Eis Aqui o Homem
Um verdadeiro homem é forte o bastante para não cair nas astutas ciladas do diabo. Um verdadeiro homem é humilde o suficiente para submeter-se aos poderes de redenção do Salvador.
Alguns meses atrás, recebi uma carta de uma amiga da família que não víamos há muitos anos. Era uma carta desesperada, suplicando ajuda. Depois de lutar para criar os filhos sozinha, casara-se novamente. Seu marido não-membro era um homem rude, que gostava de atividades ao ar livre e tentava expressar sua masculinidade por meio da bebida, palavras de baixo calão, conversa grosseira e comportamento inadequado. Sua grande preocupação era a de que o exemplo do marido estava ensinando ao filho que essas eram as características de um homem másculo. Seu apelo foi o seguinte: Haveria alguma forma, apesar da grande distância, de eu poder falar com seu filho, que se chamava Ben, a respeito das características da verdadeira masculinidade? Em resposta a seu pedido, tentarei fazer isso esta noite; portanto, meu discurso será endereçado a uma amiga distante e a todos os rapazes da Igreja que estão tentando desenvolver as características de um homem.
Então, Ben, vamos conversar. Nós todos procuramos ser aceitos e reconhecidos ao entrar no mundo adulto. A idade adulta acaba chegando, se vivermos o suficiente. A verdadeira masculinidade, porém, ocorre somente quando a conquistamos, se a conquistarmos.
Satanás é conhecido como o grande enganador. Sua religião, filosofia e obra baseiam-se em ciladas e mentiras. Seu objetivo é frustrar a obra do Senhor, induzindo-nos ao erro e, por fim, tornando-nos “tão miseráveis como ele próprio”. ⌦(2 Néfi 2:27) Ele quer que acreditemos que ele é homem e que seus caminhos levam à masculinidade.
Jesus, ao contrário, submeteu-Se voluntariamente à vontade do Pai. Como resultado, foi traído, acusado, espancado e julgado. Seu sacrifício não foi obrigatório; nasceu da coragem, do dever e do amor, levando-O a beber da taça amarga que O fez sangrar por todos os poros. Depois de Pilatos ter testemunhado o grande sofrimento e humilhação de Jesus e até ter discutido para que O libertassem, acabou finalmente sucumbindo às exigências dos judeus. Quando entregou Jesus para ser crucificado, disse apenas estas simples e significativas palavras: “Eis aqui o homem!” (João 19:5) Sim, Jesus é o homem. Ele possui todas as características do verdadeiro homem, do homem ideal. Seus caminhos, não os caminhos de Satanás, conduzem à masculinidade. Qualquer pessoa que pense de outra forma já está sendo emaranhado nas eternas correntes do diabo. (Ver 2 Néfi 28:19.)
Todo jovem deve discernir o bem do mal, os caminhos de Deus e os caminhos de Satanás. Quando um jovem começa a fumar para provar que é homem, que tipo de homem se está tornando? Quando um jovem começa a beber, usar drogas e envolver-se com imoralidades, quando é violento ou rebelde, que tipo de homem se está tornando? Dizem que muitos meninos começam a fumar na adolescência para provar que são homens; aos trinta, tentam parar pela mesma razão. Não existe nenhuma masculinidade em sucumbir a Satanás ou ser derrotado por seus princípios.
Assim, Ben, com esses dados preliminares, gostaria de falar agora sobre meus critérios em relação à masculinidade. Devido à limitação de tempo, vou falar apenas de dois deles, mas a lista contém muitos outros:
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Um verdadeiro homem é forte o bastante para não cair nas astutas ciladas do diabo.
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Um verdadeiro homem é humilde o suficiente para submeter-se aos poderes de redenção do Salvador.
Suponho que seja natural equiparar força, machismo e talvez até comportamento violento e agressivo com masculinidade. Entretanto, os atributos da verdadeira masculinidade não são necessariamente físicos. Vou tentar explicar:
O Apóstolo Paulo advertiu: “Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue [que não é o verdadeiro teste da masculinidade], mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade”. (Efésios 6:12) A verdadeira coragem inclui lutar contra as astutas ciladas do diabo, mesmo quando estamos sozinhos, muitas vezes sendo vítimas do desdém ⌦dos outros, sendo ridicularizados. Isso é coragem. Isso é força. Isso é masculinidade, e pode ser difícil.
Conheço um jovem que ficou um tanto nervoso quando foi selecionado para uma equipe de estrelas do basquete para jogar num torneio em outro estado. Na primeira noite no hotel, os colegas de quarto decidiram assistir a filmes pornográficos. Esse jovem saiu do quarto e foi andar pela cidade sozinho, no meio da noite, até que os filmes tivessem terminado. Tenho certeza de que foi embaraçoso, difícil e que ele se sentiu sozinho. Mas isso é coragem; isso é masculinidade no sentido estrito da palavra, e eu digo: “Eis aqui um homem!” Um jovem de 18 anos tornou-se um homem. Conheço centenas de jovens que suportaram ridículo e embaraço ao recusar drogas, álcool e sexo para servir ao próximo, dar um bom exemplo ou defender os princípios da retidão. Todos os jovens têm de enfrentar as ciladas do diabo. É impossível escapar dessa luta, mas é sempre possível sair-se vitorioso. Sim, um homem de verdade é forte o bastante para não cair nas ciladas do diabo.
Alguns fardos que temos de carregar, Ben, são tão pesados que só conseguimos suportá-los por meio da humildade, da submissão e do arrependimento. Pode soar como uma contradição essa idéia de ganhar força e poder por meio da humildade, da submissão e do arrependimento, mas essa é uma das grandes ironias da vida: podemos conseguir poder além da nossa capacidade natural, submetendo nossa vontade à vontade do Pai. Todos nós somos vítimas do tentador em certo grau. Às vezes até nos envolvemos em transgressões sérias — transgressões que têm conseqüências eternas. Os que cometeram transgressões sérias devem seguir o caminho do arrependimento que o Salvador nos deu e que foi cuidadosamente planejado, muitas vezes orientado por um bispo ou presidente de estaca. Esse torna-se o grande teste da masculinidade, e nem todos são homens o bastante para vencer o desafio.
Há alguns meses, recebi a designação de entrevistar um jovem de 21 anos, para determinar se seu arrependimento era suficiente para que servisse como missionário. Fiquei com o coração despedaçado ao ler sobre os sérios problemas e transgressões do seu passado. Fiquei pensando se seria possível que alguém com aquele passado pudesse algum dia preparar-se para servir dignamente como missionário. Na hora marcada para a entrevista, vi um belo jovem aproximar-se de mim. Ele estava impecavelmente vestido e tinha uma aparência esplêndida. Parecia mais um ex-missionário, e fiquei imaginando quem poderia ser o rapaz. Quando ele chegou mais perto, estendeu-me a mão e apresentou-se como sendo o jovem que eu deveria entrevistar.
Durante a entrevista, perguntei simplesmente: “Por que estamos nós dois aqui esta noite?” Ele, então, contou-me os sórdidos detalhes de seu passado. Depois de repassar e confessar novamente sua transgressão, começou a falar sobre a Expiação e os anos de doloroso arrependimento que o trouxeram àquela entrevista. Ele falou de seu amor pelo Salvador e explicou, depois, que a Expiação de Cristo era suficiente para resgatar até um rapaz como ele. Ao término da entrevista, coloquei a mão sobre seu ombro e disse: “Quando eu voltar à sede da Igreja, darei minha recomendação para que você sirva como missionário”. Em seguida, completei: “Só quero pedir-lhe mais uma coisa — só uma: Se você tiver o privilégio de servir, quero que seja o melhor missionário da Igreja. Só isso”.
Cerca de quatro meses depois, fui convidado a falar num devocional no Centro de Treinamento Missionário em Provo, Utah. Após o devocional, fiquei em frente ao púlpito cumprimentando os missionários quando notei um rosto conhecido aproximar-se de mim. Meu primeiro pensamento foi que talvez ficasse embaraçado por não reconhecer aquele jovem. Não conseguia lembrar-me de onde o conhecia, mas tinha certeza de qual seria sua primeira pergunta. Como pensei, ele estendeu-me a mão e perguntou: “Lembra-se de mim?” Muito educadamente, mas um tanto sem graça, respondi: “Desculpe. Sei que deveria saber quem você é, mas não me lembro”. “Bom”, disse ele, “vou contar-lhe quem sou eu. Sou o melhor missionário do CTM.” Não consegui conter as lágrimas e pensei: “Eis um homem. Ele passou por seu Getsêmani; pagou o alto preço do arrependimento. Humilhou-se e submeteu-se ao poder de redenção do Salvador. Ele enfrentou os obstáculos. Desenvolveu as características da verdadeira masculinidade”. Digo, então: “Eis aqui um homem”, um homem humilde o suficiente para submeter-se aos poderes de redenção do Salvador.
Podemos descrever um homem por sua altura, peso, cor da pele ou físico. Mas avaliamos um homem por seu caráter, compaixão, integridade, mansidão e princípios. Para simplificar, avaliamos um homem pelo que ele tem no coração e na alma, não por suas qualidades físicas. (Ver I Sam. 16:7.) Essas características interiores podem ser percebidas em sua conduta. Muitas vezes, os atributos da masculinidade são visíveis na própria fisionomia da pessoa. Quando Alma perguntou: “Haveis recebido sua imagem [ou seja, o Salvador — o verdadeiro homem] em vosso semblante?”, (ver Alma 5:14) ele estava falando dos atributos da verdadeira masculinidade.
Sim, Ben, Satanás tem seu homem e Deus tem o Seu; Satanás tem suas características de masculinidade, e Deus tem as Dele. O diabo pode mostrar suas características como sendo o exemplo correto de masculinidade e os critérios de Deus como fracos e covardes. Mas a pessoa precisa entender que os critérios do diabo serão quase sempre os mais fáceis e mais covardes. No caminho de Satanás não existe nenhum caráter, nenhuma coragem ou força interior e decididamente nenhuma masculinidade.
O verdadeiro homem não precisa de Satanás para guiá-lo no caminho fácil com suas eternas correntes de destruição. O verdadeiro homem é forte o bastante para não cair nas ciladas do diabo e humilde o suficiente para submeter-se aos poderes de redenção do Salvador.
Moisés, num momento tanto de motivação como de censura, exortou os israelitas: “Quem é do Senhor, venha a mim”. (Êxo. 32:26) O que ele realmente estava dizendo era: “Que tipo de homens são vocês, afinal?” O Pai Celestial é chamado de “Homem de Santidade”. (Moisés 6:57, 7:35) Esse é um título que reservamos ao Ser Supremo. Não é um título que usamos para nós, Ben. Mas todo portador do sacerdócio deve procurar ser conhecido simplesmente como homem de Deus. Isso, caro Ben, é masculinidade.
Em nome de Jesus Cristo. Amém. 9