“Apascenta as Minhas Ovelhas”
Creio que todo membro ativo da Igreja conhece uma ovelha perdida que necessita da atenção e amor de um pastor carinhoso.
Há vários anos, minha mulher, Susan, e eu tivemos a oportunidade de visitar a Missão Nova Zelândia Christchurch, com o Presidente e a irmã Melvin Tagg. O Presidente Tagg sugeriu que nossa visita à missão incluísse um dia de folga no qual tomaríamos um ônibus de excursão para admirar o belo estreito de Milford. A excursão incluía várias paradas em lugares com vistas muito belas ao longo do caminho. Em uma dessas paradas, ao caminharmos de volta para o ônibus, fiquei curioso ao ver um grupo de passageiros formando um círculo na estrada para tirar fotografias. Ao espiar por cima do ombro das pessoas, vi no meio do círculo uma ovelhinha assustada de passos trôpegos. Parecia que ela ⌦nascera há apenas algumas horas. Eu já havia visto muitas ovelhas na vida, pois meu padrasto era criador de ovelhas, de modo que não me interessei em tirar fotos de uma ovelhinha solitária. Por isso entrei no ônibus e fiquei esperando.
Depois que todos os passageiros finalmente subiram no ônibus, o motorista tomou a ovelhinha assustada nos braços, apertou-a carinhosamente contra o peito e subiu com ela no ônibus. Sentou-se, fechou a porta, apanhou o microfone e disse: “Sem dúvida um rebanho de ovelhas passou por aqui esta manhã, e esta ovelhinha se desgarrou. Talvez, se a levarmos conosco, encontremos o rebanho mais adiante na estrada e possamos devolver a ovelhinha para sua mãe”.
Seguimos por vários quilômetros de belas florestas, até finalmente chegarmos a uma bonita pradaria coberta de capim alto e verdejante. Dito e feito, na pradaria havia um rebanho de ovelhas pastando. O motorista parou o ônibus e pediu-nos licença. Todos achávamos que ele colocaria a ovelha à beira da estrada e voltaria para o ônibus, mas não foi o que ele fez. Com a ovelha nos braços, ele aproximou-se cuidadosa e silenciosamente do rebanho, caminhando pelo capinzal. Quando chegou o mais próximo que pôde sem perturbar o grupo, gentilmente colocou a ovelha no chão e ficou por perto até ter certeza de que a ovelhinha retornaria ao redil.
Quando voltou para o ônibus, ele apanhou novamente o microfone e disse: “Conseguem ouvir a mamãe ovelha dizendo: ‘Oh, muitíssimo obrigada por trazer-me de volta a minha ovelhinha perdida!’”
Ao lembrar-me dessa maravilhosa lição que nos foi ensinada pelo motorista do ônibus, meus pensamentos se voltam para a parábola que o Senhor nos contou sobre a ovelha perdida:
“E chegavam-se a ele todos os publicanos e pecadores para o ouvir.
E os fariseus e os escribas murmuravam, dizendo: Este recebe pecadores, e come com eles.
E ele lhes propôs esta parábola, dizendo:
Que homem dentre vós, tendo cem ovelhas, e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove, e não vai após a perdida até que venha a achá-la?
E achando-a, a põe sobre os seus ombros, gostoso;
E chegando a casa, convoca os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida.
Digo-vos que assim haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento.” (Lucas 15:1–7)
Nosso profeta atual, o Presidente Gordon B. Hinckley, da mesma forma relata-nos sua preocupação para com a ovelha perdida:
“Há muitos jovens que vagam sem destino e que enveredam pelo caminho das drogas, das ‘gangues’, da imoralidade e de todos os problemas que acompanham essas coisas. Há viúvas que anseiam por vozes amigas e por uma atenção amorosa. Há aqueles que já foram firmes na fé, mas que agora se afastaram. Muitos querem voltar, mas não sabem bem como fazê-lo. Eles precisam de mãos amigas que se estendam para eles. Com algum esforço, muitos deles podem ser trazidos de volta para banquetearem-se na mesa do Senhor.
Irmãos e irmãs, eu espero, eu oro para que todos nós, tendo participado desta grandiosa conferência, decidamos procurar aqueles que necessitam de ajuda, que estão em situação desesperadora e difícil, trazendo-os, em espírito de amor, aos braços da Igreja, onde mãos fortes e corações amorosos irão acalentá-los, consolá-los, apoiá-los e colocá-los no caminho de uma vida feliz e produtiva.” (“Estenda Sua Mão Amiga”, A Liahona, janeiro de 1997, p. 92.)
Depois de ouvirmos o profeta manifestar sua preocupação, poderíamos perguntar-nos: “Por que alguns que já foram firmes na fé se afastaram?”
Se quisermos ter sucesso no cumprimento da responsabilidade que nos foi dada pelo profeta de aperfeiçoar os santos, precisamos também conseguir fortalecer aqueles que se afastaram da fé. Para dar início a esse trabalho, seria bom conhecermos os sentimentos e motivos pelos quais não assistem às reuniões nem participam da comunhão dos santos.
A maioria dos membros ativos acredita que os membros menos ativos se comportam de modo diferente porque não acreditam na doutrina da Igreja. Um estudo feito pela Divisão de Pesquisas da Igreja não corrobora essa conclusão. Ele mostra que quase todos os membros menos ativos entrevistados acreditam que Deus vive, que Jesus é o Cristo, que Joseph Smith foi um profeta e que a Igreja é verdadeira.
Como parte de outro estudo, foi perguntado a um grupo de membros ativos que já tinham sido menos ativos por que motivo haviam deixado de freqüentar a igreja. Os motivos mais comuns foram:
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Sentimento de indignidade;
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Problemas familiares ou pessoais;
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Pais ou cônjuge menos ativos;
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Rebeldia ou preguiça de adolescente;
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Conflito com o horário de trabalho;
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Grande distância da igreja, falta de transporte.
Foi-lhes perguntado, então, o que os havia influenciado a voltar à atividade na Igreja. As respostas mais comuns foram:
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Enfrentaram uma crise na vida;
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Superaram problemas pessoais;
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O exemplo do cônjuge ou do namorado ou namorada;
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A influência de pessoas da família;
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Queriam a influência do evangelho na família;
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Foram integrados por membros da ala; mudaram-se para uma nova ala na qual os membros se importavam com eles.
(Research Information Division comparison, Sept. 1999)
Creio que todo membro ativo da Igreja conhece uma ovelha perdida que necessita da atenção e amor de um pastor carinhoso.
O Presidente Hinckley explicou o que todo recém-converso precisa para permanecer ativo na Igreja: Um amigo, uma responsabilidade e ser nutrido pela boa palavra de Deus. A ovelha perdida precisa exatamente desse mesmo cuidado e preocupação para voltar ao redil.
Conheço uma família que perdeu um filho em um acampamento. Quando os esforços iniciais para encontrá-lo fracassaram, foi enviado um pedido de socorro, e centenas atenderam ao chamado, até que o menino foi encontrado e devolvido são e salvo para os braços da mãe e do pai. Peço-lhes hoje que todos tenhamos esse mesmo tipo de preocupação e amor genuínos, e que façamos tudo o que for possível para trazer de volta aqueles preciosos filhos e filhas que se perderam e se afastaram da Igreja.
O desafio que temos à nossa frente é bem grande. Será preciso exercer mais fé, energia e dedicação para alcançarmos esses irmãos e irmãs. Mas precisamos fazê-lo. O Senhor está contando com o nosso trabalho.
Precisamos lembrar-nos de que as mudanças acontecem lentamente. Todos precisamos ter paciência, oferecer amizade e integração, aprender a ouvir e amar, e tomar cuidado para não julgar nem condenar.
Em toda ala e ramo existem homens e mulheres bons e sinceros. Muitos deles não sabem como voltar para a igreja. Existem bons pais e mães entre eles. Muitos têm uma coisa em comum: Não são os líderes espirituais em sua casa. Se homens e mulheres de fé visitarem essas pessoas e tornarem-se seus amigos, amarem-nas e ensinarem-lhes o evangelho, creio que elas e sua família voltarão.
Nos próximos minutos, gostaria de dirigir-me àqueles que se desgarraram do redil. Espero que alguns de vocês que atualmente não se encontram plenamente ativos na Igreja estejam ouvindo a esta sessão de conferência. Em muitos casos, vocês criaram novas amizades e não estão mais cumprindo os padrões da Igreja. Muitos de seus filhos estão trilhando o mesmo caminho e seguindo seu exemplo. Os filhos dependem muito dos pais para seu sustento físico e apoio emocional, mas também dependem de seu apoio espiritual.
Uma ovelha, não um cordeiro, ⌦se desgarrou
Na parábola que Jesus nos contou,
Foi uma ovelha adulta que fugiu
Das noventa e nove que ficaram ⌦no redil.
E por que devemos essa ovelha ⌦buscar
E com sinceridade esperar e orar?
Porque quando a ovelha se perde, há o perigo
De ela levar os cordeiros consigo.
Os cordeiros irão a ovelha seguir
Para onde quer que ela decida ir.
Se a ovelha se perder e andar a esmo
Em breve os cordeiros farão o mesmo.
Pela ovelha, portanto, suplicamos
Pois com os cordeiros nos ⌦preocupamos.
Porque se uma ovelha vier a se ⌦desgarrar
Que preço terrível eles terão de pagar!
(“The Echo”, de C. C. Miller citado por Hugh B. Brown, The Abundant Life [1965], p. 166–67)
O Senhor disse: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz”. (João 10:27) Da mesma forma, seus filhos conhecem a sua voz. Ninguém pode efetivamente tomar seu lugar como pai e mãe. Conta-se a história ⌦de um menino de seis anos que se ⌦perdeu da mãe em um grande ⌦supermercado e começou a gritar desesperadamente: “Marta, Marta”. Quando a mãe foi encontrada e os dois se reuniram novamente, ela disse: “Meu bem, você não deve me chamar de Marta. Eu sou ’mamãe’ para você”. E o menino replicou: “Sim, eu sei, mas o supermercado estava cheio de mães, e eu queria a minha”. (Spencer W. Kimball, Faith Precedes the Miracle, p. 117.)
Que bênção seria para sua família se vocês colocassem sua própria vida em harmonia com o evangelho. A decisão de mudarem sua vida e voltarem à atividade na Igreja, achegando-se a Cristo, é a mais importante que vocês podem fazer nesta vida.
Para terminar, uma palavra final Daquele que pastoreou o rebanho. O próprio Salvador, em uma revelação concedida ao Profeta Joseph Smith, declarou-nos em termos bem pessoais qual o valor de cada alma:
“Lembrai-vos de que o valor das almas é grande à vista de Deus;
Pois eis que o Senhor vosso Redentor sofreu a morte na carne; portanto sofreu a dor de todos os homens, para que todos os homens se arrependessem e viessem a ele.
E ressuscitou dentre os mortos, para trazer a si todos os homens, sob condição de arrependimento.
E quão grande é sua alegria pela alma que se arrepende!
Portanto sois chamados para clamar arrependimento a este povo.
E, se trabalhardes todos os vossos dias clamando arrependimento a este povo e trouxerdes a mim mesmo que seja uma só alma, quão grande será vossa alegria com ela no reino de meu Pai!” (D&C 18:10–15)
O Bom Pastor deu de boa vontade a Sua vida por Suas ovelhas, por vocês e por mim, sim, por todos nós, para que vivamos eternamente com nosso Pai Celestial. Oro para que todos sigamos a admoestação que o nosso Salvador Jesus Cristo fez a Pedro, repetindo-a três vezes: “( … ) Apascenta os meus cordeiros. ( … ) Apascenta as minhas ovelhas. ( … ) Apascenta as minhas ovelhas”. (Ver João 21:15–17.) Em nome de Jesus Cristo. Amém. 9