História da Igreja
3. Faremos algo extraordinário: Emma Hale Smith


“3. Faremos algo extraordinário: Emma Hale Smith”, Ao Púlpito: 185 anos de discursos proferidos por mulheres santos dos últimos dias, 2017, pp. 11–14

“3. Emma Hale Smith”, Ao Púlpito, pp. 11–14

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Faremos algo extraordinário

Sociedade de Socorro de Nauvoo.

Nauvoo, Illinois

1842–1844

Emma Hale Smith (1804–1879) conheceu o marido, Joseph Smith, quando este estava hospedado na fazenda de seus pais em Harmony, Pensilvânia. Eles se casaram no dia 18 de janeiro de 1827.1 Lucy Mack Smith, a sogra de Emma, fez o seguinte elogio sobre ela: “Eu nunca vi uma mulher em toda a minha vida que suportasse toda a espécie de fadiga e dificuldade, meses, anos a fio, com uma coragem inabalável, com o zelo e a paciência com que ela o fez”.2 Emma Smith trabalhou por um curto período como escrevente na tradução do Livro de Mórmon e ajudou o marido de outras maneiras.3 Por exemplo, ela ajudou a preparar os primeiros missionários para o serviço e se reuniu com outras mulheres para orar em favor de Joseph Smith em Nova York.4 Anos mais tarde, ela entregou uma petição ao governador de Illinois, assinada por aproximadamente mil mulheres de Nauvoo, Illinois, pedindo proteção para o marido.5 Ela abriu as portas de seu lar para os doentes, órfãos e outros visitantes.6 Emma Smith foi mãe de 11 filhos, sendo nove biológicos e dois adotivos. Quatro de seus filhos morreram logo após o nascimento e dois morreram ainda bebês.7

No início de julho de 1830, logo depois do batismo de Emma Smith, Joseph Smith ditou uma revelação dirigida à esposa, conhecida como a seção 25 de Doutrina e Convênios. A revelação descrevia Emma Smith como “uma mulher eleita, a quem chamei” e falava que ela seria “ordenada (…) para explicar as escrituras e exortar a igreja, conforme [te] for revelado”.8 Suas responsabilidades aumentaram ainda mais quando foi eleita presidente da Sociedade de Socorro Feminina de Nauvoo, em 17 de março de 1842. Na primeira reunião da organização, Joseph Smith leu a revelação recebida em 1830, explicando que, na época em que ela foi dada, “a presidente” Smith havia sido “ordenada (…) para explicar as escrituras a todos e ensinar a parte feminina da comunidade”. Ele prosseguiu comparando Emma Smith à “mulher eleita” mencionada no Novo Testamento.9 John Taylor chamou Emma de “mãe em Israel” e a instruiu a cuidar dos necessitados e ser um “padrão de virtude”, a “presidir e dignificar seu ofício” ensinando princípios corretos.10 Embora Emma Smith tenha se reunido com a sociedade somente 12 vezes em 1842 e quatro vezes em março de 1844, sua liderança foi fundamental para a formação da organização. No início da Sociedade de Socorro, as mulheres santos dos últimos dias não eram registradas automaticamente — elas tinham que se inscrever para provar que eram dignas e que estavam comprometidas com a Igreja. Emma liderou os esforços de registro de membros na sociedade, incentivou a união e instruiu as mulheres na compaixão e no cuidado com os pobres. A fala pública de Emma Smith estabeleceu um padrão para as mulheres santos dos últimos dias, que consideravam a revelação de 1830 — que declarava que a exortação de Emma também era a “voz do Senhor para todos” — como justificativa para seus próprios ministérios.11

Emma Smith cumpriu também sua responsabilidade de “andar nos caminhos da virtude”, conforme instruído na revelação de 1830.12 Os movimentos a favor da pureza nacional e os grupos de reforma moral, formados naquela época por mulheres de todo o país, trabalhavam para instilar a virtude e para defender a castidade e a fidelidade conjugal.13 A Sociedade de Socorro deu a Emma Smith um espaço público para fazer campanha em defesa da virtude e promover a reforma moral. Na mesma época, Joseph Smith estava apresentando o princípio do casamento plural a um pequeno grupo de santos dos últimos dias.14

Enquanto a Sociedade de Socorro de Nauvoo funcionava como um grupo de debates e não como uma reunião para discursos tradicionais, as palavras de Emma Smith, que estão publicadas aqui, mostram sua liderança. Mesmo na última reunião da Sociedade de Socorro de Nauvoo, Emma manteve seu senso de autoridade espiritual, exortando as mulheres a se arrependerem, a fortaleceram umas às outras e a praticarem a caridade.15

[17 de março de 1842]

Emma Smith declarou que faremos algo extraordinário. Quando um barco estiver preso nas corredeiras, com uma multidão de membros a bordo, devemos considerar isso um grito de socorro.16 Esperamos ocasiões extraordinárias e chamados urgentes. (…)

A presidente Emma Smith se levantou e continuou a fazer observações apropriadas sobre o objetivo da sociedade, sobre os deveres para com as outras pessoas; também sobre os deveres de umas com as outras, isto é, de procurar e aliviar os aflitos; de que todas deveriam ter a ambição de fazer o bem; de que deveriam ser verdadeiras umas com as outras, zelar pela moral e ter muito cuidado com o caráter e a reputação dos membros dessa sociedade, etc. (…)

[24 de março de 1842]

A presidente Emma Smith se levantou e disse que as medidas que promovem a união nessa sociedade devem ser cuidadosamente observadas. Que cada membro da sociedade deve gozar da amizade das demais. Como sociedade, esperava que elas se despojassem de todos os sentimentos de inveja e maldade que porventura existissem entre as irmãs. Que a conduta seja respeitosa aqui e em todos os lugares. Ela disse que se regozijava com a perspectiva que via diante dela. (…)

A presidente Emma Smith disse que ninguém precisa se sentir constrangida com as perguntas sobre essa sociedade. Não há nada confidencial sobre ela. Seus objetivos são puramente benevolentes (…) e caridosos: ninguém pode se opor a falar o bem e a impedir o mal. Ela esperava que todas se sentissem comprometidas a observar essa regra. (…) Ela disse que é dever de cada pessoa verificar as condições dos pobres e relatar o verdadeiro estado em que se encontram. (…) Devemos ajudar umas às outras dessa maneira. (…)

[31 de março de 1842]

A presidente Emma Smith disse que vamos aprender coisas novas. Nosso caminho é reto. Disse que não queremos nesta sociedade senão aquelas que podem e estão determinadas a andar retamente e a fazer o bem. (…)

[14 de abril de 1842]

A presidente Emma Smith se levantou e conduziu a reunião. (…) O desejo dela era o de fazer o bem e de que todas as mulheres dessa sociedade a ajudassem. Disse ser necessário começar entre nós, erradicando todo o mal de nosso próprio coração, advertindo àquelas que desejam se juntar a nós, que planejem se livrar de tudo que for errado e se unam para expor e colocar de lado toda iniquidade. Ela disse que a sociedade tem outras obrigações além de cuidar das necessidades dos pobres. Exortou as mulheres a se comportarem de tal maneira a terem a honra de começar e realizar um bom trabalho. Reforçou a necessidade de agirmos de maneira a obter a aprovação formal de Deus. (…)

A presidente Smith, então, solicitou aos presentes que apresentassem as necessidades dos pobres para serem discutidas.

[19 de maio de 1842]

A sra. presidente continuou exortando a todas que cometeram erros que se arrependam e abandonem seus pecados. Disse que as forças de Satanás lutam contra essa Igreja. Que todos os santos devem cumprir seus deveres. (…)

[27 de maio de 1842]

A presidente Emma Smith se levantou e se dirigiu à congregação. (…) Ela disse que todas devem receber sua própria graça, etc. (…) Reforçou a necessidade de sermos unidas em fazer o bem aos pobres. (…)

23 de junho de 1842.

A sra. presidente disse que se alegrou ao ver a crescente união da sociedade. Ela espera que vivamos retamente diante de Deus, do mundo e entre nós. Disse que somente precisamos temer a Deus e guardar os mandamentos e, se assim fizermos, teremos prosperidade.

[4 de agosto de 1842]

A sra. presidente se levantou e falou para a sociedade sobre a necessidade de sermos unidas. Disse que teremos dificuldades externas suficientes para ficar suscitando contendas, dificuldades e sentimentos malignos entre nós, etc.

Podemos governar esta geração de uma forma ou de outra. Se não for pelo braço forte, podemos fazê-lo pela fé e pela oração.17 Ela disse que acredita que não seremos compelidas se procurarmos viver retamente.18

A sra. presidente continuou dizendo que Deus sabe que temos um trabalho a ser realizado neste lugar. Precisamos vigiar e orar e ser cuidadosas para não incitar sentimentos ruins e criar inimigos entre nós, etc.

[16 de março de 1844]

A sra. presidente se levantou e falou sobre a necessidade de sermos unidas e fortalecermos umas às outras para que possamos fazer o bem entre os pobres. (…) Precisamos nos revestir com o manto da caridade para proteger os que se arrependem e não pecam mais. (…) Ela nos aconselhou a obedecer aos princípios contidos no Livro de Mórmon e em Doutrina e Convênios. (…) Também nos exortou a cuidar dos pobres.

  1. Richard Lyman Bushman, Joseph Smith: Rough Stone Rolling [Joseph Smith: Uma pedra bruta], Nova York: Knopf, 2005, p. 53.

  2. Lucy Mack Smith, History, 1845, p. 190, Biblioteca de História da Igreja.

  3. Mark L. Staker, “‘A Comfort unto My Servant, Joseph’: Emma Hale Smith, (1804–1879)” [Um conforto para meu servo Joseph: Emma Hale Smith], em Women of Faith in the Latter Days [Mulheres de Fé nos Últimos Dias], vol. 1, 1775–1820, editores Richard E. Turley Jr. e Brittany A. Chapman, Salt Lake City: Deseret Book, 2011, pp. 353–356.

  4. Smith, History, 1845, pp. 189–190; John S. Reed, “Some of the Remarks of John S. Reed, Esq., as Delivered before the State Convention” [Algumas observações de John S. Reed, Esq., como proferidas antes da Convenção do Estado], Times and Seasons, vol. 5, nº 11, 1º de junho de 1844, p. 551.

  5. Nauvoo Female Relief Society, Petition to Governor Thomas Carlin [Sociedade de Socorro Feminina de Nauvoo, petição ao governador Thomas Carlin], por volta de 22 de julho de 1842, Biblioteca de História da Igreja, em Jill Mulvay Derr, Carol Cornwall Madsen, Kate Holbrook, e Matthew J. Grow, editores, The First Fifty Years of Relief Society: Key Documents in Latter-day Saint Women’s History [Os Primeiros 50 Anos da Sociedade de Socorro: Documentos importantes da história das mulheres santos dos últimos dias], Salt Lake City: Church Historian’s Press, 2016, pp. 136–141.

  6. Lucy Mack Smith, History, 1844–1845, 18 livros, livro 14, p. 5; livro 15, p. 12, Biblioteca de História da Igreja; Linda King Newell e Valeen Tippetts Avery, Mormon Enigma: Emma Hale Smith [O Enigma Mórmon: Emma Hale Smith], 2ª ed., Urbana: University of Illinois Press, 1994, pp. 84–90, 132.

  7. Staker, “A Comfort unto My Servant, Joseph” [Um Conforto para Meu Servo, Joseph], p. 345.

  8. Doutrina e Convênios 25:3, 7.

  9. Ver 2 João 1:1.

  10. Nauvoo Relief Society Minute Book [Livro de atas da Sociedade de Socorro de Nauvoo], 17 de março de 1842, pp. 8–9, em Derr e outros, First Fifty Years [Os Primeiros 50 Anos], pp. 32–33. “Presidentess” [Presidente] era um termo do século 19 também para indicar uma mulher. Para uma explicação da palavra ordenada, ver Derr e outros, First Fifty Years [Os Primeiros 50 Anos], xxxi–xxxiv.

  11. Doutrina e Convênios 25:16.

  12. Doutrina e Convênios 25:2.

  13. Mary P. Ryan, “The Power of Women’s Networks: A Case Study of Female Moral Reform in Antebellum America” [O poder das redes de contato das mulheres: Um estudo de caso sobre a reforma moral feminina na América pré Guerra Civil], Feminist Studies [Estudos feministas] 5, nº 1, 1º semestre de 1979, pp. 66–85; Lori D. Ginzberg, Women and the Work of Benevolence: Morality, Politics, and Class in the Nineteenth-Century United States [Mulheres e a Caridade: Moralidade, política e classes sociais nos Estados Unidos do Século 19], New Haven, CT: Yale University Press, 1990, pp. 113–114.

  14. Ver Derr e outros, First Fifty Years [Os Primeiros 50 Anos], pp. 97–99, 142–144; Glen M. Leonard, Nauvoo: A Place of Peace, A People of Promise [Nauvoo: Um Lugar de Paz, um Povo da Promessa], Salt Lake City: Deseret Book, 2002, p. 226; Bushman, Rough Stone Rolling [Uma Pedra Bruta], pp. 460, 494–499; e Newell e Avery, Mormon Enigma [O Enigma Mórmon], pp. 96, 142–147, 151–156.

  15. Naquela reunião, Emma Smith “exortou as mulheres a purificar o coração e a cuidar do que ouvem. [Ela] também as incentivou a cuidar dos pobres (…) e disse que, se alguma vez houve autoridade na Terra, ela a havia recebido e ainda a possuía” (Nauvoo Relief Society Minute Book [Livro de atas da Sociedade de Socorro de Nauvoo], 16 de março de 1844, pp. 125–126, em Derr e outros, First Fifty Years [Os Primeiros 50 Anos], pp. 130–131).

  16. As “corredeiras” se referem ao Des Moines ou ao Lower Rapids, um trecho de 18 quilômetros do rio Mississippi, ao norte de Keokuk, Iowa, onde o rio tem uma queda de cerca de sete metros. Essas corredeiras ficavam intransitáveis para os barcos a vapor durante os meses de seca e eram potencialmente traiçoeiros em muitos outros meses (Louis C. Hunter, Steamboats on the Western Rivers: An Economic and Technological History [Barcos a Vapor nos Rios Ocidentais: Uma história econômica e tecnológica], Nova York: Dover, 1993, p. 188).

  17. Ver Deuteronômio 9:29; e Doutrina e Convênios 123:6.

  18. Esta pode ser uma referência aos santos expulsos do Missouri em 1839 e a esperança de que também não seriam expulsos de seu novo local de moradia em Nauvoo.