Se Estiverdes Preparados Não Temereis
Assim como é importante nos prepararmos espiritualmente, precisamos também nos preparar para as necessidades materiais.
Quando viajava com sua família pelo deserto, Leí teve um sonho maravilhoso. Esse sonho, ou visão da árvore da vida, apresentado simbolicamente, fornece-nos muito conhecimento sobre a vida e o caminho que devemos seguir. A escritura registra:
“E aconteceu que vi uma árvore cujo fruto era desejável para fazer uma pessoa feliz.
E aconteceu que me aproximei e comi de seu fruto; e vi que era o mais doce de todos os que já havia provado. Sim, e vi que o fruto era branco, excedendo toda brancura que eu já vira.
E enquanto eu comia do fruto, ele encheu-me a alma de imensa alegria; portanto comecei a desejar que dele também comesse minha família; porque sabia que era mais desejável que qualquer outro fruto”. (1 Néfi 8:10–12)
Em seu sonho, Leí viu muitos que procuravam apresentar-se para participar desse fruto delicioso, que foi definido como o amor de Deus. Uma barra de ferro, representando a palavra de Deus, levá-los-ia até a árvore. No entanto, havia também uma névoa de escuridão ou tentação, acompanhando o caminho, o que fez com que muitos se perdessem durante o percurso. E as escrituras relatam:
“E aconteceu que vi outros avançando com esforço; e chegaram e conseguiram segurar a extremidade da barra de ferro; e empurraram-se através da névoa de escuridão, apegados à barra de ferro, até que chegaram e comeram do fruto da árvore.
E depois de haverem comido do fruto da árvore, olharam em redor como se estivessem envergonhados.
E eu também olhei em redor e vi, na outra margem do rio de água, um grande e espaçoso edifício; e ele parecia estar no ar, bem acima da terra.
E estava cheio de gente, tanto velhos como jovens, tanto homens como mulheres; e suas vestimentas eram muito finas; e sua atitude era de escárnio e apontavam o dedo para aqueles que haviam chegado e comiam do fruto.
E os que haviam experimentado do fruto ficaram envergonhados, por causa dos que zombavam deles, e desviaram-se por caminhos proibidos e perderam-se”. (1 Néfi 8:24–28)
Essa é a parte do sonho de Leí que eu gostaria de comentar hoje. Os apelos atuais que partem do grande e espaçoso edifício levam-nos a competir pela posse das coisas deste mundo. Achamos que precisamos de uma casa maior, com uma garagem para três carros, mais ⌦um carro esporte estacionado. Almejamos roupas de marca, mais um aparelho de TV, todos com vídeo, os computadores mais modernos e o carro do ano.
Com muita freqüência essas coisas são compradas a credito e sem nos preocuparmos com as necessidades futuras. O resultado de toda essa satisfação momentânea é o aumento de pessoas inadimplentes e famílias extremamente preocupadas com seus encargos financeiros.
Vivemos em um período extremamente empolgante e desafiador da história humana. No momento em que a tecnologia influencia cada faceta da vida, as mudanças acontecem com tanta rapidez que pode ser difícil manter a vida em equilíbrio. Para conservar certa dose de estabilidade na vida, é essencial que planejemos para o futuro.
Creio que está na hora, e talvez devamos fazê-lo urgentemente, de examinarmos os conselhos que recebemos sobre nossa preparação pessoal e familiar. Queremos ser encontrados com suficiente azeite em nossas lâmpadas para perseverar até o fim. O Presidente Spencer W. Kimball advertiu-nos:
Ao examinar os conselhos que nos foram dados pelo Senhor sobre a importância da preparação, fico impressionado com a clareza da mensagem. O Salvador deixou bem claro que não podemos colocar óleo suficiente em nossas lâmpadas simplesmente evitando o mal.
Precisamos também nos dedicar a um programa positivo de ⌦preparação.”
Ele também disse: “O Senhor não traduzirá nossa boa-vontade e boas intenções em obras. Cada um de nós deve fazê-lo por si mesmo”. ⌦(O Milagre do Perdão, p. 20.)
Observamos, dia a dia, uma inflação altamente flutuante, guerras, conflitos entre pessoas, tragédias nacionais, variações nas condições meteorológicas, forças inumeráveis da imoralidade, crime e violência, ataques e pressões sobre famílias e indivíduos, avanços tecnológicos que tornam certas profissões obsoletas, e assim por diante. A necessidade de preparação está muito clara. A grande bênção de estar preparado que liberta-nos do medo, conforme nos é garantido pelo Senhor em Doutrina e Convênios 38:30:
“( … ) se estiverdes preparados, não temereis”.
Assim como é importante nos prepararmos espiritualmente, precisamos também nos preparar para as necessidades materiais. Cada um de nós precisa dedicar algum tempo para se perguntar:
Que preparativos devo fazer para cuidar de minhas necessidades e das necessidades de minha família?
Durante anos temos sido instruídos a preencher pelo menos quatro requisitos, ao nos prepararmos para o que está para vir.
Primeiro, adquira uma instrução adequada. Aprenda um ofício ou profissão que o capacite a conseguir emprego estável, com remuneração suficiente para cuidar de si e de sua família. O mundo, em constante mudança, torna as coisas obsoletas rapidamente e exige que nos dediquemos continuamente à preparação para o futuro.
Podemos ficar defasados em nossa profissão se não nos atualizarmos. Imaginem quantos clientes um dentista ainda teria, se continuasse a usar os mesmos instrumentos e técnicas que usava há dez anos. E um homem de negócios que tentasse competir sem o uso de computadores? Ou um construtor que não se tivesse posto a par dos materiais e métodos atuais? A instrução tornou-se, necessariamente, uma atividade permanente na vida. Precisamos, ao programarmos nosso tempo, dedicar uma parte suficiente a nos instruirmos para o momento presente e para o futuro.
Segundo, viva estritamente ⌦dentro de sua renda e economize um pouco para os imprevistos. Incorpore em sua vida a disciplina de fazer um orçamento para aquilo com que o Senhor o abençoou. Com a mesma regularidade que paga o dízimo, separe também uma quantia para futuras necessidades da família. Inclua os filhos ao fazer planos para o futuro. Estou convencido de que em muitos quintais, um pouco de milho, morangos ou tomates, plantados e colhidos por seus filhos todos os anos e vendidos aos vizinhos, com o tempo renderá o bastante para uma boa contribuição a um fundo missionário ou universitário. Dê uma olhada na garagem e veja todas as bicicletas, automóveis de brinquedo, equipamento de esportes, esquis, patins, etc. que não são usados, e calcule o lucro que teriam dado se o seu custo tivesse sido investido em necessidades futuras. Lembre-se de que, eu dei ênfase às coisas que não são usadas. Quantos de vocês têm visto garagens tão cheias de coisas que quase já não há lugar para o carro?
Terceiro, evite dívidas excessivas. Contrair dívidas necessárias, só mesmo depois de cuidadosa e séria oração, e após receber a melhor orientação possível. Precisamos ⌦ter disciplina para permanecer ⌦dentro de nossas possibilidades. Sabiamente fomos aconselhados a evitar as dívidas como evitaríamos uma praga. O Presidente J. Reuben Clark aconselhou destemida e repetidamente os membros da Igreja a agirem de acordo.
“Vivam dentro de suas possibilidades. Libertem-se das dívidas. Evitem-nas. Economizem para os dias difíceis que sempre existiram e que voltarão. Pratiquem e desenvolvam o hábito de economizar, de trabalhar de serem frugais.” (Conference Report, outubro de 1937, p. 107; Ver também A Liahona, outubro de 1978, p. 147.)
Deveríamos colocar em lugar bem visível a descrição feita pelo Presidente Clark sobre juros:
“O juro jamais dorme, adoece ou morre;( … ) Ao assumir uma dívida, o juro torna-se seu companheiro dia e noite; você não pode evitá-lo ou escapar dele; não pode despedí-lo; ele permanece indiferente a súplicas, solicitações ou ordens; e se você cruzar seu caminho ou deixar de atender suas solicitações, ele o esmagará”. (J. Reuben Clark Jr., citado em Como Conseguir um Casamento Celestial, p. 241; ⌦A Liahona, julho de 1986, p. 19.)
Contrair dívidas é uma grande tentação. A facilidade com que se pode contrair dívidas deve inspirar-nos a evitá-las a todo custo.
Dedique algum tempo para calcular quanto economizaria se o prazo de sua hipoteca fosse de dez ou quinze anos em vez de trinta.
Acrescente o valor de seu trabalho se o seu tempo e talentos fossem investidos na ampliação e conforto de sua casa.
É muito fácil perder o controle das dívidas de consumo. Se você não tiver disciplina para controlar o uso de cartões de crédito, é melhor não tê-los. Uma família bem administrada não paga juros— ela os ganha. A definição que recebi certa vez de um sábio patrão, quando iniciei a carreira nos negócios, foi: “Os que entendem de juros os recebem, os que não entendem, pagam-nos”.
Quarto, compre e armazene alimentos e suprimentos que sustenham a vida. Consiga roupas e abra uma caderneta de poupança que possa ser aumentada de forma sensata e bem planejada, a fim de ser de utilidade em casos de emergência. Temos sido ensinados, desde que tenho lembrança, a preparar-nos para o futuro e a manter suprimento necessário para um ano. Acho que os anos de fartura nos fizeram quase universalmente esquecer esse conselho. Creio que terminou o tempo de negligenciar essas intruções. Com o que vem acontecendo no mundo de hoje, elas precisam ser consideradas com muita seriedade.
As carreiras estão contantemente mudando. Dizem que os jovens que estão entrando no mercado de trabalho, hoje, vão sofrer mudanças ⌦radicais na vida profissional, umas três ou quatro vezes. As mudanças de emprego ocorrerão ainda com maior freqüência, de dez a doze vezes durante o ciclo de trabalho de cada pessoa. Não conheço outra maneira de nos prepararmos para esses tempos de ajuste do que estar certos de que, enquanto estamos empregados, devemos fazer preparativos para os tempos menos prósperos, caso ocorram. Comecem agora a elaborar um plano, se ainda não têm algum; ou atualizem seu plano atual. Procurem boas compras que se enquadrem em seu armazenamento.
Não estamos em situação de alarme, que exija compras de emergência, mas realmente precisamos ser cuidadosos na compra e rodízio do suprimento que estamos guardando. A instabilidade do mundo de hoje torna imperativo darmos ouvidos a este conselho e preparar-nos para o futuro.
O presidente Lee, comentando a grande visão de Leí, disse o seguinte:
“Se há uma coisa necessária nesta época de tumulto e frustração, quando homens e mulheres, jovens e adultos, buscam desesperadamente as respostas para os problemas que afligem a humanidade, é uma “barra de ferro” como guia seguro ao longo do caminho reto que conduz à vida eterna, em meio às desconhecidas e tortuosas estradas que eventualmente levariam à destruição e à ruína de tudo o que é “virtuoso, amável ou louvável”. (Harold B. Lee, A Liahona, outubro de 1971, p. 7.)
Infelizmente, existem muitos entre nós que são como os escarnecedores mencionados na visão de Leí. Colocam-se de lado e têm a tendência de ridicularizar os fiéis que aceitam as autoridades da Igreja escolhidas por Deus como testemunhas especiais do Evangelho e agentes Dele para cuidar dos assuntos da Igreja. O conselho sincero que lhes dou hoje é de que se lembrem dos bons princípios básicos que nos foram ensinados desde o começo—os princípios de poupança, industriosidade e integridade, que têm ajudado os homens em todas as épocas. Evitem o grande e espaçoso edifício que é o orgulho do mundo, pois ele cairá, e sua queda será muito grande.
Que Deus nos abençoe com sabedoria para seguir os conselhos que temos recebido, ao nos prepararmos espiritual e materialmente para o fortalecimento e segurança de nossas unidades familiares, é minha humilde oração, em nome de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo. Amém. 9