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Capítulo 39: Doutrina e Convênios 101


“Capítulo 39: Doutrina e Convênios 101”, Doutrina e Convênios – Manual do Aluno, 2017

“Capítulo 39”, Doutrina e Convênios – Manual do Aluno

Capítulo 39

Doutrina e Convênios 101

Introdução e cronologia

No final de 1833, as turbas atacaram os membros da Igreja no condado de Jackson, Missouri, e os forçaram a deixar suas casas. Quando a notícia da violência chegou ao profeta Joseph Smith em Kirtland, Ohio, ele sofreu pelos santos do Missouri e implorou ao Senhor que permitisse que eles voltassem para suas terras e seus lares. Em 16 e 17 de dezembro de 1833, o Senhor revelou ao profeta por que Ele havia permitido que os santos sofressem. Essa revelação, que está registrada em Doutrina e Convênios 101, também incluiu o conselhos e as palavras de consolo concernentes “à redenção de Sião” (D&C 101:43).

23 de julho de 1833Sob a ameaça de violência da turba, os líderes da Igreja no Missouri assinaram um acordo em que todos os mórmons deixariam o condado de Jackson até 1° de abril de 1834.

20 de outubro de 1833Os líderes da Igreja no Missouri anunciam que os santos pretendem permanecer no condado de Jackson e defender seus direitos à propriedade.

31 de outubro a 8 de novembro de 1833Turbas atacam o povoado mórmon no condado de Jackson, queimam casas e forçam os santos a deixarem o condado.

25 de novembro de 1833O profeta Joseph Smith fica sabendo que a violência das turbas havia expulsado os santos do condado de Jackson.

16 e 17 de dezembro de 1833Doutrina e Convênios 101 é recebida.

Doutrina e Convênios 101: Informações históricas adicionais

Devido à violência das turbas contra os santos no condado de Jackson, Missouri, durante o verão de 1833, os líderes da Igreja foram forçados a assinar um acordo em que metade dos santos deixariam o condado de Jackson até 1° de janeiro de 1834 e o restante partiria até 1° de abril de 1834. Entretanto, em agosto de 1833, o profeta Joseph Smith e um conselho de líderes da Igreja em Kirtland, Ohio, aconselhou aos santos do Missouri que não deixassem suas casas e pedissem a ajuda do governo do estado. No início de outubro de 1833, os élderes Orson Hyde e William W. Phelps se reuniram com o governador do Missouri, Daniel Dunklin, e pediram ajuda e proteção para os santos no condado de Jackson. O governador aconselhou os santos a buscarem auxílio na justiça local. Depois que os líderes da Igreja entraram com a ação nos tribunais do condado de Jackson, os santos se prepararam para se defender (ver The Joseph Smith Papers, Documents [Documentos de Joseph Smith], Volume 3, fevereiro de 1833–março de 1834, ed. Gerrit J. Dirkmaat e outros, 2014, p. 386; História da Igreja na Plenitude dos Tempos – Manual do Aluno, 2ª ed. [Manual do Sistema Educacional da Igreja, 2003], pp. 134–135).

Rio Big Blue, Missouri

No início de novembro de 1833, uma turba atacou os santos no povoado de Whitmer, a oeste do rio Big Blue, no condado de Jackson, Missouri.

Na noite de 31 de outubro de 1833, uma turba de cerca de 50 homens a cavalo invadiu o povoado de Whitmer, a oeste de Independence, Missouri. Eles foram para a casa do líder da Igreja David Whitmer e “puxaram sua esposa pelo cabelo até fora da casa e começaram a destruir a casa” (depoimento de Orrin [Oren] Porter Rockwell, em Mormon Redress Petitions: Documents of the 1833–1838 Missouri Conflict [Pedidos de reparação aos mórmons: Documentos do conflito no Missouri de 1833 a 1838], ed. Clark V. Johnson, 1992, p. 526). Eles continuaram com a violência até terem “destruído os telhados de dez casas, deixando-as parcialmente demolidas”. Os membros da Igreja fugiram para a floresta, mas não antes que a turba “surrasse, de maneira selvagem, vários homens”. Na noite seguinte uma turba em Independence “começou a apedrejar casas, quebrando portas e janelas, [e] destruindo a mobília”. Mais tarde naquela noite, eles “racharam” as portas das lojas Gilbert e Whitney, de propriedade da Igreja, em Independence, e atiraram as mercadorias na rua (Parley P. Pratt, “History of the Late Persecution” [História da última perseguição] em Mormons Redress Petitions, pp. 65–66).

Alguns dias depois, aproximadamente 60 homens armados do Missouri se reuniram do lado de fora da casa de um membro da Igreja e o ameaçaram violentamente. Um grupo de santos dos últimos dias apressou-se em defender o povoado. Na troca de tiros, dois integrantes da turba e um membro da Igreja foram mortos, com muitos feridos de ambos os lados. Depois, rumores exagerados espalharam pelo condado que os santos haviam tomado Independence com a ajuda dos índios como seus aliados. Os moradores do Missouri ouviram outros falsos rumores dizendo que os membros da Igreja estavam ameaçando de morte os cidadãos que haviam participado das hostilidades contra eles. Embora esses rumores fossem infundados, os justiceiros do Missouri usaram essas alegações como um motivo para convocar a milícia (ver The Joseph Smith Papers, Histories [Documentos de Joseph Smith, História], Volume 2, Assigned Histories [Histórias atribuídas],1831–1847, ed. Karen Lynn Davidson e outros, 2012, pp. 217–218; depoimento de Orrin Porter Rockwell, em Mormon Redress Petitions [Pedidos de reparação aos mórmons], pp. 527–528).

Reconhecendo que estavam em menor número e temendo que muitos santos pudessem ser mortos, os membros da Igreja buscaram uma solução pacífica. O coronel da milícia, Thomas Pitcher, que havia participado ativamente na violência da turba, forçou os santos a abandonarem suas armas e deixarem o condado imediatamente. Entretanto, mesmo após os santos prometerem partir, justiceiros armados marcharam pelo condado, expulsando os santos a força (ver The Joseph Smith Papers, Histories [Documentos de Joseph Smith, Histórias], Volume 2, Assigned Histories [Histórias atribuídas],1831–1847, pp. 219–221).

Os santos exilados se refugiaram temporariamente em abrigos ao longo do rio Missouri, em pleno inverno. Descrevendo essas terríveis condições, Parley P. Pratt escreveu:

“As margens [do rio Missouri] começaram a ficar repletas, em ambos os lados da balsa, de homens, mulheres e crianças; mercadorias, carroças, provisões, etc., enquanto a balsa seguia sendo utilizada. Havia centenas de pessoas em todas as direções, algumas em barracas e outras ao ar livre ao redor de fogueiras, enquanto chovia torrencialmente. Maridos perguntavam pela esposa, esposas pelo marido, pais pelos filhos, e filhos pelos pais. Alguns tiveram a sorte de escapar com a família, artigos de uso doméstico e algumas provisões; enquanto outros não sabiam nada sobre o paradeiro de seus amigos e haviam perdido tudo. A cena era inenarrável e certamente enterneceria o coração de qualquer ser humano, exceto o de nossos algozes cegos e de uma comunidade de cegos e ignorantes. (…)

 Cada membro de [nossa] sociedade foi expulso do condado, campos de milho foram saqueados e destruídos; pilhas de trigo queimadas, artigos domésticos roubados e melhorias e todo tipo de propriedade destruídas” (Autobiography of Parley Parker Pratt, [Autobiografia de Parley Parker Pratt], ed. Parley P. Pratt Jr., 1938, pp. 102–103).

Mais de mil santos foram expulsos do condado de Jackson e mais de 200 de suas casas foram queimadas.

Memorial em recordação aos santos expulsos do condado de Jackson, Missouri

Alguns dos santos expulsos do condado de Jackson, Missouri, moraram perto dali entre 1834 e 1836, na fazenda de Michael Arthur, ao sul de Liberty, no condado de Clay, Missouri.

Quando o profeta Joseph Smith soube que os santos haviam sido expulsos de Sião, ele ficou muito consternado. Em uma carta aos líderes da Igreja no Missouri, do dia 10 de dezembro de 1833, o profeta escreveu: “Sempre supus que Sião sofreria algumas aflições, pelo que aprendi nos mandamentos que me foram dados. (…) Sei que Sião será redimida, no devido tempo do Senhor; mas o Senhor ocultou de meus olhos quantos serão os dias de sua purificação, tribulação e aflição. Quando perguntei a esse respeito, a voz do Senhor declarou: Aquietai-vos, e sabei que Eu sou Deus! Todos que sofrem em meu nome reinarão comigo e quem perder a vida na minha causa tornará a encontrá-la. No entanto, há duas coisas sobre as quais nada sei, e o Senhor não as revelou; (…) por que Deus tem tolerado que tamanha aflição sobreviesse a Sião; e qual é a grande causa dessa grande aflição: E novamente, de que maneira ele a fará retornar para sua herança” (em Manuscript History of the Church [Manuscrito da História da Igreja], vol. A–1, página 393, josephsmithpapers.org). O profeta continuou a buscar respostas do Senhor, e em 16 e 17 de dezembro de 1833, ele recebeu uma revelação concernente à Sião e ao sofrimento dos santos no Missouri.

Mapa 2: Alguns locais importantes no início da história da Igreja
Mapa 8: A região do Missouri, Illinois e Iowa, nos Estados Unidos

Doutrina e Convênios 101:1–21

O Senhor explica por que Ele permitiu que os santos sofressem e oferece conselhos e conforto

Doutrina e Convênios 101:1–8 “Eu, o Senhor, permiti que lhes sobreviessem aflições”

O Senhor revelou que os santos do Missouri foram afligidos e expulsos do condado de Jackson devido a “suas transgressões”, que incluíam “contendas e invejas e disputas e concupiscência e cobiça” (D&C 101:2, 6; ver também D&C 105:2–9). Consequentemente, eles haviam “[corrompido] suas heranças” na terra de Sião (D&C 101:6).

Alguns dos santos do Missouri haviam transgredido os mandamentos do Senhor ao irem apressadamente para o condado de Jackson, ao contrário do que dizia o conselho do Senhor aos santos de não se reunirem “às pressas, para que não haja confusão, a qual produz pestilência” (D&C 63:24). Apenas aqueles que haviam se preparado material e espiritualmente, e que, após a chegada poderiam viver a lei da consagração, deveriam ir para Sião. Além disso, eles deveriam ser chamados, ou “designados pelo Santo Espírito para subirem a Sião”, e ao chegar, deveriam apresentar “um certificado de três élderes da igreja ou um certificado do bispo”, indicando sua dignidade e fidelidade (D&C 72:24–25). John Corril, um líder da Igreja no Missouri antes de se apostatar da fé, escreveu que muitos santos não seguiram essas instruções, “pois ficaram obcecados em ir para Sião. (…) Os ricos tinham receio de enviar dinheiro para comprar terras, e os pobres se amontoavam, sem um lugar apropriado para eles, contrariando o conselho do bispo e de outros” (em The Joseph Smith Papers, Histories [Documentos de Joseph Smith, História], Volume 2, Assigned Histories [Histórias atribuídas], 1831–1847, p. 146). O rápido influxo de santos para o condado de Jackson alarmou os moradores locais, que temiam perder poder econômico e político se os santos se tornassem maioria no condado.

A desunião entre os membros da Igreja teve início quando eles desprezaram a lei da consagração, recusando-se a usar sua riqueza material para cuidar dos pobres e edificar Sião. O presidente Lorenzo Snow (1814–1901) explicou: “Os santos no condado de Jackson e outras localidades, recusaram-se a cumprir a ordem da consagração, consequentemente, foi permitido que eles fossem expulsos de suas heranças; e não devem retornar até que estejam mais bem preparados para guardar a lei de Deus, sendo mais perfeitamente ensinados com relação aos seus deveres e aprendam, por suas experiências, a necessidade de serem obedientes” (“Discourse” [Discurso], Deseret News, 7 de janeiro de 1874, p. 772). 

Por muitos meses, alguns líderes da Igreja no Missouri vinham criticando e achando faltas no profeta Joseph Smith e nos líderes da Igreja em Ohio (ver The Joseph Smith Papers, Documents [Documentos de Joseph Smith], Volume 2, julho de 1831–Janeiro de 1833, ed. Matthew C. Godfrey e outros, 2013, p. 364). Em uma carta para William W. Phelps, datada de 11 de janeiro de 1833, Joseph Smith lamentou algumas acusações feitas por Phelps e A. Sidney Gilbert: “Nosso coração está profundamente entristecido devido aos sentimentos expressos em sua carta [e do irmão Sidney Gilbert], pois percebemos as atitudes que estão prejudicando Sião como uma praga, e se isso não for detectado e repelido, Sião estará madura para receber os julgamentos de Deus” (em The Joseph Smith Papers, Documents [Documentos de Joseph Smith], Volume 2, julho de 1831–janeiro de 1833, p. 367; ortografia padronizada).

Vários dias depois, Orson Hyde e Hyrum Smith, designados em “uma Conferência dos Doze Sumos Sacerdotes”, escreveram uma carta ao bispo Edward Partridge, seus conselheiros e aos santos no Missouri. Eles iniciaram sua carta citando o mandamento do Senhor de que os santos “devem ser repreendidos por causa de seu coração mau e incrédulo, assim como [os] irmãos de Sião, por terem se rebelado contra [Joseph Smith]” (D&C 84:76). Eles faziam alusão a uma carta de Sidney Gilbert que continha “insinuações vis, sórdidas e indiscriminadas”. Também condenaram outra carta que dera a entender que o profeta estava “buscando poder e autoridade monárquicos”. Devido a essas e outras transgressões cometidas pelos santos do Missouri, Orson Hyde e Hyrum Smith, “sentindo grande ansiedade pelo bem-estar de Sião”, advertiram-nos de que “os julgamentos de Deus (…) [deveria] recair sobre [Sião] a menos que eles se arrependessem e se purificassem perante o Senhor” (em The Joseph Smith Papers [Documentos de Joseph Smith], Volume 2, outubro de 1831–janeiro de 1833, pp. 373–375.)

Doutrina e Convênios 101:3–5. “Os que não querem suportar a correção, (…) não podem ser santificados”

Apesar das transgressões dos santos, o Senhor disse que ainda os “[possuía]”, prometendo que eles seriam Seus quando Ele retornasse para “reunir [Suas] joias” (D&C 101:3; ver também Malaquias 3:17). O termo “joias” do Senhor se refere aos Seus santos fiéis, que são preciosos para Ele e serão reservados como Seu tesouro quando Ele voltar. Para estarem preparados para se tornarem Suas joias, os santos precisavam ser “corrigidos e provados, assim como Abraão” (D&C 101:4). A fé de Abraão foi severamente testada quando o Senhor lhe ordenou que sacrificasse seu filho Isaque (ver Gênesis 22:1–13).

Da mesma maneira, a fim de provar sua fé e ajudá-los a entender sua necessidade de arrependimento, o Senhor permitiu aos santos no Missouri que fossem afligidos e corrigidos. Ele explicou: “Pois todos os que não querem suportar a correção, mas negam-me, não podem ser santificados” (DC 101:5). Ser santificados significa se tornar puro, santo e livre do pecado.O élder D. Todd Christofferson, do Quórum dos Doze Apóstolos, explicou os propósitos de Deus para corrigir Seus filhos:

“A repreensão divina tem, no mínimo, três propósitos: (1) persuadir-nos a arrepender-nos, (2) aperfeiçoar-nos e santificar-nos, e (3) às vezes, redirecionar o curso de nossa vida para um caminho que Deus sabe ser melhor. (…)

 Se formos receptivos, a correção necessária virá de muitas formas e de muitas fontes. Pode vir no decorrer de nossas orações, à medida que Deus nos falar à mente e ao coração por intermédio do Espírito Santo (ver D&C 8:2). Pode vir na forma de orações que são respondidas com um “Não” ou de forma diferente do que esperávamos. A repreensão pode vir ao estudarmos as escrituras e sermos lembrados de deficiências, de desobediência ou simplesmente de assuntos negligenciados.

A correção pode vir por meio de outros, especialmente daqueles que são inspirados por Deus para promover a nossa felicidade. Na Igreja atual como antigamente, foram chamados apóstolos, profetas, patriarcas, bispos e outros para ‘o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo’ (Efésios 4:12)” (“Eu repreendo e castigo a todos quantos amo”, A Liahona, maio de 2011, pp. 98–99).

Doutrina e Convênios 101:9. “Minhas entranhas estão cheias de compaixão por eles”

Na antiguidade, as estranhas eram tidas como o centro emocional de uma pessoa, especialmente da compaixão e do amor (ver Gênesis 43:30; Colossenses 3:12; 1 João 3:17; 3 Néfi 17:6; ver também D&C 101:9; 121:3–4, 45). “Nas escrituras, a compaixão significa, literalmente, ‘sofrer com outrem’. Também quer dizer demonstrar simpatia, piedade e misericórdia por outra pessoa.” (Guia para Estudo das Escrituras, “Compaixão” ,scriptures.LDS.org). Embora os membros da Igreja no Missouri tenham sido corrigidos devido a suas transgressões, o Senhor tinha compaixão por eles. Ele lhes garantiu que não os havia rejeitado como Seu povo e que “no dia da ira” ou durante sua correção, Ele “lembrar-[Se]-ia da misericórdia” (D&C 101:9). Jesus Cristo tomou sobre Si nossas “dores e aflições e tentações”, bem como nossas “enfermidades [por meio de Seu sacrifício expiatório], para que se lhe encham de misericórdia as entranhas” e de compaixão por nós (Alma 7:11–12). Ao nos achegarmos a Ele, arrependendo-nos e nos esforçando de todo o coração para obedecer Seu evangelho, o Salvador demonstrará compaixão e misericórdia, e perdoará nossos pecados.

Doutrina e Convênios 101:16. “Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus”

As escrituras contêm profecias maravilhosas relacionadas à edificação de Sião e a cidade de Nova Jerusalém como um lugar de refúgio e segurança (ver Isaías 35:10; Éter 13:5–8; D&C 42:9; 45:66–71). Por essa razão os primeiros santos estavam ansiosos para se reunir no condado de Jackson, Missouri, para começar a estabelecer Sião como o Senhor havia ordenado. Mais tarde, quando os santos foram expulsos de suas terras e casas no condado de Jackson, eles ficaram devastados e inseguros sobre o futuro de Sião. Em meio à tristeza e confusão, o Senhor os aconselhou a “[aquietarem-se]” e confiar Nele (D&C 101:16).

O presidente Gordon B. Hinckley (1910–2008) relatou uma ocasião em que foi consolado pelos princípios contidos em Doutrina e Convênios 101:16:

“Recentemente, ao debater-me mentalmente com um problema que eu considerava de suma importância, ajoelhei-me para orar. Veio-me à mente um sentimento de paz e as palavras do Senhor: ‘Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus’. Voltei-me para as escrituras e li esta afirmação tranquilizadora proferida ao profeta Joseph Smith há 150 anos: ‘Portanto, que se console vosso coração no que diz respeito a Sião; pois toda carne está em minhas mãos; aquietai-vos e sabei que eu sou Deus’ (D&C 101:16).

Deus está tecendo Sua tapeçaria de acordo com Seu próprio desígnio grandioso. Toda carne está em Suas mãos. Não é nossa prerrogativa aconselhá-Lo. Temos a responsabilidade e a oportunidade de estar em paz na mente e no coração e saber que Ele é Deus, que esta é Sua obra e que Ele não a deixará fracassar.

Não precisamos ter medo. Não precisamos nos preocupar. Não precisamos especular. Nossa necessidade imperiosa é sermos encontrados cumprindo nosso dever individualmente nos chamados que nos foram confiados. E por isso, na maioria das vezes, os santos dos últimos dias estão caminhando pela fé e trabalhando com convicção, a Igreja está sistematicamente se tornando cada vez mais forte” (“Não tosquenejará nem dormirá”, A Liahona, julho de 1983, p. 9).

Doutrina e Convênios 101:17–21. Sião e suas estacas serão estabelecidas

Apesar da expulsão dos santos do condado de Jackson, Missouri, o Senhor reafirmou que “Sião não será removida de seu lugar, apesar de seus filhos estarem dispersos” (D&C 101:17). Embora as estacas de Sião tenham se espalhado pela face da Terra, “o lugar central”, o condado de Jackson, continua a ser designado pelo Senhor como a localização da cidade de Nova Jerusalém (ver D&C 57:1–3; 101:17, 20–21).

O élder Bruce R. McConkie (1915–1985), do quórum dos Doze Apóstolos, ensinou: “Não há motivo para incerteza ou ansiedade sobre a edificação de Sião — ou a Nova Jerusalém — nos últimos dias. No passado o Senhor deu a Seu povo a chance de edificar aquela Sião de onde sairia a lei para todo o mundo. Eles fracassaram. Por quê? Porque não estavam preparados nem dignos, como ainda é o caso de nós que compomos o reino atualmente. Quando nós, como povo, estivermos preparados e dignos, o Senhor voltará a nos dar tal mandamento e a obra seguirá avante — no devido tempo, antes da Segunda Vinda, e sob a direção do presidente da Igreja. Até lá, nenhum de nós precisa tomar providências individualmente para a coligação no Missouri ou fazer preparativos para adquirir propriedades lá. Aprendamos, isto sim, os grandiosos conceitos correlatos e tornemo-nos dignos para qualquer trabalho que o Senhor venha a nos confiar no presente. Algumas coisas ainda precisam acontecer antes da construção do condado de Jackson” (A New Witness for the Articles of Faith, [Uma nova testemunha para as Regras de Fé],1985, p. 586).

Doutrina e Convênios 101:22–42

O Senhor descreve as condições durante o Milênio e declara que Seu povo do convênio deve ser “o sal da Terra”

Doutrina e Convênios 101:22–34. A natureza da vida durante o Milênio

Após serem expulsos do condado de Jackson, os santos no Missouri foram dispersos pela região vizinha. O Senhor ordenou-lhes que “se [reunissem] e [permanecessem] em lugares santos” (D&C 101:22). Um lugar santo não é apenas um templo ou uma capela, pode ser qualquer lugar onde uma pessoa desfruta do Espírito de Deus. Atualmente, o povo do Senhor de Sua Igreja se reúne em lugares santos como ramos, alas e estacas; famílias e lares; e templos. Um motivo para nos reunirmos nesses lugares santos é nos “[prepararmos] para a revelação que virá” (D&C 101:23). Isso se refere à Segunda Vinda de Jesus Cristo, quando todas as pessoas O verão. Esse acontecimento mundial será testemunhado não apenas por aqueles que vivem na mortalidade, mas também pelos justos que já faleceram e que serão ressuscitados naquela ocasião (ver D&C 61:39; 63:49–50; 101:35).

foto de uma família em frente a um templo

“Todos os que invocam meu nome e me adoram, de acordo com meu evangelho eterno, se reúnam e permaneçam em lugares santos” (D&C 101:22).

A Segunda Vinda do Salvador dará início a um período de mil anos conhecido como o Milênio. A Terra será purificada de sua corrupção e será transformada, ou renovada, para que o Seu “conhecimento e [Sua] glória[a] habitem” (ver D&C 101:24–25; ver também Regras de Fé 1:10). O Milênio também será um período de grande paz. A “inimizade”, ou ódio e violência, entre a vida animal e os homens e mulheres mortais cessará (ver Isaías 11:6–9; D&C 101:26). O poder de Deus e a retidão daqueles que permanecerem na Terra amarrará Satanás de modo que ele “não terá poder para tentar [filho de Deus] algum” (ver Apocalipse 20:2–3; 1 Néfi 22:26; D&C 101:28).

A tristeza devido ao falecimento de entes queridos também cessará. Embora a mortalidade continuará na Terra durante o Milênio, as crianças não morrerão prematuramente, mas crescerão e viverão até “a idade de uma árvore” (D&C 101:30; ver também D&C 63:50–51). Profetizando sobre o Milênio, o profeta Isaías sugeriu que a idade de uma árvore é por volta de “cem anos” (ver Isaías 65:20, 22). O presidente Joseph Fielding Smith (1876–1972) ensinou que na Segunda Vinda de Jesus Cristo, “haverá mudança nos que permanecerem na Terra; serão vivificados para que não estejam sujeitos a morte até que sejam idosos. Os homens [e as mulheres] morrerão quando tiverem cem anos de idade, e passarão de imediato para o estado imortal. Não se construirão sepulturas durante esses mil anos” (O Caminho da Perfeição, 1970, pp. 298–299). Assim, quando as pessoas morrerem durante o Milênio, elas passarão instantaneamente, ou “num piscar de olhos”, da mortalidade para um glorioso estado de ressurreição (D&C 101:31).

Doutrina e Convênios 101:32–34. “O Senhor (…) revelará todas as coisas”

Explicando como “o Senhor (…) revelará todas as coisas” quando Ele voltar (D&C 101:33), o élder Bruce R. McConkie ensinou: “Todas as coisas serão reveladas no Milênio. A parte selada do Livro de Mórmon será revelada; as placas de latão serão traduzidas; os escritos de Adão, Enoque, Noé e Abraão, e diversos profetas serão revelados. Aprenderemos milhares de vezes mais sobre o ministério terreno do Senhor Jesus do que sabemos agora. Conheceremos os grandes mistérios do reino que não foram revelados nem mesmo àqueles que andaram e falaram com o Eterno. Aprenderemos os detalhes da criação e da origem do homem”. O élder McConkie concluiu que no Milênio, “nada embaixo ou acima da Terra será retido” (The Millennial Messiah: The Second Coming of the Son of Man [O Messias Milenar: A Segunda Vinda do Filho do Homem], 1982, p. 676; ver também 2 Néfi 30:15–18; D&C 121:26–28).

Doutrina e Convênios 101:35–38. “Todos os que sofrerem perseguição pelo meu nome”

Os santos no Missouri sofreram enormes dificuldades devido a uma intensa perseguição religiosa. O Senhor prometeu-lhes “E todos os que sofrerem perseguição pelo meu nome e perseverarem com fé, ainda que lhes seja requerido dar a vida por minha causa, participarão de toda esta glória” (D&C 101:35; ver também D&C 101:26–34).

O presidente James E. Faust (1920–2007), da Primeira Presidência, relatou como dois líderes fiéis da Igreja que moravam no México nos anos 1900, suportaram fielmente a perseguição em nome do Salvador:

“Rafael Monroy era presidente do pequeno ramo de San Marcos, México, e Vicente Morales era seu primeiro conselheiro. Em 17 de julho de 1915, foram capturados pelos zapatistas [um grupo revolucionário mexicano]. Disseram-lhes que seriam poupados se entregassem suas armas e renunciassem à sua estranha religião. O irmão Monroy disse a seus captores que ele não tinha nenhuma arma e simplesmente tirou do bolso sua Bíblia e o Livro de Mórmon. Ele disse: ‘Cavalheiros, essas são as únicas armas que eu carrego; são as armas da verdade contra o erro’.

Como nenhuma arma foi encontrada, os irmãos foram cruelmente torturados para que contassem onde as armas estavam escondidas. Mas não havia nenhuma arma. Depois foram levados sob escolta para os arredores da pequena cidade, onde seus captores os encostaram a uma árvore diante de um pelotão de fuzilamento. O oficial encarregado lhes ofereceu liberdade se abandonassem sua religião e se unissem aos zapatistas, mas o irmão Monroy respondeu: ‘Minha religião vale mais para mim do que minha própria vida e não posso renunciar a ela’.

Disseram-lhes que seriam fuzilados e lhes perguntaram se tinham algum pedido. O irmão Rafael perguntou se poderia fazer uma oração antes de ser executado. Lá, na presença de seus executores, ele se ajoelhou e, num tom que todos podiam ouvir, orou e pediu que Deus abençoasse e protegesse seus entes queridos e cuidasse do pequeno ramo que ficaria sem seu líder. Ao terminar a oração, ele usou as palavras do Salvador quando foi pendurado na cruz e orou por seus executores: ‘Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem’ (Lucas 23:34) após o que, o pelotão fuzilou o irmão Monroy e o irmão Morales” (“Discipulado”, A Liahona, novembro de 2006, pp. 21–22).

Rafael Monroy e membros de sua família

Rafael Monroy com sua filha, esposa, mãe e irmãs. Ele era um líder da Igreja no México e foi torturado e morto por um esquadrão de fuzilamento juntamente com Vicente Morales por se recusar a negar sua crença na Igreja.

Esse relato demonstra que mesmo quando são fiéis, nem sempre os santos são protegidos da perseguição e da morte. Nem toda perseguição é tão intensa e violenta quanto a que os santos sofreram no Missouri ou os líderes da Igreja no México. Para a maioria das pessoas, a perseguição religiosa vem de várias formas, inclusive ser insultada ou menosprezada por suas convicções religiosas.

O élder Dallin H. Oaks, do Quórum dos Doze Apóstolos, ensinou que os santos devem tomar cuidado para não perseguirem ou serem intolerantes com pessoas cujas crenças religiosas sejam diferentes das suas:

“Todos nós deveríamos seguir os ensinamentos do evangelho de amar ao próximo e evitar a discórdia. Os seguidores de Cristo devem ser exemplos de civilidade. Devemos amar todas as pessoas, ser bons ouvintes e mostrar respeito por suas crenças genuínas. Embora discordemos, não devemos ser desagradáveis. Nossa posição e comunicação em assuntos controversos não devem ser contenciosas. Devemos ser sábios ao explicar e seguir nossos padrões e em exercer nossa influência. Dessa forma, pedimos que os outros não se ofendam com nossas sinceras crenças religiosas e o livre exercício de nossa religião. Incentivamos todos a praticar a Regra de Ouro do Salvador: ‘Tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-o também vós a eles’ (Mateus 7:12). (…)

 Devemos agir com boa vontade para com todos, rejeitando qualquer tipo de perseguição, incluindo aquelas relacionadas à raça, à etnia, à crença ou à descrença religiosa e às diferenças de orientação sexual” (“Amar os outros e conviver com as diferenças”, A Liahona, novembro de 2014, pp. 26–27).

Doutrina e Convênios 101:39–42. “O sal da Terra e o sabor dos homens”

Na revelação registrada em Doutrina e Convênios 101, o Salvador comparou os membros de Sua Igreja ao “sal da Terra” (D&C 101:39; ver também Mateus 5:13; 3 Néfi 12:13). O élder Carlos E. Asay (1926–1999), dos setenta, explicou o simbolismo do sal: “De acordo com os historiadores, ‘no passado, o sal tinha um significado religioso e era um símbolo de pureza. (…) Entre muitos povos, o sal ainda é usado como um sinal de honra, amizade e hospitalidade ’ (The World Book Encyclopedia, 1978, vol. 17, p. 69)” (“O sal da Terra: Sabor dos homens e salvadores dos homens” ,A Liahona, outubro de 1980, p. 70).

Na lei de Moisés, o sal era acrescentado às ofertas de sacrifício, mostrando que o sal também está associado a fazer convênios (ver Levítico 2:13). Como “o sal da Terra”, os membros da Igreja devem ser exemplos de pureza e fidelidade aos convênios que fizeram. O Senhor chama Seu povo do convênio para que seja “o sabor dos homens” (D&C 101:40). Sabor se refere ao tempero ou ao paladar; o sal melhora o sabor e a qualidade da comida. Sabor também se refere às propriedades únicas de preservar e de curar que o sal possui. Como “sabor dos homens”, os membros do convênio da Igreja devem ser uma influência justa no mundo e ajudar a preservar, ou salvar, as pessoas e levá-las a Jesus Cristo e Seu evangelho eterno (ver D&C 103:9–10). Entretanto, se os membros da Igreja perderem o “sabor”, eles perdem a habilidade de influenciar as pessoas para o bem e guiá-las ao Salvador.

O élder Carlos E. Asay também ensinou:

“Um químico de renome mundial me disse que o sal não perde o sabor com o tempo. Só perde o sabor por mistura e contaminação. (…)

O sabor e a qualidade do homem se dissipam quando ele contamina a mente com pensamentos impuros, profana os lábios faltando com a verdade e faz mau uso de seu vigor ao praticar más ações. (…)

Ofereço estas diretrizes simples, (…) como meio de preservarmos nosso sabor: Se não for puro, não pense; se não for verdade, não diga; se não for bom, não faça (ver Marcus Aurelius, ‘The Meditations of Marcus Aurelius’ [Marco Aurélio, ‘Meditações’], The Harvard Classics, Charles W. Eliot, ed., Nova York, P. F. Collier and Son, 1909, p. 211)” (“Sal da Terra: Sabor dos homens e salvadores dos homens”, outubro de 1980, pp. 70–71).

É importante lembrar que, diferente do sal, os membros do convênio da Igreja podem recuperar o “sabor”, ou pureza e atributos justos, por meio do dom de Deus do arrependimento, que está ao nosso alcance por intermédio de Jesus Cristo e Sua Expiação.

Doutrina e Convênios 101:43–75

O Senhor dá a parábola do nobre e das oliveiras e admoesta os santos a continuarem o trabalho de coligar

Doutrina e Convênios 101:43–62. A parábola do nobre e das oliveiras

A parábola do nobre e das oliveiras é exclusiva de Doutrina e Convênios, embora ela compartilhe semelhanças com parábolas ensinadas por Isaías e Jesus Cristo (ver Isaías 5:1–7; Mateus 21:33–46). O Senhor usou a parábola para explicar por que os santos foram expulsos da terra de Sião e para revelar Sua vontade concernente a redenção de Sião.

O Senhor comparou a terra de Sião no condado de Jackson, Missouri, a um pedaço de terra escolhida que pertencia a um nobre. As instruções do nobre ao servo, de plantar 12 oliveiras naquela terra representa o mandamento do Senhor aos santos de estabelecerem povoados em Sião (ver D&C 57:8, 11, 14). Posicionar os atalaias ao redor das oliveiras pode representar o chamado dos líderes da Igreja para guiar os santos em Sião. Na antiguidade, atalaias em uma muralha ou torre tinham a responsabilidade de proteger as cidades, bem como as vinhas e os campos, avisando do perigo iminente do ataque de inimigos (ver Ezequiel 33:1–6). As escrituras comparam os profetas e líderes do Senhor aos atalaias (ver Isaías 62:6; Jeremias 6:17; Ezequiel 3:17; 33:7). Por intermédio de revelação, esses atalaias são capazes de ver o inimigo à distância e advertir os santos de perigos futuros.

A interpretação da torre na parábola não é clara. Pode representar o templo que o Senhor ordenou que os santos edificassem no condado de Jackson (ver D&C 57:2–3; 84:1–5; 97:10–12). Mais amplamente, a torre pode representar Sião, pois os santos só poderiam edificá-la obedecendo aos mandamentos do Senhor (ver D&C 101:11–12; 105:3–6). Na parábola, os servos do nobre “começaram a construir uma torre”, mas depois “tornaram-se muito preguiçosos e não deram ouvidos às ordens de seu Senhor” (D&C 101:46, 50). Consequentemente, seus inimigos os dispersaram e destruíram seu trabalho.

Na parábola, o nobre ordenou aos servos que reunissem “toda a força de [sua] casa” e fossem às terras de sua vinha e a redimissem (D&C 101:55). O servo representa o profeta Joseph Smith (ver D&C 103:21–22). Em obediência ao mandamento do Senhor, o profeta organizou o acampamento de Israel (mais tarde ficou conhecido como o acampamento de Sião) para redimir Sião e devolver aos santos suas terras e seus lares (ver D&C 103:29–40).

A parábola prenunciava que transcorreria um determinado tempo entre o acampamento de Israel e a final redenção de Sião. Quando o servo perguntou ao nobre quando a vinha seria redimida, o nobre respondeu: “Quando eu desejar” (ver D&C 101:59–60). A parábola termina dizendo que “depois de muitos dias, todas as coisas se cumpriram” (D&C 101:62). Em outra revelação que encerrou o acampamento de Israel, o Senhor explicou por que os santos deveriam “[esperar] um pouco” pela redenção de Sião (D&C 105:9; D&C 105:1–19).

Doutrina e Convênios 101:63–66. “Preciso reunir meu povo”

Após dar a parábola do nobre e das oliveiras, o Senhor explicou Sua vontade “em relação a todas as igrejas”, ou seja, todas as congregações dos santos (D&C 101:63). Ele os instruiu a continuarem a “reunião [dos] santos” para que Ele “os [edificasse] ao [Seu] nome em lugares santos” (D&C 101:64). O Senhor prometeu “reunir [Seu] povo, segundo a parábola do trigo e do joio” (D&C 101:65). O joio é uma erva daninha muito semelhante ao trigo quando jovem, mas ele pode ser distinguido do trigo quando já está maduro. Na parábola do joio e do trigo, o trigo representa os membros fiéis da Igreja e o joio representa os iníquos que estão espalhados entre eles (ver Mateus 13:24–30, 36–43; D&C 86:1–7).

O Senhor comparou a coligação de Seu povo à colheita do trigo que depois é reunido nos “celeiros” (D&C 101:65). Na antiguidade, o trigo era reunido em celeiros, ou armazéns, para ser armazenado em segurança. Falando sobre Alma 26:5, em que Amon se refere a “feixes”, ou molhos de grãos, sendo “recolhidos aos celeiros”, o élder David A. Bednar, do Quórum dos Doze Apóstolos ensinou: “Os celeiros são os templos sagrados” (“Ter honrosamente um nome e uma posição”, A Liahona, maio de 2009, p. 97). Os membros da Igreja recebem bênçãos protetoras e estão preparados para a glória celestial e a vida eterna ao se reunirem nos templos sagrados do Senhor para receber as ordenanças de salvação e fazer convênios para si mesmos e em nome de seus antepassados.

O profeta Joseph Smith (1805–1844) ensinou: “Que objetivo poderá ter a coligação (…) do povo de Deus, em qualquer época do mundo? (…) O objetivo principal foi edificar uma casa ao Senhor, na qual revelaria a Seu povo as ordenanças de Sua casa e as glórias de Seu reino e ensinaria às pessoas o caminho da salvação” (Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Joseph Smith, 2007, pp. 438–439).

Para mais explicações sobre a parábola do joio e do trigo, ver o comentário para Doutrina e Convênios 86:1–7, neste manual.

Doutrina e Convênios 101:76–101

O Senhor aconselha os santos a buscar uma maneira de voltar para casa no Missouri

Doutrina e Convênios 101:76–80. Deus estabeleceu a Constituição dos Estados Unidos

O Senhor instruiu os santos do Missouri a “exigir”, ou apelar ao governo para obter “compensação e redenção” (D&C 101:76), dizendo-lhes que eles deveriam continuar a buscar a justiça e ajudar a retomar suas terras no condado de Jackson. Ele também explicou que as leis da Constituição dos Estados Unidos “devem ser mantidas para os direitos e a proteção de [todo povo], segundo princípios justos e santos;

Para que todo homem aja, em doutrina e princípio (…) , de acordo com o arbítrio moral que lhe dei, para que todo homem seja responsável por seus próprios pecados no dia do juízo” (D&C 101:77–78).

“Com esse propósito”, o Senhor declarou, “estabeleci a Constituição deste país, pelas mãos de homens prudentes que levantei para este propósito” (D&C 101:80).

O presidente Ezra Taft Benson (1899–1994) expressou sua gratidão e respeito pela Constituição dos Estados Unidos: “Eu reverencio a Constituição dos Estados Unidos como um documento sagrado. Para mim, suas palavras se comparam às revelações de Deus, pois Deus colocou Seu selo de aprovação na Constituição deste país. Testifico que o Deus do céu escolheu e enviou alguns de Seus espíritos mais preciosos para estabelecer as bases desse governo como um prólogo da restauração do evangelho e da Segunda Vinda de nosso Salvador” (“The Constitution—A Glorious Standard”[A Constituição — Um glorioso estandarte], Ensign, maio de 1976, p. 93).

Doutrina e Convênios 101:78. Liberdade religiosa a Constituição dos Estados Unidos

A perseguição aos primeiros santos, devido a suas crenças, demonstrou a importância de proteger a liberdade religiosa para que o evangelho restaurado fosse estabelecido e, por fim, levado a toda a Terra. Em dezembro de 1833, durante um período de intensa perseguição contra os santos no Missouri, o Senhor testificou de Sua mão divina no estabelecimento da Constituição e os direitos de liberdade religiosa que ela protegia.O élder Bruce R. McConkie explicou:

“Ao virem para a América para escapar da perseguição religiosa, os primeiros colonizadores — assegurando suas diversas crenças religiosas — imediatamente estabeleceram seu próprio sistema de adoração e ajudaram a condenar e perseguir todas as outras. Bruxas foram queimadas e hereges perseguidos, tal como no Velho Mundo. Os colonizadores americanos haviam simplesmente transportado as tradições de uma cristandade falsa e decadente para as novas terras. Mas a Guerra da Independência e a necessidade de uma sobrevivência nacional trouxe à luz a Constituição com esta cláusula: ‘O Congresso não criará leis para o estabelecimento de uma religião ou para proibir o seu livre exercício’. Assim, a liberdade religiosa foi quase imposta sobre eles por um poder além de seu controle, e a união da igreja e do estado foi banida para sempre nos Estados Unidos.

Que a mão do Senhor está em tudo isso é axiomático [claro]. Ele nos diz: ‘Estabeleci a Constituição deste país, pelas mãos de homens prudentes que levantei para este propósito’. Por quê? Para que as leis sejam estabelecidas e ‘mantidas para os direitos e a proteção de toda carne, segundo princípios justos e santos; para que todo homem aja, em doutrina e princípio relativos ao futuro, de acordo com o arbítrio moral que lhe dei, para que todo homem seja responsável por seus próprios pecados no dia do juízo’ (D&C 101:77–80” (A New Witness for the Articles of Faith, [Uma nova testemunha para as Regras de Fé], p. 679).

Doutrina e Convênios 101:78. “Arbítrio moral” e liberdade religiosa

O Senhor revelou que “arbítrio moral” — o poder de escolher e agir por nós mesmos — é vital para nossa responsabilidade de prestar contas e nossa habilidade de agir “em doutrina e princípio” (D&C 101:78).

“O arbítrio é essencial no plano de Salvação do Pai Celestial, e a liberdade religiosa garante que possamos usar esse arbítrio para viver e compartilhar o que cremos. Todos precisam dessa liberdade, não importa no que acreditem.

A despeito da sua importância, a liberdade religiosa está cada vez mais ameaçada no mundo. É por isso que os apóstolos têm falado sobre esse tópico dezenas de vezes na última década. Como profetas, videntes e reveladores, eles reconhecem a necessidade de defender a liberdade religiosa. Cada um de nós tem um papel a desempenhar” (“Religious Freedom” [Liberdade religiosa], LDS.org).

família saindo de uma capela da Igreja

A liberdade religiosa assegura que possamos usar nosso arbítrio para viver e compartilhar o que acreditamos (ver D&C 101:77–78).

O élder Robert D. Hales, do Quórum dos Doze Apóstolos, ensinou: “Ao trilharmos o caminho da liberdade espiritual, nestes últimos dias, devemos entender que a fiel utilização de nosso arbítrio depende de termos liberdade religiosa. Já sabemos que Satanás não quer que tenhamos essa liberdade. Ele tentou destruir o arbítrio moral no céu, e agora na Terra está ferozmente minando, opondo-se e disseminando confusão sobre a liberdade religiosa — o que é e por que é essencial para nossa vida espiritual e para nossa salvação” (“Preservar o arbítrio, proteger a liberdade religiosa”, A Liahona, maio de 2015, p. 112).

Doutrina e Convênios 101:81–95. “Compará-los-ei à parábola da mulher e do juiz injusto”

Na revelação registrada em Doutrina e Convênios 101, o Senhor repetiu a parábola que se encontra no Novo Testamento, da mulher que continuou a apelar para um juiz até que ele lhe garantisse ajuda (ver D&C 101:81–84; ver também Lucas 18:1–8). Ele comparou essa parábola aos santos do Missouri, a fim de incentivá-los a continuar a pedir a ajuda dos líderes governamentais. Os santos foram buscar justiça, começando a apelar para um juiz, depois, se necessário, para o governador do Missouri, e finalmente, para o presidente dos Estados Unidos (ver D&C 101:85–88). O Senhor disse que se a alegação deles não fosse respondida, Ele Se “[ergueria] e [sairia] de seu esconderijo e, em sua fúria, [afligiria] a nação” (D&C 101:89).

Os santos do Missouri seguiram as instruções do Senhor e apelaram para os tribunais no condado de Jackson por “compensação” (D&C 101:76), ou recompensa por suas propriedades perdidas. Entretanto, os juízes e júris locais, que apoiavam as pessoas que expulsaram os santos do condado de Jackson, tornaram impossível aos santos receberem uma compensação dos tribunais (ver The Joseph Smith Papers, Documents [Documentos de Joseph Smith], Volume 3, fevereiro de 1833–março de 1834, pp. 468–469).

Os santos “pediram ao governador do Missouri, Daniel Dunklin, que os ajudasse a retomar as propriedades dos membros da Igreja no condado de Jackson, que fossem protegidos da violência até que fossem capazes de proteger a si mesmos e entrassem com uma petição no tribunal devido à violência contra os mórmons”. O governador Dunklin estava disposto a usar a milícia do estado, ou soldados civis, para escoltar os membros da Igreja de volta para suas casas, mas ele “indicou que não tinha a autoridade para manter uma força militar no condado de Jackson para proteger os mórmons de possíveis ataques no futuro” (em The Joseph Smith Papers, Documents [Documentos de Joseph Smith], Volume 3, fevereiro de 1833–março de 1834, p. 407). Naquela época, as milícias locais aplicavam a lei e a ordem, e não os departamentos de polícia como hoje em dia. Embora o governador Dunklin tivesse concordado em ajudar os santos a retomar suas propriedades, no final, ele não proveu a proteção que havia prometido (ver The Joseph Smith Papers, Documents [Documentos de Joseph Smith], Volume 3, fevereiro de 1833–março de 1834, p. 334).

Em abril de 1834, os líderes da Igreja enviaram uma carta ao presidente dos Estados Unidos, Andrew Jackson, pedindo-lhe que enviasse tropas federais ao condado de Jackson para proteger os direitos religiosos e à propriedade dos santos. Em resposta, o ministro da Guerra, Lewis Cass, enviou uma carta aos líderes da Igreja “declarando que o presidente não tinha o direito de enviar tropas ao Missouri para auxiliar na aplicação de leis estaduais” (em The Joseph Smith Papers, Documents [Documentos de Joseph Smith], Volume 3, fevereiro de 1833–março de 1834, p. 396, nota 441).

Apesar dos repetidos esforços, os santos do Missouri não conseguiram receber a proteção e a compensação das autoridades do governo pelas injustiças que haviam sofrido. O Senhor prometeu que, se fosse, o caso, Ele sairia de Seu esconderijo e “[afligiria] a nação” (D&C 101:89), ou que faria recair Seu julgamento sobre ela.