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Capítulo 8: Doutrina e Convênios 19


Capítulo 8

Doutrina e Convênios 19

Introdução e cronologia

À medida que a tradução do Livro de Mórmon estava prestes a ser concluída em junho de 1829, o profeta Joseph Smith e Martin Harris contrataram o impressor Edgar B. Grandin para imprimir 5 mil exemplares do Livro de Mórmon por 3 mil dólares. No entanto, Grandin não começaria a impressão até que recebesse a garantia do pagamento pelo trabalho, então Martin Harris fez um acordo verbal para custear a impressão, hipotecando parte de sua fazenda. Algum tempo depois do acordo inicial, Martin Harris ficou preocupado com a hipoteca de sua fazenda. Na revelação registrada em Doutrina e Convênios 19, provavelmente recebida no verão de 1829, o Senhor ordenou a Martin Harris que “[desse] uma porção de [seus] bens (…) [e] [pagasse] a dívida contraída com o impressor” (D&C 19:34–35). O Senhor também revelou verdades importantes sobre Seu sacrifício expiatório e ensinou sobre o arrependimento.

Início de 1829Joseph Smith e Martin Harris contratam Egbert Grandin para publicar 5 mil exemplares do Livro de Mórmon.

1º de julho de 1829Joseph Smith conclui a tradução do Livro de Mórmon.

Verão de 1829Doutrina e Convênios 19 é recebida.

25 de agosto de 1829Martin Harris hipoteca sua fazenda por 3 mil dólares para pagar pela impressão do Livro de Mórmon.

26 de março de 1830Exemplares do Livro de Mórmon foram disponibilizados para compra.

Doutrina e Convênios 19: Contexto histórico adicional

Em algum momento em junho de 1829, o profeta Joseph Smith e Martin Harris visitaram gráficas em Palmyra e Rochester, Nova York, com a esperança de conseguir alguém para imprimir o Livro de Mórmon. Egbert B. Grandin tinha 23 anos de idade e trabalhava como proprietário e editor do jornal Wayne Sentinel em Palmyra, Nova York, quando foi abordado sobre o trabalho de impressão do Livro de Mórmon. Ele se recusou a princípio por causa de fortes atitudes críticas na região de Palmyra contra Joseph Smith. Quando Grandin foi abordado pela segunda vez, Martin Harris se comprometeu a hipotecar sua fazenda como garantia do pagamento dos custos da publicação. O preço de Grandin para imprimir o pedido extremamente grande de 5 mil exemplares do Livro de Mórmon era 3 mil dólares.

Joseph apresentou a requisição de direitos autorais do Livro de Mórmon em 11 de junho de 1829. Depois que a tradução do Livro de Mórmon foi concluída em aproximadamente 1º de julho de 1829, Joseph Smith pediu a Oliver Cowdery que começasse a fazer uma cópia do manuscrito inteiro para que evitassem ter os mesmos problemas causados pela perda das 116 páginas. Para proteger o manuscrito, levaram apenas algumas páginas do manuscrito de cada vez para o impressor.

Embora Martin Harris houvesse concordado anteriormente em garantir o pagamento, Grandin decidiu que não compraria novos tipos de metal ou começaria a imprimir até que o acordo fosse finalizado. Seria necessário que Martin arriscasse quase toda a sua propriedade para garantir o pagamento. Doutrina e Convênios 19 provavelmente foi recebida no verão de 1829, proporcionando-lhe a confiança necessária para seguir em frente com o acordo. (Observação: As primeiras edições de Doutrina e Convênios mostram a data da revelação registrada em Doutrina e Convênios 19 como março de 1830. Pesquisas recentes sugerem que a revelação provavelmente foi recebida durante o verão de 1829. Esta data é usada na edição das escrituras de 2013 e neste capítulo.) Em 25 de agosto de 1829, Martin Harris hipotecou sua propriedade para Grandin como forma de pagamento da publicação (ver The Joseph Smith Papers, Documents, Volume 1: July 1828–June 1831, comp. por Michael Hubbard MacKay e outros, 2013, pp. 86–89). “Assim fazendo, ele assegurou seu lugar como o mais significativo patrocinador financeiro do Livro de Mórmon e, consequentemente, à Igreja em seus primórdios. Nenhuma outra pessoa dentre os amigos de Joseph Smith, mais jovens e mais pobres, poderia ter dado essa contribuição essencial” (Matthew McBride, “As contribuições de Martin Harris”, Revelações em Contexto, comp. por Matthew McBride e James Goldberg, 2016, p. 8, ver também history.LDS.org).

Grandin e seu assistente John H. Gilbert começaram a trabalhar imediatamente na impressão. Em março de 1830, exemplares do Livro de Mórmon foram disponibilizados para compra.

Mapa 4: Palmyra-Manchester, Nova York, 1820–1831

Doutrina e Convênios 19:1–20

O Senhor explica as consequências de não se arrepender e descreve Seu sofrimento pelo pecado

Doutrina e Convênios 19:2–3. “Tendo cumprido e consumado a vontade (…) [do] Pai”

Jesus Cristo sempre obedeceu à vontade do Pai em todas as coisas. No Conselho nos Céus, quando o Pai perguntou quem Ele enviaria para redimir Seus filhos, Jesus Cristo declarou: “Pai, faça-se a tua vontade e seja tua a glória para sempre” (Moisés 4:2). O Salvador testificou do propósito de Sua missão mortal quando Ele ensinou Seus discípulos: “Eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou” (João 6:38). Em Doutrina e Convênios 19:2, a frase “tendo cumprido e consumado a vontade daquele a quem pertenço” se refere ao cumprimento da missão mortal do Salvador, especialmente Seu sacrifício expiatório. No momento final de agonia na cruz, tendo satisfeito as eternas demandas da justiça para os pecados do mundo, Ele clamou: “Pai, está consumado, a tua vontade está feita” [e] rendeu o espírito [Tradução de Joseph Smith, Mateus 27:54 (em Mateus 27:50, nota de rodapé a)]. Após Sua Ressurreição, o Salvador Se apresentou à multidão nefita afirmando: “Bebi da taça amarga que o Pai me deu e glorifiquei o Pai, tomando sobre mim os pecados do mundo, no que me submeti à vontade do Pai em todas as coisas desde o princípio” (3 Néfi 11:11).

Essa perfeita submissão à vontade do Pai Celestial fez com que Jesus Cristo recebesse todo o poder, inclusive o poder para destruir Satanás e todo o mal no final do mundo. O presidente Ezra Taft Benson (1899–1994) ensinou como o cumprimento da vontade do Pai Celestial conferiu todo o poder a Jesus Cristo: “A fim de qualificar-se como o Redentor de todos os filhos de nosso Pai, Jesus teve de ser perfeitamente obediente a todas as leis de Deus. Por ter-Se submetido à vontade do Pai, Ele cresceu ‘de graça em graça, até receber a plenitude’ do poder do Pai. E assim, Ele ‘recebeu todo o poder, tanto nos céus como na Terra’ (D&C 93:13, 17)” (Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Ezra Taft Benson, 2014, pp. 100–101).

Divino Redentor

Divine Redeemer [Divino Redentor], de Simon Dewey

Doutrina e Convênios 19:3. Jesus Cristo julgará todas as pessoas de acordo com suas próprias ações

O evangelho de Jesus Cristo ensina que a obediência é um princípio fundamental. As bênçãos recebidas por aqueles que escolhem obedecer são imediatas e eternas. A desobediência faz com que uma pessoa perca bênçãos e traz punição e perda do Espírito. Todos os filhos de Deus serão julgados de acordo com suas ações ou seus esforços para ser obedientes. O “último grande dia do juízo” (D&C 19:3) refere-se ao Juízo Final, que acontecerá no final do Milênio.

O élder Dallin H. Oaks, do Quórum dos Doze Apóstolos, esclareceu como nossas obras e ações influenciam como seremos julgados:

“Em muitas passagens da Bíblia e das escrituras modernas, lemos sobre um Juízo Final em que todas as pessoas serão recompensadas de acordo com seus atos, suas obras ou os desejos de seu coração. Mas outras escrituras ampliam essa ideia e afirmam que seremos julgados pela condição que tivermos alcançado. (…)

O Juízo Final não é apenas um balanço do total de atos bons e ruins, ou seja, do que fizemos. É a constatação do efeito final de nossos atos e pensamentos, ou seja, do que nos tornamos. Não basta fazer tudo mecanicamente. Os mandamentos, as ordenanças e os convênios do evangelho não são uma lista de depósitos que precisamos fazer numa conta bancária celestial. O evangelho de Jesus Cristo é um plano que nos mostra como podemos nos tornar o que nosso Pai Celestial deseja que nos tornemos” (“O desafio de tornar-se”, A Liahona, janeiro de 2001, p. 40).

Doutrina e Convênios 19:4–12. Castigo infinito e eterno

Referindo-se ao julgamento que virá sobre os que escolherem não se arrepender de seus pecados, os termos “castigo infinito” e “castigo eterno” (ver D&C 19:11–12) não se referem ao período de tempo em que os iníquos sofrerão. O Salvador disse: “Eu sou infinito e o castigo que é dado pela minha mão é castigo infinito, pois Infinito é meu nome” (D&C 19:10). Como o Salvador é Infinito e Eterno, os termos “castigo infinito” e “castigo eterno” se referem à fonte da punição em vez da duração.

Com exceção daqueles que herdarão as trevas exteriores, cada pessoa que sofre o castigo de Deus, por fim, será redimida para um reino de glória (ver D&C 76:31, 38–39). O élder James E. Talmage (1862–1933), do Quórum dos Doze Apóstolos, explicou: “O inferno tem uma saída e também uma entrada. O inferno não é um lugar para onde um juiz vingativo envia prisioneiros a fim de que sofram e sejam punidos principalmente para sua própria glória; é um local preparado para instruir e disciplinar aqueles que deixaram de aprender aqui na Terra aquilo que deviam. É verdade que está escrito castigo perpétuo, sofrimento interminável e condenação eterna. Essa é uma expressão medonha. O Senhor, porém, em Sua misericórdia, esclareceu o significado dessas palavras. ‘Castigo eterno’, diz Ele, é o castigo de Deus, pois Ele é eterno; e essa condição, estado ou possibilidade sempre existirá, para o pecador que a merece e realmente necessita de tal condenação; isto não quer dizer que o sofredor ou pecador terá de suportar um sofrimento eterno e infinito. Ninguém permanecerá no inferno mais do que o necessário para torná-lo apto a obter uma condição melhor. Quando a pessoa alcançar aquele estágio, as portas da prisão serão abertas, e haverá regozijo entre as hostes que a receberão em um melhor estado. O Senhor não modificou o mínimo que seja o que disse nas dispensações anteriores a respeito da maneira como funcionam Sua lei e Seu evangelho, mas deixou bem claro para nós a Sua bondade e misericórdia acima de tudo, pois Sua glória e obra é proporcionar a imortalidade e vida eterna ao homem” (Conference Report, abril de 1930, p. 97).

Doutrina e Convênios 19:13, 15, 20. “Ordeno que te arrependas”

O mandamento repetido de se arrepender em toda a revelação registrada em Doutrina e Convênios 19 ilustra o amor do Senhor por Martin Harris, que, se Martin Harris se arrependesse, ele não teria de sofrer como o Senhor sofreu. Esse mesmo convite se aplica a cada um de nós. O Senhor quer que nos arrependamos para não precisarmos sofrer.

O élder D. Todd Christofferson, do Quórum dos Doze Apóstolos, ensinou por que o arrependimento nos permite receber a misericórdia e o perdão de Deus: “Somente por causa da Expiação de Jesus Cristo é que existe a opção do arrependimento. É Seu infinito sacrifício que ‘proporciona aos homens meios para que tenham fé para o arrependimento’ (Alma 34:15). O arrependimento é a condição necessária e a graça de Cristo é o poder pelo qual ‘a misericórdia pode satisfazer as exigências da justiça’ (Alma 34:16)” (“A divina dádiva do arrependimento”, A Liahona, novembro de 2011, p. 38).

Doutrina e Convênios 19:15–17. Arrepender-se ou sofrer como o Salvador sofreu

Para receber as bênçãos da Expiação de Jesus Cristo, devemos nos arrepender de nossos pecados. Aqueles que se recusam a aceitar Jesus Cristo e se arrepender sofrerão por seus pecados. O élder Neal A. Maxwell (1926–2004), do Quórum dos Doze Apóstolos, ensinou o seguinte sobre a decisão de se arrepender ou sofrer: “Não permitam que a redenção de Jesus por nós pare na dimensão eterna da Expiação. (…) Aceitemos com entusiasmo o dom da vida eterna! Teremos, no final, que escolher entre o modo de vida de Cristo ou o modo como Ele sofreu! (“Vencer… assim como Eu venci”, A Liahona, julho de 1987, p. 73.)

O élder D. Todd Christofferson explicou por que devemos escolher nos arrepender: “Se um homem rejeitar a Expiação do Salvador, ele próprio terá que redimir sua dívida para com a justiça. (…) O sofrimento de uma pessoa não redimida por seus pecados é conhecido como inferno. Significa estar sujeito ao diabo, sendo descrito nas escrituras por metáforas, como a de estar acorrentado ou em um lago de fogo e enxofre. Leí implorou a seus filhos que escolhessem a Redenção de Cristo ‘e que não escolhêsseis a morte eterna, conforme a vontade da carne e o mal que nela há, que dá ao espírito do diabo poder para escravizar, para levar-vos ao inferno, a fim de reinar sobre vós em seu próprio reino’ (2 Néfi 2:29). Mesmo assim, graças à Expiação de Jesus Cristo, o inferno tem fim, e aqueles que são obrigados a passar por ele são ‘redimidos do diabo [na] última ressurreição’ (Doutrina e Convênios 76:85). Os relativamente poucos ‘filhos de perdição’ são ‘os únicos sobre quem a segunda morte terá qualquer poder [duradouro]; sim, em verdade, os únicos que não serão redimidos no devido tempo do Senhor depois de terem sofrido a sua ira’ (Doutrina e Convênios 76:32, 37–38)” (“Redenção”, A Liahona, maio de 2013, p. 112, nota 4).

Embora o arrependimento torne possível que recebamos as bênçãos do sacrifício expiatório do Salvador, mesmo assim teremos algum sofrimento como consequência do pecado. O élder Dallin H. Oaks esclareceu a relação entre pecado e sofrimento:

“Há uma relação entre o pecado e sofrimento que não é compreendida por pessoas que pecam conscientemente na expectativa de que todo o fardo do sofrimento será suportado por Outro, que o pecado é só deles, mas que o sofrimento é todo Dele. Não é assim que as coisas acontecem. O arrependimento, que é uma passagem garantida para um destino eterno, não pode ser obtido de graça.

Lembremos de duas escrituras: (1) ‘o arrependimento não poderia ser concedido aos homens se não houvesse um castigo’ (Alma 42:16), e (2) o Salvador disse que Ele havia sofrido estas coisas por todos ‘para que não precisem sofrer caso se arrependam; mas se não se arrependerem, terão que sofrer assim como eu sofri’ (D&C 19:16–17).

Isso significa evidentemente que o transgressor impenitente deve sofrer por seus próprios pecados. Isso significa também que uma pessoa que se arrepende não precisa sofrer nenhum pouco porque a totalidade do castigo é suportada pelo Salvador? Isso não pode ser o significado, porque seria incoerente com os outros ensinamentos do Salvador. Significa que a pessoa que se arrepende não precisa sofrer ‘assim como’ o Salvador sofreu por aquele pecado. Os pecadores que se arrependem sentem algum sofrimento, mas, por causa de seu arrependimento e graças à Expiação, não sentem toda a ‘dolorosa’ intensidade do tormento eterno que o Salvador sofreu por aquele pecado” (“Pecado e sofrimento”, A Liahona, abril de 1994, pp. 29–30).

Cristo no Getsêmani

Jesus Cristo sofreu pelos pecados do mundo

Doutrina e Convênios 19:16–19. O Salvador descreveu Seu sofrimento por nossos pecados

Doutrina e Convênios 19:16–19 contém o relato pessoal do Salvador sobre Seu sofrimento. Outras descrições do sofrimento de Jesus Cristo durante seu sacrifício expiatório são feitas por outras pessoas além de Si mesmo (ver Mateus 26:36–39; Marcos 14:32–41; Lucas 22:39–44; Mosias 3:7). O élder James E. Talmage descreveu a intensidade do sofrimento do Salvador suportado durante Seu sacrifício expiatório:

“A agonia de Cristo no jardim é insondável para a mente finita, tanto em intensidade quanto em causa. (…) Ele lutara e gemera sob uma carga tal, que nenhum outro ser vivente sobre a Terra poderia nem mesmo conceber fosse possível. Não se tratava de dor física, nem apenas de angústia mental, que o fizera sofrer tortura tão grande até produzir a extrusão de sangue de todos os Seus poros, mas, sim, de uma agonia da alma, de tal magnitude, que somente Deus seria capaz de experimentar. Nenhum outro homem, por maiores que fossem seus poderes de resistência física e mental, poderia ter sofrido assim; porque seu organismo humano teria sucumbido e [a perda de sangue no cérebro] (…) teria trazido a inconsciência e o abençoado alívio. Naquela hora de angústia, Cristo enfrentou e venceu todos os horrores que Satanás, ‘o príncipe deste mundo’ (João 14:30) poderia infligir.

De alguma forma, verdadeira e terrivelmente real, ainda que incompreensível para o homem, o Salvador tomou sobre Si mesmo a carga dos pecados da humanidade desde Adão até o final do mundo” (Jesus, o Cristo, 15ª ed., 1971, p. 592).

O élder M. Russell Ballard, do Quórum dos Doze Apóstolos, testificou por que Jesus Cristo estava disposto a sofrer por nossos pecados: “De alguma maneira inacreditável, que nenhum de nós é capaz de compreender plenamente, tomou sobre Si os pecados do mundo. Apesar de Sua vida ter sido pura e sem pecados, Ele pagou a pena máxima do pecado pelas falhas cometidas por vocês, por mim e por todos que já viveram. Sua angústia mental, emocional e espiritual foi tanta que fez com que Ele sangrasse por todos os poros (ver Lucas 22:44; D&C 19:18). Mas Jesus sofreu de boa vontade para que tivéssemos a oportunidade de ser purificados por meio de nossa fé Nele, do arrependimento de nossos pecados, do batismo realizado pela devida autoridade do sacerdócio, de recebermos o dom purificador do Espírito Santo na confirmação e de aceitarmos todas as outras ordenanças essenciais. Sem a Expiação do Senhor, nenhuma dessas bênçãos estaria ao nosso alcance e não conseguiríamos nos preparar nem nos tornar dignos de voltar a viver na presença de Deus” (“A Expiação e o valor de uma alma”, A Liahona, maio de 2004, p. 85).

Doutrina e Convênios 19:18–19. O Salvador não recuou

A frase “desejasse não ter de beber a amarga taça e recuar” (D&C 19:18) refere-se ao desejo do Salvador de não recuar diante do peso de Seu sofrimento. Embora seu sofrimento esteja além do que somos capazes de entender, Ele Se submeteu à vontade do Pai e completou a Expiação.

O élder Neal A. Maxwell descreveu como podemos aplicar as verdades ensinadas em Doutrina e Convênios 19:18–19 em nossa vida: “Ao confrontarmos nossas próprias provações e tribulações (…), também podemos suplicar ao Pai, como fez Jesus, que nos ajude a ‘não [desejar] recuar’ — que significa retroceder ou retrair (D&C 19:18). Não recuar é muito mais importante do que sobreviver! Além disso, partilhar da taça amarga sem que isso nos torne amargos faz parte também de nosso empenho de imitar Jesus” (“Aplicar o sangue expiatório de Cristo”, A Liahona, janeiro de 1998, p. 25).

Doutrina e Convênios 19:20. Quando o Senhor retirou Seu Espírito de Martin Harris?

Embora não esteja claro a que período ou acontecimento se refere à frase “quando retirei meu Espírito” (D&C 19:20), o Senhor pode estar falando sobre quando Martin Harris perdeu as 116 páginas do manuscrito do Livro de Mórmon. Naquele período, o Senhor expressou descontentamento, descrevendo Martin como um “homem iníquo” que “ignorou os conselhos de Deus e quebrou as mais sagradas promessas feitas perante Deus; e confiou no próprio discernimento e vangloriou-se em sua própria sabedoria” (D&C 3:12–13). A falta de cuidado de Martin que resultou na perda do manuscrito certamente o fez sentir um afastamento do Espírito do Senhor por algum tempo. Martin, mais tarde, encontrou grande esperança na disposição do Senhor em permitir que ele visse as placas como uma das Três Testemunhas (ver D&C 5:23–28; 17:1–8).

Lucy Mack Smith, mãe do profeta Joseph Smith, descreveu os sentimentos em sua casa depois que Martin Harris tinha perdido as 116 páginas do manuscrito do Livro de Mórmon: “Lembro-me bem daquele dia fatídico, dominado pelas trevas tanto em nosso coração como no exterior. Para nós, pelo menos, os céus pareciam revestidos de negror e a Terra envolta de escuridão. Sempre disse a mim mesma que, se uma punição contínua com semelhante grau de severidade fosse imposta ao mais iníquo dos homens sob o escabelo do Todo-Poderoso — mesmo que tal castigo não fosse pior do que aquela situação (…)[,] eu sentiria pena de sua situação” (“Lucy Mack Smith, History, 1845” [Lucy Mack Smith, História, 1845], pp. 134–135, josephsmithpapers.org).

cópia dos direitos autorais do Livro de Mórmon

Uma das duas cópias da aplicação de direitos autorais do Livro de Mórmon apresentada no tribunal distrital dos Estados Unidos em Utica, Nova York

Doutrina e Convênios 19:21–41

O Senhor deu vários mandamentos a Martin Harris, inclusive o mandamento de vender parte de sua fazenda para a impressão do Livro de Mórmon.

Doutrina e Convênios 19:23. “Aprende de mim (…) e terás paz em mim”

Martin Harris não só foi ordenado a se arrepender para progredir como discípulo de Jesus Cristo, mas também deveria aprender a respeito de Jesus Cristo, ouvir Suas palavras e andar na mansidão como Ele (ver D&C 19:23). O presidente Thomas S. Monson ensinou que o estudo da palavra revelada de Deus é uma forma como podemos aprender sobre o Salvador e receber Sua paz em nossa vida:

Preencham sua mente com a verdade. Não encontramos a verdade quando estamos cercados pelo erro. A verdade é encontrada por meio de busca, estudo e ao viver a palavra revelada por Deus. Adotamos o erro quando nos misturamos com o erro. Aprendemos a verdade quando nos envolvemos com a verdade.

O Salvador do mundo instruiu: ‘Nos melhores livros buscai palavras de sabedoria; procurai conhecimento, sim, pelo estudo e também pela fé’ (D&C 88:118). Ele acrescentou: ‘Examinais as escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam’ (João 5:39).

Ele convida a cada um de nós: ‘Aprende de mim e ouve minhas palavras; anda na mansidão de meu Espírito e terás paz em mim’ (D&C 19:23)” (“Sê o exemplo”, A Liahona, janeiro de 2002, p. 115).

Doutrina e Convênios 19:26–27, 34–35. “Paga a dívida contraída com o impressor”

Martin Harris tinha penhorado sua propriedade para ajudar a pagar a impressão do Livro de Mórmon, mas ele estava preocupado que pudesse perder sua fazenda. Ele acabou vendendo 61 hectares de sua terra para pagar a dívida. Embora tenha custado muito para Martin, vender sua terra foi um pequeno preço para ajudar a trazer à luz o Livro de Mórmon, que tem trazido muitas almas para o Pai e Seu filho, Jesus Cristo. Mais tarde, Martin testificou que, a partir do produto da venda do livro, ele recuperou todo o dinheiro que ele tinha antecipado para a impressão do livro (ver “Additional Testimony of Martin Harris (One of the Three Witnesses) to the Coming forth of the Book of Mormon” [Testemunho adicional de Martin Harris (uma das Três Testemunhas) para o surgimento do Livro de Mórmon], The Latter-day Saints’ Millennial Star, vol. 21, 20 de agosto de 1859, p. 545).

fazenda de Martin Harris em Palmyra, Nova York

Martin Harris vendeu parte de sua fazenda para pagar pela impressão do Livro de Mórmon (fotografia aproximadamente 1907).

Cortesia da Biblioteca e Arquivos de História da Igreja

Doutrina e Convênios 19:25–26. “Não cobices”

O Senhor ordenou a Martin Harris que vendesse parte de sua propriedade para possibilitar a impressão do Livro de Mórmon. Para Martin entender a importância desse mandamento e incentivá-lo a agir, em Doutrina e Convênios 19:25–26, o Senhor usou palavras como estas em Êxodo 20:17, que adverte sobre o pecado da cobiça. Não há nenhuma evidência que Martin estava cobiçando a mulher do próximo ou que quisesse tirar a vida do próximo. O Senhor estava ensinando-o que a cobiça pode se estender até para nossa propriedade ou nosso tempo se o valorizamos mais do que ao Senhor e Sua obra.

retrato de Egbert B. Grandin; foto de John H. Gilbert

Egbert B. Grandin (à esquerda) imprimiu os primeiros 5 mil exemplares do Livro de Mórmon. John H. Gilbert (à direita) foi o tipógrafo da impressão original do Livro de Mórmon.

Doutrina e Convênios 19:29–31. Não ofenda os ofensores

Os membros da Igreja devem falar e agir com humildade e civilidade ao compartilhar o evangelho ou defender as crenças. O Senhor ordena a seus discípulos a amar o próximo, principalmente quando há uma diferença de opinião. O élder Dallin H. Oaks ensina sobre a importância de evitar contendas:

“O evangelho tem muitos ensinamentos sobre guardar os mandamentos entre pessoas de crenças e costumes diferentes. Os ensinamentos sobre a discórdia são essenciais. Quando o Cristo ressuscitado viu que os nefitas estavam discutindo sobre a maneira de batizar, Ele deu orientações claras a respeito de como essa ordenança deve ser realizada. Depois, ensinou este grande princípio:

‘E não haverá disputas entre vós, como até agora tem havido; nem haverá disputas entre vós sobre os pontos de minha doutrina, como até agora tem havido.

Pois em verdade, em verdade vos digo que aquele que tem o espírito de discórdia não é meu, mas é do diabo, que é o pai da discórdia e leva a cólera ao coração dos homens, para contenderem uns com os outros.

Eis que esta (…) é minha doutrina: que estas coisas devem cessar’ (3 Néfi 11:28–30; grifo do autor).

O Salvador não limitou Sua admoestação sobre a discórdia àqueles que não estavam cumprindo o mandamento sobre o batismo. Ele proibiu a discórdia entre quaisquer pessoas. Mesmo aqueles que cumprem os mandamentos não devem levar a cólera ao coração dos homens. O ‘pai da discórdia’ é o diabo; o Salvador é o Príncipe da Paz.

De maneira semelhante, a Bíblia ensina que ‘os sábios desviam a ira’ (Provérbios 29:8). Os primeiros apóstolos ensinaram que devemos ‘[seguir] (…) as coisas que servem para a paz’ (Romanos 14:19) e ‘[seguir] a verdade em caridade’ (Efésios 4:15), ‘porque a ira do homem não opera a justiça de Deus’ (Tiago 1:20). Na revelação moderna, o Senhor ordenou que as boas novas do evangelho restaurado fossem declaradas ‘cada homem a seu próximo, com brandura e mansidão’ (D&C 38:41), ‘com toda humildade, (…) não ofendendo ofensores’ (D&C 19:30)” (“Amar os outros e conviver com as diferenças”, A Liahona, novembro de 2014, pp. 25–26).

exterior do edifício da E. B. Grandin Press

O edifício onde E. B. Grandin imprimiu a edição de 1830 do Livro de Mórmon

Doutrina e Convênios 19:35. A dívida é uma forma de escravidão

Assim como uma dívida precisa ser paga para escapar do cativeiro do pecado, os seguidores do Senhor devem pagar suas dívidas financeiras para escapar do cativeiro financeiro. O presidente Gordon B. Hinckley (1910–2008) explicou como o conselho dado a Martin Harris de “[pagar] a dívida” (D&C 19:35) se aplica a nós hoje:

“Desde o início da Igreja, o Senhor tem Se manifestado a respeito das dívidas. Para Martin Harris por meio de revelação, ele disse: ‘Paga a dívida contraída com o impressor. Livra-te da servidão’ (D&C 19:35).

O presidente Heber J. Grant abordou inúmeras vezes esse assunto. Ele disse: ‘Se há algo que traz paz e alegria ao coração humano e à família é viver de acordo com suas posses. E se há algo que traz tristeza, desânimo e desespero é ter dívidas e obrigações que não podemos saldar’ (Gospel Standards [Padrões do Evangelho], comp. por G. Homer Durham, 1941, p. 111).

Estamos proclamando a mensagem de autossuficiência por toda a Igreja. A autossuficiência não pode ser alcançada se grandes dívidas pesarem sobre a família. Nunca teremos independência nem liberdade se estivermos devendo alguma coisa a alguém. (…)

Que sensação maravilhosa é estar livre de dívidas e ter um pouco de dinheiro guardado para alguma emergência e que poderá ser usado quando necessário. (…)

Rogo-lhes (…) que analisem sua situação financeira. Rogo-lhes que sejam comedidos em suas despesas, controlem-se no que se refere a compras, que evitem ao máximo as dívidas, que as paguem assim que possível e se livrem da servidão.

Isso faz parte do evangelho secular em que acreditamos. Que o Senhor os abençoe (…) para que coloquem sua casa em ordem. Se já liquidaram suas dívidas, se têm uma reserva, por menor que seja, então, mesmo que a tempestade venha sobre sua cabeça, vocês terão um abrigo para sua família e terão paz no coração. Isso é tudo que tenho a dizer, mas desejo dizê-lo com toda a ênfase de que sou capaz” (“Para os rapazes e para os homens”, A Liahona, janeiro de 1999, pp. 65–66).

Doutrina e Convênios 19:38. Bênçãos maiores do que os tesouros da Terra

O Senhor prometeu a Martin Harris que, se ele fosse obediente, ele “[derramaria] [Seu] Espírito sobre [ele]” e ele receberia bênçãos maiores do que os tesouros da Terra (D&C 19:38). Embora tenha sido difícil para Martin ver naquele momento, as bênçãos associadas ao surgimento do Livro de Mórmon eram muito maiores do que suas propriedades e riquezas pessoais.

O élder Joseph B. Wirthlin (1917–2008), do Quórum dos Doze Apóstolos, comparou as bênçãos do céu com os tesouros terrenos: “As escrituras ensinam: ‘Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai tesouros no céu’ (Mateus 6:19–20). As riquezas deste mundo são como pó comparadas às que esperam os fiéis nas mansões do Pai. Como é tolo aquele que passa seus dias à procura de bens que enferrujam e se estragam. Como é sábio aquele que passa seus dias buscando a vida eterna” (“Dívidas terrenas, dívidas celestiais”, A Liahona, maio de 2004, p. 43).