Livre-Arbítrio — Uma Bênção ou um Fardo
O livre-arbítrio é a possibilidade que temos de pensar, optar e agir por nós mesmos. Ele vem acompanhado de inúmeras oportunidades, que por sua vez, são seguidas de responsabilidades e conseqüências.
Quando saímos da presença de nosso Pai Celestial para virmos a este mundo, trouxemos conosco um dom inestimável, sagrado e eterno que recebemos na pré-existência. Esse dom é o livre-arbítrio, e é sobre ele que quero falar.
O livre-arbítrio é a possibilidade que temos de pensar, optar e agir por nós mesmos. Ele vem acompanhado de inúmeras oportunidades, que por sua vez, são seguidas de responsabilidades e conseqüências. O livre-arbítrio pode ser uma bênção ou um fardo. É importantíssimo fazer uso sábio do livre-arbítrio nos dias de hoje, porque em nenhuma outra época da história do mundo, os filhos de Deus foram tão abençoados ou tiveram de escolher tantas oportunidades.
Anos atrás, a vida em minha cidade natal, no interior do Canadá, era mais simples. Nosso número de telefone era composto por um só dígito, o número 3. O único cinema que tínhamos era o de uma cidade maior chamada Cardston e exibia filmes em preto e branco toda quinta-feira à noite. O carteiro passava toda segunda, quarta e sexta, a menos que nevasse muito.
Não havia mais que uma estrada principal. Três milhas a oeste dela ficava nossa fazenda e vinte milhas a leste na mesma estrada, o Templo de Cardston. Não existiam muitos caminhos para escolher nem muitos lugares para ir.
Hoje há infinitos números de telefone, filmes de todos os tipos e cores, e-mails à nossa disposição 24 horas por dia e muitas estradas exigem continuamente o nosso discernimento. O meio à nossa volta está cheio de opções, mas o propósito pelo qual estamos aqui na Terra nunca mudou.
O Senhor disse a Abraão que nos enviou à Terra para ver se faríamos tudo o que Ele nos pedisse que fizesse. (Ver Abraão 3:25.) As escolhas são inevitáveis. As duas forças opostas que se encontram no mundo lutam por nossa opção. De um lado, temos a realidade de Satanás e do outro, o amor de nosso Salvador, que é mais forte.
Leí ensinou-nos que se não houvesse oposição, não haveria nem retidão nem iniqüidade, nem bem nem mal. Não podemos agir, se ⌦não tivermos escolhas para fazer. (Ver 2 Néfi 2:11, 16.) Para tornarmo-nos verdadeiros seguidores de Jesus Cristo, é necessário que tenhamos também a opção de rejeitá-Lo. Foi permitido então que Satanás exercesse seu poder, tornando muitas vezes difícil fazermos a vontade de Deus. Entretanto, é agindo por nós mesmos que crescemos.
C. S. Lewis disse: “Só quem procura resistir à tentação sabe como ela é forte. ( … ) A força do vento descobre-se andando contra ele e não deitando no chão. Um homem que cede à tentação depois de cinco minutos simplesmente nunca saberá como teria sido uma hora mais tarde”. Lewis continua: “Cristo, por ter sido o único homem a não cair em tentação, é também o único a saber realmente o que ela significa”. (Mere Christianity [Nova York: Macmillan Publishing Co. Inc., 1943], pp. 124–125.)
Lembro-me de pedir a meus pais permissão para fazer certas coisas. A resposta era sempre a mesma: “Nós já conversamos sobre isso. Você já sabe qual é nossa opinião e é você quem deve decidir”. Entretanto, as decisões acarretam conseqüências, que nem sempre estão de acordo com nossa vontade. Queremos ter liberdade sem ter de arcar com as conseqüências. Então, na maioria das vezes, procuramos uma posição de neutralidade, em que não precisamos tomar decisões ou nos comprometermos. Nessa situação, tornamo-nos suscetíveis à influência de Satanás.
O Rei Acabe e seu povo no norte de Israel falaram-nos a respeito de neutralidade e indecisão. As bênçãos do Senhor foram suspensas, porque o povo não decidia a quem adorar: Jeová ou Baal. Baal é um outro nome dado a Satanás. O Senhor enviou Elias, o profeta, com a seguinte mensagem: “ Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o, e se Baal, segui-o”. A escritura diz que “o povo nada lhe respondeu”. ⌦(I Reis 18:21) Eles não queriam arcar com as responsabilidades e as conseqüências da decisão que tomassem. Vocês lembram-se da história: Elias desafiou-os a fazer um teste para ver quem era Deus. Eles invocariam seu deus para ver qual deles queimaria a oferenda sobre o altar. Ao clamarem seu ídolo em voz alta, os sacerdotes não foram ouvidos nem atendidos.
Por outro lado, um só profeta do Deus verdadeiro não somente foi ouvido, mas também magnificado em seus esforços. Quando Elias invocou seu Deus, o fogo consumiu tudo: o holocausto, e a lenha, e as pedras, e o pó, e ainda lambeu a água que estava no rego. Em seguida, o povo exclamou: “Só o Senhor é Deus” (I Reis 18:39), e, de acordo com as escrituras, todos os sacerdotes de Baal foram mortos. Naquele dia, não restou um único incrédulo no norte de Israel! Não seria tão difícil fazermos escolhas se fôssemos recompensados de maneira tão rápida e espetacular quanto o foi Elias ou se as escolhas erradas resultassem em morte imediata. No entanto, as coisas não são tão simples assim quando a tarefa é aumentar nossa fé.
Nossa fé e comprometimento ⌦são testados quando o mundo nos apresenta oportunidades convidativas e sedutoras que podem nos desviar do Reino de Deus. Algumas pessoas gostariam de viver no Reino de Deus e, ao mesmo tempo, ter uma casa de veraneio na Babilônia. Entretanto, se não formos determinados e conscientes ao escolhermos o Reino de Deus, estaremos na verdade recuando à medida que o Reino avança de “forma corajosa, nobre e independente”. (Joseph Smith, “The Wentworth Letter”, Encyclopedia of Mormonism, ed. Daniel H. Ludlow, 5 vols. [1992], 4:1754.) Nossas bênçãos e fardos são determinados pela maneira como conduzimos nossa vida. O Senhor convida-nos a lançarmos sobre Ele nosso fardo, pois Ele ⌦nos sustentará (Salmos 55:22), enquanto Mórmon adverte-nos de que “o diabo não amparará seus filhos”. (Alma 30:60)
Um jovem que amo de todo o coração disse-me: “Ninguém me pode dizer o que fazer. Eu sou o responsável pela minha vida”. Ele tem a idéia falsa de que para ser livre e independente deve opor-se à vontade de Deus. De onde, pois, virá sua força?
O irmão James E. Talmage disse a respeito de Jesus: [Ele] era tudo o que um menino devia ser, pois desenvolvia-Se sem ser retardado pelo peso do pecado; Ele amava a verdade e, obedecia a ela, era livre. (James E. Talmage, Jesus, O Cristo, p.108.)
As escolhas certas, mesmo as triviais que fazemos diariamente, tornam-nos livres e trazem-nos bênçãos. Um de meus amigos achava que o Senhor Se estava intrometendo muito em sua vida. Ele disse: “Eu não posso aceitar todos os preceitos da Igreja, que me dizem o que devo ou não fazer”. Meu amigo não conseguia entender que esses preceitos são evidências do cuidado zeloso que o Pai Celestial tem por nós.
Não é incrível? Existem seis bilhões de habitantes neste planeta, e o Pai Celestial sabe a quais programas assisto na televisão, o que como e bebo, como me visto e de que maneira ganho e gasto meu dinheiro. Ele preocupa-Se com o que faço ou deixo de fazer. O Pai Celestial preocupa-Se com a minha felicidade.
O cuidado que o Pai Celestial tem por nós é demonstrado de diversas maneiras, e tudo o que temos de fazer é ouvi-Lo e seguir Seus conselhos. Alguém disse: “Se não escolhermos primeiramente o Reino de Deus, no final não fará diferença o que tivermos escolhido em seu lugar”. (William Law, Ministro Religioso do século XVIII.)
O propósito pelo qual estamos aqui na Terra nunca mudou, e nunca mudará; por isso, nosso Pai Celestial concede-nos outros dons que nos ajudam a viver com mais segurança e fazer uso de nosso livre-arbítrio com mais sabedoria. Pensem no dom da oração — é uma oportunidade que temos de sermos ouvidos e compreendidos. Pensem no dom do Espírito Santo, que nos mostra as coisas que devemos fazer. (Ver 2 Néfi 32:5.) Pensem nos sagrados convênios que fazemos, nas escrituras, no sacerdócio e na bênção patriarcal. Pensem no Sacrifício Expiatório e no sacramento que nos envolvem em amor, esperança e graça. Essas dádivas ajudam-nos a usarmos nosso livre-arbítrio ⌦sabiamente para podermos voltar ao nosso lar celestial, onde “as coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam”. (I Cor. 2:9)
Nos dias de hoje há muitos caminhos, mas assim como em minha cidade natal, só há uma estrada principal, o caminho estreito e apertado.
Reconhecendo a disposição que temos de vagar por caminhos desconhecidos (ver 1 Néfi 8:32), oramos ao Senhor por meio da letra deste hino:
Sei que sou propenso a vagar sem rumo, Senhor;
Propenso a abandonar o Deus a quem amo;
Aqui está meu coração, ó, tome-o e guarde-o;
Guarde-o para as cortes celestes.
(“Come, Thou Fount of Every Blessing”, Hymns, edição de 1948, ⌦nº 70.)
Termino com a oração de Néfi, por mim e por vocês: “Ó Senhor, não me feches as portas da tua justiça, para que eu ande na senda do vale baixo, para que eu seja firme no caminho plano”. (2 Néfi 4:32) Em nome de Jesus Cristo. Amém. 9