Buscai Primeiro o Reino de Deus
Se buscamos primeiramente o reino de Deus e vivemos da maneira ⌦certa, tudo o mais em nossa vida parece dar certo e acontecem coisas maravilhosas.
Ao envelhecermos, tornamo-nos mais vagarosos e as pessoas têm de ser mais pacientes conosco. Agradeço ao Senhor pelas bênçãos que me dá e por eu ser capaz de estar aqui nesta conferência e de ouvir o que foi dito até agora. Estamos num período importante da história da Igreja.
Quando o Élder LeGrand Richards estava ficando mais idoso, fazia seus discursos nas conferências sem prepará-los previamente. Como sabem, temos algumas limitações de tempo. Havia uma certa preocupação a respeito de como avisá-lo que seu tempo estava esgotado. Colocou-se uma pequena luz no púlpito e durante um de seus discursos ele disse: “Há uma luz aqui que fica piscando o tempo todo.” Na conferência seguinte substituíram-na por uma lâmpada vermelha, mas ele tapou-a com a mão. Eu talvez faça algo semelhante hoje. Ao envelhecermos, chegamos a um ponto em que o “teleprompter” (N.T. Tela colocada no púlpito, onde aparecem os discursos escritos) não nos serve mais; as impressoras parecem imprimir os textos muito mal; e a tinta também não parece tão boa como costumava ser! Sinto-me, porém, honrado e grato por estar aqui com vocês.
Tenho certeza de que aqueles que aqui estavam esta manhã sentiram-se como eu me senti ao ouvir nosso profeta e líder: o manto do profeta de Deus assenta-se perfeitamente e com autoridade divina sobre o Presidente Gordon B. Hinckley. Senti que, enquanto ele pronunciava seus conselhos inspirados com orientações tão seguras, encorajando-nos a olharmos mais para o alto em nossas realizações, era a voz do Senhor que estava sendo ouvida. Na seção 88 de Doutrina e Convênios, o Senhor nos ensina que Sua voz é Espírito. (Ver o versículo 66.)
Sou grato não só por estar aqui, mas também pela bela música, pela influência da boa música em nossa vida e pelo número apresentado pelo coro esta manhã, “Por Teus Dons” (Hinos, 1990, nº 17). Enquanto o coro cantava, eu pensava na força que senti nesta conferência e em toda a minha vida—a força recebida por sermos membros da Igreja fiéis e obedientes. Viver da maneira certa torna-se a força de nosso caráter.
Meu avô morou em Farmington, no Estado de Utah, durante alguns anos, antes que lhe solicitassem que se mudasse com a família para o centro-sul do Estado de Idaho e ajudasse a estabelecer uma nova comunidade, que recebeu o nome de Oakley. Meu pai, Hector, era adolescente na época da mudança. Minha mãe, Clara, era uma adolescente que morava em Tooele, no Estado de Utah, quando foi solicitado a seu pai que se mudasse para Oakley e lá construísse a primeira usina de beneficiamento de farinha da comunidade. E foi assim que Hector e Clara se apaixonaram, naquela cidadezinha de Idaho.
Na hora de casarem-se, em 1890, não se pergutaram onde se casariam e nem o que fariam. Sabiam o que fazer. Para os que não sabem onde fica Oakley, fica a cerca de 290 quilômetros do templo de Logan. Meus pais foram até esse templo e casaram-se em 15 de maio de 1890. Sempre me perguntei como fizeram aquela viagem. Imaginem uma daquelas antigas charretes de dois lugares, sem laterais, puxada por uma parelha de cavalos. Apesar das chuvas da primavera, eles partiram para sua viagem de 290 quilômetros naquela charrete.
Não sei quantas pessoas viajaram com eles, mas se compararem a charrete com um moderno automóvel, com capota de aço, janelas de vidro, aquecimento, rádio e assentos confortáveis, verão que existe uma grande diferença. Imaginem aqueles jovens, com alguns familiares e amigos, planejando uma viagem de 290 quilômetros. Iria levar uma semana. Eles partiram numa viagem de sete dias, indo para o templo de charrete. Não tinham sacos de dormir nem as roupas de inverno que conhecemos hoje, mas possuíam as roupas disponíveis na época—cobertores e acolchoados—e alguns sacos de farinha cheios de comida.
Ao cantarmos sobre a força das montanhas, devemos agradecer ao Senhor pela força de onde estamos, do que somos, daquilo em que acreditamos e do modo como vivemos. Será que os jovens de hoje se perguntam se seria inconveniente viajar alguns quilômetros até o templo de Manti, ou o de Saint George, ou o de Atlanta, no Estado da Georgia, ou mesmo o de Estocolmo, na Suécia, ou o de Johannesburgo, na África do Sul, ou qualquer outro, onde quer que se localize? Pensem no que era viajar alguns anos atrás e sua ida ao templo não lhes parecerá tão difícil.
Minha esposa, Ruby, e eu fizemos, recentemente, 65 anos de casados. Casamo-nos no templo de Salt Lake no dia 4 de setembro de 1930. Na manhã seguinte, fomos visitar a mãe dela na Rua M, em Salt Lake, para nos despedirmos. Ela preparara uma cestinha para a nossa viagem e disse-me: “David, prometa que vai cuidar bem de Ruby.” E eu respondi: “Prometo”. Periodicamente, lembro a Ruby que um dia vou encontrar sua mãe e espero poder olhar bem em seus olhos e dizer: “Acho que consegui.”
Ruby e eu casamo-nos da maneira certa, fomos selados no templo com seus divinos convênios e compromissos que favorecem a confiança, a fidelidade, a devoção e a dedicação. Agora, após 65 anos maravilhosos, olhamos para trás e, analisando o tempo que passamos juntos, percebemos que o casamento fica melhor com o correr do tempo.
Quando em 1930 Ruby e eu fomos para a Califórnia em nosso Ford Modelo-T, atravessamos o Estado de Nevada a 150 quilômetros por hora, em estradas de cascalho que estavam em péssimas condições. Na verdade, cada 50 quilômetros que avançávamos se transformava em 150 por ser a estrada tão acidentada. Nunca havíamos estado na Califórnia e, quando chegamos ao grande lago Tahoe, ele nos pareceu quente e maravilhoso. Eu não sabia que a água era gelada abaixo da superfície. Encontramos um hotelzinho, entramos e vestimos nossas roupas de banho. Eu queria mostrar a Ruby que ela se casara com um homem com “H” maiúsculo. Fomos para o embarcadouro do lago e ele pareceu-me maravilhoso. Era o pôr-do-sol. Mergulhei direto, a fim de mostrar a Ruby o homem corajoso com quem ela se havia casado. Ao afundar na água, pensei que ia morrer. Saí da água aos gritos.
Divertimo-nos muito no restante da viagem até Berkeley, na Califórnia. Encontramos um apartamento mobiliado por 45 dólares de aluguel. No segundo dia, ao voltar para casa à noite, descobri que minha chave não entrava na fechadura. Procurei a gerente e disse-lhe: “Desculpe-me, mas minha chave não está funcionando.” Ela respondeu: “Ah, isso é porque sua esposa providenciou a mudança de vocês.” Eu perguntei: “Nossa mudança?” “Sim”, disse a gerente. “Nós tínhamos outro apartamento por cinco dólares a menos.”
Bem, Ruby e eu calculamos uma vez que nos havíamos mudado vinte e sete vezes dentro dos Estados Unidos. Mudamo-nos para a Califórnia em três ocasiões diferentes. Mudamo-nos para o Estado de Illinois duas vezes. Mudamo-nos para diversos outros lugares. Vemos isso tudo com alegria. Agora, com nossos três filhos e mais de cinqüenta netos e bisnetos, dizemos: “Que vida maravilhosa foi a nossa!”
Se buscamos primeiramente o reino de Deus e vivemos da maneira certa, tudo o mais em nossa vida parece dar certo e acontecem coisas maravilhosas. Ao olharmos para nossa família, ficamos felizes ao ver que todos os que puderam, dentre nossos netos, e algumas de nossas netas serviram como missionários. Todos eles compreendem e podem cantar “Sou um Filho de Deus” (Hinos, 1990, 193) e outros magníficos hinos de Sião. Temos orgulho deles. Um de nossos familiares tem um pequeno quadro, uma aquarela, que não foi pintada por um artista famoso. Foi feita por algumas crianças da Armênia e dada como dádiva de gratidão pela dádiva da vida, porque algumas pessoas de nossa família, incluindo alguns netos, fizeram com que alimentos atravessassem a fronteira e chegassem à Armênia. A vida é preciosa, farta e magnífica. Tudo dá certo se ajudarmos vivendo da maneira certa.
Algumas semanas atrás, Ruby e eu estávamos passando alguns dias em Oakley, no Estado de Idaho, reformando a antiga casa da família. Recebi um telefonema de Lenore Romney de Detroit, no Estado de Michigan. Lenore é a esposa de George Romney. Ela disse: “George morreu hoje de manhã.” Ela queria saber se eu poderia ir ao enterro. Eu disse-lhe que seria uma honra, mas que teria que falar com meus superiores na Igreja.
Após desligar o telefone, subi a rua de nossa velha casa e atravessei o canal até o local onde a família Romney havia morado. O nome do pai de George era Gaskell Romney. Meu pai era o bispo deles. Olhei para o local. A casa já não existia. Caminhei depois ao longo do canal de irrigação. Olhei para o lugar onde meu pai me batizara. Olhei para onde George e eu costumávamos nadar. As roupas de banho daquela época eram nada mais do que macacões, não os macacões elegantes que se vêem hoje em dia, mas os verdadeiros e antiquados macacões de brim. Cortávamos as pernas e os bolsos do macacão para não nos afogarmos. E era isso que usávamos como roupa de banho. Costumávamos sentar à beira do canal para pegar um pouco de sol, tremendo, porque fazia frio. Mas nadar era nossa principal diversão. George e eu tínhamos mais ou menos a mesma idade. Ele era um grande amigo.
Ao caminhar pelas margens do canal, pensando em George, lembrei-me de um poema de Rosemary e Stephen Vincent Benét a respeito de Nancy Hanks, a mãe de Abraham Lincoln. Lincoln tinha somente sete anos quando sua mãe morreu, e eles amavam-se muito. No terno poema, os Benét especulam que, caso Nancy Hanks voltasse hoje, poderia perguntar: “O que aconteceu com meu menino, Abe? Ele foi para a cidade? Ele aprendeu a ler? Ele chegou a ser alguém na vida?” [Ver “Nancy Hanks” em Edwin Markham, organizador, The Book of American Poetry (O Livro de Poesias Americanas), Nova York: Wm. H. Wise & Co., 1936, p. 791.]
A mãe de George havia morrido quando ele era adolescente. Ela não chegou a ver no que ele se tornou. No funeral, tive a honra de estar com o governador do Estado de Michigan—um estado de cerca de nove milhões de pessoas, onde George fora eleito governador três vezes. O governador disse que George Romney havia sido um grande homem, nunca permitindo que seu serviço às pessoas atrapalhasse seu serviço a Deus. O jornal Detroit Tribune disse que George Romney usou a religião como uma bússola para direcionar sua vida pública.
Deixo-lhes meu amor e meu testemunho de que este trabalho é verdadeiro. Jovens que estão iniciando a vida no mundo e descobrindo seu caminho: Lembrem-se que outras pessoas ao usarem o evangelho como bússola se saíram muito bem. O evangelho é verdadeiro. Temos um profeta vivo na Terra. Vivam plenamente o evangelho. Oro humildemente em nome de Jesus Cristo. Amém 9