Tornarmo-nos o Melhor que Pudermos Ser
Quando [confiamos no Senhor percebemos] que teremos realizado Sua santa obra e contribuído para que Seus desígnios divinos [sejam] cumpridos.
Em uma época remota e em um lugar distante, nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo, ensinou às multidões e a Seus discípulos “o caminho, e a verdade e a vida”.1 Deu-lhes orientações preciosas com Suas palavras sagradas. Deixou-nos o exemplo perfeito com Sua vida modelar. Mais de uma vez, o Senhor fez a seguinte pergunta: “Que pessoas vos convém ser ( … )?”2
Durante Seu ministério no continente americano, disse algo de grande significado ao responder a uma indagação semelhante: “Que tipo de homens devereis ser? Em verdade vos digo que devereis ser como eu sou”.3
Em Seu ministério mortal, o Mestre indicou-nos como devemos viver, ensinar, servir e o que devemos fazer para tornarmo-nos o melhor que pudermos ser.
Uma das lições relacionadas a isso encontra-se na Bíblia Sagrada, no livro de João: “Filipe achou Natanael, e disse-lhe: Havemos achado aquele de quem Moisés escreveu na lei, e os profetas: Jesus de Nazaré, filho de José.
Disse-lhe Natanael: Pode vir alguma coisa boa de Nazaré? Disse-lhe Filipe: Vem, e vê.
Jesus viu Natanael vir ter com ele, e disse dele: Eis aqui um verdadeiro israelita, em quem não há dolo”.4
Em nossa jornada mortal, o seguinte conselho do Apóstolo Paulo traz-nos orientação celestial: “Tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai”. Em seguida, recomendou o seguinte: “O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso fazei; e o Deus de paz será convosco”.5
Em nosso esforço para tornarmo-nos o melhor que pudermos ser, várias perguntas guiarão nossos pensamentos: Sou quem desejo ser? Estou mais perto do Salvador hoje do que ontem? Estarei mais próximo amanhã? Tenho coragem de mudar para melhor?
Está na hora de decidirmos trilhar um caminho tantas vezes esquecido, a senda que nos aproxima da família, para que nossos filhos e netos consigam de fato alcançar todo o seu potencial. Há uma tendência nacional, e mesmo internacional, que traz a seguinte mensagem tácita: “Voltem-se para suas raízes, para sua família, para as lições aprendidas, para as vidas vividas, para os exemplos dados, ou seja, para os valores familiares. Muitas vezes, trata-se simplesmente de ir para casa — para sótãos há muito abandonados, diários raramente lidos e álbuns de fotografias quase esquecidos”.
O poeta escocês James Barrie escreveu: “Deus concedeu-nos a memória para que tivéssemos as rosas de junho no dezembro de nossa vida”6. Que lembranças guardamos de nossa mãe? De nosso pai? De nossos avós? De nossa família? De nossos amigos?
Que lições aprendemos com nossos pais? Há alguns anos, um pai ⌦perguntou ao Élder ElRay L. Christiansen que nome ele sugeria para o barco que acabara de comprar. O irmão Christiansen propôs: “Que tal chamá-lo de O violador do dia do Senhor?” Tenho certeza de que o futuro iatista refletiu se aquele bem de que tanto gostava e se orgulhava iria ajudá-lo a guardar ou quebrar o dia do Senhor. Seja qual for a decisão tomada por ele, ela certamente deixou em seus filhos uma impressão duradoura.
Outro pai ensinou a um filho uma lição inesquecível sobre a obediência e, por meio do exemplo, sobre a importância de santificarmos o dia do Senhor. Ouvi essa história no funeral de uma nobre Autoridade Geral, H. Verlan Andersen. Seu filho prestou-lhe um tributo que tem aplicação em todas as nossas atividades, onde quer que estejamos. Trata-se do exemplo da experiência pessoal.
O filho do Élder Andersen relatou que, certa vez, alguns anos antes, fora convidado pelos colegas da escola para sair na noite de sábado. Ele pediu o carro da família emprestado a seu pai. Quando pegou as chaves e dirigiu-se à porta, seu pai disse-lhe: “O carro vai precisar ser abastecido ainda hoje. Não deixe de encher o tanque antes de voltar para casa”.
Ele contou que a atividade daquela noite foi maravilhosa. Os amigos encontraram-se, tomaram um lanche e divertiram-se muito. No entanto, em meio a toda a alegria, o filho do Élder Andersen esqueceu-se da orientação do pai e não pôs combustível no veículo antes de voltar para casa.
Na manhã de domingo, o Élder Andersen verificou que o marcador da gasolina estava no zero. O filho viu o pai colocar as chaves do carro sobre a mesa. Na casa da família Andersen, o dia do Senhor era um dia de adoração e não de fazer compras.
Em seu discurso fúnebre, o filho do Élder Andersen disse: “Vi meu pai colocar o casaco, despedir-se de nós e andar até a capela distante para participar de uma reunião bem cedo”. O dever chamava-o. Ele não permitiu que a verdade se curvasse diante das circunstâncias.
Ao concluir seu discurso, disse: “Nenhum filho recebeu lição mais eficaz de seu pai do que eu naquele dia. Meu pai não apenas conhecia a verdade, mas também a vivia”.
É no lar que se formam nossas atitudes e nossas crenças mais profundas. É nele que se acalenta ou destrói a esperança.
Nosso lar deve ser mais do que um santuário; deve ser também um local onde o Espírito de Deus possa habitar, onde encontremos refúgio contra a tempestade e onde reinem o amor e a paz.
Pouco tempo atrás, recebi a carta de uma jovem mãe que dizia: “Por vezes, fico perguntando-me se estou exercendo uma influência positiva na vida de meus filhos. Como os crio sozinha e preciso trabalhar em dois empregos para sobreviver, às vezes quando chego em casa deparo-me com o caos, mas jamais perco a esperança.
Certo dia, meus filhos e eu estávamos assistindo à transmissão da conferência geral na televisão e o senhor estava fazendo um discurso sobre a oração. Um de meus filhos disse: ‘Mãe, a senhora já nos ensinou isso’. Perguntei: ‘Como assim?’ Ele respondeu: ‘Bem, a senhora ensinou-nos a orar e mostrou-nos a forma de fazê-lo, mas ontem à noite fui até seu quarto para pedir algo e vi a senhora de joelhos orando ao Pai Celestial. Se Ele é importante para a senhora, deve ser importante para mim’”. No fim da carta, ela escreveu: “Acho que nunca saberemos que tipo de influência somos até um filho observar-nos fazendo o que já tentáramos ensinar-lhes”. Que lição maravilhosa esse filho aprendeu com a mãe.
Quando era pequeno, fiz uma surpreendente descoberta na Escola Dominical em um Dia das Mães que nunca esqueci em todos esses anos. Melvin, um irmão cego de nossa ala, de voz muito bonita, levantou-se e, de frente para a congregação como se estivesse enxergando a todos, cantou “Minha Maravilhosa Mãe”. Aquilo avivou lembranças nítidas e cálidas e tocou o coração de todos os presentes. Os homens precisaram pegar seus lenços e os olhos das mulheres ficaram rasos d’água.
Nós, os diáconos, caminhamos pela congregação levando um vaso de barro com um gerânio para ofertar a cada mãe. Algumas delas eram jovens, outras de meia idade e algumas já estavam quase partindo desta vida por causa da idade avançada. Percebi que havia bondade nos olhos de cada mãe. Todas agradeceram pelo presente. Senti fortemente o espírito do provérbio que diz: “Sempre fica um pouco de perfume nas mãos de quem oferece rosas”. Nunca esqueci a lição que aprendi nem jamais a esquecerei.
Algumas mães, alguns pais, alguns filhos e algumas famílias têm de levar um fardo muito pesado aqui na mortalidade. Uma delas é a família Borgstrom, que vivia no norte de Utah na 2ª Guerra Mundial. Aquele período foi marcado por batalhas sangrentas em diversas partes do globo.
Infelizmente, os Borgstroms perderam quatro dos cinco filhos que estavam servindo nas forças armadas. No curto espaço de seis meses, todos os quatro morreram, cada um em um lugar diferente do mundo.
Após a guerra, os quatro corpos foram levados para Tremonton, onde residia a família Borgstrom, e foi realizado um devocional que lotou o Tabernáculo de Garland, Utah. O General Mark Clark compareceu à reunião. Posteriormente, contou com ternura: “Peguei um avião para Garland na manhã do dia 26 de junho. Conheci a família, incluindo a mãe, o pai e os dois filhos que lhes restaram, ( … ) um deles ainda na adolescência. Nunca vira uma família tão forte e resignada.
Ao ver os quatro caixões cobertos pela bandeira nacional serem enfileirados diante de nós na igreja e sentar-me ao lado dessa valorosa família, fiquei profundamente comovido com sua compreensão e fé e seu orgulho por esses filhos extraordinários que haviam feito o supremo sacrifício em nome dos princípios incutidos desde a infância por pais tão nobres.
Na hora do almoço, a Sra. Borgstrom veio falar comigo e indagou em voz baixa: ‘O senhor vai levar meu filho mais novo?’ Respondi sussurrando que caso ele fosse convocado enquanto eu estivesse no comando do exército na Costa Oeste dos Estados Unidos, faria o possível para dar-lhe uma designação dentro do país.
Em meio a essas palavras trocadas aos sussurros com a mãe, o pai subitamente se inclinou em nossa direção e disse à esposa: ‘Querida, ouvi sua conversa com o general sobre nosso filho mais novo. Sabemos que se o país precisar dele, seja quando for, ele irá’.
Mal pude conter a emoção. Ali estavam pais com quatro filhos mortos em combate, mas que ainda assim estavam dispostos a fazer o sacrifício final caso seu país assim determinasse”.
É o evangelho do Senhor Jesus Cristo que tocou aquele lar e aqueles corações naquele dia inesquecível.
Os anos começam e terminam, mas a necessidade vital de termos um testemunho do evangelho permanece inalterada. Ao andarmos na direção do futuro, não devemos negligenciar as lições do passado. Nosso Pai Celestial deu Seu Filho. O Filho de Deus deu Sua vida. E Eles nos pedem que também demos a nossa, por assim dizer, para servi-Los. Vocês estão dispostos? Eu estou disposto? Estamos dispostos? Há lições a serem ensinadas, atos de bondade a serem praticados e almas a serem salvas.
Lembremo-nos do conselho do rei Benjamim: “Quando estais a serviço de vosso próximo, estais somente a serviço de vosso Deus”.7 Estendam a mão para auxiliar as pessoas que necessitarem de sua ajuda. Ergam-nas para que trilhem a senda mais elevada e o caminho mais excelente. Façam como se canta na Primária: “Ensinai-me, ajudai-me as leis de Deus guardar para que um dia eu vá com ele habitar”.8
A verdadeira fé não é privilégio das crianças; na verdade, cabe a todos nós desenvolvê-la. Em Provérbios aprendemos: “Confia no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas”.9 Quando assim o fizermos, perceberemos que teremos realizado Sua santa obra e contribuído para que Seus desígnios divinos fossem cumpridos.
Gostaria de ilustrar essa verdade com uma experiência pessoal. Muitos anos atrás, enquanto servia como bispo, o Espírito instou-me a visitar Augusta Schneider, uma viúva da região da Alsácia-Lorena, na Europa, que falava muito pouco inglês, embora fosse fluente no francês e no alemão. Depois daquele primeiro sussurro, visitei aquela irmã por anos a fio na época do Natal. Em certa ocasião, Augusta disse: “Bispo, gostaria de oferecer-lhe algo de grande valor para mim”. Em seguida, foi a um recanto especial de seu humilde apartamento e apanhou o presente. Era um belo pedaço de feltro, de 15 por 20 centímetros, no qual estavam cravadas as medalhas que seu marido recebera por seu serviço nas forças armadas da França na 1ª Guerra Mundial. Ela disse: “Gostaria de dar-lhe este tesouro pessoal que me é tão caro”. Educadamente, resisti e indiquei que deveria haver algum parente a quem ela pudesse ofertar aquela relíquia. “Não”, respondeu ela com firmeza, “ela lhe pertence, pois você tem a alma de um francês.”
Pouco depois de dar-me esse presente especial, Augusta despediu-se da mortalidade e voltou para aquele Deus que lhe dera a vida. Às vezes, o que ela me dissera sobre ter a “alma de um francês” me deixava intrigado. Eu não fazia a menor idéia do que ela quisesse dizer com aquilo e ainda não faço.
Muitos anos depois, tive o privilégio de acompanhar o Presidente Ezra Taft Benson na dedicação do Templo de Frankfurt Alemanha, que iria atender a membros de língua alemã, francesa e holandesa. Ao fazer as malas para a viagem, fui inspirado a levar aquelas medalhas que ganhara e nem questionei o porquê disso. Elas já estavam comigo havia muitos anos.
Em uma das sessões dedicatórias faladas em francês, o templo estava lotado. Os hinos e mensagens apresentados foram de grande beleza. A gratidão pelas bênçãos de Deus transbordava no coração de todos. Vi na ata que havia naquela sessão membros da região da Alsácia-Lorena.
Durante meu discurso, percebi que o sobrenome do organista era Schneider. Assim, contei sobre o relacionamento que mantive com Augusta Schneider e, em seguida, dirigi-me ao organista, dei-lhe as medalhas e disse-lhe que, por ter o sobrenome Schneider, tinha a responsabilidade de dedicar-se à pesquisa genealógica desse tronco familiar. O Espírito do Senhor confirmou em nosso coração que aquela era uma sessão especial. O irmão Schneider teve muita dificuldade para tocar o último hino, de tão tocado que ficou pelo Espírito que sentimos no templo.
Eu sabia que aquele presente estimado — verdadeiramente a oferta da viúva, pois era tudo que Augusta possuía — fora confiado a alguém que faria tudo a seu alcance para que muitas almas da França recebessem as bênçãos que os templos sagrados possibilitam tanto aos vivos como aos que já deixaram a mortalidade.
Testifico que a Deus tudo é possível. Ele é nosso Pai Celestial e Seu Filho é nosso Redentor. Ao esforçarmo-nos para aprender Suas verdades e vivê-las, nossa vida, bem como a de outras pessoas, será ricamente abençoada.
Declaro solene e veementemente que Gordon B. Hinckley é um profeta verdadeiro para os nossos dias e que ele está sendo guiado do alto nesta grande obra que segue avante sob seu comando.
Recordemos sempre que a obediência aos mandamentos de Deus traz consigo as bênçãos prometidas.
Que todos nós nos tornemos dignos de recebê-las. É minha oração. Em nome de Jesus Cristo. Amém. 9