Sacrifício ao Servir
Que todos os jovens aptos e também todos os casais aptos se unam àqueles que pagaram o preço para servir como missionários de tempo integral.
Olhando para vocês nesta tarde, posso ver muitos rapazes sentados lado a lado com seus valorosos pais e líderes leais do sacerdócio. Estes pais e líderes estão prontos a pagar o preço, sim até mesmo sacrificar-se para que vocês, rapazes, tenham sucesso.
No espírito de sacrifício, lembro-me de uma conversa que tive há alguns anos com meu presidente de estaca em Idaho. Estávamos discutindo sobre o próximo acampamento dos Escoteiros do Sacerdócio Aarônico e eu expliquei-lhe que seria necessário que cada um levasse o seu saco de dormir. O presidente da estaca respondeu: “Eu nunca dormi num saco de dormir”.
Contestei rapidamente: “Presidente, o senhor está falando sério? Morou neste lindo Estado de Idaho todos estes anos e nunca dormiu num saco de dormir?”
“Não! Dormir, nunca dormi”, disse ele, “Mas certamente já passei a noite em claro em muitos deles. E concluiu dizendo: “E ainda passarei muitas outras se isso ajudar a salvar rapazes.”
O sacrifício do qual gostaria de falhar-lhes é o sacrifício que acompanha o serviço missionário. Desde o início dos tempos, nosso Pai Celestial tem chamado servos dignos para saírem pelo mundo proclamando o evangelho e testificando sobre o Messias, Jesus Cristo. Muitos dos que cumpriram o chamado fizeram-no com considerável sacrifício.
Quero falar-lhes de quatro deles, que serviram missão há muito tempo: Amon, Aarão, Ômner e Hímni, filhos de Mosias, o Rei. Tornaram-se tão profundamente convertidos que desejavam que todos ouvissem a mensagem do evangelho. No Livro de Mórmon lemos: “( … ) eles desejavam que a salvação fosse declarada a toda criatura, porque não podiam suportar que qualquer alma humana se perdesse; e até mesmo a idéia de que alguma alma tivesse de sofrer o tormento eterno fazia-os tremer e estremecer.”(Mosias 28:3)
Suplicaram a seu pai que os deixasse fazer a obra missionária entre os lamanitas. O pai, Mosias, temia pela segurança dos filhos na terra de seus inimigos.
“E o rei Mosias foi e inquiriu ao Senhor se deveria deixar seus filhos subirem para pregar a palavra entre os lamanitas.” (Vers.6)
A primeira parte da resposta do Senhor talvez não tenha sido exatamente o que Mosias queria ouvir:
“( … ) o Senhor disse a Mosias: Deixai-os subir.” Seguem-se, então, três promessas maravilhosas: a primeira— “( … ) pois muitos acreditarão em suas palavras; a segunda—” ⌦( … ) e livrarei teus filhos das mãos dos lamanitas; e então a terceira—⌦“( … ) eles terão vida eterna.”
Vejam que Ele não lhes prometeu grandes riquezas, mas prometeu o maior de todos os dons de Deus—a vida eterna! Pode-se imaginar uma promessa mais maravilhosa para missionários fiéis?
Os quatro filhos missionários de Mosias não escolheram o caminho fácil. Sua escolha não foi conveniente nem popular. (1) Desistiram do reinado. ( … ) “Mosias não tinha a quem deixar o reino”—estavam todos em missão. Servir como missionários não era necessariamente uma coisa aceitável. Eles foram ridicularizados até mesmo por outros membros da Igreja. Amon recorda a experiência:
“E agora vos lembrais, meus irmãos, de que dissemos aos nossos irmãos na terra de Zaraenla, que subiríamos à terra de Néfi, a fim de pregar a nossos irmãos, os lamanitas, e eles com desprezo zombaram de nós?” ⌦(Alma 26:23; grifo do autor) Não decidiram servir numa missão por conveniência. Amon falou dos desafios que enfrentaram: “( … ) fomos rechaçados e escarnecidos e cuspidos e esbofeteados; e fomos ( … ) amarrados com fortes cordas e lançados na prisão”. Entretanto, continua Amon, “( … ) pelo poder e sabedoria de Deus, fomos novamente postos em liberdade.” (Ver Alma 26:29.)
Não foram missões fáceis, mas milhares foram convertidos.
Vejamos agora uma outra dupla de missionários, mais perto de nosso tempo a época da restauração. Havia considerável perseguição dentro e fora da Igreja por parte de inimigos. Numa ocasião em que parecia que o Profeta precisava deles em casa, dois dos Apóstolos, Brigham Young e Heber C. Kimball foram chamados para missões no estrangeiro. O seguinte é um relato histórico do Élder Heber C. Kimball sobre a triste situação na sua partida:
“Fui até o leito de minha esposa, que tremia de febre, e apertei-lhe as mãos. Havia duas crianças doentes ao lado dela. Abracei-a, abracei meus filhos e despedi-me deles; a única criança com saúde era o pequeno Heber Parley, e era com dificuldade que ele carregava um pequeno balde de água, de uma fonte ao pé da colina, para ajudar a mitigar-lhes a sede. Foi com dificuldade que entramos no carroção e começamos a descer a colina, mais ou menos uns cinqüenta metros; parecia que minhas entranhas iriam derreter-se dentro de mim quando deixei minha família naquelas condições parecendo quase à beira da morte. Achei que não iria suportar. Disse então ao condutor do carroção: ‘Pare.’ Dirigi-me ao Irmão Brigham dizendo: ‘Isto é duro demais, não acha? Levantemo-nos e façamos uma saudação.’ Pusemo-nos de pé e, acenando com o chapéu por três vezes, gritamos: ‘Viva! Viva! Viva Israel!’ Vilate [Kimball], ouvindo barulho, levantou-se do leito e foi até a porta; tinha um sorriso nos lábios e, junto com Mary Ann Young, gritou-nos: ‘Adeus, Deus os abençoe.’ Respondemos à saudação e pedimos ao condutor que partisse. Senti então muita alegria e gratidão por ver minha esposa de pé, ao invés de deixá-la na cama, sabendo, como eu sabia, que não os veria novamente por dois anos ou mais.” [citado em “Life Incidents” (Incidentes da Vida) de Helen Mar Whitney, em Woman’s Exponent ⌦(Intérprete da Mulher), 15 de julho de 1880, p. 25.] Essa foi uma das quatro missões que aqueles dois Apóstolos missionários serviram.
Agora no presente, numa entrevista que tive com um simpático líder de zona na Missão Brasil São Paulo Interlargos, pedi ao missionário: “Fale-me de sua família.” Ele então me contou que nascera numa família próspera. Seu pai ocupava uma posição de responsabilidade numa companhia multinacional e eles mudaram-se do Brasil para a Venezuela. Ele era um dos sete ⌦filhos, todos membros da Igreja.
Quando o rapaz tinha quinze anos de idade, seu pai foi baleado e morto por um ladrão em fuga. Num conselho de família, decidiram voltar ao Brasil e aplicar as economias na compra de uma pequena casa. Um ano e meio mais tarde, a mãe informou aos filhos que estava com câncer. A família usou valiosas economias para ajudar a pagar as despesas médicas—mas foi em vão. Seis meses depois a mãe faleceu, deixando os filhos sozinhos.
Nosso jovem missionário, élder Bugs, então com dezesseis anos, começou a trabalhar, inicialmente vendendo roupas e, mais tarde, suprimentos para computadores. Usava seu dinheiro ganho arduamente, para sustentar a família. Disse ele: “Sempre fomos abençoados e tivemos o suficiente para comer. Eu trabalhava durante o dia e ajudava as crianças a fazerem a lição de casa à noite. Sinto muita falta, principalmente de minha irmãzinha. Eu ensinei-a a ler.”
Élder Bugs continou: “Então o bispo me convidou para uma entrevista e chamou-me para a missão. Respondi que primeiro precisava falar com minha família. Em nosso conselho de família, eles me lembraram de que nosso pai sempre ensinara que devemos estar preparados para servir ao Senhor como missionários de tempo integral. Aceitei o chamado. Quando recebi a carta do Profeta, saquei todas as minhas economias. Comprei um terno novo, um par de calças, camisas brancas, gravatas e um par de sapatos novos. Entreguei o resto do dinheiro ao bispo (suficiente para sustentar minha família durante quatro meses). Abracei meus irmãos e parti para a missão”.
Olhando para aquele bravo rapaz, eu disse: “Mas élder, com você longe, quem está cuidando de sua família?” “Oh”, disse ele, “Meu irmão está com dezesseis anos. A mesma idade que eu tinha quando nossa mãe faleceu. Agora, ele está cuidando da família.”
Recentemente, tive a oportunidade de falar por telefone com élder Bugs. Terminou a missão e voltou para casa há seis meses. Quando lhe perguntei como estava, ele disse: “Tenho um bom emprego outra vez e estou cuidando da família, mas, como sinto falta da missão! Foi a maior coisa que já fiz. Agora estou ajudando meu irmão mais moço a preparar-se para a missão.”
Por que esses grandes missionários e outros como eles têm tido o desejo de sacrificar o conforto do lar, a família, os entes queridos e as namoradas para atender ao chamado para servir? É porque têm um testemunho de Jesus Cristo. E quando eles O conhecem, não há cama tão dura ou tão curta, não existe clima tão quente ou tão frio nem alimento tão diferente ou idioma tão estranho que lhes tire o desejo de servi-Lo. Nenhum sacrifício é grande demais para servir o Mestre que sacrificou tudo para prover o meio para Seus irmãos e irmãs retornarem ao lar, junto a seu Pai Celestial. E porque eles são fiéis, milhares reverenciarão seus nomes por toda a eternidade.
Testifico que não há chamado mais grandioso do que estar, em tempo integral, no serviço de nosso Redentor, para ajudar a trazer os filhos de nosso Pai ao conhecimento Daquele que tornou possível a vida eterna. Oro para que todos os jovens aptos e também todos os casais aptos unam-se àqueles que pagaram o preço para servir como missionários de tempo integral. E isto peço em nome do Senhor e Salvador, Jesus Cristo. Amém. 9