O que Significa Ser uma Filha de Deus
A dedicação e devoção das irmãs desta Igreja foram, desde o princípio, um aspecto maravilhoso e fortalecedor da Igreja.
Minhas queridas irmãs, Sinto-me humilde por estar em sua presença. Sentimo-nos especialmente honrados nesta noite pela presença do Presidente Hinckley e do Presidente Monson. A música deste coro extraordinário foi muito inspiradora. A terna oração da irmã Butterfield foi um convite para que o Espírito do Senhor estivesse conosco. Fomos inspirados pelas mensagens da irmã Jensen, da irmã Dew e da irmã Smoot a respeito do tema desta conferência: “Exulta, e alegra-te ó filha de Sião, porque eis que venho, e habitarei no meio de ti, diz o Senhor”.1 Cada uma de vocês, como filha de Sião, irradia fé e virtude.
Meu respeito e admiração por vocês, irmãs maravilhosas, tanto jovens quanto idosas, vão além do que eu possa exprimir. Aceitem nossos agradecimentos por sua fé, devoção e exemplo de retidão. A dedicação e devoção das irmãs desta Igreja foram, desde o princípio, um aspecto maravilhoso e fortalecedor da Igreja. Os problemas que vocês enfrentam hoje são diferentes dos de suas antepassadas, mas também são muito reais.
Quero falar hoje sobre o que significa ser uma filha de Deus. A nova declaração da Sociedade de Socorro começa assim: “Somos amadas filhas espirituais de Deus”. Ser uma filha de Deus significa que foram geradas por Deus e que são literalmente descendentes de um Pai Divino, tendo herdado atributos e potencial eternos. Ser uma filha de Deus também significa que nasceram de novo, passando de um “estado carnal e decaído para um estado de retidão”.2
Uma certa jovem tornou-se muito mais ciente do maravilhoso relacionamento que temos com nosso Pai Celestial ao sair de casa pela primeira vez para ir à faculdade. Seu pai deu-lhe uma bênção e expressou seu amor por ela. Ela escreveu:
“Apeguei-me a suas palavras de amor e apoio ao dizer um doloroso adeus à minha família. Senti-me sozinha e assustada, navegando por mares desconhecidos. Antes de sair do apartamento, naquela manhã, ajoelhei-me para pedir ajuda. Implorei desesperadamente a meu Pai Celestial que me desse forças para enfrentar o mundo da faculdade sozinha. Eu tinha deixado minha família, meus amigos e tudo que me era conhecido um dia antes e sabia que precisava de Sua ajuda.
Minhas orações foram atendidas enquanto refletia a respeito da carinhosa experiência que tivera com meu pai, no dia anterior. Uma onda de consolo invadiu-me o peito, ao perceber que eu não tinha ido para a faculdade apenas com a bênção de meu pai terreno. De repente, senti que um dia, há não muito tempo, meu Pai Celestial havia-me tomado em Seus braços. Talvez Ele tenha proferido palavras de conselho e incentivo e dito que acreditava em mim, da mesma forma que meu pai terreno. Naquele momento, então, eu soube que jamais deixaria de contar com o perfeito amor e o infindável apoio de meu Pai Celestial”.3
Ser membro da Sociedade de Socorro, um privilégio concedido a todas mulheres adultas da Igreja, proporciona a vocês um lar fora de seu lar celestial, onde podem integrar-se com outras que compartilham suas crenças e valores.
Pensei nisso recentemente quando estive na histórica cidade de Nauvoo. Visitamos a pequena casa onde a Sociedade de Socorro foi organizada com 18 membros, em 17 de março de 1842. Poucos dias depois, em 28 de abril de 1842, o Profeta Joseph Smith declarou: “Esta Sociedade receberá instruções por meio da ordem que Deus estabeleceu por intermédio das pessoas que foram designadas a liderar”. Em seguida, foi feita esta importante e significativa declaração profética: “E agora eu vos abro as portas em nome de Deus, e esta Sociedade se regozijará, e conhecimento e inteligência fluirão a partir deste momento. Este é o início de tempos melhores para esta Sociedade”.4
Tanto no templo de Kirtland quanto no de Nauvoo as mulheres atenderam ao chamado triturando suas preciosas porcelanas para serem usadas nas paredes do templo. Desde o início desta sociedade, grandes foram seus esforços e infindáveis as suas realizações.
O que é a Sociedade de Socorro? Em minha opinião, ela enfoca quatro grandes conceitos:
Primeiro: É uma irmandade estabelecida por Deus.
Segundo: A sociedade é um lugar de aprendizado.
Terceiro: É uma organização cujo propósito fundamental é cuidar dos outros. Seu lema é: “A caridade nunca falha”.
Quarto: A Sociedade de Socorro é um lugar no qual a necessidade das mulheres de se reunirem socialmente pode ser atendida.
A participação na Sociedade de Socorro pode ajudar tanto as irmãs mais novas quanto as mais idosas a tornarem-se melhores filhas de Deus. Vocês, jovens, talvez sintam que não têm muita coisa em comum com suas mães e avós. No entanto, como Bethany Collard, de 19 anos, comentou: “O que a organização das Moças começa a construir ( … ) a Sociedade de Socorro continua a edificar e manter”. Ela começou a “perceber as boas obras que os membros da Sociedade de Socorro realizam” porque boas obras são algo que as mulheres de todas as idades têm em comum. Na verdade, elas são os elos que unem as irmãs entre si, independentemente de sua idade ou condições. Como Bethany disse: “Todas essas coisas são características de uma mulher divina que é uma digna filha de Deus”.5 Tal como Emily H. Woodmansee escreveu em um hino que cantamos:
Missão qual dos anjos a nós hoje é dada
E, sendo mulheres, é nosso esse dom:
Servir com ternura na obra sagrada,
Fazendo o que é nobre, amável e bom.6
Algumas das irmãs mais idosas podem perguntar: “Já não ouvi todas as lições que são dadas na Sociedade de Socorro? Que motivo tenho para freqüentar a Sociedade de Socorro todas as semanas?” A resposta a tais perguntas pode ser ilustrada pela história de um menino que estava aprendendo a tocar piano. Sua mãe, desejando incentivá-lo, “comprou-lhe ingressos para o recital de um grande pianista polonês, Paderewski. Na noite do concerto, mãe e filho sentaram-se quase na primeira fileira da sala de concertos. Enquanto a mãe conversava com algumas amigas, o menino silenciosamente saiu de seu lugar.
Subitamente, chegou o momento em que teria início o recital, e um foco único de luz cortou a escuridão da sala de concertos, iluminando o grande piano de cauda no palco. Só então a platéia percebeu o menininho sentado no banco do piano, inocentemente dedilhando uma canção infantil.
A mãe ficou espantada, mas antes que pudesse mover-se, Paderewski entrou no palco e rapidamente dirigiu-se ao piano. Ele sussurrou ao menino: ‘Não pare. Continue tocando’. Então, inclinando-se para a frente, o mestre estendeu a mão esquerda e começou a tocar o acompanhamento. Pouco depois, esticou o braço direito para o outro lado, envolvendo o menino, a fim de acrescentar um contracanto elaborado. Juntos, o mestre e o jovem aprendiz deixaram a platéia extasiada.
Em nossa vida, por mais incultos que sejamos, é o Mestre quem nos envolve em Seus braços e sussurra em nosso ouvido, repetidas vezes: ‘Não pare. Continue tocando’. E quando o fazemos, Ele amplia e complementa nosso desempenho até criar uma obra de incrível beleza. Ele está ao lado de todos nós, dizendo o tempo todo: ‘Continue tocando’.”7
Se você já ouviu tudo o que é dito na Sociedade de Socorro, certamente precisa ser relembrada. Além disso, o Presidente Hugh B. Brown disse: “A teologia agrada principalmente ao intelecto, ao passo que a religião toca o coração. ( … ) A teologia pode constituir-se apenas de palavras, mas a religião exige ação”.8 A ação é algo necessário para colocarem em prática o seu lema: “A caridade nunca falha”.
Temos todos uma dívida de gratidão para com Eva. No Jardim do Éden, ela e Adão foram instruídos a não comerem do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. No entanto, foi-lhes dito: “Podes escolher segundo tua vontade”.9 A escolha, na verdade, era entre a continuação de sua confortável existência no Éden, onde jamais progrediriam, e o solene exílio para a mortalidade com toda a sua oposição: Dores, provações e morte física ao contrário da alegria, crescimento e potencial de vida eterna. Ao se verem diante dessa escolha, lemos o seguinte: “E quando a mulher viu que a árvore servia para alimento e que se tornara agradável aos olhos e uma árvore desejável para torná-la sábia, tomou de seu fruto e comeu; e deu também a seu marido e ele comeu com ela”.10 E assim teve início sua provação mortal e sua posteridade.
Depois de ter feito a escolha, Adão expressou sua gratidão: “( … ) Bendito seja o nome de Deus, pois, devido a minha transgressão, meus olhos estão abertos e nesta vida terei alegria; e novamente na carne verei a Deus”.11
Eva fez uma declaração ainda mais grandiosa, com muita sabedoria e visão, depois de sair do Jardim do Éden: “( … ) Se não fosse por nossa transgressão, jamais teríamos tido semente e jamais teríamos conhecido o bem e o mal e a alegria de nossa redenção e a vida eterna que Deus concede a todos os obedientes”.12 Se não fosse por Eva, nenhum de nós estaria aqui hoje.
O pai Leí declarou para nós:
“Mas eis que todas as coisas foram feitas segundo a sabedoria daquele que tudo conhece.
Adão caiu para que os homens existissem; e os homens existem para que tenham alegria.”13
O Presidente Joseph F. Smith registrou sua visão das hostes dos mortos, na qual viu os grandes e poderosos, entre os quais estavam Adão e Eva. Ele descreve a situação em que viu Eva da seguinte forma: “E nossa gloriosa Mãe Eva, com muitas de suas filhas fiéis que viveram através das eras e adoraram o Deus verdadeiro e vivo”.14 De fato, a Mãe Eva deixou um legado eterno que se estende pelas eras para abençoar a vida de todas as mulheres.
Como filhas de Deus, vocês não podem imaginar o potencial divino que existe em cada uma de vocês. Sem dúvida alguma o reservatório secreto da força interna da mulher é sua espiritualidade. Nesse aspecto, vocês se igualam ou mesmo sobrepujam os homens, tal como em relação à fé, a moralidade e a devoção, quando são verdadeiramente convertidas ao evangelho. Vocês têm “mais fé no ( … ) Mestre [e] mais rica esperança”.15 Essa espiritualidade interior parece dar-lhes mais resistência para suportar a dor, os problemas e as incertezas.
Vocês não podem imaginar os dons e talentos que cada uma de vocês tem. Todas as mulheres têm uma beleza pessoal. Não me refiro à beleza como a das modelos, mas aquela que emana de sua personalidade, sua atitude e seu modo de falar. Peço que desenvolvam seus dons naturais femininos recebidos de Deus, com os quais foram tão ricamente abençoadas. Nenhuma de vocês deve conformar-se em deixar de cuidar de sua aparência ou seu modo de agir. Em sua época, o Presidente Brigham Young incentivou as mulheres a estudarem. Ainda é um bom conselho, mas apresso-me em acrescentar que em tudo o que fizerem não percam sua terna feminilidade.
Vocês, irmãs, não se dão conta da plena extensão de sua influência. Vocês enriquecem toda a humanidade. Toda vida humana começa por vocês. Cada mulher contribui com seus pontos fortes únicos e distintos para o benefício da família e da Igreja. Ser uma filha de Deus significa que se a buscarem encontrarão sua verdadeira identidade. Saberão quem são. Isso as tornará livres, não de restrições, mas mais livres de dúvidas, de ansiedades e das pressões da sociedade. Não terão de preocupar-se com coisas como: “Será que estou bem vestida?” “Será que pareço bem?” “O que as pessoas vão pensar de mim?” A convicção de que são filhas de Deus lhes proporcionará consolo e auto-estima. Isso significa que poderão encontrar forças no bálsamo de Cristo, que lhes ajudará a enfrentar os sofrimentos e problemas com fé e serenidade.
Pergunto-me se vocês, irmãs, conseguem avaliar plenamente os dons inatos, bênçãos e talentos que possuem simplesmente por serem filhas de Deus. É um erro as mulheres imaginarem que a vida começa somente após o casamento. Uma mulher pode e precisa ter uma identidade e sentir-se útil, valorizada e necessária, quer seja solteira ou casada. Ela precisa sentir que pode fazer algo pelos outros que ninguém mais no mundo é capaz de fazer.
Os profetas de Deus asseguraram repetidas vezes que as mulheres fiéis e solteiras podem alcançar a exaltação. A exaltação exige que a pessoa receba as ordenanças e as bênçãos do selamento, o que obviamente significa que elas serão seladas a um digno portador do sacerdócio, na vida futura, e desfrutarão de todas as bênçãos do casamento.
Minha tia-avó Ada nunca se casou. Provavelmente acreditava na seguinte filosofia: “Quando fico incomodada por ser solteira, que parece ser meu destino, penso nos muitos homens com quem sou muito grata por não estar casada”. De qualquer forma, ela foi uma das primeiras médicas do estado de Utah. Quando eu era menino, meus irmãos e eu dormíamos na varanda coberta dos fundos de casa. Certo dia, quando estava pulando na cama, tentando ver até que altura conseguia alcançar, pulei muito perto da parede e cortei o rosto em um prego saliente. Preciso de alguma desculpa para justificar minha aparência! A tia Ada foi chamada para costurar a ferida. Em outras ocasiões, quando não nos sentíamos bem, ela nos dava óleo de rícino e leite de magnésia. Ela usava emplastros de mostarda e queimava nosso peito quando estávamos resfriados. Hoje, quando sinto dores, o que está tornando-se mais freqüente à medida que fico mais velho, fico desejando que a tia Ada estivesse aqui para manter-me saudável. Toda vez que olho no espelho e vejo aquela cicatriz, um lembrete permanente de minha experiência com aquele prego, sinto um grande amor pela tia Ada inundar-me a consciência. Ela teve um papel precioso e querido em minha vida.
De todo o coração peço a vocês, irmãs, que receberam sua investidura, que procurem as bênçãos, a paz e o consolo proporcionados pelo templo. A dignidade para entrar no templo constitui uma grande proteção espiritual, até para as irmãs que não podem ir regularmente ao templo. Em Sua infinita sabedoria, o Senhor exige que os irmãos dignos possuam o sacerdócio para entrarem no templo, mas permite que as irmãs entrem unicamente em virtude de sua dignidade pessoal.
Há poucos anos, depois de entrar no templo pela primeira vez, uma irmã escreveu:
“Que bênção gloriosa estar naquela casa! Meus olhos, ouvidos e coração abriram-se para absorver seus ensinamentos. Senti a realidade de cada convênio que fiz com todas as fibras e ossos de meu corpo. Senti que estava diante do Senhor a cada vez que fiz convênios com Ele. A influência do Senhor era tão forte que não tive desejo de sair do templo depois que a sessão terminou. Senti realmente naquele momento que estava no mundo mas não fazia parte dele.”
Quatro semanas depois, ela passou pelo templo em favor de sua mãe e escreveu:
“Essa foi outra experiência gloriosa. Senti a presença de minha mãe quando passei pela sessão de investidura. Quando o selamento do casamento foi realizado por meus pais, senti literalmente a presença deles no altar. A influência do Santo Espírito na sala era tão forte que comecei a chorar ao ser selada a meus pais. Eu realmente me senti unida a eles. Desde aquele dia, tenho sentido a presença deles tão perto de mim que nem parece que eles já morreram”.16
Conforme está dito na declaração da Sociedade de Socorro, vocês são amadas filhas espirituais de Deus. Além disso, em uma revelação dada por intermédio do Profeta Joseph Smith, foi-nos dito que “( … ) Todos os que recebem meu evangelho são filhos e filhas em meu reino”.17 E como filhas em Seu reino, vocês podem partilhar de todas as bênçãos do evangelho.
Desde o início desta dispensação, as muitas contribuições feitas pelas irmãs a esta santa causa foram realmente magníficas. Presto testemunho a vocês, irmãs, que nunca na história do mundo houve maior necessidade de sua retidão, seu exemplo e suas boas obras para levar adiante este santo trabalho quanto agora.
Minhas queridas irmãs, oro para que os dons divinos que existem em cada uma de vocês se desenvolvam plenamente. Que seus ricos dons femininos de força espiritual, virtude, ternura, misericórdia e bondade possam ser plenamente manifestados. Isso acontecerá ao servirem o Senhor, sua família e seus semelhantes. Que o Senhor as abençoe para que assim o façam, é minha oração, em nome de Jesus Cristo. Amém. 9