo mesmo ou com seu Deus. O transgressor da lei não consegue paz; a paz é alcançada pela obediência à lei. E esta a mensagem que Jesus quer que proclamemos aos homens.” (Conference Report, outubro de 1938, p. 133.)
A vida terrena é um período de provação, dando-nos oportunidades de escolha. Duas poderosas forças nos empurram em direções opostas. De um lado está o poder de Cristo e sua retidão. Do outro, Satanás e os espíritos que o seguem. Disse o Presidente Marion G. Romney: “A humanidade… precisa tomar a decisão de seguir em companhia de um ou de outro. A recompensa de seguir um é o fruto do Espírito — paz. A recompensa de seguir o outro são as obras da carne — a antítese da paz.” E disse ainda: “O preço da paz é a vitória sobre Satanás.” (Ensign, outubro de 1983, pp. 4, 5.) Nós podemos saber a quem seguir, porque Deus concedeu a todos o Espírito de Cristo, para distinguir o bem do mal e proteger-se do pecado. (Vide Morôni 7:15-18.) Às vezes nos referimos ao Espírito de Cristo como a nossa consciência. Se seguirmos sua inspiração, podemos livrar-nos do pecado e encher-nos de paz. Caso nos deixemos controlar pelos apetites carnais, jamais conheceremos a verdadeira paz. Seremos lançados de lá para cá “como o mar bravo que se não pode aquietar… Os ímpios, diz… Deus, não têm paz.” (Isaías 57:20-21.) Se danificarmos ou violarmos nossa consciência, ignorando-a, poderemos perder esse dom por deixarmos de ser sensíveis a ele. Não conseguiremos mais sentir, estaremos fora do alcance da influência desse Espírito. (Vide 1 Néfi 17:45; Efésios 4:19.)
Embora tenhamos horror à guerra, a paz tem sido quase sempre mais um sonho que uma realidade. Durante grande parte da história do mundo, discórdias, dissensões e conflitos têm florescido e substituído a paz. Sempre que houve paz, ela começou no coração de pessoas justas e obedientes, crescendo até abranger toda uma sociedade. Nós temos pelo menos dois relatos escriturísticos de períodos de absoluta paz, e um terceiro está para acontecer. (Vide Marion G. Romney, Ensign, outubro de 1983, p. 5.)
O povo de Enoque, que viveu antes do grande dilúvio, conheceu o primeiro desses períodos de paz. Eles continuaram a viver em retidão e “o Senhor veio e habitou com eles”. Ele chamou esse seu povo de Sião, porque eram unos de coração e pensamento e viviam em retidão. Eles edificaram “uma cidade que se chamou a Cidade da Santidade, ou Sião” que, “com o correr do tempo… foi levada ao céu”. (Moisés 7:16-21.)
O segundo período de paz seguiu o ministério de Jesus ressurreto aos nefitas. Eles aboliram as obras do mal e obtiveram o fruto do Espírito. Citando o Livro de Mórmon: “Os discípulos de Jesus organizaram a Igreja de Cristo… E todos quantos a eles se chegavam, e realmente se arrependiam de seus pecados, eram batizados em nome de Jesus e recebiam também o Espírito Santo.” (4 Néfi 1:1.) Conseqüentemente, “não havia contendas nem disputas entre eles” (vers.2), “em virtude do amor a Deus que vivia nos corações do povo. E não havia invejas, nem disputas, nem tumultos, nem devassidão, nem mentiras, nem assassínios, nem nenhuma espécie de lascívia.” (Vers. 15-16.) “Só havia um povo, os filhos de Cristo e herdeiros do reino de Deus.” (Vers. 17.) “E procediam retamente uns com os outros.” (Vers. 2.) “E sem dúvida não poderia haver povo mais ditoso entre todos os povos criados pela mão de Deus.” (Vers. 16.)
A paz prevaleceu entre os nefitas por quase dois séculos. Então, alguns deles se afastaram dos ensinamentos de Jesus Cristo e tornaram-se orgulhosos, egoístas e iníquos. Dentro de mais de dois séculos, a nação nefita, que vivera esse longo período de perfeita paz, havia-se destruído numa selvagem guerra civil.
Um terceiro período de perfeita paz virá durante o Milênio. “Satanás será amarrado, para que não tenha lugar nos corações dos filhos dos homens.” (D&C 45:55.) Quando viverem o Evangelho de Jesus Cristo, a retidão do povo banirá Satanás de seu seio. Aguardamos ansiosamente esse dia de paz e justiça universal, quando Cristo reinará na terra.
Esses três exemplos mostram que a paz, seja numa cidade, nação ou outra sociedade, começa no coração das pessoas, se elas vivem os preceitos do evangelho.
Nós vemos um exemplo de paz individual, em meio a disputas e contendas, na vida do Profeta Joseph Smith. Perto do fim da vida, ele se encontrava num turbilhão de problemas, causados por companheiros dissidentes, falsas acusações e armadilhas engenhosas contra sua vida. Poucos dias antes de morrer, porém, ele disse: “Estou calmo como uma manhã de verão; para com Deus e os homens, tenho a consciência limpa.” (D&C 135:4.) Sua paz interior o susteve em monumentais adversidades, até mesmo no martírio.
A paz é mais que um ideal elevado. E um princípio prático que, com esforço consciente, pode tornar-se parte normal de nossa vida, ao tratarmos de assuntos grandes e pequenos. O adiamento é um hábito que impede a paz interior. Ele nos enche a mente de assuntos não resolvidos e nos deixa desassossegados, até concluirmos a tarefa e a tirarmos do caminho. Nós estamos em paz nos chamados na Igreja quando fazemos o trabalho no devido tempo, ao invés de esperar até o último momento. Isto se aplica também à nossa freqüência ao templo, às visitas de mestre familiar e de professoras visitantes, à preparação de lições, discursos e outras designações.
Pode alguém estar em paz se for infiel, mesmo que seja em mínimo grau, aos votos matrimoniais? Quanta angústia resulta de uma pequena mentira, tapeação ou furto, mesmo quando não se é descoberto? Temos paz quando violamos as leis de trânsito? Ou quando esperamos nervosamente pelo policial? Temos paz se não somos honestos com nosso empregador e não lhe damos a devida retribuição pelo pagamento que recebemos? Estaremos em paz se não formos honestos no pagamento dos impostos?
Os santos dos últimos dias têm a obrigação de buscar a paz interior, não só pela bênção que ela é para eles, mas também para poder irradiá-la para os outros. Numa mensagem de Natal, a Primeira Presidência proclamou que a Igreja tem a divina missão de estabelecer a paz. Os membros da Igreja devem “manifestar amor fraterno, primeiro uns aos outros, depois para toda a humanidade; buscar união, harmonia e paz… dentro da Igreja e, depois, por preceito e exemplo, espalhar essas virtudes por todo o mundo.” (“Greetings from the First Presidency”, Liahona the Elders’ Journal, 22 de dezembro de 1936, p. 315.)
Se o pecado nos roubou a paz interior, podemos arrepender-nos e buscar o perdão dos pecados. O Senhor disse que não pode “encarar o pecado com o mínino grau de tolerância; entretanto, aquele que se arrepende e faz a vontade do Senhor, será perdoado”. (D&C 1:31-32.) Disse o Élder Spencer W. Kimball: “A essência do milagre do perdão é que proporciona paz à alma anteriormente angustiada, intranqüila, frustrada e aflita. Num mundo de agitação e contenda essa é sem dúvida uma dádiva inestimável.” (O Milagre do Perdão, p. 342.)
Meus irmãos, nós podemos estar em paz, se fizermos com que a “virtude adorne… (nossos) pensamentos incessantemente”. (D&C 121:45.) Nós temos esse poder como filhos espirituais do Pai Celestial. Ele e seu Filho Amado, Jesus Cristo, proveram-nos o caminho da paz. Nós podemos usufruir essa paz de Deus, que ultrapassa o entendimento humano. (Vide Filipenses 4:7.) Podemos usufruí-la pessoalmente, no seio de nossa família, em nossa comunidade, nossa nação e nosso mundo, se fizermos as coisas que a produzem. Essa paz conduz à felicidade. (Vide Ensinamentos do Profeta Joseph Smith, pp. 249-250.)
Presto testemunho de que nosso Pai Celestial vive e que ele nos conhece e nos ama. Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, o Salvador e Redentor de toda a humanidade e, sim, o Príncipe da Paz. Joseph Smith é o Profeta da Restauração, e o Presidente Ezra Taft Benson é o atual profeta, vidente e revelador da Igreja do Senhor. Isto eu testifico em nome de Jesus Cristo, amém.