Agir por Nós Mesmos ⌦e Não Receber a Ação
O Senhor pode realizar notáveis milagres com uma pessoa de capacidade mediana, se ela for humilde, fiel, servi-Lo diligentemente e procurar aperfeiçoar-se.
É sempre uma responsabilidade sagrada falar à grande comunidade do sacerdócio desta Igreja. Quero, esta noite, falar principalmente aos excelentes rapazes do Sacerdócio Aarônico. Faço-o por reconhecer que o futuro da Igreja, e até mesmo do mundo, depende de como vocês, rapazes, encaram e respeitam seu sacerdócio.
Perguntei recentemente a alguns jovens excelentes o que eu deveria saber a respeito de sua geração. Um rapaz falou pelo grupo e disse: “Vivemos nos limites”. Desde essa ocasião, tenho pensado muito no que significa viver nos limites. É claro que pode significar muitas coisas. Acho que meu jovem amigo referia-se aos perigos do motociclismo, do alpinismo e de outros tipos de recreação que envolvem riscos desnecessários e que, para os jovens, constituem um desafio ou uma emoção.
Alguns anos atrás, o Élder Marion D. Hanks falou sobre um grupo de Escoteiros que foi explorar uma caverna. A trilha estreita era marcada por pedras brancas e iluminada por seções. Depois de cerca de uma hora, chegaram a uma abóbada grande e alta. Abaixo dela estava uma área a que chamavam de Poço sem Fundo, assim denominado porque o chão da caverna havia cedido, abrindo um profundo buraco. Era difícil deixarem de acotovelar-se naquele caminho estreito. Logo, um dos rapazes maiores empurrou acidentalmente um garotinho menor, que caiu numa área lamacenta, sem iluminação. Apavorado ao perder o equilíbrio, ele gritou na escuridão. O guia ouviu seu grito de pavor e acorreu rapidamente. O menino deixou escapar outro grito quando o facho de luz do guia mostrou que ele estava bem à beira do abismo.1
Nesta história, o menino foi salvo. Mas isso nem sempre acontece.
Muitas vezes os jovens são induzidos a chegar ao limite, ou até a ultrapassá-lo. Tendo apenas uma precária saliência onde se apoiar, é fácil ferir-se gravemente ou até morrer. A vida é preciosa demais para que a joguemos fora em nome da emoção, ou, como disse Jacó, no Livro de Mórmon, olhar “para além do marco”.2
Vocês, jovens, podem achar que são indestrutíveis e que irão viver para sempre. Dentro de poucos anos aprenderão que não é assim. Viver no limite também pode significar chegar perigosamente perto do Poço sem Fundo. Mais perigoso ainda é arriscar sua alma brincando com drogas e outras substâncias alucinógenas para “viajar”.
Alguns de vocês podem achar que descobrirão sua força e capacidade vivendo no limite. Talvez também pensem que seja uma forma de descobrir sua identidade ou masculinidade. No entanto, a identidade não pode ser encontrada na procura de emoções, expondo-se intencional e desnecessariamente a vida ou a alma a qualquer tipo de perigo, seja físico ou moral. Sempre haverá grande número de riscos que surgirão naturalmente, sem que tenham de procurá-los. Vocês desenvolverão sua força e identidade respeitando o sacerdócio, aplicando seus talentos, e servindo ao Senhor. Cada um de vocês terá que se esforçar muito a fim de qualificar-se para seu potencial eterno. Não será fácil. A descoberta de sua verdadeira identidade exigirá de vocês muito mais capacidade do que a exigida para escalar um perigoso despenhadeiro ou correr velozmente em um carro ou motocicleta. Exigirá toda sua força, resistência, inteligência e coragem.
O melhor conselho que já recebi sobre a importância de evitar os limites foi quando era recém-casado e o Presidente Harold B. Lee chamou-me como membro de um bispado. Disse ele: “De agora em diante, você não deve somente evitar o mal, mas também a aparência do mal”. Ele não explicou esse conselho. A interpretação foi deixada por conta de minha consciência.
Isto me faz lembrar de um ponto importante que desejo ressaltar esta noite para o Sacerdócio de Deus. Cada um de nós precisa assumir a responsabilidade das decisões morais que tomar na vida quanto à distância que deseja manter dos limites. Néfi declara: “E porque são redimidos da queda tornaram-se livres para sempre, distinguindo o bem do mal; para agirem por si mesmos e não para receberem a ação”.3 Receber a ação significa que uma outra pessoa está controlando você.
Vivemos numa época em que muitos desejam evitar a responsabilidade de seus próprios atos.
Quando eu era um advogado iniciante, fui designado pelos juízes para defender pessoas acusadas de infrações. Certa vez, quando fui defender um rapaz e aproximamo-nos da tribuna, o venerável e idoso juiz federal olhou para nós dois e perguntou: “Qual de vocês é o acusado?” Com aquelas experiências, aprendi que algumas pessoas não se consideram responsáveis ou culpadas de forma alguma, mesmo tendo violado a lei. Sentiam que não deviam ser censuradas. Tinham abdicado de sua consciência. Podiam ter cometido o ato delituoso, mas achavam que na realidade a culpa era de seus pais, porque não os tinham educado adequadamente, ou da sociedade, porque nunca haviam recebido uma oportunidade na vida. Muito freqüentemente tinham alguma razão ou pretexto para pôr a culpa de suas ações em outrem ou sobre alguma outra coisa, em vez de aceitar a responsabilidade de seus próprios atos. Não agiam por si mesmos, mas recebiam a ação.
Mickey Mantle, um astro do beisebol americano de muitos anos atrás, admitiu recentemente sua dependência de vários tipos de drogas durante vários anos. Ao receber um transplante de fígado, num esforço para salvar sua vida, fez uma afirmação surpreendente. Disse ele: “Não me usem como modelo”. Disse também que se comprometia a ser um exemplo melhor para o resto da vida. Mickey Mantle aceitara, finalmente, a responsabilidade de seus erros. Infelizmente, faleceu logo depois. Muitos de nós recebemos treinamento para oficiais durante a II Guerra Mundial. Foi-nos ensinado que a única resposta apropriada quando cometíamos erros que ameaçavam a vida, era, “Não há desculpa, senhor”.
Cada um de nós precisa, por vezes, defender corajosa e firmemente aquilo que somos e o que cremos. Quando o Presidente Joseph F. Smith era jovem, teve que enfrentar esta situação:
“Certa manhã, quando com vários outros missionários estava voltando para a cidade de Salt Lake, um grupo de rudes inimigos dos mórmons aproximou-se a cavalo, dando tiros e dizendo impropérios.
O chefe deles pulou do cavalo e disse: “Vamos matar qualquer um que seja mórmon!” Os outros missionários tinham corrido para o mato, mas Joseph F. ficou ali, de pé, corajosamente. O homem meteu o revólver no rosto de Joseph F. e perguntou: “Você é mórmon?”
Joseph F. empertigou-se e disse: “Sim, senhor, até a raiz dos cabelos!”
O homem ficou surpreso com a resposta. Guardou o revólver, apertou a mão de Joseph e disse: “Bem, você é o homem mais admirável que já conheci! Fico satisfeito de ver uma pessoa que defende suas convicções.” Tornou a montar e afastou-se com seus companheiros.4
Ao contrário de Joseph F. Smith, o perigo que vocês, rapazes, enfrentam não é tanto físico; é, mais, o perigo de serem enganados e desencaminhados. Esse perigo é, de certa forma, mais sutil e difícil, exigindo mais força e coragem do que quando se enfrenta um perigo físico.
Manter-se longe do limite é ⌦uma responsabilidade individual. Ocasionalmente, jovens bem intencionados querem que se especifique cada detalhe de conduta apropriada e de conduta imprópria, talvez para que possam chegar mais perto dos limites sem maiores preocupações. Às vezes preocupam-se mais com o que o evangelho proíbe do que com o que ele dá. Por exemplo, alguns jovens adultos surpreenderam-se ao saber que não era apropriado fazer atividades com jovens de ambos os sexos quando tivessem que passar a noite fora. Perguntaram: “Por que o profeta não nos disse isso?” O conselho da Igreja sobre esse assunto tem sido claro durante muitos anos. Não devia ter sido necessário dizer a esses jovens que evitassem a aparência do mal. Meu firme conselho é: se estiver em dúvida sobre algo em sua conduta pessoal, não o faça. É responsabilidade dos profetas ensinar a palavra de Deus—e não soletrar cada jota e cada til do comportamento humano. Nosso arbítrio moral exige que saibamos a diferença entre o bem e o mal, e que escolhamos o bem. Se estivermos tentando evitar não somente o mal, mas toda aparência do mal agiremos por nós mesmos e não receberemos a ação.
Os portadores do Sacerdócio de Deus não só devem ser responsáveis pelos próprios atos, como também proporcionar segurança moral e física às mulheres e crianças de sua família e da Igreja. Vocês, rapazes solteiros que possuem o sacerdócio e estão namorando as excelentes moças da Igreja, têm o dever de fazer tudo que puderem para proteger a segurança física e a virtude delas. O sacerdócio que possuem lhes dá a grande responsabilidade de fazer com que sejam sempre mantidos os altos padrões morais da Igreja. O Senhor sabe que vocês têm consciência de que não devem se aproximar dos limites das tentações sexuais. Vocês perderão parte do que existe de sagrado em vocês mesmos, se ultrapassarem os limites e fizerem mau uso dos grandes poderes de procriação. Cada um de nós é responsável por seus próprios atos. Como é que alguém pode ter a esperança de desempenhar um importante papel nesta vida e na eternidade, se não tiver autocontrole?
Alguns dos que procuram emoções parecem estar tentando satisfazer um vazio interior por meio da gratificação externa de álcool, drogas e relações sexuais ilícitas. Para aliviar a consciência, alguns esperam inutilmente que a Igreja se “modernize”, se “conscientize”, ou se “atualize”. Aquele vazio interior só pode ser preenchido quando tornarmos nossa relação com “Deus o centro de nosso ser”, como ensinou o Presidente David O. McKay.
Não é fácil fazer de Deus o centro de nosso ser. Para isso precisamos decidir guardar Seus mandamentos. A realização espiritual, não os bens materiais, não o prazer físico, devem tornar-se nosso principal objetivo.
Somente na entrega completa de nossa vida interior podemos elevar-nos acima dos sórdidos impulsos egoístas da natureza ( … ) Assim como o corpo morre quando o espírito o abandona, o espírito morre quando dele excluímos a Deus. Não posso imaginar paz em um mundo do qual sejam banidos Deus e a religião.5
O Senhor tem um grande trabalho para cada um de nós. Vocês podem ficar imaginando como pode ser isso. Podem achar que nada há de especial ou superior acerca de vocês ou de sua capacidade. Talvez achem, ou alguém tenha dito, que não são muito inteligentes. Muitos de nós já nos sentimos assim, e alguns até ouviram isso. Foi assim que Gideão se sentiu quando o Senhor lhe pediu que salvasse Israel dos midianitas. Disse ele: “Meu milheiro é o mais pobre em Manassés, e eu o menor na casa de meu pai”.6 Tendo apenas trezentos homens, mas com a ajuda do Senhor, Gideão venceu os exércitos dos midianitas.7
O Senhor pode realizar notáveis milagres com uma pessoa de capacidade mediana, se ela for humilde, fiel, servi-Lo diligentemente e procurar aperfeiçoar-se. Isto se dá porque Deus é a suprema fonte de poder. Pelo dom do Espírito Santo não só podemos “conhecer todas as coisas” mas também “a verdade de todas as coisas”.8 Muitos de vocês preocupam-se com o futuro. Penso que todo jovem consciencioso o faz. Mas vocês não percebem as oportunidades que têm diante de si. Depois de uma vida inteira lidando com assuntos humanos, estou convencido de que o futuro de vocês será superior ao que sonham, se observarem o seguinte:
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Não viver nos limites.
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Evitar não apenas o mal, mas até mesmo a aparência do mal.
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Seguir o conselho de Néfi de agirem por si mesmos e não receberem a ação.
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Buscar primeiro o Reino de Deus e receber a grande promessa de que todas as outras coisas lhes serão acrescentadas.
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Seguir os conselhos dos líderes da Igreja.
Existem, nesta grande congregação e ouvindo-me nesta noite, milhares de futuros líderes da Igreja que foram chamados para fora do mundo e escolhidos pelo Senhor antes da fundação do mundo, como descrito por Abraão:
“Ora, o Senhor havia mostrado a mim, Abraão, as inteligências que foram organizadas antes de existir o mundo; e entre todas estas havia muitas nobres e grandes.
E Deus viu estas almas que eram boas, e Ele ficou no meio delas e disse: A estes farei meus governantes; porque ele estava entre os que eram espíritos, e viu que eram bons; e disse-me: Abraão, tu és um deles; foste escolhido antes de nasceres”.9
Creio que o Senhor trouxe espíritos especiais, que estavam reservados desde antes da fundação do mundo, para serem fortes e valentes nesta época difícil da história do mundo. Sobre vocês, jovens, logo repousará o futuro do Reino de Deus na Terra. No seu tempo, os desafios e as oportunidades serão maiores do que o foram antes.
Rapazes, exorto-os de todo o coração, a serem dignos e a serem verdadeiros para com seus chamados do sacerdócio durante a juventude. O seu sacerdócio é, agora, um sacerdócio preparatório. Se continuarem sendo dignos, logo o sacerdócio maior lhes será dado e, com ele, virá a responsabilidade pela obra santa de Deus em toda a Terra.
Que vocês estejam à altura eu rogo humildemente em nome de Jesus Cristo. Amém. 9