Capítulo 21
Doutrina e Convênios 57–58
Introdução e cronologia
Em obediência ao mandamento do Senhor de realizar uma conferência da Igreja no Missouri (ver D&C 52:2–5), o profeta Joseph Smith e vários outros viajaram quase 1.500 quilômetros de Ohio até Missouri. Em 20 de julho de 1831, poucos dias após ter chegado ao condado de Jackson, Joseph Smith recebeu a revelação que se encontra em Doutrina e Convênios 57. Nessa revelação, o Senhor declarou que Independence, Missouri, seria o local central da cidade de Sião e seu templo, instruindo várias pessoas no tocante a seu papel na edificação de Sião.
Em 1º de agosto de 1831, menos de duas semanas após Joseph ter recebido a revelação que designava Independence como o local central de Sião, alguns membros da Igreja foram falar com o profeta desejando saber a vontade do Senhor a respeito da participação deles na construção de Sião. Em resposta, o Senhor concedeu a revelação que se encontra em Doutrina e Convênios 58. Nessa revelação, o Senhor instruiu os santos no tocante aos princípios pelos quais a cidade de Sião seria estabelecida, incluindo a obediência aos mandamentos, a fidelidade na tribulação, o uso do arbítrio na promoção da retidão e o arrependimento e o perdão.
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14 de julho de 1831Joseph Smith e seus companheiros de viagem chegam ao condado de Jackson, Missouri.
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20 de julho de 1831Doutrina e Convênios 57 é recebida.
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Final de julho de 1831Os santos de Colesville e vários élderes chegam ao condado de Jackson.
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1º de agosto de 1831Doutrina e Convênios 58 é recebida.
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2–3 de agosto de 1831As terras do condado de Jackson, Missouri são dedicadas para o estabelecimento de Sião, e um local para o templo é dedicado em Independence, Missouri.
Doutrina e Convênios 57: Informações históricas adicionais
O profeta Joseph Smith (1805–1844) ensinou que “a edificação de Sião é uma causa que foi do interesse do povo de Deus em todas as épocas; é um tema sobre o qual profetas, sacerdotes e reis falaram com especial deleite” (Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Joseph Smith, 2011, p. 194). Muitos dos antigos santos também aguardavam avidamente o estabelecimento de Sião. Como parte da Restauração, o Senhor forneceu gradativamente aos santos várias revelações sobre a edificação da cidade de Sião sobre a Terra nos últimos dias. Por exemplo: os santos aprenderam no Livro de Mórmon, que a cidade de Sião, ou a Nova Jerusalém, seria localizada no continente americano (ver 3 Néfi 20:22; 21:23–24; Éter 13:2–10).
Em uma revelação dada em setembro de 1830, o Senhor explicou que não revelaria a localização exata da cidade de Sião naquela época, mas que ela seria “nas fronteiras, próximo aos lamanitas” (D&C 28:9). Em dezembro de 1830, enquanto o profeta Joseph Smith trabalhava em sua tradução inspirada da Bíblia, ele ficou sabendo que durante o período tumultuado dos últimos dias, o Senhor preservaria Seu povo e o reuniria na “Cidade Santa” de Sião (ver Moisés 7:60–62). Em 9 de fevereiro de 1831, o Senhor explicou que revelaria “onde a Nova Jerusalém [seria] construída” em Seu “próprio e devido tempo” (D&C 42:62). Apenas um mês depois, o profeta recebeu uma revelação indicando que Sião seria “uma terra de paz, uma cidade de refúgio, um lugar seguro” em um mundo iníquo (D&C 45:66–67). A ansiedade com que os santos aguardavam Sião cresceu quando, em junho de 1831, o Senhor ordenou que a próxima conferência da Igreja “se [realizasse] em Missouri, na terra que [Ele consagraria] a [seu] povo” (D&C 52:2). Nessa mesma revelação, o Senhor prometeu revelar “a terra de [sua] herança”, se Joseph Smith e Sidney Rigdon permanecessem fiéis (D&C 52:5).
Em obediência ao mandamento do Senhor de realizar uma conferência da Igreja no Missouri, o profeta Joseph Smith e alguns companheiros de viagem partiram de Kirtland, Ohio, para ir até lá, em 19 de junho de 1831. Além disso, o Senhor chamou vários portadores do sacerdócio a viajarem em duplas até Missouri e a pregarem o evangelho enquanto viajavam (ver D&C 52:7–10, 22–33; 56:5–7). Depois de viajarem quase 1.500 quilômetros, o profeta e seus companheiros chegaram primeiramente a Independence, condado de Jackson, Missouri, em 14 de julho de 1831. Ali foram recebidos por Oliver Cowdery, Peter Whitmer Jr. e Ziba Peterson, que tinham sido chamados no outono de 1830 como missionários para pregar o evangelho aos lamanitas (ver D&C 28:8; 30:5–8; 32:2–3). Esses missionários estavam acompanhados de um recém-converso da Igreja, Frederick G. Williams, que perguntou a Oliver Cowdery se poderia acompanhá-los em suas viagens.
De acordo com a história de Joseph Smith, quando o profeta chegou a Independence, ele passou um tempo contemplando o estabelecimento de Sião e a situação dos índios americanos que moravam além da fronteira do Missouri. Sua contemplação o levou a perguntar-se: “Quando o deserto florescerá como a rosa? Quando será Sião edificada em sua glória e onde estará teu Templo, ao qual concorrerão todas as nações nos últimos dias?” (em Manuscript History of the Church, vol. A-1, página 127, josephsmithpapers.org). Subsequentemente, em 20 de julho de 1831, o profeta Joseph Smith recebeu a revelação que se encontra em Doutrina e Convênios 57.
Doutrina e Convênios 57
O Senhor revela a localização de Sião e instrui algumas pessoas no tocante ao papel delas em sua edificação
Doutrina e Convênios 57:1–3. O Senhor declara a localização da cidade de Sião
Em resposta à pergunta do profeta Joseph Smith, o Senhor revelou que Independence, condado de Jackson, Missouri, era “a terra da promissão e o local para a cidade de Sião” (D&C 57:2). O local para a cidade de Sião estava localizado pouco abaixo de uma curva do rio Missouri e cerca de 20 quilômetros a leste da linha divisória entre Missouri e o território indígena (atualmente a fronteira entre Missouri e Kansas). As terras que constituem o estado do Missouri e vários estados a seu redor tinham-se tornado parte dos Estados Unidos após a compra do estado da Louisiana, em 1803. Depois da compra, novos colonos, a maioria de outros Estados do sul, mudaram-se para Missouri para estabelecerem-se nas terras. O Missouri se tornou um estado em 1821, e em 1826 a legislatura estadual criou o condado de Jackson. A recém-criada cidade de Independence, que estava localizada ao longo de uma rota comercial chamada Trilha Santa Fé, tornou-se a sede do condado. Na época dessa revelação, o condado de Jackson tinha apenas algumas centenas de habitantes e poucos edifícios públicos, incluindo o tribunal do condado.
Doutrina e Convênios 57:3. “Independence é o lugar central”
Quando o Senhor designou o condado de Jackson, Missouri, como o local em que a cidade de Sião seria construída, Ele indicou que a cidade de Independence seria “o lugar central” (D&C 57:3). A afirmação de que ela seria o lugar central se refere, em parte, ao papel que Sião, ou a Nova Jerusalém, teria como uma das duas capitais (sendo a outra Jerusalém) do reino do Senhor durante o Milênio (ver Joseph Fielding Smith, Doutrinas de Salvação, comp. Bruce R. McConkie, 1954–1956, 3 vols., volume 3, p. 72). A partir dessa localização, o próprio Senhor supervisionará a atividade e os processos de Seu reino.
O élder Bruce R. McConkie (1915–1985), do Quórum dos Doze Apóstolos, salientou a importância de Sião como o “lugar central”, quando ensinou o seguinte: “Que Israel se reúna nas estacas de Sião em todas as nações. Que todas as terras sejam a Sião para aqueles que nelas moram. Que todos os santos em todas as nações tenham a plenitude do evangelho. Que nenhuma bênção lhes seja negada. Que haja templos nos quais a plenitude das ordenanças da casa do Senhor possam ser ministradas. Mas, ainda assim, haverá um lugar central, o lugar onde se erguerá o templo principal, o lugar ao qual o Senhor virá, o lugar do qual sairá a lei para governar toda a Terra. (…) E esse lugar central é o que os homens hoje chamam de Independence, no condado de Jackson, no Missouri, mas que, um dia, será a Sião de nosso Deus e a Cidade Santa de Seu povo. O terreno foi selecionado, o lugar é conhecido, o decreto foi promulgado e o destino prometido está assegurado” (A New Witness for the Articles of Faith [Uma nova testemunha para as regras de fé], 1985, p. 595).
Doutrina e Convênios 57:3. “Um local para o templo”
Além de revelar a localização da cidade de Sião, o Senhor também declarou que o local do templo seria “a oeste, num terreno não longe do tribunal” (D&C 57:3). O templo será construído nos últimos dias, antes da Segunda Vinda de Jesus Cristo. O élder Bruce R. McConkie explicou a importância do templo que será construído em Independence, Missouri: “Quanto ao templo ao qual todas as nações irão nos últimos dias, ele será construído na Nova Jerusalém, antes da Segunda Vinda, tudo isso como parte dos processos preparatórios que vão aprontar um povo para o retorno do Senhor” (A New Witness for the Articles of Faith, p. 595).
Cerca de dois anos depois de ele ter recebido a revelação que se encontra em Doutrina e Convênios 57, o profeta Joseph Smith recebeu revelações adicionais sobre o lugar no qual o templo seria construído. Em 1833, o profeta fez com que fosse desenhada uma planta da cidade de Sião, que mostrava um complexo de templos com 24 edifícios a serem construídos um ao lado do outro, em Independence (ver History of the Church [História da Igreja], volume 1, pp. 357–359). A reunião dos santos na cidade de Sião, ou Nova Jerusalém, e sua construção, conforme declarado pelo Senhor, começará no “local do templo” (D&C 84:4).
Doutrina e Convênios 57:4–5. “É sábio que os santos comprem a terra”
Em uma revelação anterior, o Senhor havia ordenado aos santos “que [economizassem] todo o dinheiro que [pudessem] em retidão” para se prepararem para comprar terras em Sião quando o Senhor lhes revelasse a localização (D&C 48:4–5). Depois de revelar a localização de Sião, o Senhor disse aos élderes que comprassem todas as áreas “do oeste até a linha que passa diretamente entre judeus e gentios” (D&C 57:4). O presidente Joseph Fielding Smith (1876–1972) explicou que a linha que passava diretamente entre judeus e gentios “era uma referência à fronteira que separava os lamanitas [ou índios americanos] dos colonos do condado de Jackson. Naquela época, o governo dos Estados Unidos tinha dado aos índios as terras a oeste do Missouri, para mais tarde tomá-las de novo. Os lamanitas, que são israelitas, foram chamados de judeus, e os gentios eram as pessoas, muitas das quais fora da lei, que moravam a leste do rio” (Church History and Modern Revelation [História da Igreja e revelação moderna], 1953, volume 1, p. 206).
Durante esse período de tempo no oeste dos Estados Unidos, muitos colonos costumavam utilizar a prática da ocupação ilegal para adquirir propriedades. Eles se estabeleciam em terras ou propriedades não ocupadas com a intenção de registrar posteriormente a reivindicação delas no tribunal do condado. No verão de 1831, quando essa revelação foi dada, a maioria das terras que o Senhor ordenou que os santos comprassem já tinham sido reivindicadas por colonos, exigindo assim que os santos comprassem deles essas propriedades. Em obediência ao mandamento dado pelo Senhor de comprarem propriedades, em dezembro de 1831, o bispo Edward Partridge comprou aproximadamente 25 hectares de Jones Hoy Flournoy (ver História da Igreja na Plenitude dos Tempos, 2ª ed., manual do Sistema Educacional da Igreja, 2003, p. 129). Essa propriedade se tornou conhecida como o terreno do templo porque incluía as terras que o Senhor designou para o templo.
Doutrina e Convênios 57:7–16. O Senhor ordena algumas pessoas a se estabelecerem na terra de Sião e as instrui no tocante a seu papel na edificação de Sião
Como lemos em Doutrina e Convênios 57:7–16, o Senhor ordenou que vários élderes se estabelecessem no condado de Jackson, Missouri. A ordem de estabelecerem-se implicava em que o Senhor pretendia que aqueles homens permanecessem no condado de Jackson e desenvolvessem a região, fazendo dela seu novo lar. Esse mandamento deve ter sido um choque para alguns daqueles homens que não faziam ideia de que lhes seria ordenado que permanecessem no Missouri, tendo deixado seus lares em Ohio apenas um mês antes.
O mandamento de permanecer no Missouri não foi fácil para eles. Tinham que se preocupar com a mudança de suas famílias para Ohio e o início de uma nova vida na fronteira americana. O bispo Edward Partridge escreveu uma carta à sua esposa, Lydia, na qual “enviou a notícia de que não voltaria para Ohio naquele verão e, em vez disso, pediu-lhe que ela e suas cinco filhas se reunissem a ele na fronteira do Missouri. Além disso, em vez de poder voltar a Ohio para ajudá-las a mudar-se naquele outono, ele escreveu: ‘O irmão Gilbert ou eu precisamos estar aqui para ajudar nas vendas em dezembro e, sem saber se ele poderá voltar nessa ocasião, pensei que seria aconselhável ficar aqui no momento contrariamente a [minhas] expectativas’. Ele também a alertou de que, uma vez que se juntasse a ele no Missouri, ‘teremos que sofrer e, por algum tempo, teremos muitas privações com as quais você e eu não estamos acostumados há ano[s]’. [Carta, 5 de agosto de 1831, em cartas de Edward Partridge, 1831–1835, Biblioteca de História da Igreja]. (…) Lydia voluntariamente obedeceu à revelação para mudar-se, embalando seus pertences e reunindo as cinco filhas a fim de viajarem para o oeste, a um lugar que ela nunca tinha visto antes” (Sherilyn Farnes, “Bispo da Igreja”, em Revelações em Contexto, ed. Matthew McBride e James Goldberg, 2016, pp. 79–80, history.LDS.org).
Doutrina e Convênios 58: Informações históricas adicionais
No final de julho de 1831, alguns dos élderes que estiveram pregando o evangelho enquanto viajavam para Missouri com os membros do Ramo Colesville começaram a chegar ao oeste do Missouri. Alguns dos recém-chegados tinham esperado encontrar uma comunidade florescente de recém-conversos, mas ficaram desapontados com o que viram. Oliver Cowdery, Ziba Peterson, Peter Whitmer Jr. e Frederick G. Williams tinham chegado à fronteira do Missouri em janeiro de 1831 e começado a ter sucesso em meio aos índios americanos, mas, como não tinham conseguido obter as devidas permissões para entrar no território indígena, e devido à oposição dos agentes indígenas e ministros locais, os missionários foram forçados a partir. Depois de serem expulsos do território indígena em fevereiro de 1831, os missionários pregaram aos colonos brancos do condado de Jackson. Embora os missionários tivessem trabalhado arduamente, menos de dez conversos tinham se filiado à Igreja quando o profeta Joseph Smith e os élderes começaram a chegar ao Missouri, em julho de 1831. Em vez de encontrar uma comunidade organizada e grande o suficiente para acomodar os santos que migravam, os recém-chegados encontraram uma pequena comunidade da fronteira cujas terras estavam em sua maior parte não cultivadas (ver The Joseph Smith Papers, Documents, Volume 2: julho de 1831–janeiro de 1833, ed. Matthew C. Godfrey e outros, 2013, p. 12).
Nessa mesma época, o profeta Joseph Smith e o bispo Edward Partridge tiveram um desentendimento no tocante às terras que deviam ser compradas pelos santos. O bispo Partridge achava que outras porções de terra deviam ser compradas em vez das que foram designadas pelo profeta (ver The Joseph Smith Papers, Documents, Volume 2: julho de 1831–janeiro de 1833, pp. 12–13). Nessas circunstâncias, e diante da expectativa da edificação de Sião, o profeta recebeu a revelação que se encontra em Doutrina e Convênios 58.
Doutrina e Convênios 58:1–13
O Senhor aconselha os santos a serem fiéis nas tribulações
Doutrina e Convênios 58:1–13. A presciência de Deus
Embora muitos dos élderes tenham expressado seu desapontamento com o que encontraram no Missouri, muitos dos recém-chegados santos de Colesville e vários outros élderes estavam ansiosos e ávidos para saber o que poderiam fazer para ajudar a estabelecer Sião. Antes de dar aos santos recém-chegados as instruções específicas que eles desejavam receber, o Senhor profetizou o destino de Sião e dos santos. Como parte dessa profecia, o Senhor disse aos santos que eles sofreriam tribulações, mas prometeu que aquele que fosse “fiel nas tribulações” teria “maior recompensa no reino do céu” (D&C 58:2). O Senhor também disse aos santos que eles teriam “a honra de estabelecer o alicerce” de Sião (D&C 58:7), dando a entender que o término da edificação de Sião não aconteceria na época deles, mas em algum dia no futuro.
O élder Orson F. Whitney (1855–1931), do Quórum dos Doze Apóstolos, descreveu a presciência do Senhor no tocante ao estabelecimento de Sião:
“Em todos os acontecimentos, o que ocorreu deve ter sido previsto. A presciência [conhecimento prévio] divina se estende a todas as coisas relacionadas com a obra do Senhor. Quando Ele ordenou Seu povo a edificar a Nova Jerusalém, Ele sabia o quanto, ou quão pouco, eles eram capazes de realizar nesse sentido — tanto antes quanto depois. Surpresa ou desapontamento da parte Dele é uma coisa inconcebível. Um Ser onisciente e onipotente que havia criado, povoado, redimido e glorificado ‘milhões de terras como esta’ (Moisés 7:30) não ficaria surpreso com nada que acontecesse em nosso pequeno planeta.
(…) O Ser onisciente sabia previamente o que os edificadores de Sião fariam, ou deixariam de fazer, e Ele moldou Seus planos de acordo com isso. Evidentemente não havia chegado o tempo certo para a redenção de Sião. Os santos ainda não estavam prontos para edificar a Nova Jerusalém” (Saturday Night Thoughts: A Series of Dissertations on Spiritual, Historical, and Philosophic Themes [Pensamentos de sábado à noite: Uma série de dissertações sobre temas espirituais, históricos e filosóficos], 1921, p. 187).
Doutrina e Convênios 58:3. “Por agora não podeis, com vossos olhos naturais, ver o desígnio de vosso Deus”
Alguns dos antigos santos tinham noções preconcebidas em relação ao estabelecimento de Sião em sua época. Muitos deles acreditavam que a Segunda Vinda de Jesus Cristo era iminente. Consequentemente, alguns podem ter acreditado que a construção de Sião e do templo aconteceria rapidamente e sem muita dificuldade. Contudo, o Senhor acautelou os santos, dizendo: “Por agora não podeis, com vossos olhos naturais, ver o desígnio de vosso Deus com respeito às coisas que virão mais tarde” (D&C 58:3). O Senhor prosseguiu, esclarecendo aos santos que eles enfrentariam tribulações, mas prometeu que, no final, se permanecessem fiéis, eles seriam “coroados de muita glória” (ver D&C 58:3–6). De modo semelhante, às vezes podemos ter noções preconcebidas que não se encaixam no plano de Deus. O élder Neal A. Maxwell (1926–2004), do Quórum dos Doze Apóstolos, compartilhou uma declaração do escritor C. S. Lewis, que explicou que nem sempre entendemos o que Deus tem reservado para nós:
“C. S. Lewis, em seu livro Mere Christianity [Mero Cristianismo], descreve nosso relacionamento com Deus de um modo especial que pode nos ajudar a entender que a decisão de nos submeter à vontade Dele é a única maneira pela qual o crescimento espiritual pode acontecer:
‘Imaginem-se como uma casa viva. Deus entra e reconstrói essa casa. A princípio, você talvez não consiga entender o que Ele está fazendo. Ele conserta as calhas e elimina as goteiras do telhado e assim por diante. Vocês sabiam que esse trabalho precisava ser feito e, por isso, não se surpreendem. Mas, então, Ele começa a derrubar partes da casa de um modo que dói absurdamente e que não parece ter sentido. O que Ele vai fazer? A explicação é que Ele está construindo uma casa bem diferente da que vocês imaginaram — levantando uma nova ala aqui, acrescentando outro andar ali, erguendo torres, fazendo pátios. Vocês acharam que estavam sendo transformados em uma bela casinha de campo, mas Ele está construindo um palácio (…)’ (Nova York: The Macmillan Company, 1952, p. 160)” (“The Value of Home Life” [O valor da vida no lar], Ensign, fevereiro de 1972, p. 5).
Além de querer que os santos edificassem a cidade de Sião, o Senhor tinha motivos adicionais para ordenar-lhes que se estabelecessem no oeste do Missouri. Ele revelou que Seus propósitos incluíam preparar o coração de Seu povo, ensinar-lhes obediência e prepará-los para prestar testemunho de Sua obra (ver Doutrina e Convênios 58:5–13).
Doutrina e Convênios 58:8–11. “Um banquete de coisas gordas, de vinho puro”
O Senhor disse aos santos que um dos motivos pelos quais Ele queria que eles estabelecessem o alicerce de Sião era prepará-los para “um banquete de coisas gordas, de vinho puro bem refinado” (D&C 58:8). Esse é um paralelo à profecia de Isaías de que o Senhor fará “um banquete de cevados, banquete de vinhos puros” (Isaías 25:6). Esses dois símbolos de banquete — “coisas gordas” e “vinho puro” — são sinais de riqueza, indicando que esse banquete é muito importante. O Senhor também disse aos antigos santos que “todas as nações serão convidadas” para esse banquete, “o rico e o instruído, o sábio e o nobre; (…) o pobre, o coxo e o cego e o surdo” (D&C 58:9–11; ver também Mateus 22:1–10). Essa profecia ensina que todas as nações serão convidadas a participar das ricas bênçãos do evangelho em preparação para a Segunda Vinda de Jesus Cristo.
Doutrina e Convênios 58:14–33
O Senhor explica os deveres de um bispo, ordena aos santos que cumpram as leis da terra e os aconselha a usarem seu arbítrio para fazer o bem
Doutrina e Convênios 58:14–16. “Que se acautele para não cair”
Em resposta ao desentendimento entre o bispo Edward Partridge e o profeta Joseph Smith referente às terras a serem compradas para Sião, o Senhor repreendeu o bispo Partridge e o advertiu de que sua “incredulidade e cegueira de coração” poderiam conduzi-lo à sua queda, caso não se arrependesse (D&C 58:15). O bispo Partridge aceitou com humildade a advertência e a repreensão do Senhor. Em uma carta para sua esposa, Lydia, poucos dias depois de essa revelação ter sido recebida, o bispo Partridge ilustrou sua humildade: “Você sabe que estou em uma posição importante, (…) [e] como sou ocasionalmente repreendido, às vezes sinto como se eu devesse cair, para não desistir da causa, mas tenho medo de que minha posição esteja acima do que eu possa realizar para a aceitação de meu Pai Celestial. (…) Ore por mim para que eu não caia” (citado em Farnes, “Bispo da Igreja”, p. 81, history.LDS.org).
Em uma revelação dada em 11 de setembro de 1831, o Senhor indicou que Edward Partridge havia pecado, mas que, se ele se arrependesse, seria perdoado (ver D&C 64:17). O bispo Partridge se arrependeu mais tarde e acabou sendo perdoado. De acordo com as atas de uma reunião realizada em março de 1832, o bispo Partridge reconheceu que “[sentia] e [sempre sentiria muito]” pelo desentendimento entre ele e o profeta Joseph Smith (em The Joseph Smith Papers, Documents, Volume 2: julho de 1831–janeiro de 1833, p. 62).
Doutrina e Convênios 58:16–20. “Designado para ser juiz em Israel”
O Senhor chamou o bispo Edward Partridge para guiar o trabalho de estabelecimento e edificação da cidade de Sião. Também instruiu o bispo Partridge e Sidney Gilbert a permanecerem no Missouri para cuidar das propriedades da Igreja e comprar terras na região de Independence, Missouri, e arredores. A principal responsabilidade do bispo Partridge era administrar a lei da consagração recebendo as consagrações dos santos e dando-lhes suas mordomias (ver D&C 41:9–11; 42:30–35, 71–73; 51; 57:7, 15). Também tinha a responsabilidade de julgar o povo de Deus de acordo com as leis de Deus (ver D&C 58:17–18). O presidente Gordon B. Hinckley (1910–2008) explicou algumas das maneiras pelas quais os bispos julgam as pessoas: “É uma responsabilidade assustadora e assombrosa colocarem-se como juízes do povo. Vocês precisarão julgá-los, em certos casos, quanto à dignidade para serem membros da Igreja, quanto à dignidade para entrarem na casa do Senhor, quanto à dignidade para serem batizados, quanto à dignidade para receberem o sacerdócio, dignidade para servirem em missão, dignidade para ensinarem e servirem como líderes nas organizações. Precisam julgar se estão qualificados, em momentos de necessidade, para receber ajuda das ofertas de jejum dos membros e alimentos e outros gêneros do armazém do Senhor” (“Os pastores de Israel”, A Liahona, novembro de 2003, p. 61).
Doutrina e Convênios 58:24–25. “Como decidirem entre eles e mim”
O Senhor disse ao bispo Edward Partridge e a seus conselheiros que tornassem a terra do Missouri seu local de residência. Foi dito também àqueles homens que levassem suas respectivas famílias para Missouri, “como decidirem entre eles e mim” (D&C 58:25). A instrução de aconselharem-se mutuamente e com o Senhor é um padrão que nós, santos dos últimos dias, devemos seguir ao buscar inspiração e orientação do Senhor. O élder M. Russell Ballard, do Quórum dos Doze Apóstolos, ensinou que “grande poder espiritual e orientação inspirada” podem advir do aconselhamento mútuo adequado. Ele também prometeu que “não há problema de família, ala ou estaca que não possa ser resolvido, se buscarmos as soluções à maneira do Senhor por meio de aconselhamento mútuo genuíno” (Em Conselho com Nossos Conselhos, ed. rev. 1997, p. 4).
Doutrina e Convênios 58:26–29. O Senhor aconselha os santos a usar o arbítrio para fazer o bem
Assim que os primeiros santos buscaram instruções do Senhor para cumprir o mandamento divino de se estabelecerem e de edificarem Sião, o Senhor lhes disse: “Não é conveniente que em todas as coisas eu mande” (D&C 58:26). Ele também os instruiu a usar seu arbítrio para “fazer muitas coisas de sua livre e espontânea vontade e realizar muita retidão” (D&C 58:27). O Senhor havia ordenado àqueles antigos santos que estabelecessem Sião e deu-lhes princípios orientadores, mas deixou os detalhes específicos sobre como fazê-lo a cargo deles. O presidente Ezra Taft Benson (1899–1994) explicou:
“Geralmente o Senhor nos dá os objetivos gerais que devem ser alcançados e algumas diretrizes a seguir, mas espera que elaboremos a maior parte dos detalhes e dos métodos. Os métodos e procedimentos em geral são desenvolvidos por meio de estudo e oração e pela vivência de modo a recebermos e seguirmos os sussurros do Espírito. Pessoas menos desenvolvidas espiritualmente, como as da época de Moisés, tinham de ser comandadas em muitas coisas. Hoje, aqueles que estão espiritualmente alertas examinam os objetivos, verificam as diretrizes estabelecidas pelo Senhor e Seus profetas e, depois, agem em espírito de oração, sem precisar ser mandados ‘em todas as coisas’. Essa disposição prepara os homens para ser deuses. (…)
Às vezes, o Senhor espera pacientemente que Seus filhos tomem a iniciativa; quando não o fazem, eles perdem o prêmio maior, e o Senhor deixa o assunto inteiramente de lado e permite que eles sofram as consequências, ou ainda os instrui em detalhes. Temo que, quanto mais Ele tenha que detalhar tudo, menor seja nossa recompensa” (Conference Report, abril de 1965, pp. 121–122).
Doutrina e Convênios 58:30–33. “Eu mando, e os homens não obedecem”
O Senhor disse aos santos que se eles não obedecessem a Seu mandamento Ele o revogaria e retiraria a bênção que teriam recebido caso fossem obedientes (ver D&C 58:32). Essa verdade serviu de advertência aos antigos santos que receberam o mandamento de estabelecer Sião. Se eles não obedecessem a Seus mandamentos, o Senhor revogaria o mandamento de estabelecerem Sião, e os santos perderiam as bênçãos que poderiam ter recebido.
O Senhor também profetizou que, caso Ele revogasse o mandamento de estabelecer e retivesse as bênçãos por causa da desobediência dos santos, alguns diriam que aquela ‘não é a obra do Senhor’ (D&C 58:33). O Senhor advertiu as pessoas que dissessem isso de que sua recompensa viria “de baixo e não de cima” (D&C 58:33).
Doutrina e Convênios 58:34–65
O Senhor dá instruções adicionais referentes a Sião, ensina os princípios do arrependimento e do perdão e encarrega os élderes de levar o evangelho a todo o mundo
Doutrina e Convênios 58:38–42. “Eis que aquele que se arrependeu de seus pecados é perdoado e eu, o Senhor, deles não mais me lembro”
O Senhor declarou que aqueles que se arrependerem serão perdoados e que Ele “não mais [se lembrará de seus pecados]” (D&C 58:42). O presidente Boyd K. Packer (1924–2014), do Quórum dos Doze Apóstolos, ensinou que, graças à Expiação de Jesus Cristo, essa promessa é válida, não importando quais pecados tenhamos cometido:
“Não importam quais tenham sido nossas transgressões, não importa o quanto nossas ações tenham magoado outros, essa culpa pode ser inteiramente apagada. Para mim, talvez a mais bela frase de todas as escrituras seja quando o Senhor disse: ‘Eis que aquele que se arrependeu de seus pecados é perdoado e eu, o Senhor, deles não mais me lembro’ (D&C 58:42).
Esta é a promessa do evangelho de Jesus Cristo e da Expiação” (“A Expiação”, A Liahona, novembro de 2012, p. 77).
Alguns erroneamente acreditam que se eles conseguem se lembrar de seus pecados, eles não foram perdoados. O presidente Dieter F. Uchtdorf, da Primeira Presidência, explicou por que nos lembramos de nossos pecados, mesmo depois de terem sido perdoados: “Satanás tentará fazer-nos acreditar que nossos pecados não foram perdoados porque nos lembramos deles. Satanás é mentiroso; ele tenta turvar nossa visão e desviar-nos do caminho do arrependimento e do perdão. Deus não nos prometeu que não nos lembraríamos de nossos pecados. Essa lembrança nos ajuda a evitar que cometamos os mesmos erros novamente. Mas se permanecermos firmes e fiéis, a lembrança de nossos pecados será suavizada com o tempo. Isso faz parte do processo necessário de cura e santificação” (“O ponto de retorno seguro”, A Liahona, maio de 2007, p. 101).
Doutrina e Convênios 58:43. “Eis que ele os confessará e abandonará”
Depois de ensinar que os santos podem ser perdoados de seus pecados, o Senhor revelou os requisitos do arrependimento: confessar e abandonar o pecado. O élder D. Todd Christofferson, do Quórum dos Doze Apóstolos, descreveu o que significa confessar os pecados: “A confissão e o abandono são conceitos muito fortes. São bem mais do que um simples ‘admito que errei, sinto muito’. A confissão trata-se de um profundo e muitas vezes angustiado reconhecimento do erro e da ofensa a Deus e ao homem” (“A divina dádiva do arrependimento”, A Liahona, novembro de 2011, p. 40).
O élder Neil L. Andersen, do Quórum dos Doze Apóstolos, explicou o que significa abandonar nossos pecados: “O abandono do pecado implica nunca voltar a cometê-lo. O abandono exige tempo. Para ajudar-nos, o Senhor às vezes permite que resíduos de nossos erros permaneçam em nossa lembrança. Isso é parte vital de nosso aprendizado na mortalidade” (“Arrependendo-vos (…) para que eu vos cure”, A Liahona, novembro de 2009, p. 42).
Doutrina e Convênios 58:50–52. O Senhor ordena a Sidney Rigdon que escreva uma descrição da terra de Sião
O Senhor ordenou Sidney Rigdon a “fazer por escrito uma descrição da terra de Sião (…) como lhe for manifestada pelo Espírito” (D&C 58:50). Essa descrição, junto com uma carta e uma assinatura, deveria ser apresentada aos membros da Igreja para levantar fundos para a compra de terras no Missouri (ver D&C 58:51). Como não havia fotografias na época, a descrição de Sidney podia ajudar os membros a visualizar a terra e incentivá-los a doar dinheiro.
Doutrina e Convênios 58:57. “Que meu servo Sidney Rigdon consagre e dedique ao Senhor esta terra”
O Senhor ordenou que Sidney Rigdon dedicasse a terra de Sião e o local do templo (ver D&C 58:57). A história do profeta Joseph Smith descreve os acontecimentos ocorridos na dedicação realizada logo após o recebimento desta revelação: “No [segundo] dia de agosto, auxiliei o Ramo de Colesville da Igreja a posicionar a primeira tora para a construção de uma casa como alicerce de Sião, no município de Kaw, a uns 19 quilômetros a oeste de Independence. A tora foi carregada e posicionada por 12 homens em honra às 12 tribos de Israel. Ao mesmo tempo, por meio de oração, a terra de Sião foi consagrada e dedicada pelo élder [Sidney] Rigdon. E foi um momento de alegria para os presentes, proporcionando um vislumbre do futuro, cujo tempo ainda será revelado para satisfação dos fiéis” (em Manuscript History of the Church, vol. A-1, página 137, josephsmithpapers.org). No dia seguinte, 3 de agosto de 1831, o profeta Joseph Smith dedicou o local do templo (ver Manuscript History of the Church, vol. A-1,” página 139).
Doutrina e Convênios 58:46–47, 59, 63–64. O evangelho deve ser pregado a todos
O Senhor instruiu os élderes que não tinham sido ordenados a permanecer em Sião que “[pregassem] o evangelho nas regiões circunvizinhas; e depois disso, que [regressassem] a seus lares” (D&C 58:46). O Senhor encarregou aqueles antigos missionários, assim como havia feito com Seus antigos apóstolos antes de Sua ascensão ao céu (ver Mateus 28:19–20), a levar o evangelho “para todo o mundo e para os confins da Terra — o evangelho deverá ser pregado a toda criatura” (D&C 58:64).
Em relação a esse encargo, o élder David A. Bednar, do Quórum dos Doze Apóstolos, ensinou:
“Os discípulos devotados de Jesus Cristo sempre foram e sempre serão valorosos missionários. Um missionário é um seguidor de Cristo que presta testemunho Dele como o Redentor e proclama as verdades de Seu evangelho.
A Igreja de Jesus Cristo sempre foi e sempre será uma igreja missionária. Os membros da Igreja do Salvador aceitaram individualmente a solene obrigação de ajudar no cumprimento do encargo divino dado pelo Senhor a Seus apóstolos, conforme registrado no Novo Testamento. (…)
Os santos dos últimos dias levam muito a sério essa responsabilidade de ensinar todas as pessoas de todas as nações a respeito do Senhor Jesus Cristo e de Seu evangelho restaurado. Cremos que a mesma Igreja fundada pelo Salvador no passado foi restabelecida por Ele na Terra nos últimos dias. A doutrina, os princípios, a autoridade do sacerdócio, as ordenanças e os convênios de Seu evangelho são encontrados hoje em Sua Igreja. (…)
De fato, sentimos a solene responsabilidade de levar essa mensagem a toda nação, tribo, língua e povo” (“Vinde e vede”, A Liahona, novembro de 2014, p. 107).