“Honra a Teu Pai e a Tua Mãe”
“O mandamento de honrar os pais está presente em todos os aspectos do evangelho. Ele é inerente a nossa relação com Deus, o Pai.”
Desde a conferência de outubro passado, muitos sofreram fortes emoções, causadas pela guerra no Golfo Pérsico. Muitos santos dos últimos dias tiveram a vida alterada por esse conflito. No teatro de operações militares, havia mais de cento e quarenta grupos SUD oferecendo liderança, serviços religiosos e solidariedade a membros das forças armadas. Em casa, famílias foram separadas e viveram sob tensão. Louvamos os líderes e membros da Igreja que arcaram com fardos extras, cuidando de familiares de nossos membros que prestavam serviço militar. Esse trabalho continua. Líderes de estaca, ala, quorum, e Sociedade de Socorro atuaram e continuam atuando nas melhores tradições do serviço fraternal.
Durante essa crise, nossos corações se condoeram dos que estavam sendo oprimidos e correndo perigo, em ambos os lados do conflito. Semana após semana, nos conselhos dirigentes da Igreja, nas reuniões da Igreja em toda a parte, nos lares e nas reuniões públicas e particulares, oramos pelo bem-estar dos que estavam nas forças armadas. Orávamos também para que a guerra fosse breve e o número de mortos e feridos o menor possível.
Nossas preces foram atendidas e, neste período de ação de graças nacional, estipulado por proclamação presidencial, juntamonos a milhões de pessoas religiosas, em orações de gratidão ao Pai misericordioso dos céus. Estendemos nosso amor e simpatia aos familiares daqueles que perderam a vida. E continuamos orando para que os líderes que presidem o processo de manutenção da paz e cuidam do repatriamento de prisioneiros e refugiados, sejam sábios e ponderados, e bem sucedidos na cura dos efeitos maléficos da guerra.
Há milhares de anos, numa montanha da península arábica, não muito longe do recente conflito, o Senhor Deus de Israel deu dez mandamentos a seu povo. O quinto mandamento, transmitido por meio do Profeta Moisés, foi:
“Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá.” (Êxodo 20:12.)
Nesta manhã quero falar-vos sobre honrar os pais e os idosos.
O mandamento de honrar os pais está presente em todos os aspectos do evangelho. Ele é inerente à nossa relação com Deus, o Pai. Abarca o destino divino dos filhos de Deus. Esse mandamento se refere ao governo da família, que é pautado pelo governo dos céus.
O mandamento de honrarmos nossos pais faz eco ao sagrado espírito das relações familiares nas quais — na melhor das hipóteses — temos sublimes demonstrações de amor e zelo celestial uns pelos outros. Sentimos a importância desse relacionamento, quando compreendemos que nossas maiores alegrias ou dores, na mortalidade, provém dos membros de nossa família.
Outras manifestações desse mandamento incluem gerar e criar filhos, elaborar a história da família e empenhar-se para que as ordenanças de eternidade sejam realizadas por nossos antepassados falecidos.
O Salvador deu nova ênfase à importância do quinto mandamento, durante seu ministério. Lembrou aos escribas e fariseus que temos o mandamento de honrar pai e mãe, e que Deus ordenara que quem quer que amaldiçoasse pai ou mãe fosse condenado à morte. (Vide Levítico 20:9; Deuteronômio 21:18–21; Mateus 15:4; Marcos 7:10.) Hoje, deixar de honrar nossos pais não é crime capital em nenhum país, pelo que nos consta. Entretanto, o mandado divino de honrar pai e mãe jamais foi revogado. (Vide Mosiah 13:20; Mateus 19:19; Lucas 18:20.)
À semelhança de muitas escrituras, este mandamento tem múltiplo sentido.
Para as pessoas jovens, honrar pai e mãe significa, apropriadamente, obedecer, respeitar e seguir o exemplo de pais justos. O Apóstolo Paulo salientou esse ponto ao ensinar: “Vós, filhos, obedecei em tudo a vossos pais [em tudo que é justo, creio eu]; porque isto é agradável ao Senhor.” (Colossenses 3:20.)
O Presidente Kimball combina o conceito de obedecer aos pais e seguir-lhes o exemplo, nestas palavras:
“Se realmente honrarmos [nossos pais], procuraremos imitar suas melhores características e cumprir suas mais elevadas aspirações quanto a nós. Para os pais, nenhuma dádiva comprada em loja pode chegar aos pés de algumas simples e sinceras palavras de apreço. Nada que pudéssemos dar-lhes seria mais apreciado do que a vida reta de um jovem.” (The Teachings of Spencer W. Kimball, ed. Edward L. Kimball, Salt Lake City: Bookcraft, 1982, p. 348.)
Jovens, se honrardes vossos pais, vós os amareis, respeitareis, confiareis neles, tereis consideração por eles, expressar-lhes — eis vosso apreço e demonstrareis todas estas coisas, seguindo seus conselhos em retidão e obedecendo aos mandamentos de Deus.
Para as pessoas cujos pais estão mortos, honrá-los provavelmente significa reuniões da família, história da família, ordenanças vicárias e compromisso com as grandes causas às quais os falecidos dedicaram a vida.
Pessoas de meia idade provavelmente pensam nesse mandamento em termos de cuidar dos pais idosos. Numa mensagem proferida, há ano e meio, o Presidente Ezra Taft Benson incentivou as famílias a “darem aos pais e avós idosos o amor, cuidado e atenção que eles merecem”. Dizia ele:
“Lembrai-vos, pais e avós são nossa responsabilidade, e devemos cuidar deles da melhor forma possível. Quando idosos não têm família que cuide deles, cabe aos líderes do sacerdócio e da Sociedade de Socorro fazerem o máximo empenho para atender às suas necessidades com o mesmo amor.” (“Aos Idosos da Igreja”, A Liahona, janeiro de 1990, p. 6.)
Nos últimos anos tem havido um grande aumento do número e da porcentagem de pessoas mais idosas em nossa população. Um estudo recente estima que, em mais dez anos, um sétimo da população dos Estados Unidos, aproximadamente trinta e cinco milhões de pessoas, terão sessenta e cinco anos, pelo menos. Nessa época, cerca de cinco milhões de cidadãos terão mais de oitenta e cinco anos. (Vide “Consumer Issues and the Elderly”, Deseret News, 7 de maio de 1990, p. Cl.)
De tempos em tempos, os líderes da Igreja têm notícias de filhos adultos que parecem ser bons santos dos últimos dias, mas são negligentes ou mesmo maldosamente indiferentes no atendimento a seus pais idosos. Alguns têm encorajado os pais a distribuírem seus bens, para depois deixá-los em instituições, às vezes com atendimento inadequado e sem visitas regulares e expressões de carinho da parte dos filhos. Creio que é esse tipo de coisas que o porta-voz do Senhor, o Profeta Isaías, verberava ao ordenar: “Não te escondas da tua carne.” (Isaías 58:7.)
A melhor maneira de cuidar dos idosos é preservar sua independência, enquanto for possível. O Presidente Benson explica:
“Mesmo quando se tornam idosos, devemos honrá-los, permitindo-lhes liberdade de escolha e a oportunidade de independência enquanto for possível. Não lhes tiremos as escolhas que eles ainda podem fazer. Alguns pais são capazes de viver e cuidar de si próprios até uma idade bem avançada, e preferem qüe seja assim. Se for o caso, permiti que o façam.
Caso se tornem incapazes de viver independentes, então será preciso recorrer aos recursos da família, Igreja e comunidade em favor deles. Quando idosos se tornam incapazes de cuidarem de si próprios, mesmo com alguma ajuda, um membro da família poderá encarregar-se deles, se possível. Nessa situação, talvez seja necessário recorrer também aos recursos da Igreja e da comunidade.” (A Liahona, janeiro de 1990, pp. 6-7.)
Quando pais idosos, incapazes de viverem sozinhos, são convidados a viver com os filhos, isto os conserva no círculo familiar e permite-lhes continuar intimamente ligados a todos os familiares. Quando um dos filhos se encarrega deles, os outros filhos devem compartilhar os fardos e as bênçãos dessa situação.
Quando não for possível cuidar dos pais no lar de um dos filhos, de modo que haja necessidade de obter alguma forma de assistência institucional, os filhos devem lembrar-se de que esse tipo de cuidado geralmente se concentra nas necessidades físicas. Os familiares devem fazer visitas e contatos regulares, a fim de dar-lhes apoio espiritual e emocional, e amor, que deve continuar no relacionamento familiar durante a vida mortal e na eternidade.
Em certas nações em que residem membros nossos, a obrigação de cuidar dos pais idosos é mais sentida e observada do que nos Estados Unidos. Vi isto na Ásia, mas o cuidado com os pais idosos continua sendo uma obrigação fortemente arraigada para a maioria dos americanos. Seis entre dez pessoas, interrogadas numa recente pesquisa nacional, tinham contato semanal com os filhos, e três quartos delas faiavam com os filhos por telefone pelo menos semanalmente. Dois terços dos interrogados pretendiam cuidar de seus pais idosos. (Vide Deseret News, 7 de maio de 1990, p. C-l.)
Os santos dos últimos dias têm um bom desempenho, cuidando dos pais idosos e pessoas de idade em geral. Tenho visto maravilhosos exemplos disto em minha própria família e entre muitos amigos e companheiros SUD. Muitas de nossas Autoridades Gerais e esposas têm cuidado exemplarmente de seus pais idosos.
Quando eu era menino, numa pequena cidade de Utah, lembrome de ver minha avó supervisionando a provisão de mantimentos, ajuda, condução e entretenimento para um grande grupo de idosos da comunidade. Como conselheira na presidência da Sociedade de Socorro da estaca, ela estava fazendo preparativos para o “Dia dos Idosos”.
Muitos de vós nunca ouvistes falar no “Dia dos Idosos”, um costume único dos mórmons de Utah. Começou em 1875, quando Charles R. Savage, o fotógrafo pioneiro, persuadiu o Bispo Presidente Edward Hunter a instituir um dia para honrar os que hoje chamamos de terceira idade. O primeiro Dia dos Idosos levou convidados, de trem, para um passeio a Saltair, um parque de diversões a oeste da Cidade do Lago Salgado. Há um monumento homenageando essa comemoração e seu iniciador, no canto sudeste da Praça do Templo.
O Dia dos Idosos era celebrado anualmente em quase todas as comunidades de Utah. Condução, alimentação e lazer eram oferecidos aos cidadãos com mais de setenta anos. Embora esse feriado fosse organizado pelos líderes da Igreja, fora estipulado que “ninguém deve ser excluído por causa de sua religião, e o mais idoso presente é o convidado especial da data, seja ele branco ou negro ou qualquer que seja sua religião”. (Citado em Joseph Heinerman, “The Old Folks Day: A Unique Utah Tradition”, Utah Historical Quarterly, 53 [Primavera de 1985]: 158.)
O comitê diretor dessas celebrações foi desfeito em 1970, e a responsabilidade de homenagear os cidadãos pertencentes à chamada terceira idade foi passada aos presidentes de estaca da Igreja. A partir de então, vimos crescer os números de cidadãos de terceira idade em nosso meio, mas talvez não um significativo aumento nas homenagens que lhes são prestadas. Felizmente, os avanços na ciência médica que produziram aumento de longevidade, também fizeram crescer a efetiva participação de nossos cidadãos idosos na igreja, comunidade, negócios e vida social, mas a necessidade de honrá-los especialmente nossos pais e mães, continua a mesma.
O quinto mandamento é muitas vezes chamado de primeiro mandamento com promessa. “Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá.” (Êxodo 20:12.) Tenho pensado na relação entre o mandamento e a promessa. Como honrar os pais poderia prolongar a longevidade?
Durante quase quarenta anos de casamento, venho observando algo que pode explicar pelo menos parcialmente o cumprimento dessa promessa.
Nos primeiros tempos de nosso casamento, passei muitas horas felizes na casa de meus sogros, Charles e True Dixon. Lá conheci Adelaide White Call, avó materna de June. Era então uma viúva de uns oitenta e cinco anos de idade, e uma sobrevivente do que os mais velhos chamavam de “êxodo”. Ela era um dos valentes santos dos últimos dias que foram expulsos no norte do México em 1912. Agora, seus filhos e filhas viviam espalhados pelos Estados Unidos. Quando ficou mais idosa, eles ajudaram-na a estabelecer-se no Condado de Utah, perto dos pais de June.
Durante minhas visitas vi a gentileza, o amor e o cuidado com que os filhos e seus cônjuges tratavam a mãe idosa. Visitavam-na freqüentemente. Minha sogra passava pela casa dela todos os dias, e muitas vezes a convidava para sua casa. Ela participava de todos os eventos de que desejava participar, e recebia o máximo de consideração e respeito. Eles cuidavam de tudo, quando estava doente. Sem dúvida, dizia a mim mesmo, esses filhos realmente honravam sua mãe.
Faz uns quarenta anos que testemunhei isso. Agora vejo os efeitos. Vejo June, o irmão e a irmã honrando a própria mãe, como a viram honrar a avó. Felizmente, True Dixon é abençoada com boa saúde e vigor, e atualmente não necessita de nenhum dos cuidados que sua mãe requeria. Ainda assim, seus filhos estão sempre atentos. Fazem-lhe freqüentes visitas, telefonemas e convites que a incluem em todas as atividades familiares que ela deseja. Creio que seus dias serão mais longos na terra por causa da atenção e companheirismo dos filhos, que aprenderam a honrar os pais, vendo como ela honrava a própria mãe.
Sou grato por este exemplo e este princípio, especialmente prevendo o efeito que terá sobre nossos filhos e filhas observar como a mãe honra a mãe dela. Estou certo de que quando o tempo chegar, os dias de minha companheira serão prolongados na terra, por causa do cuidado que receberá dos filhos, devido ao exemplo que lhes deu. Um exemplo positivo se repete de geração em geração. Na verdade, a retidão é um farol, e uma ação digna, a sua recompensa. Como diz o Senhor: “Aquele que pratica as obras de justiça receberá a sua recompensa, sim, paz neste mundo e vida eterna no mundo vindouro.” (D&C 59:23.)
Um dia, seremos julgados pelo Senhor Deus de Israel, que nos ordena honrar pai e mãe. Oro que nos comportemos para com os pais de maneira a aparecer sem culpa perante Deus, nesse dia. Em nome de Jesus Cristo, amém.