Idéias Profundas
Os santos dos últimos dias devem estar constantemente empenhados ⌦em ensinar e salientar as grandes, vigorosas e eternas verdades que nos ajudarão a encontrar o caminho de volta à presença do Pai Celestial
Há alguns meses, fui ao funeral de uma mulher eleita. Um orador descrevia três de suas qualidades: lealdade, obediência e fé. Enquanto ele entrava em detalhes da vida da falecida, meditei no quão apropriado era abordar, em uma homenagem póstuma, essas importantes qualidades. A vida não é algo trivial; portanto as cerimônias fúnebres de alguém não devem falar de coisas triviais. Na verdade, esse é um momento para se tratar de idéias profundas—que estejam à altura da importância da vida, idéias que exerçam forte influência sobre os que permanecem vivos.
Enquanto desfrutava o espírito daquele funeral inspirador, meus pensamentos dirigiram-se à aplicação desse princípio em outros momentos. Os pais devem ensinar aos filhos idéias profundas. O mesmo devem fazer os mestres familiares, professoras visitantes e professores das várias classes. O Salvador advertiu-nos que seremos julgados por “toda a palavra ociosa que [dissermos]”. (Mateus 12:36) As revelações modernas mandam-nos acabar com as “conversas levianas”, com a “leviandade” (D&C 88:121), e expulsar “pensamentos ociosos” e “excesso de hilaridade”. (D&C 88:69) Existem inúmeros porta-vozes de coisas triviais. Os santos dos últimos dias devem estar constantemente empenhados em ensinar e salientar as grandes, vigorosas e eternas verdades que nos ajudarão a encontrar o caminho de volta à presença do Pai Celestial.
Há uns trinta anos, alguns estudiosos escreveram um livro sobre conhecimento geral—o conhecimento esperado de todas as pessoas instruídas. Seu título, “The Knowledge Most Worth Having” [(O Conhecimento Mais Importante de Se Ter) Wayne C. Booth, ed., Chicago e Londres: The University of Chicago Press, 1967}, é um bom lembrete de que o conhecimento não tem sempre o mesmo valor. Há coisas mais importantes de se conhecer do que outras. Esse princípio também se aplica ao que chamamos conhecimento espiritual.
Ponderem o poder da idéia ensinada no apreciado hino “Sou Um Filho de Deus” (Hinos, 1990, nº 193), cantado pelo coro no início desta reunião. Aqui está a resposta a uma das mais importantes perguntas da vida— “Quem sou eu?” Sou um filho de Deus, com linhagem espiritual de pais celestiais. Essa descendência define nosso potencial eterno. Essa idéia profunda é um forte antidepressivo. Pode dar-nos força para fazer escolhas certas e buscar o melhor que há dentro de nós. Incuta na mente de um jovem a vigorosa idéia de que é um filho de Deus e ter-lhe-á dado respeito próprio e motivação para enfrentar os problemas da vida.
Quando entendemos nossa relação com Deus, também entendemos nossa relação uns com os outros. Todos os homens e mulheres desta Terra são descendência de Deus, irmãos e irmãs espirituais. Que idéia incrível! Não é de se admirar que o Filho Unigênito de Deus tenha ordenado que nos amássemos uns aos outros. Se ao menos conseguíssemos fazer isso! Que mundo diferente seria este, se o amor fraterno e a ajuda abnegada transcendessem todos os limites de nação, credo e cor. Esse amor não eliminaria nossas diferenças de opinião e ação, mas incentivaria cada um de nós a concentrar nossa oposição nas ações e não nas pessoas que as praticam.
A verdade eterna de que o Pai Celestial ama a todos os Seus filhos é uma idéia muito forte. É particularmente vigorosa quando os filhos conseguem visualizá-la através do amor e sacrifício de seus pais terrenos. O amor é a maior força do mundo. Arthur Henry King disse: “O amor não é só um êxtase nem apenas um sentimento intenso. É uma força motriz. É algo que nos carrega ao longo de nossa vida de trabalho feliz. [(The Abundance of the Heart (A Abundância do Coração), Salt Lake City: Bookcraft, 1986, p. 84.]
Todos temos nossos próprios exemplos do poder do amor. Mais de cinqüenta anos atrás, registrei algumas lembranças que tinha de meu pai, que faleceu antes de eu completar oito anos de idade. O que escrevi naquela época ilustra o poder do amor na vida de um menino:
“A impressão mais marcante que tenho de meu relacionamento com meu pai não pode ser documentada com fatos ou palavras de minha lembrança. É um sentimento. Baseado em palavras e ações há muito esquecidas, esse sentimento persiste com toda a clareza de uma fé perfeita. Ele me amava e tinha orgulho de mim. ⌦( … ) Esse é o tipo de lembrança que um menino, e também um homem, pode guardar como se fosse um tesouro.” [Memories of My Father (Lembranças de Meu Pai), 1967.)
Outra idéia profunda que devemos ensinar uns aos outros é que a vida mortal tem um propósito, e que a morte neste mundo não é o fim, mas apenas uma transição para a próxima fase de uma existência imortal. O Presidente Brigham Young ensinou que “nossa existência terrena tem o único objetivo de obtermos exaltação e voltarmos à presença de nosso Pai e Deus.” (Discursos de Brigham Young, p. 37.) A idéia de progresso eterno é uma das idéias mais vigorosas de nossa teologia. Ela dá-nos esperança quando tropeçamos e desafios quando somos bem sucedidos. Certamente essa é uma das grandes “solenidades da eternidade” que nos foi ordenado deixar “[descansar] em [nossa] mente”. (D&C 43:34)
Outra idéia que tem poder para tirar-nos do desânimo é que a obra da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, “proporcionar a ⌦( … ) vida eterna ao homem” (Moisés 1:39), é uma obra eterna. Nem todos os problemas são vencidos, nem todas as relações necessárias são estabelecidas na mortalidade. O trabalho de salvação continua além do véu da morte e não devemos ficar muito apreensivos se algumas coisas não forem concluídas dentro dos limites da mortalidade.
Uma idéia profunda com aplicação prática imediata é a realidade de que podemos orar ao Pai Celestial e que Ele ouve nossas orações e nos ajuda da maneira que for melhor para nós. A maioria de nós já sentiu o terrível vazio resultante da separação daqueles que nos amam. Se nos lembrarmos de que podemos orar e ser ouvidos e ajudados, será mais fácil resistir a esse sentimento de vazio. Podemos estar sempre em contato com um poderoso amigo que nos ama e nos ajuda, em Seu próprio tempo e a Sua própria maneira.
Milhares de experiências mostram que podemos orar e obter respostas para nossas orações. Alguns dos melhores relatos envolvem criancinhas. Na biografia do Presidente Spencer W. Kimball lemos:
“Vez após vez Spencer viu os pais levarem seus problemas ao Senhor. Um dia, quando Spencer tinha cinco anos e estava fora fazendo suas tarefas cotidianas, a pequena Fannie, de um ano, saiu da casa e perdeu-se. Ninguém conseguia achá-la. Clare, de dezesseis anos, disse: “Mãe, se orarmos, o Senhor nos levará até Fannie”. Então a mãe e os filhos oraram. Imediatamente após a oração, Gordon foi até o local exato onde Fannie se encontrava—dormindo numa caixa grande atrás do galinheiro. ‘Nós agradecemos várias vezes ao Pai Celestial’, registrou Oliver em seu diário.” (Edward L. Kimball and Andrew E. Kimball Jr., Spencer W. Kimball, Salt Lake City: Bookcraft, 1977, p. 31.)
Todo seguidor de Jesus Cristo sabe que as idéias mais profundas da fé cristã são a ressurreição e a expiação de Jesus Cristo. Por causa Dele nós podemos ser perdoados de nossos pecados e tornaremos a viver. Essas grandiosas idéias têm sido explicadas em inúmeros sermões proferidos neste púlpito e em milhões de outros. Elas são bem conhecidas, mas não bem aplicadas na vida da maioria de nós.
Nosso modelo não é o último ídolo dos esportes ou do mundo artístico, nem o acúmulo de bens ou de prestígio; nem os brinquedos e as diversões caras que nos incentivam a concentrar a atenção no que é temporário, esquecendo-nos do que é eterno. Nosso modelo—nossa primeira prioridade—é Jesus Cristo. Precisamos prestar testemunho Dele e ensinar-nos uns aos outros como aplicar Seus ensinamentos e Seu exemplo na vida.
Brigham Young deu-nos alguns conselhos práticos de como fazer isso. “A diferença que existe entre Deus e o diabo”, disse ele, “é que o Senhor cria e organiza, enquanto todo o propósito do adversário é destruir. (Discursos de Brigham Young, p. 69.) Nesse contraste, temos um importante exemplo da realidade da “oposição em todas as coisas”. (2 Né. 2:11)
Lembrem-se: Nosso Salvador, Jesus Cristo, sempre nos edifica e nunca nos derruba. Devemos aplicar o poder desse exemplo no usso que fazemos de nosso tempo, incluindo nossa recreação e nossas diversões. Pensem nos temas dos livros, revistas, filmes, programas de televisão e músicas que tornamos populares por meio de nosso patrocínio. Os propósitos e ações descritos nos entretenimentos que escolhemos edificam ou destroem os filhos de Deus? Durante minha vida tenho visto uma forte tendência a substituir o que edifica e dignifica os filhos de Deus por descrições e representações deprimentes, degradantes e destrutivas.
A idéia poderosa deste exemplo é que qualquer coisa que edifique as pessoas serve à causa do Mestre, e o que quer que derrube as pessoas serve à causa do adversário. Todos os dias, com o nosso patrocínio, apoiamos uma causa ou outra. Isso deve lembrar-nos de nossa responsabilidade e motivar-nos a agir de maneira a contentar Àquele cujo sofrimento nos oferece esperança e cujo exemplo deveria dar-nos orientação.
Devemos sempre colocar o Senhor na frente. O primeiro mandamento que Jeová deu aos filhos de Israel foi: “Não terás outros deuses diante de mim.” (Êx. 20:3) Isso parece ser uma idéia simples, mas, na prática, muitos a acham difícil.
É surpreendentemente fácil tomar o que deveria ser nossa obrigação primordial e subordiná-la a outras prioridades. Cinqüenta anos atrás, o filósofo cristão C. S. Lewis ilustrou essa tendência com um exemplo que, lamentavelmente, se aplica a nossos dias. Em seu livro The Screwtape Letters, um diabo sênior explica como corromper os cristãos e frustrar a obra de Jesus Cristo. Uma carta explica como a “devoção extrema” pode desviar cristãos do Senhor e da prática do cristianismo. Lewis dá dois exemplos—patriotismo extremo e pacifismo extremo—e explica como qualquer uma dessas “devoções extremas” pode corromper seu seguidor.
“Primeiro, faça com que ele trate o Patriotismo ou o Pacifismo como parte de sua religião. Depois deixe-o, sob a influência do sectarismo, considerar isso a parte mais importante. Então, sutil e gradualmente, leve-o ao ponto em que a religião se torne mera parte da ‘causa’, na qual o cristianismo é valorizado principalmente devido aos excelentes argumentos que pode suscitar em favor da guerra patrocinada pelos britânicos ou do pacifismo. ( … ) Uma vez que tenha conseguido fazer do mundo um fim e da fé um meio, você já quase conquistou o seu homem, fazendo muito pouca diferença o tipo de objetivo mundano que ele esteja tentando alcançar. (C. S. Lewis, The Screwtape Letters, rev. ed. New York: MacMillan, 1982, p. 35.)
Vemos essa tendência nos dias de hoje, quando há muitas causas que são boas em si mesmas, mas que corrompem espiritualmente quando passam à frente Daquele que ordenou: “Não terás outros deuses diante de mim.” Jesus Cristo e Sua obra estão em primeiro lugar. Qualquer coisa que O use ou use Seu reino ou Sua igreja como um meio para um fim serve à causa do adversário.
Duas outras idéias profundas foram expressas por uma nobre moça que sobreviveu a uma experiência terrível. Virginia Reed foi uma das sobreviventes do trágico comboio Donner-Reed, que abriu uma das primeiras trilhas de carroções para a Califórnia. Se esse comboio tivesse seguido a trilha oficial, pelo Oregon, partindo do Fort Bridger (Wyoming), a noroeste, até o Forte Hall (Idaho) e depois na direção sudoeste rumo à Califórnia, teriam chegado em segurança a seu destino. No entanto, foram desviados por um homem, Lansford W. Hastings. Ele convenceu-os de que poderiam cortar um bom caminho e poupar bastante tempo seguindo o que ele chamava de atalho de Hastings. O comboio Donner-Reed deixou a trilha original e aventurou-se na direção sudoeste. Eles abriram caminho através das acidentadas Montanhas Wasatch, depois para o sul do Grande Lago Salgado e para o oeste, sobre a superfície úmida das planícies salgadas, com um calor causticante.
Os atrasos e a enorme energia despendida nessa rota improvada fizeram com que o comboio gastasse um mês a mais para chegar às Montanhas de Sierra Nevada. Ao subirem apressadamente a montanha, na tentativa de evitar as primeiras nevascas, foram pegos por uma trágica tempestade de inverno apenas um dia antes de alcançarem o ponto mais alto antes de desceram em direção à Califórnia. Isolados durante o inverno, metade do grupo pereceu de fome e frio.
Após meses nas montanhas, tendo passado por incríveis momentos de fome e terror, Virginia Reed, de treze anos, chegou à Califórnia e escreveu uma carta à prima que estava no meio-oeste. Depois de contar suas experiências e os terríveis sofrimentos de seu grupo, ela concluiu com este sábio conselho: “Nunca tome atalhos, e siga em frente o mais rapidamente que puder.” [Letter from Virginia E. B. Reed to her cousin Mary Gillespie (Carta de Virginia E. B. Reed a sua prima Mary Gillespie), 16 de maio de 1847, citado em J. Roderic Korns e Dale L. Morgan, eds, West from Fort Bridger (A Oeste do Forte Bridger), Logan, Utah: Utah State University Press, 1994, p. 238.)
Esse é um conselho importantíssimo e verdadeiro, especialmente para os adolescentes. Os jovens são cercados por muitos caminhos atraentes e pessoas persuasivas que oferecem conselhos e atalhos como substitutos para o caminho provado. “Tente este desvio” ou “fique aqui um pouco” são propostas conhecidas na jornada da vida. Meus jovens amigos, lembrem-se do conselho de Virginia Reed—“nunca tomem atalhos, e sigam em frente o mais rapidamente que puderem”.
Concluo com um exemplo da vida do apóstolo Paulo. Durante seu ministério, ele foi amplamente exposto a leviandades, pensamentos ociosos e coisas triviais. Em Atenas, observou que “todos os atenienses e estrangeiros residentes [presentes na praça do mercado], de nenhuma outra coisa se ocupavam, senão de dizer e ouvir alguma novidade”. (Atos 17:21) A determinação de Paulo de concentrar-se em idéias profundas é evidente em uma de suas cartas aos santos de Corinto. Ele não tinha vindo “com sublimidade de palavras ou de sabedoria”, lembrou-lhes. “Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado.” (I Cor. 2:1–2)
Vamos seguir os mandamentos de Deus e os exemplos de Seus servos. Vamos concentrar nossos ensinamentos nessas grandes e vigorosas idéias que têm importância eterna, promovendo a retidão, edificando os filhos de Deus e ajudando cada um de nós a alcançar seu destino, que é a vida eterna. Que possamos fazê-lo é minha oração fervorosa em nome de Jesus Cristo. Amém. 9