História da Igreja
1. Onde está sua confiança em Deus? Lucy Mack Smith


“1. Onde está sua confiança em Deus? Lucy Mack Smith”, Ao Púlpito: 185 anos de discursos proferidos por mulheres santos dos últimos dias, 2017, pp. 3–5

“1. Lucy Mack Smith”, Ao Púlpito, pp. 3–5

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Onde está sua confiança em Deus?

Reunião dos santos imigrantes no lago Erie

Buffalo, Nova York

Maio de 1831

Lucy Mack Smith (1775–1856) era a mãe de Joseph e Hyrum Smith e de outros nove filhos. Ela exerceu grande influência no início da Igreja. Seu filho William Smith conta: “Sendo uma mulher muito devota e bastante preocupada com o bem-estar dos filhos, tanto nesta vida como na vida depois da morte, minha mãe fazia tudo o que estivesse ao alcance de seu amor maternal para que buscássemos a salvação de nossa alma ou, como se falava na época, ‘que tivéssemos uma religião’”.1 Em sua busca pessoal por uma religião, [Lucy] Smith estudava a Bíblia, orava, falava sobre sonhos e visões e frequentava reuniões religiosas e de reavivamento organizadas por várias denominações.2 Ela foi batizada como santo dos últimos dias logo após seu filho Joseph organizar a Igreja de Cristo, em 6 de abril de 1830.3

No início de maio de 1831, ela fazia parte de uma companhia de aproximadamente 80 membros da área de Fayette, Nova York, que viajava para se juntar a um grupo maior de santos dos últimos dias, em Kirtland, Ohio. O grupo contava com o clima ameno da primavera para fazer a travessia de Nova York até Ohio por via fluvial, em vez de terrestre.4 De acordo com um relato dela sobre a viagem, Solomon Humphrey, o membro mais velho da Igreja naquela época, e Hiram Page, uma das oito testemunhas do Livro de Mórmon, recusaram-se a liderar o grupo e passaram essa responsabilidade para Lucy. Os registros históricos relatam que toda a congregação concordou: “‘Sim’, responderam todos juntos: ‘faremos o que a mãe Smith nos disser’”. Lucy conta em seu relato que, antes de partirem: “Eu os reuni à minha volta e lhes disse: ‘Agora, irmãos e irmãs, partimos como o pai Leí fez ao viajar por mandamento do Senhor a uma terra que o Senhor nos mostrará se formos fiéis e desejo que todos elevemos o coração a Deus continuamente em solene oração para que prosperemos’”. Enquanto viajavam pelos canais Cayuga-Seneca e Erie, Lucy Smith liderou a companhia com cânticos e orações, cuidou de alguns aspectos financeiros, da comida e do alojamento.5

A jornada foi difícil, pois condições climáticas adversas, a desconfiança por parte de moradores locais e viajantes despreparados, com poucos suprimentos e crianças rebeldes, criaram tensões dentro do grupo. Cinco dias depois da partida, o grupo de Fayette chegou a Buffalo, encontrando ali um grupo de santos de Colesville, Nova York, que há uma semana aguardava o gelo se partir, permitindo que os barcos seguissem viagem.6 De acordo com Lucy, o grupo de Colesville incentivou a companhia de Fayette a não falar sobre sua identidade religiosa para a população local, enquanto aguardavam a mudança do clima, pois isso poderia incitar o preconceito e os impediria de garantir alojamento e transporte local. No entanto, Lucy permaneceu no convés do barco onde estava reunida sua companhia e corajosamente proclamou suas crenças mórmons aos cidadãos da cidade ali reunidos.

Depois de testificar aos espectadores locais, Lucy observou entre os santos no barco o que considerou ser um comportamento inadequado, incluindo discussões, reclamações e flertes. Preocupada com o fato de que a visão de um comportamento indisciplinado diminuísse a força do testemunho público que prestara, ela falou aos santos, conforme registrado no discurso apresentado aqui. Quando terminou de falar, ela contou: “Ouvimos um ruído, como o de trovejar. O capitão gritou: ‘Todos a postos’. O gelo se partiu, deixando apenas um caminho para o barco”.7 Eles viajaram rapidamente em segurança para o porto de Fairport, em Ohio, distante aproximadamente 20 quilômetros a nordeste de Kirtland, lá chegando no dia 11 de maio de 1831.8 Cerca de 13 anos mais tarde, Lucy Mack Smith registrou em suas próprias palavras a exortação a seguir, demonstrando a autoridade que ela exercera como “mãe Smith”, uma matriarca respeitada da Igreja.

Eu disse: “Irmãos e irmãs, nós nos autodenominamos santos dos últimos dias e professamos ter deixado o mundo com o propósito de servir a Deus, tendo a firme determinação de servi-Lo com todo o nosso poder, mente e força, deixando para trás as coisas terrenas; mas, no primeiro sacrifício de seu conforto começam a murmurar e reclamar como os filhos de Israel? Pior ainda, pois aqui temos irmãs atormentando pela falta de suas cadeiras de balanço!9 E, irmãos, de vocês eu esperava ajuda e alguma firmeza, mas, em vez disso, estão reclamando que deixaram uma boa casa e agora não têm para onde ir e não sabem se vão ter uma casa no final da jornada e, além disso, vocês provavelmente pensam que morrerão de fome antes de sairmos de Buffalo. Quem passou fome em nosso grupo? Alguém passou alguma necessidade dentro de nossas circunstâncias atuais? Não providenciei que houvesse comida todos os dias para todos vocês e os fiz bem-vindos como se fossem meus filhos para que não faltasse nada aos que não tivessem recursos suficientes?10

E, se não fosse esse o caso, onde está a sua fé?11 Onde está sua confiança em Deus? Não sabem vocês que todas as coisas estão nas mãos Dele? Ele criou todas as coisas e ainda governa sobre elas; e como seria fácil para Deus se todos os santos aqui expressassem seus desejos a Ele em oração, pedindo que um caminho fosse aberto diante de nós. Como seria fácil para Deus fazer o gelo se quebrar para que rapidamente pudéssemos continuar a viagem. Mas como vocês esperam que o Senhor nos abençoe quando murmuram continuamente contra Ele?”

Naquele momento um homem na margem grita: “O Livro de Mórmon é verdadeiro?” “Esse livro foi revelado pelo poder de Deus e traduzido pelo mesmo poder. Se eu fosse capaz de fazer minha voz soar tão alto quanto a trombeta de Miguel, o arcanjo, eu declararia a verdade de terra em terra e de mar a mar, e isso ecoaria de uma ilha a outra até que não restasse uma só pessoa que pudesse dizer que não a ouviu. Pois todos ouviriam a verdade do evangelho do Filho de Deus e eu falaria a todas as pessoas que Ele novamente Se revelou aos homens nestes últimos dias, tendo Sua mão estendida para coligar Seu povo em uma boa terra, que lhes será por herança se O temerem e andarem retamente perante Ele. Mas, se se rebelarem contra Sua lei, Sua proteção lhes será tirada e serão espalhados e varridos da face da terra. Pois Deus fará uma obra sobre a Terra e o homem não será capaz de impedi-la, pois trará a salvação a todos os que crerem completamente e a todos os que O invocarem e isso será uma prova para todos os que aqui se encontram hoje de que há um Salvador da vida para a vida ou da morte para a morte: um Salvador da vida para a vida se O receberem, mas da morte para a morte se rejeitarem o conselho de Deus para a sua própria condenação.12 Pois todos os homens receberão de acordo com o desejo de seu coração. E se desejarem essa verdade, o caminho está aberto para todos, e se quiserem, eles vão ouvir e viver;13 ao passo que, se tratarem a verdade com desdém e menosprezarem a simplicidade da palavra de Deus, vão fechar os portões dos céus contra si mesmos. Agora, irmãos e irmãs, se todos vocês orarem aos céus para que o gelo se rompa e fiquemos livres para seguir nosso caminho, tão certo como vive o Senhor, assim acontecerá.”

  1. William Smith, William Smith on Mormonism [William Smith sobre o Mormonismo], Lamoni, IA: Herald Steam Press, 1883, pp. 6–7.

  2. Irene M. Bates, “Lucy Mack Smith—First Mormon Mother” [Lucy Mack Smith — A primeira mãe mórmon], em Lucy’s Book: A Critical Edition of Lucy Mack Smith’s Family Memoir [O Livro de Lucy: Uma edição crítica das memórias familiares de Lucy Mack Smith], editora Lavina Fielding Anderson, Salt Lake City: Signature Books, 2001, pp. 6–7.

  3. Karen Lynn Davidson, David J. Whittaker, Mark Ashurst-McGee e Richard L. Jensen, editores, Histórias, Volume 1: Joseph Smith Histories [Histórias de Joseph Smith] 1832–1844, vol. 1 da série de histórias de The Joseph Smith Papers [Os Diários de Joseph Smith], editores Dean C. Jessee, Ronald K. Esplin e Richard Lyman Bushman, Salt Lake City: Church Historian’s Press, 2012, p. 366.

  4. Larry C. Porter, “‘Ye Shall Go to the Ohio’: Exodus of the New York Saints to Ohio, 1831” [Ireis para Ohio: O êxodo dos santos de Nova York para Ohio, 1831], em Regional Studies in Latter-day Saint Church History: Ohio [Estudos Regionais sobre a História da Igreja dos Santos dos Últimos Dias], editor Milton V. Backman Jr., Provo, UT: Departamento de História e Doutrina da Igreja, Brigham Young University, 1990, pp. 14–15, 23.

  5. Lucy Mack Smith, História, 1844–1845, 18 livros, livro 11, pp. 2–3; 8–10, Biblioteca de História da Igreja; Anderson, Lucy’s Book [O Livro de Lucy], p. 511, n. 3. A história de Lucy geralmente é considerada confiável, mas também reflete sua percepção de muitos anos depois que os fatos aconteceram.

  6. Smith, History [História], livro 11, p. 6.

  7. Smith, History [História], livro 11, pp. 6–7; livro 12, pp. 1–2.

  8. Porter, “Ye Shall Go to the Ohio” [Ireis para Ohio], p. 18.

  9. Em certo momento da jornada, Lucy repreendeu as mães da companhia que estavam negligenciando os filhos. Ela registra que as mulheres reclamaram, dizendo: “Parece-nos que seria melhor se tivéssemos permanecido em casa, sentadas confortavelmente em nossa cadeira de balanço com todo o conforto que queremos, mas estamos aqui muito cansadas e sem lugar para descansar” (Smith, History [História], livro 11, p. 5).

  10. No início da viagem, à medida que organizavam a liderança e os recursos da companhia, Lucy descobriu que havia cerca de 20 pessoas com menos do que duas refeições disponíveis. Ela lembra que deu apoio aos que não tinham recursos financeiros, bem como a 30 crianças que estavam a bordo (Smith, History [História], livro 11, pp. 2–3).

  11. Lucas 8:25.

  12. Ver 2 Coríntios 2:16; e Doutrina e Convênios 20:15.

  13. Ver João 5:25.