O Poder do Bem
Deus deu poder a cada um de nós–o poder de agir, de escolher, de servir, de amar e de lograr fazer muito bem.
Certa mãe disse uma vez: “Gostaria que eles trancassem os jovens no templo até completarem vinte e um anos.” Um pai disse: “Não tenho poder algum em minha casa. Estamos fora de controle.” Que poder ou força é capaz de atender à grande necessidade que as pessoas têm de mais segurança, disciplina, controle e até mesmo paz?
Lembro-me da primeira vez que percebi o quanto o poder era necessário. No ano em que comecei a terceira série primária, mudamo-nos e comecei a entender mais acerca de amigos e da família das outras pessoas. Quando meus novos amigos falavam com as outras crianças do bairro, avaliávamos o que os outros possuíam: quem tinha árvores no quintal sob as quais nos pudéssemos sentar, ou quem tinha um galinheiro no qual pudéssemos subir. Além de decidir quem tinha o pai mais forte, verifiquei que muitas das crianças eram mais velhas que eu. Por sorte, eu tinha duas irmãs maiores, com muitos amigos. Na verdade, eu disse uma vez que poderia pedir a ajuda de todos os alunos da escola secundária, se necessário. Eu sentia possuir o poder necessário para a minha segurança e auto preservação.
O meu mundo de menina de oito anos ampliava-se. Aumentava também a necessidade de desenvolver as aptidões que ajudam as pessoas a competir neste mundo civilizado. Eu começava a dar valor à segurança resultante de tamanho, números e recursos. Nossa manipulação do que eu chamo de poder pessoal ou político começa cedo. Em primeiro lugar, a maioria das crianças aprende a respeito de tamanho: “Se você não parar com isso, vou chamar minha mãe.” “Você vai ver só, quando papai chegar.” Os recursos que temos à mão podem suprir a necessidade que sentimos de ser maiores. Um brinquedo transforma-se numa vara. O que começou como um boneco de neve pode transformar-se numa fortaleza. O mundo estava em guerra naquela época, mas eu era apenas uma menina de oito anos. O perigo que me ameaçava era o menino com um revólver de madeira, que atirava argolas de borracha retiradas dos vidros de conserva. Seu alvo eram as pernas das meninas. Minhas amigas disseram-me que ele não atirava em quem lhe desse argolas de borracha, mas aumentar seu arsenal me parecia uma traição. Além do mais, eu duvidava poder confiar nas promessas de um valentão. Acho que uma das professoras acabou tirando o revólver dele. Em meu mundo, eu admirava as pessoas que tinham poder, como professores e pais, especialmente se as regras deles fossem justas.
Naquele mesmo ano, toda a comunidade pareceu rejubilar-se com nossa família quando minha mãe deu à luz seu único filho homem, depois de quatro filhas. Meu pai era filho único e agora haveria alguém para dar continuidade ao nome da família. Em poucos meses, tornou-se claro que Tommy tinha uma grave deficiência. Uma força diametralmente oposta a meu mundo exterior começou a desenvolver-se dentro de mim. Parecia que ganhavam novas dimensões o amor, o carinho e a compaixão. Observava meus pais adaptarem seu estilo de vida para, com muito amor, cuidar de uma criança que, em cinco anos e meio, nunca conseguiu sentar ou falar, mas cujo sorriso iluminou qualquer ambiente. A cidade inteira parecia mais amável, mais interessada, mais preocupada. Meus temores externos diminuiam. Sentia-me em segurança, pois tinha mamãe e meu irmão. Meus pais ficavam em casa à noite. Nosso lar parecia mais completo e mais cheio de amor. Havia um poder diferente, que parecia crescer de dentro. Era mais permanente, diferente do poder temporário que sentia com meus amigos. Era um poder calmo e tranqüilo, o poder da bondade, o poder do amor.
Há um poder na bondade, que freqüentemente se aprende na família. Existe um vazio onde esse poder está faltando. Conheço uma família que abandonou os benefícios de “uma vida confortável”, segundo o que eles próprios disseram, no desejo de fazer o bem. A família decidiu fazer algo nobre, que os levou às Filipinas durante um ano. Conta-nos a mãe: “Foi dificílimo.” Sem as comodidades de casa e estando fora da rotina, “éramos os mesmos de antes, intratáveis e nervosos.” Foi então que estabeleceram uma nova rotina: ginástica às cinco e meia da manhã, estudo das escrituras às seis e meia, seguido de desjejum e escola para as crianças. À tarde visitavam orfanatos, brincando com as crianças.
Aos poucos, a família notou uma mudança, atingindo novos níveis de paciência, gratidão e respeito. Começaram a conversar entre si, a conversar de verdade e a ouvir uns aos outros. Diz-nos a mãe: “Nunca me esquecerei de como aprendemos, eu e minha família, no dia em que trouxeram para o orfanato um bebê de cinco meses e meio, cuja língua havia sido cortada e um dos olhos perfurados. A aula de estudos sociais que havíamos estudado em casa ganhou nova dimensão quando soubemos que o bebê havia sido ferido por sua própria mãe, uma mendiga. Começamos a desenvolver um novo nivel de compaixão: mais respeito pela santidade da vida.” Os membros dessa família puseram sua “confiança naquele Espírito que conduz à prática do bem” (D&C 11:12) e pouco a pouco começaram a experimentar o poder para transformar-se.
Os poderes do céu estão ao alcance de todos por meio da retidão. Mórmon ensina que “tudo o que impele à prática do bem e persuade a crer em Cristo é enviado pelo poder e dom de Cristo.” (Morôni 7:16)
Uma revelação a respeito de poder foi dada a Joseph Smith quando o poder político voltou-se contra ele e o Profeta foi aprisionado na cadeia de Liberty. A primeira coisa que ele pediu ao Senhor foi ajuda para vingar-se de seus inimigos. Sua oração dizia: “Que se acenda contra os nossos inimigos a tua ira( … )”. (D&C 121:5) Nosso Pai Celestial respondeu com uma bênção ainda maior: “Meu filho, paz seja com a tua alma ( … )”. (Vers. 7) A seguir, fez-lhe uma promessa que se cumpriria se ele suportasse e fosse fiel: “No alto Deus te exaltará; tu triunfarás sobre todos os teus adversários.” (Vers. 8)
Foi enquanto ele estava na prisão que Deus ensinou Joseph Smith a respeito do poder do sacerdócio. “Nenhum poder ou influência pode ou deve ser mantido por virtude do sacerdócio, a não ser que seja com persuasão, com longanimidade, com mansuetude e ternura, e com amor não fingido.” (D&C 121:41) O poder do sacerdócio é usado para ministrar, pregar, ensinar, batizar, ordenar, curar, selar, restaurar, abençoar, profetizar, testificar, fazer o bem.
O poder político, por outro lado, pode ser usado como uma força positiva ou pode ser uma força maligna. Ele é sempre temporário. Todos nós temos poder político. Precisamos dele. Deveríamos usá-lo para o bem. Sem o adequado exercício desse poder, podemos perder nossa liberdade. As igrejas podem deixar de existir. É óbvio que precisamos de regras. Precisamos de leis, mas devemos lembrar-nos de que as escrituras nos dizem que “os poderes dos céus não podem ser controlados nem manipulados a não ser pelo princípio da retidão”. (D&C 121:36)
Uma irmã, membro fiel da Igreja, expressou seu testemunho a respeito de como o poder do bem influenciou sua vida. Escreve ela:
“Até os oito anos de idade, eu não sabia que minha mãe tinha sérios problemas de saúde, tendo sido sua doença posteriormente diagnosticados como esclerose múltipla. Quando eu estava na classe das Abelhinhas, acordei, numa manhã de maio, e descobri que minha mãe estava paralisada do pescoço para baixo. Na ocasião, ela já estava cega.”
Confinada ao leito, a corajosa mulher tornou-se o centro de atenções da casa. Sua filha nos conta:
“Num certo dia, tive que limpar o forno, uma tarefa que muito me aborrecia e da qual sempre reclamava. Fui ao quarto dela reclamar um pouco e percebi que ela estava chorando. Disse-me: ‘Você sabe o quanto eu daria para conseguir levantar-me e esfregar aquele forno?’ Passei a ver o trabalho com outros olhos. Até hoje, penso naquele momento toda vez que o forno precisa de limpeza.”
Continua ela: “Ter minha mãe a meu dispor foi uma bênção incomum. Ela escutava com paciência minhas preocupações de adolescente. Fazia com que eu me sentisse a pessoa mais importante e mais interessante ⌦do mundo. Ela estava sempre ⌦em CASA: atenciosa, interessada e disponível.”
A mãe morreu na primavera quando ela terminava a escola secundária. Conta-nos a filha:
“Um dos momentos mais difíceis da minha vida foi o dia em que voltei da escola para uma casa vazia e caminhei pelo longo corredor que levava ao seu quarto. Minha conselheira e confidente permanente já não estava lá, mas dela eu recebera as eternas e intangíveis dádivas do amor, da sabedoria e da aceitação. Serei sempre grata por sua bondade.”
Essa mulher forte, apesar de fisicamente incapacitada, tinha o poder de amar, de motivar, de inspirar, perpetuar a retidão, de fazer o bem.
Meu apelo é que reconheçamos que Deus deu poder a cada um de nós—o poder de agir, escolher, servir, amar e praticar muito bem. Talvez seja tempo de assumirmos controle de nós mesmos. Nosso profeta, Gordon B. Hinckley, disse: “Sejam fiéis ( … ) façam o bem.” Disse também: “Nada temos a temer. Deus está no comando. ( … ) Ele derramará bênçãos sobre os que obedecem a Seus mandamentos.” (A Liahona, julho de 1995, p. 76.) É minha oração que busquemos o poder da retidão em nossa vida, seguindo o conselho do profeta vivo e vivendo os ensinamentos de nosso Salvador, Jesus Cristo. Em Seu nome. Amém. 9