CAPÍTULO VINTE
DESENVOLVIMENTO DA DOUTRINA EM NAUVOO
NAUVOO EXPANDIU-SE E FLORESCEU, mas a coisa mais importante que aconteceu nesse período foi o contínuo fluxo de revelações que foram concedidas por meio do Profeta Joseph Smith a respeito de doutrinas e ordenanças do evangelho. Durante os anos em que os santos estiveram em Nauvoo, o Profeta demonstrou uma crescente maturidade espiritual e conduziu os santos a novos e mais elevados entendimentos a respeito do evangelho. Muitos conceitos já mencionados anteriormente receberam mais atenção e foram explicados com mais profundidade naquela época. Joseph Smith prometeu na conferência geral de outubro de 1841 que “a dispensação da plenitude dos tempos esclarecerá as coisas que foram reveladas em todas as dispensações anteriores; e também coisas que ainda não foram reveladas até hoje”.1Nos primeiros anos da Restauração foram estabelecidos os alicerces da doutrina; no período de Nauvoo, esses alicerces foram expandidos e ampliados.
O BATISMO PELOS MORTOS
Em 10 de agosto de 1840, Seymour Brunson, um dos primeiros colonos de Nauvoo, morreu. Ele havia sido um dos primeiros missionários da Igreja e servira no sumo conselho em Far West e em Nauvoo. A biografia de Joseph Smith relata que Brunson “morreu no triunfo da fé, e em seus últimos momentos prestou testemunho do evangelho que havia abraçado”.2Em um vigoroso discurso fúnebre proferido em 15 de agosto, o Profeta leu grande parte de I Coríntios 15, inclusive o versículo 29, que se refere à prática do batismo pelos mortos. Joseph anunciou à congregação que o Senhor iria permitir que os santos fossem batizados em favor de amigos e parentes que já haviam falecido. O Profeta disse aos santos que “o plano de salvação havia sido preparado para salvar todos os que estiverem dispostos a obedecer as exigências da lei de Deus”.3
Depois do discurso, Jane Neyman pediu a Harvey Olmstead que a batizasse no rio Mississipi em favor de seu filho morto, Cyrus. Joseph Smith perguntou quais palavras haviam sido usadas na realização da ordenança, e em seguida aprovou o que fora feito. Nas semanas seguintes, vários outros batismos pelos mortos foram realizados no rio ou nos córregos próximos. Em 19 de janeiro de 1841, o Senhor ordenou aos santos que construíssem um templo com uma pia batismal para essas ordenanças vicárias. O Senhor declarou que o batismo pelos mortos “pertence a minha casa e não me pode ser aceitável a não ser em dias de penúria, quando não puderdes construir-me uma casa”. (D&C 124:30)
Essa revelação gerou considerável entusiasmo no povo, e o trabalho de construção do templo progrediu rapidamente. Em 3 de outubro de 1841, quando o sub-solo do templo estava quase terminado, Joseph Smith declarou: “Não haverá mais batismos pelos mortos, até que a ordenança possa ser realizada na Casa do Senhor”.4O sub-solo abrigava uma pia batismal temporária, construída por Elijah Fordham. Era feita de madeira de Wisconsin e montada em doze bois esmeradamente esculpidos. Em 8 de novembro, a pia foi dedicada por Brigham Young. Foi usada pela primeira vez duas semanas mais tarde, quando os Élderes Brigham Young, Heber C. Kimball e John Taylor realizaram quarenta batismos pelos mortos; os Élderes Willard Richards, Wilford Woodruff e George A. Smith realizaram as confirmações.5
Em 1842, enquanto cumpria exílio forçado por antigos inimigos de Missouri, o Profeta escreveu duas cartas universais aos santos a respeito da doutrina do batismo pelos mortos. Ambas salientavam a importância de haver um registrador presente para que os batismos fossem válidos. O registrador deveria verificar se cada ordenança era realizada corretamente e fazer um registro preciso. A primeira carta declarava: “Que todos os registros sejam conservados em ordem, para que sejam postos nos arquivos de meu santo templo, a fim de serem conservados na lembrança, de geração em geração, diz o Senhor dos Exércitos”. (D&C 127:9)
Na segunda e a mais longa das cartas, o Profeta explicou que os vivos e os mortos dependem uns dos outros para sua salvação. “Eles (os mortos), sem nós, não podem ser aperfeiçoados”. (D&C 128:15) As ordenanças que ajudam a cumprir essa perfeição mútua, explicou ele, incluíam não apenas o batismo pelos mortos, mas também a investidura do santo sacerdócio e o casamento para o tempo e a eternidade.
A INVESTIDURA
Desde quando os santos em Ohio estavam-se preparando para construir o Templo de Kirtland, o Senhor havia prometido que em Sua casa Ele iria “investir os que escolhi com poder do alto”. (D&C 95:8) Quando o templo terminou de ser construído e foi dedicado, no início de 1836, houve uma grande manifestação espiritual concedida aos santos. O Salvador apareceu e aceitou o templo. Os antigos profetas Moisés, Elias e Elias, o Profeta, apareceram a Joseph Smith e Oliver Cowdery e restauraram as chaves do sacerdócio para a coligação de Israel e o início da realização de outras ordenanças sagradas. (Ver D&C 110.)
Os templos que foram planejados para serem construídos em Missouri nunca chegaram a ser construídos porque as perseguições forçaram os fiéis a fugirem do estado. Depois que Nauvoo estava estabelecida como novo local de reunião, o Senhor revelou que um templo era necessário porque não havia lugar sobre a Terra onde Ele pudesse aparecer e restaurar “a plenitude do sacerdócio”. (D&C 124:28) Os santos também foram instruídos a realizar suas abluções e unções, bem como os batismos pelos mortos, num lugar sagrado, sendo por isso ordenados a construir o Templo de Nauvoo. A revelação prossegue, declarando: “Que seja esta casa construída em meu nome, para que nela eu possa revelar ao meu povo as minhas ordenanças;
Pois à minha igreja me digno revelar coisas que têm sido conservadas ocultas desde antes da fundação do mundo, coisas que dizem respeito à dispensação da plenitude dos tempos”. (Versículos 40–41)
À medida que o trabalho de construção progredia, Joseph Smith procurou e recebeu novas instruções do Senhor a respeito da sagrada investidura. Contudo, não se sabe ao certo quando exatamente ele recebeu todas as instruções referentes às ordenanças do templo. Ele apresentou essas ordenanças a uns poucos santos dos últimos dias de confiança na sala superior de sua loja de tijolos vermelhos, em 4 de maio de 1842. Naquela época, esse era praticamente o único lugar suficientemente grande em Nauvoo para se reunir uma assembléia particular. O prédio ficava próximo ao rio Mississipi, a um quarteirão a oeste da Mansion House e da Casa de Joseph Smith. Foi construída em 1841 e abriu as portas ao público em janeiro de 1842. Ocupando a maior parte do segundo andar havia uma sala de reuniões utilizada para os conselhos do sacerdócio, a organização e as reuniões da Sociedade Feminina de Socorro de Nauvoo, reuniões municipais e maçônicas, aulas, apresentações teatrais, debates, palestras e reuniões do mais alto escalão da Legião de Nauvoo.
Em 3 de maio, com a ajuda de outras pessoas, o Profeta preparou seu escritório e a sala de reuniões de modo que representassem “o interior de um templo, da melhor forma que as circunstâncias permitiam”.7Na tarde do dia seguinte, o Profeta administrou as primeiras investiduras a um grupo de pessoas escolhidas, que incluíam Hyrum Smith, o patriarca da Igreja; Brigham Young, Heber C. Kimball e Willard Richards, dos Doze Apóstolos; Newel K. Whitney, bispo geral; George Miller, presidente do quórum de sumos sacerdotes de Nauvoo e bispo geral; e James Adams, presidente do ramo de Springfield.8
Joseph Smith relatou o seguinte a respeito desse importante evento: “Passei o dia no andar superior da loja (…) instruindo-os nos princípios e na ordem do Sacerdócio, realizando abluções, unções, investiduras e transmitindo as chaves pertencentes ao Sacerdócio Aarônico, e assim por diante até a mais alta ordem do Sacerdócio de Melquisedeque, estabelecendo a ordem pertencente ao Ancião de Dias, e todos os planos e princípios pelos quais a pessoa pode garantir a plenitude das bênçãos que foram preparadas para a Igreja do Primogênito, e surgir e habitar na presença de Eloim, nos mundos eternos”.9
O Senhor havia declarado que essas ordenanças eram necessárias para abrir a porta da vida eterna e exaltação. Por esse motivo, elas eram muito procuradas pelos santos dos últimos dias fiéis. Gradualmente, durante os dois anos seguintes, Joseph Smith apresentou a investidura a aproximadamente noventa homens e mulheres. Ele também deu instruções particulares aos Doze concernentes às chaves dessas ordenanças, instruindo-os a dar a investidura aos santos dignos, no templo, quando este estivesse terminado. Em dezembro de 1845, o templo estava suficientemente concluído para permitir a realização da ordenança.
Muitos anos depois, em Salt Lake City, o Presidente Brigham Young instruiu os santos a respeito do significado da investidura nos últimos dias. Ele lembrou-os de que os primeiros élderes haviam recebido apenas uma parte da investirua no Templo de Kirtland, a que chamou de “ordenanças introdutórias ou preparatórias, em preparação para a investidura”. Ele então definiu o significado de investidura: “Sua investidura é receber todas as ordenanças da Casa do Senhor, que lhe serão necessárias após sua morte a fim de permitir que volte à presença do Pai, passando pelos anjos que estão de sentinela, podendo dar-lhes as senhas e sinais pertencentes ao Santo Sacerdócio e alcançar sua exatalção eterna, apesar da Terra e do inferno”.10
REVELAÇÕES A RESPEITO DO CASAMENTO
A investidura do santo sacerdócio está intimamente associada ao princípio do casamento eterno. Desde o início da Restauração, os santos dos últimos dias foram ensinados que “o casamento foi instituído por Deus para o homem”. (D&C 49:15) O convênio do casamento sempre foi considerado algo extremamente importante. Os homens da Igreja são ordenados “Amarás tua esposa de todo o teu coração e a ela te apegarás e a nenhuma outra”. (D&C 42:22) Os membros da Igreja são ordenados não apenas a se casarem dignamente, mas a terem filhos e criarem-nos de acordo com os preceitos do evangelho de Jesus Cristo.
Pouco depois de apresentar a investidura, o Profeta revelou que um casal casado poderia ser selado pelo poder do sacerdócio para o tempo e toda a eternidade. Muitos dos homens e mulheres que receberam sua investidura foram também selados por Joseph Smith a seus cônjuges pelo convênio do casamento. Joseph ensinou que o selamento do casamento, a investidura e os batismos pelos mortos deveriam ser realizados na casa do Senhor, e que aquelas ordenanças estariam ao alcance de todos os santos fiéis, assim que o templo estivesse terminado.
Na primavera de 1843, Joseph Smith ensinou a importância eterna do convênio do casamento. Enquanto visitava a comunidade mórmon de Ramus, a trinta e dois quilômetros a sudeste de Nauvoo, o Profeta explicou a alguns membros da Igreja o seguinte:
“Na glória celestial há três céus ou graus;
E para obter o mais elevado, um homem precisa entrar nesta ordem do sacerdócio [que significa o novo e eterno convênio do casamento];
E se não o fizer, não poderá obtê-lo”. (D&C 131:1–3)
Mais tarde, naquele verão, Joseph registrou uma revelação a respeito do casamento que incluía princípios que lhe haviam sido revelados já em 1831, em Kirtland. Nessa revelação, o Senhor declarou: “Se um homem se casar com uma mulher pela minha palavra, que é a minha lei, e pelo novo e eterno convênio e for selado pelo Santo Espírito da promessa por aquele que foi ungido, a quem conferi esse poder e as chaves desse sacerdócio (…) estará em pleno vigor quando estiverem fora do mundo; e passarão pelos anjos e pelos deuses ali colocados, rumo a sua exaltação e glória em todas as coisas, conforme selado sobre sua cabeça; glória essa que será uma plenitude e uma continuação das sementes para todo o sempre”. (D&C 132:19)
A lei do casamento celestial, conforme explicada nesta revelação, também incluía o princípio da pluralidade de esposas. Em 1831, enquanto Joseph Smith trabalhava na tradução inspirada das santas escrituras, ele perguntou ao Senhor como Ele justificava o princípio de casamento plural praticado pelos patriarcas do Velho Testamento. Essa pergunta resultou na revelação a respeito do casamento celestial, que incluía sua resposta a essa pergunta a respeito do casamento plural praticado pelos patriarcas.11
Em primeiro lugar, o Senhor explicou que para qualquer convênio, incluindo o casamento, ser válido na eternidade, ele precisa atender três requisitos (ver D&C 132:7): (1) Ele precisa ser “[feito] e [selado] pelo Santo Espírito da promessa”. (2) Precisa ser realizado por alguém que possua a devida autoridade do sacerdócio. (3) Deve ser feito “por revelação e mandamento” por intermédio do profeta ungido pelo Senhor. (Ver também vv. 18–19.) Usando o exemplo de Abraão, o Senhor disse que ele “recebeu todas as coisas, tudo que recebeu, por revelação e mandamento, pela [Sua] palavra”. (V. 29) Conseqüentemente, o Senhor pergunta: “Estava Abraão, portanto, sob condenação? Na verdade te digo, não; pois Eu, o Senhor, o mandei”. (V. 35)
Além disso, Joseph Smith e a Igreja deveriam aceitar o princípio do casamento plural como parte da restauração de todas as coisas. (V. 45) Acostumados aos padrões convencionais do casamento, o Profeta mostrou-se compreensivelmente relutante a princípio em adotar essa nova prática. Devido à falta de documentação histórica, não temos conhecimento das primeiras tentativas que ele fez em Ohio para cumprir esse mandamento. Seu primeiro registro de casamento plural em Nauvoo foi com Louisa Beaman, realizado pelo Bispo Joseph B. Noble, em 5 de abril de 1841.12Durante os três anos seguintes, Joseph casou-se com outras [esposas] de acordo com o mandamento do Senhor.
Quando os membros do Conselho dos Doze Apóstolos retornaram de sua missão nas ilhas britânicas, em 1841, Joseph Smith ensinou-lhes um por um a doutrina da pluralidade de esposas, e cada um deles teve alguma dificuldade em aceitar e compreender essa doutrina.13Brigham Young, por exemplo, conta-nos sua luta íntima: “Nunca tive o desejo de fugir do dever nem de deixar de cumprir o menor dos mandamentos que me fosse dado, mas pela primeira vez na vida senti vontade de morrer, sendo algo que não consegui superar por muito tempo. Quando assisti a um funeral, senti inveja do defunto, lamentando não ser eu que estava no caixão”.14
Depois de sua frustração e hesitação inicial, Brigham Young e outros membros dos Doze receberam uma confirmação pessoal do Santo Espírito e aceitaram a nova doutrina do casamento plural. Eles sabiam que Joseph Smith era um profeta de Deus em todas as coisas. A princípio essa prática foi realizada em segredo e de modo muito limitado. Começaram a circular rumores a respeito do fato de as autoridades da Igreja terem mais de uma esposa, distorcendo muito a verdade e contribuindo para aumentar a perseguição por parte dos apóstatas e dos que não eram membros. Parte dos problemas, naturalmente, era a aversão natural que os americanos tinham contra a “poligamia”. Esse novo sistema parecia ameaçar a fortemente arraigada tradição da monogamia e a solidez da organização familiar. Mais tarde, em Utah, os santos praticaram abertamente “o princípio”, mas nunca sem enfrentar perseguições.
A CARTA WENTWORTH
O Profeta era ocasionalmente convidado a explicar15 os ensinamentos e práticas do mormonismo aos que não eram membros da Igreja. Um exemplo importante disso foi a Carta Wentworth. Na primavera de 1842, John Wentworth, editor do Chicago Democrat, pediu a Joseph Smith que lhe desse um resumo do “surgimento, progresso, perseguições e fé dos santos dos últimos dias”.16Wentworth era natural de New Hampshire e desejava essa informação para uma compilação da história do estado onde nascera, que estava sendo escrita por seu amigo George Barstow. Joseph atendeu ao pedido e enviou a Wentworth um documento de várias páginas contendo um relato de muitos dos primeiros eventos da história da Restauração, incluindo a Primeira Visão e o aparecimento do Livro de Mórmon. O documento também continha treze declarações que resumiam as crenças dos santos dos últimos dias, que se tornaram conhecidas como as Regras de Fé. Barstow publicou sua história, mas a Carta Wentworth não foi incluída nem qualquer referência aos mórmons.
Wentworth não publicou esse documento no Chicago Democrat. A carta também nunca chegou a constar da história de New Hampshire. Mas o jornal da Igreja, o Chicago Democrat, nor did it ever appear in any history of New Hampshire. But the Church’s newspaper, Times and Seasons, publicou-a em março de 1842, e ela tornou- se uma das mais importantes declarações de inspiração, história e doutrina da Igreja. As Regras de Fé foram escritas para os que não eram mórmons e não tinham o objetivo de ser um resumo completo dos princípios e práticas do evangelho. As Regras de Fé, porém, oferecem uma declaração clara das crenças dos santos dos últimos dias. Cada regra é uma declaração afirmativa das diferenças entre o mormonismo e as crenças sectárias de outras denominações.
Em 1851, as Regras de Fé foram incluídas na primeira edição da Pérola de Grande Valor publicada pela Missão Britânica. Depois que a Pérola de Grande Valor foi revisada em 1878 e canonizada em 1880, as Regras de Fé tornaram-se doutrina oficial da Igreja.
O LIVRO DE ABRAÃO
No início de 1842, aproximadamente na mesma época em que Joseph Smith escreveu sua carta a John Wentworth, o Profeta estava bastante atarefado com a “tradução dos Registros de Abraão”.17Esses registros haviam sido adquiridos em 1835, quando a Igreja comprou vários rolos de antigos papiros egípcios de Michael Chandler. Joseph e seus escreventes fizeram algumas investigações preliminares a respeito deles, mas seu trabalho no Templo de Kirtland e a subseqüente apostasia e perseguições impediramnos de continuar esse trabalho em Ohio ou Missouri. Por fim, na primavera de 1842, o Profeta conseguiu dedicar-se à tarefa por várias semanas, sem ser interrompido.
O Élder Wilford Woodruff, que ficou sabendo nos conselhos de liderança que o Profeta estava traduzindo parte do conteúdo dos papiros, escreveu em seu diário seus sentimentos a respeito do trabalho do Profeta: “Verdadeiramente o Senhor ergueu Joseph, o vidente (…) e hoje cobriu-o com seu imenso poder, sabedoria e conhecimento. (…) O Senhor está abençoando Joseph com o poder de revelar os mistérios do reino de Deus; para traduzir, por meio do Urim e Tumim, os registros antigos e hieróglifos tão velhos quanto Abraão ou Adão, o que faz com que nosso coração arda dentro de nós, ao vermos suas gloriosas verdades abrirem-se diante de nós”.18
Extratos do Livro de Abraão apareceram pela primeira vez no Times and Seasons e no Millennial Star no verão de 1842. Joseph Smith indicou que mais seria revelado posteriormente, mas não pôde continuar a tradução depois de 1842. O que a Igreja recebeu — cinco capítulos do livro de Abraão, na Pérola de Grande Valor — era apenas uma parte do registro original.
Em 1967, onze fragmentos do papiro de Joseph Smith foram redescobertos pelo Doutor Aziz S. Atiya, no Metropolitan Museum of Art de Nova York. Os estudos confirmaram que se tratam de textos funerários do Egito, do tipo que normalmente eram enterrados junto com pessoas da realeza e da nobreza, destinando-se a guiá-los em suas jornadas eternas.19Isso renovou a questão da relação entre os registros e o livro de Abraão. Joseph Smith não explicou o método pelo qual traduziu o livro de Abraão, assim como nunca explicou plenamente o método de tradução do Livro de Mórmon. Não obstante, assim como o Livro de Mórmon, o livro de Abraão é sua própria evidência e foi-nos dado pelo dom e poder de Deus.20
DISCURSOS DE JOSEPH SMITH
Os santos de Nauvoo freqüentemente ouviam o Profeta Joseph Smith pregar, e muitos deles escreveram como se sentiram tocados pela experiência. Ficavam maravilhados de ouvir suas palavras e eram fortalecidos por seus testemunhos. Brigham Young disse: “Esses eram momentos mais preciosos para mim do que todas as riquezas da Terra. Não importa quão grande fosse minha pobreza — Se eu tiver que pedir farinha emprestada para alimentar minha esposa e filhos, jamais deixarei passar uma oportunidade de aprender o que o Profeta tem a nos dizer.”21Wandle Mace, um recém-converso, disse que ouvir o Profeta em público ou em particular, sob chuva ou sol, fez com que ficasse convencido de que Joseph Smith era um homem inspirado por Deus. Ele nunca perdia uma oportunidade de ouvir Joseph pregar porque “Joseph têm-nos alimentado com delicioso manjar espiritual”.22James Palmer, um converso inglês, disse que o Profeta “parecia e tinha a aparência de alguém que havia sido enviado por Deus, quando pregava, ou como alguém que tivesse sido enviado dos mundos celestiais para uma missão divina.”23
Não havia capela grande o suficiente para acomodar todos os santos para ouvirem seu Profeta, por isso quando o tempo estava bom eles reuniam- se ao ar livre, sob as árvores. Um local típico de reunião era um bosque que formava uma área parecida com um anfiteatro na encosta oeste da colina em que ficava o templo. Durante o período de Nauvoo, o Profeta acostumou-se a fazer discursos públicos. Nos primeiros dias da Restauração ele costumava deixar que outros pregassem, os quais ele achava serem melhores oradores. Em Nauvoo e nas comunidades vizinhas, porém, ele pregou com grande poder e autoridade. Seus quase duzentos discursos realizados nesses anos moldaram o entendimento dos santos das doutrinas do evangelho e influenciaram imensuravelmente a Igreja.
No dia 20 de março de 1842, domingo, no funeral do filho de Windsor P. Lyon, Joseph escolheu como tema de seu discurso no bosque a salvação das criancinhas. Ele disse que havia “perguntado por que as crianças pequenas e inocentes eram tiradas de nosso convívio, especialmente as que pareciam ser as mais inteligentes e interessantes”. Ele disse que elas eram levadas para serem poupadas da iniqüidade que estava crescendo no mundo. Ele então declarou uma das mais consoladoras doutrinas reveladas nos últimos dias: “Todas as crianças são redimidas pelo sangue de Jesus Cristo e assim que partem deste mundo são recebidas no seio de Abraão. A única diferença entre o velho e o jovem que morre, é que um deles vive mais tempo no céu e na luz e glória eternas do que o outro, sendo libertado mais cedo deste mundo iníquo e miserável.”24
Na primavera de 1843, Joseph visitou freqüentemente as comunidades de santos dos arredores para ensiná-los e orientá-los. Quando esteve em Ramus, hospedou-se na casa de seu amigo Benjamin F. Johnson. Os ensinamentos do Profeta em Ramus, Illinois, no dia 2 de abril de 1843, domingo, foram tão importantes que passaram a fazer parte da história oficial da Igreja e mais tarde foram incluídos em Doutrina e Convênios como a seção 130. Em uma reunião matutina, o Élder Orson Hyde falou a respeito do Pai e do Filho habitarem no coração dos santos e disse que o Salvador em Sua segunda vinda apareceria “montado em um cavalo branco, como um guerreiro”. No almoço, Joseph Smith disse a Orson que faria algumas correções em seu discurso na reunião da tarde. O Élder Hyde respondeu: “Ficarei muito agradecido por isso”.25
O Profeta explicou aos santos: “Quando o Salvador se manifestar, vêlo- emos como é. Veremos que é um homem como nós”. (D&C 130:1) Prosseguindo as correções, ele acrescentou que “a idéia de que o Pai e o Filho habitam no coração do homem é uma velha concepção sectária e é falsa”. (V. 3) Mais tarde, em seu sermão, ele declarou destemidamente que “o Pai possui um corpo de carne e ossos tão tangível como o do homem; o Filho também; mas o Espírito Santo não possui um corpo de carne e ossos, mas é um personagem de Espírito”. (V. 22)
Nesse monumental discurso, Joseph Smith também ensinou outras verdades eternas que inspiraram os santos dos últimos dias a procurarem diligentemente a verdade e esforçarem-se por fazer boas obras. Ele explicou que “qualquer princípio de inteligência que alcançarmos nesta vida surgirá conosco na ressurreição.
E se uma pessoa por sua diligência e obediência adquirir mais conhecimento e inteligência nesta vida do que uma outra, ela terá tanto mais vantagem no mundo futuro”. (VV. 18–19) Ele também explicou que “há uma lei, irrevogavelmente decretada nos céus, desde antes da fundação deste mundo, na qual se baseiam todas as bênçãos.
E quando de Deus obtemos uma bênção, é pela obediência àquela lei na qual a bênção se baseia”. (VV. 20–21)
Um mês e meio depois, o Profeta visitou Ramus novamente. Numa reunião noturna, um pregador metodista, Samuel Prior, que estava visitando a cidade para conhecer mais a respeito da Igreja, foi convidado a falar à congregação. Depois de suas palavras, Joseph Smith ergueu-se e discordou do que o reverendo Prior havia dito. Prior escreveu: “Ele o fez com mansidão, educação e tato; como alguém que estivesse mais interessado em divulgar a verdade e apontar o erro do que em maldosamente vencer-me em um debate. Senti-me verdadeiramente edificado por seus comentários e isso derrubou muitos de meus preconceitos contra os mórmons”.26Os ensinamentos de Joseph Smith nessa ocasião mostram seu chamado profético e hoje estão registrados como escritura: “Não existe algo como matéria imaterial. Todo espírito é matéria, mas é mais refinado ou puro e só pode ser discernido por olhos mais puros;
Não podemos vê-lo; mas quando nosso corpo for purificado, veremos que ele é todo matéria”. (D&C 131:7–8)
“We cannot see it; but when our bodies are purified we shall see that it is all matter” (D&C 131:7–8).
À medida que avançava o trabalho de construção do templo, o Profeta Joseph fez um de seus discursos mais grandiosos em reuniões especiais diante do edifício inacabado. Uma dessas ocasiões foi na conferência de abril de 1843. Naquela época, as amplamente divulgadas profecias de William Miller de que Cristo voltaria no dia 3 de abril de 1843 haviam causado muita agitação por toda a América e também entre os santos dos últimos dias. (Miller foi um fanático religioso que fundou o millerismo.) Numa sessão da conferência de 6 de abril, Joseph disse que como o profeta do Senhor ele havia orado e ficara sabendo que “a vinda do Filho do Homem nunca será — nunca poderá acontecer antes que os referidos julgamentos que acompanharão essa hora sejam derramados: os quais já começaram”. O Profeta também relacionou alguns eventos que ainda não haviam ocorrido, mas que iriam acontecer antes da Segunda Vinda: “Judá deve retornar, Jerusalém precisa ser reconstruída, e o templo também, e deverá brotar água de sob o templo, e as águas do Mar Morto tornar-se-ão saudáveis. Levará algum tempo para reconstruir as muralhas da cidade e o templo”.27
O mais famoso de todos os sermões do Profeta foi proferido na conferência geral de abril de 1844, como discurso fúnebre em homenagem a seu amigo King Follet, que havia falecido em um acidente de trabalho. Joseph Smith falou por mais de duas horas, mencionando pelo menos trinta e quatro temas de doutrina, incluindo a importância de conhecermos o verdadeiro Deus, o modo pelo qual nos tornamos semelhantes a Deus, a pluralidade de deuses, o progresso eterno, a importância do Espírito Santo, a natureza da inteligência, o pecado imperdoável e as criancinhas e a Ressurreição.
Uma de suas mensagens mais profundas foi a respeito de Deus e do destino do homem em relação a Ele. Ele declarou: “O próprio Deus já foi como somos agora — ele é um homem exaltado, entronizado em céus distantes! (…)
(…) e teries que aprender como tornar-vos deuses vós mesmos (…) passando de um pequeno degrau para outro, de uma capacidade menor para outra maior; de graça em graça, de exaltação em exaltação, até que consigais ressuscitar os mortos e sejais capazes de habitar em fulgores eternos e de assentar-vos em glória, como aqueles que estão entronizados nas labaredas eternas”. O homem, então, deve tornar-se desde já semelhante a Deus. Joseph também explicou os “primeiros princípios de consolação” para aqueles que pranteiam os mortos: “Apesar de este tabernáculo terreno ser enterrado e desfeito, ele se erguerá novamente para habitar nas labaredas eternas em glória imortal, não para sofrer, padecer ou morrer novamente, mas serão herdeiros de Deus e co-herdeiros com Jesus Cristo”.28
Como os santos reagiram a esse discurso longo, porém eloqüente e inspirador? A maioria ficou profundamente tocada por ele. Joseph Fielding escreveu em seu diário: “Nunca me senti mais maravilhado com seu discurso do que naquela ocasião. Ele colocou-me na mente de Herodes ao dizer: Voz de Deus e não de homem”. (Ver Atos 12:20–23.)29
Enquanto os santos permaneceram em Nauvoo, testemunharam um florescimento da teologia. Ouviram a seu líder profeta explicar detalhadamente alguns temas doutrinários que haviam sido mencionados apenas superficialmente até então. Quando liam o Times and Seasons, eles sentiam uma teologia mais plenamente desenvolvida do que haviam conhecido em Ohio ou Missouri. Enquanto construíam o templo e participavam de suas ordenanças sagradas, receberam poder, conhecimento e bênçãos desconhecidas em tempos anteriores. O desenvolvimento da doutrina em Nauvoo criou um duradouro legado para a Igreja no futuro.
Cronologia Data |
Evento Significativo |
---|---|
15 ago. 1840 |
Joseph Smith começa a ensinar a respeito do batismo pelos mortos |
8 nov. 1841 |
Dedicação da pia batismal do Templo de Nauvoo |
4 maio 1842 |
Joseph Smith administra a investidura para nove irmãos fiéis |
Primavera de 1842 |
A Carta Wentworth e o livro de Abraão são publicados no Times and Seasons |
Abr.–maio 1842 |
Joseph Smith visita Ramus, Illinois, e dá instruções inspiradas |
1º set. 1842 |
Epístola sobre o batismo para os mortos e a necessidade de manter um registro (ver D&C 127) |
7 abr. 1844 |
Joseph Smith profere o Discurso King Follett |
Desenvolvimento da doutrina referente ao templo, conforme revelada ao Profeta Joseph Smith | |
---|---|
21 set. 1823 |
Morôni reitera a profecia de Malaquias a respeito da vinda de Elias, o Profeta, e diz que ele haveria de “revelar” o sacerdócio. (Ver D&C 2; Joseph Smith — História 1:38–39.) |
Dez. 1830 |
Primeira referência aos templos nas revelações modernas. (Ver D&C 36:8). |
2 jan. 1831 |
O Senhor ordena que a Igreja se mude para Ohio, onde serão “investidos com poder do alto”. (D&C 38:32). |
20 jul. 1831 |
O Senhor designa o condado de Jackson, Missouri, como o local para a construção de Seu templo. (Ver D&C 57:2–3.) |
16 fev. 1832 |
A visão dos graus de glória é revelada. (Ver D&C.) |
dez. 1832 |
É ordenada a construção do Templo de Kirtland. (Ver D&C 88:119.) |
21 jan. 1836 |
Joseph Smith vê seu irmão Alvin, que havia morrido sem receber o batismo, no reino celestial e é informado que aqueles que teriam recebido o evangelho nesta Terra herdarão o reino celestial no mundo vindouro. (Ver D&C 137.) |
27 mar. 1836 |
O Templo de Kirtland é dedicado. (Ver D&C 109; History of the Church, 2:410–28). |
3 abr. 1836 |
O Salvador, Moisés e Elias, aparecem no Templo de Kirtland para aceitar o templo e restaurar as chaves do sacerdócio. (Ver D&C 110.) |
15 ago. 1840 |
A doutrina do batismo pelos mortos é ensinada pela primeira vez no funeral de Seymour Brunson, que morreu em 10 de agosto de 1840. (Ver History of the Church 4:179, 231.) |
19 jan. 1841 |
Os santos recebem o mandamento de construírem o Templo de Nauvoo, e Joseph Smith é informado de que nem todas as coisas referentes à investidura foram reveladas. (Ver D&C 124:25–55.) |
15 mar. 1842 |
Os facsímiles do livro de Abraão, com declarações a respeito do templo, são publicados no Times and Seasons |
4 maio 1842 |
Joseph Smith ministra as primeiras investiduras na sala superior de sua loja de tijolos vermelhos. (Ver History of the Church 5:1–3.) |
6 set. 1842 |
Epístola sobre a natureza essencial do trabalho vicário do templo (ver D&C 128) |
16–17 mai 1843 |
Joseph Smith recebe a revelação que explica a necessidade do casamento eterno para se alcançar a exaltação. (Ver D&C 131.) |
12 jul. 1843 |
É recebida a revelação a respeito do novo e eterno convênio do casamento e da plenitude da vida. (Ver D&C 132.) |