História da Igreja
37. União de sentimentos: Louise W. Madsen


“37. União de sentimentos: Louise W. Madsen”, Ao Púlpito: 185 anos de discursos proferidos por mulheres santos dos últimos dias, 2017, pp. 166–170

“37. Louise W. Madsen”, Ao Púlpito, pp. 166–170

37

União de sentimentos

Conferência geral da Sociedade de Socorro

Tabernáculo, Praça do Templo, Salt Lake City, Utah

3 de outubro de 1962

Um registro original deste discurso está disponível em churchhistorianspress.org (cortesia da Biblioteca de História da Igreja).

Multidão de mulheres no Tabernáculo de Salt Lake

Conferência geral da Sociedade de Socorro. 1962. A primeira conferência geral da Sociedade de Socorro foi realizada em 1889. Esta fotografia do Tabernáculo de Salt Lake mostra uma grande multidão em uma das sessões da conferência de outubro de 1962, na qual falou Louise W. Madsen. Fotografia de Ross Welser. (Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City.)

A experiência de vida levou Elen Louise Wallace Madsen (1909–1987) a desenvolver as habilidades de organização, de economia doméstica e intelectuais que ela usaria durante seu serviço na junta geral da Sociedade de Socorro. Desde quando tinha 13 anos de idade, Louise ajudava a criar seus quatro irmãos mais novos após a morte de seu pai.1 Ela se formou no Ensino Médio na LDS High School, em seguida fez cursos de inglês, história, literatura e direito na Universidade de Utah.2 Em 1º de junho de 1928, ela se casou com Francis Madsen e juntos estabeleceram a Madsen Furniture Company (empresa de móveis), primeiro em Ogden, Utah, e depois se expandiu para Salt Lake City. Também em Ogden, Louise Madsen apresentou um programa de rádio.3 Seus primeiros serviços na Igreja incluíam dar aulas do seminário, liderar as jovens adultas solteiras e dar aulas de literatura e teologia na Sociedade de Socorro.4 Ela também foi presidente da Sociedade de Socorro da Estaca Salt Lake Emigration.5 Louise iniciou seu serviço na junta geral da Sociedade de Socorro em dezembro de 1947 e, quando se tornou segunda conselheira de Belle S. Spafford na presidência geral da Sociedade de Socorro em 11 de agosto de 1958, ela já havia servido em muitos comitês da junta geral.6

O trabalho dela na presidência incluía dirigir as atividades de economia doméstica (chamadas de reuniões de serviço até outubro de 1966), supervisionar o departamento de roupas do templo e a loja de artesanato mórmon.7 Ela supervisionou um curso de um ano inspirado no programa de enfermagem doméstica da Cruz Vermelha para instruir as irmãs da Sociedade de Socorro nas habilidades de enfermagem doméstica.8 Ela também supervisionou a criação de um programa de berçário que a Sociedade de Socorro organizou para permitir que mais mães jovens assistissem às reuniões da Sociedade de Socorro, para fornecer oportunidades de aprendizagem para as criancinhas e para criar oportunidades de serviço para as irmãs da Sociedade de Socorro que supervisionavam ou que fossem voluntárias no berçário.9 Louise viajou por todo o mundo para instruir várias organizações da Sociedade de Socorro e representou a Sociedade de Socorro no Conselho Nacional de Mulheres.10 Muitos dos discursos e artigos de Louise, pelos quais ela foi celebrada, apareceram na Relief Society Magazine e no Church News.11

No início da década de 1960, os Estados Unidos foram envolvidos em conflitos internos e externos. A conscientização da violência racial nos Estados Unidos tinha aumentado substancialmente no final da década de 1950, após a cobertura da mídia de uma série de atos de violência graves contra a comunidade afro-americana.12 Em 1962, os Estados Unidos também estavam à beira de uma guerra com a União Soviética devido à colocação de mísseis balísticos em Cuba.13 Durante esse período de aumento do medo e questionamentos, Louise falou em uma conferência da Sociedade de Socorro, no Tabernáculo de Salt Lake, em 1962, sobre como Deus recompensa a união com poder.

Meus queridos irmãos e irmãs, pouco antes de entrar no jardim do Getsêmani na noite de Sua traição, o Senhor “levantou seus olhos ao céu”14 e orou ao Pai. O presidente McKay disse que essa oração foi “a maior e mais impressionante oração jamais proferida neste mundo”.15 Sua oração foi por aqueles que haviam acreditado Nele e por “aqueles que (…) hão de crer” Nele. Uma mensagem sublime dessa oração está neste versículo: “Para que todos sejam um como tu, ó Pai, és em mim, e eu, em ti; que também eles sejam um em nós”.16

Essa é a mais bonita expressão sobre o princípio da união. É esse princípio de união, esse sentimento de ser “um”, uns com os outros e com nosso Deus, que tem contribuído para que a Igreja possa progredir e realizar os propósitos para os quais foi estabelecida.

Uma das declarações do profeta Joseph Smith para a Sociedade de Socorro que tem significado imenso e contínuo é que “pela união de sentimentos obtemos poder com Deus”.17 Essa é uma expressão do princípio de união que mostra como ele funciona para cumprir propósitos. Ele exortou as irmãs a obterem o poder do alto, sendo “uma” em espírito e determinação para fazer o trabalho que Ele deseja que façam. O fato de terem feito isso é demonstrado pelo crescimento e pelas realizações da Sociedade de Socorro em todo o mundo. A separação por grandes extensões de terra e oceanos não muda nem diminui o sentimento ou a necessidade da “unidade”. Mais de 250 mil mulheres unidas em sentimento e propósito, buscando o poder do Pai Celestial em retidão, podem exercer um enorme poder para o bem, onde quer que estejam.

Que poder é esse que podemos obter? Visto que deriva de nossa união com Deus nosso Pai e Seu Filho, Jesus Cristo, o poder não está porventura nas palavras de Miqueias de “[fazer] o que é bom; o que o Senhor pede de [nós], [praticar] a justiça, e [amar] a benevolência, e [andar] humildemente com [nosso] Deus”?18 Não é o privilégio de servir que buscamos, sentir a força motivadora da compaixão? Não é o poder da força dada por Deus e o conhecimento com o qual Ele nos abençoou que valorizamos? Não é o poder de pensamento e ação altruísta, de generosidade, a capacidade de sobrepujar a crítica e a mente mesquinha que desejamos? O poder de ser um instrumento para a salvação de almas foi concedido à Sociedade de Socorro. Nosso maior objetivo é edificar um firme testemunho da divindade do Salvador e do evangelho. A caridade, o puro amor de Cristo, é nosso princípio orientador.19

Devemos novamente recordar que esses aspectos de poder são obtidos por meio da “união de sentimentos”, a “união de sentimentos” entre nós mesmos e o Pai Celestial. Esse tipo de união não pode ser mantido com sucesso com menos do que o maior esforço de todos nós. A insatisfação com a simples normalidade aumenta a capacidade da organização de usar esse poder dos céus na sua totalidade. Nossa visão e nossos objetivos devem ser exaltados e a integridade do propósito e da confiabilidade de cada membro devem ser aumentadas.

Aqueles que recebem o poder devem assumir as responsabilidades que o acompanham. Uma delas é a liderança sábia. Orientar, persuadir e direcionar corretamente,20 fortalecer em retidão, instruir e dar impulso a atitudes corajosas são aspectos de liderança para as quais as mulheres da Sociedade de Socorro são treinadas.21 A força de uma organização dedicando-se para o bem, adaptando-se ao que precisa ser feito e acreditando plenamente que seu trabalho está basicamente e espiritualmente correto, é a força que o Senhor exigiu de nós. Toda Sociedade de Socorro, não importa o tamanho, por mais isolada que seja, deve participar desta “união de sentimentos”.

Paulo, em sua epístola aos romanos, fala da “fé mútua, tanto vossa como minha”,22 e suplica a seus irmãos “combatais comigo”23, em tudo o que precisa ser feito. Ele os adverte a evitar as “dissensões e escândalos contra a doutrina”.24 Ele recomendou especificamente várias irmãs:

Recomendo-vos, pois, Febe, nossa irmã, a qual serve na igreja que está em Cencreia,

Para que a recebais no Senhor, como convém aos santos, e a ajudeis em qualquer coisa que de vós necessitar; porque tem hospedado a muitos, como também a mim mesmo.

Saudai Priscila e Áquila, meus cooperadores em Cristo Jesus,

Que pela minha vida arriscaram o seu próprio pescoço; aos quais não só eu agradeço, mas também todas as igrejas dos gentios. (…)

Saudai Maria, que trabalhou muito por nós. (…)

Saudai Trifena e Trifosa, as quais trabalham no Senhor. Saudai a amada Pérside, a qual muito trabalhou no Senhor.25

Esse tipo de recomendação também pode ser dado individualmente a muitas mulheres nesta dispensação. Muitas irmãs que ocupam cargos na Sociedade de Socorro poderiam ser descritas nas palavras de Paulo como tendo “muito [trabalhado] no Senhor”.26 Mas é a Sociedade de Socorro como um todo, como uma organização auxiliar da Igreja, recebendo o poder de Deus pela “união de sentimentos”, que melhor serve para fazer o trabalho que Ele deseja que uma organização de Suas filhas faça.

Os laços de irmandade são lindos! Os vínculos de amizade são edificantes. O trabalho de milhares de irmãs unidas em propósito justo é glorioso. O reconhecimento de que devemos fazer a obra do Senhor é um ato de humildade.

Que Ele nos abençoe com o desejo de nos dirigir a Ele em “união de sentimentos” e ser unos como Cristo orou que seus seguidores o fossem, é minha oração em nome de Jesus Cristo. Amém.

  1. “Louise W. Madsen, Former Relief Society Officer, Dies at 78” [Louise W. Madsen, ex-líder da Sociedade de Socorro, morre aos 78 anos], Deseret News, 6–7 de outubro de 1987.

  2. LDS High School, também chamada de LDS College, oferecia cursos no nível do Ensino Médio e faculdade (Lillie C. Adams, “Elen Louise Wallace Madsen Called to the General Board” [Elen Louise Wallace Madsen chamada para a junta geral], Relief Society Magazine 35, nº 2, fevereiro de 1948, p. 81; “Louise W. Madsen”).

  3. “Louise W. Madsen.”

  4. Adams, “Elen Louise Wallace Madsen Called to the General Board” [Elen Louise Wallace Madsen Chamada para a Junta Geral], p. 81. Louise ensinou literatura e teologia não muito tempo depois do início do programa do seminário da Igreja.

  5. “Louise W. Madsen.”

  6. Marianne C. Sharp, “Elen Louise Wallace Madsen Appointed Second Counselor in the General Presidency of Relief Society” [Elen Louise Walace Madsen designada segunda conselheira na presidência geral da Sociedade de Socorro], Relief Society Magazine 45, nº 10, outubro de 1958, pp. 651–652. Louise serviu nos comitês de conferência de Natal, recursos educacionais, literatura, conferência da Sociedade de Socorro, poesia, conto, ciência social e de convenções de estaca, entre outros (Relief Society General Board Minutes [Ata da junta geral da Sociedade de Socorro], vol. 27, 1948–1949, pp. 211–212, 401–402; vol. 28, 1950–1951, pp. 243–244, 444–445; vol. 29, 1952–1953, pp. 211–212, 473–474; vol. 30, 1954–1955, pp. 239–241, 507–509; vol. 31, 1956–1957, pp. 251–252, 289–290; vol. 32, 1958–1959, pp. 196–197, Biblioteca de História da Igreja).

  7. “New Titles for Lesson Courses” [Novos títulos para cursos], Relief Society Magazine 53, nº 6, junho de 1966, p. 460; “Louise W. Madsen”.

  8. Relief Society General Board Minutes [Ata da junta geral da Sociedade de Socorro], vol. 33, 1960, 6 de janeiro, 1960, p. 10; “Louise W. Madsen”. A Cruz Vermelha iniciou um programa de treinamento em enfermagem doméstica em 1908 e a Sociedade de Socorro patrocinou cursos de enfermagem doméstica da Cruz Vermelha já no início da década de 1920 (Lavinia L. Dock e outros, History of American Red Cross Nursing [História da Enfermagem da Cruz Vermelha Americana], New York: Macmillan, 1922, pp. 1352–1354; Jill Mulvay Derr, Janath Russell Cannon e Maureen Ursenbach Beecher, Women of Covenant: The Story of Relief Society [Mulheres do Convênio: A História da Sociedade de Socorro], Salt Lake City: Deseret Book, 1992, pp. 233–234).

  9. “Need for Relief Society Nurseries” [Necessidade de berçários da Sociedade de Socorro], p. 2, Louise W. Madsen Papers, Biblioteca de História da Igreja. O primeiro manual do berçário da Sociedade de Socorro é de 1963. A primária teve currículo do berçário para crianças de 4 anos ou menos começando em 1951 e uma classe para as crianças de 3 anos ou menos a partir de cerca de 1956 (“Nursery Committee Report” [Relatório do comitê do berçário], p. 1, Louise W. Madsen Papers, Biblioteca de História da Igreja; Derr, Cannon e Beecher, Women of Covenant, p. 345; Carol Cornwall Madsen and Susan Staker Oman, Sisters and Little Saints: One Hundred Years of Primary [Irmãs e Crianças da Igreja: Cem Anos da Primária], Salt Lake City: Deseret Book, 1979, p. 208).

  10. “Louise W. Madsen.” Em meados do século 20, o Conselho Nacional de Mulheres era uma organização moderada que apoiava a paz e apoiava fortemente as Nações Unidas. Belle S. Spafford, que começou a ocupar o cargo no conselho em 1948 e viria a servir como presidente de 1968 a 1970, relatou após as reuniões de 1952 que o conselho estava muito preocupado com a diminuição dos padrões morais, a fragmentação da vida familiar, o aumento do materialismo e com os sistemas educacionais inadequados (Margaret Nunnelley Olsen, “One Nation, One World: American Clubwomen and the Politics of Internationalism, 1945–1961” [Uma Nação, um Mundo: Clubes Femininos Americanos e a Política do Internacionalismo], tese de mestrado, Rice University, 2007, pp. 73–76; Belle S. Spafford, “The National Council of Women” [O conselho nacional de mulheres], Relief Society Magazine 40, nº 4, abril de 1953, p. 217; Priscilla L. Evans, “President Belle S. Spafford Elected to Office in the National Council of Women” [Presidente Belle S. Spafford eleita ao cargo no Conselho Nacional de Mulheres], Relief Society Magazine 36, nº 1, janeiro de 1949, pp. 20–21; Derr, Cannon e Beecher, Women of Covenant, p. 337).

  11. “Louise W. Madsen.”

  12. Esses incidentes incluíram o espancamento e o assassinato de Emmett Till, um afro-americano de 14 anos; tiroteios e explosões de ônibus, de residências afro-americanas e igrejas após o boicote aos ônibus de Montgomery e as ameaças e insultos pelos adultos brancos às crianças afro-americanas durante o processo de integração da Central High School, em Little Rock, Arkansas (Robert J. Norrell, The House I Live In: Race in the American Century [A Casa em Que Vivo: A Raça no Século Americano], New York: Oxford University Press, 2005, pp. 174–186).

  13. Para mais informações sobre a crise dos mísseis cubanos, ver Len Scott e R. Gerald Hughes, eds., The Cuban Missile Crisis: A Critical Reappraisal [A Crise dos Mísseis Cubanos: Uma Reavaliação Crítica], Londres: Routledge, 2015.

  14. João 17:1.

  15. David O. McKay, “Unity in the Church” [União na Igreja], Instructor 87, nº 8, agosto de 1952, p. 225.

  16. João 17:20–21.

  17. Nauvoo Relief Society Minute Book [Livro de atas da Sociedade de Socorro de Nauvoo], 9 de junho de 1842, p. 61, em Jill Mulvay Derr, Carol Cornwall Madsen, Kate Holbrook e Matthew J. Grow, eds., The First Fifty Years of Relief Society: Key Documents in Latter-day Saint Women’s History [Os Primeiros 50 Anos da Sociedade de Socorro: Documentos Importantes da História das Mulheres Santos dos Últimos Dias], Salt Lake City: Church Historian’s Press, 2016, p. 78.

  18. Ver Miqueias 6:8.

  19. Ver Morôni 7:47.

  20. Ver “A alma é livre”, Hinos, A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Salt Lake City: A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, 1948, nº 149; ver também Hymns of the Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, Salt Lake City: The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, 1985, nº 240.

  21. As irmãs da Sociedade de Socorro fizeram cursos mensais de literatura, ciências sociais, economia doméstica (reunião de serviço) e teologia. Nessa época, especialistas em áreas relevantes escreveram as lições, inclusive lições destinadas a ser compartilhadas pelas professoras visitantes, que foram publicadas na Relief Society Magazine. As irmãs membros da junta da Sociedade de Socorro leram e avaliaram todas as lições antes da publicação. As metas do currículo incluíam aumentar nos membros a apreciação pela literatura, o senso de obrigação social e o conhecimento sobre como servir com mais eficiência, a espiritualidade e o entendimento das doutrinas da Igreja e a consciência cívica (“Lesson Department” [Departamento de aulas], Relief Society Magazine 48, nº 6, junho de 1961, pp. 411–420; Alice C. Smith, entrevista realizada por Harvard Heath, 25 de outubro de 1985, p. 42, BYU; Handbook of Instructions of the Relief Society of the Church of Jesus Christ of Latter-day Saints [Manual de Instruções da Sociedade de Socorro de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias], Salt Lake City: Junta geral da Sociedade de Socorro, 1962, p. 92).

  22. Romanos 1:12.

  23. Romanos 15:30.

  24. Romanos 16:17.

  25. Citação no original: “Romanos 16:1–4, 6, 12”. Para mais informações sobre essas mulheres, ver Peter Lampe, From Paul to Valentinus: Christians at Rome in the First Two Centuries [De Paulo a Valentim: Os Cristãos em Roma nos Primeiros Dois Séculos], Minneapolis: Fortress Press, 2003; e Elisabeth Schüssler Fiorenza, In Memory of Her: A Feminist Theological Reconstruction of Christian Origins [Em Memória Dela: Uma Reconstrução Teológica Feminista de Origens Cristãs], New York: Crossroad, 1994.

  26. Romanos 16:12.