História da Igreja
Capítulo 1: Onde e quando


Capítulo 1

Onde e quando

a mão de um homem saindo da janela de um ônibus para segurar a mão de uma mulher

“Diga a ele que envie novamente a Igreja.”

A voz calma e urgente surpreendeu e confundiu Nora Siu Yuen Koot, de 16 anos. “O quê?”, disse ela.

“Diga a ele que envie novamente a Igreja.”

Nora ouviu de novo a mensagem com clareza. Era como se alguém tivesse sussurrado em seu ouvido direito. Mas não havia ninguém por perto. Ela estava sozinha do lado de fora de um hotel em Hong Kong, em setembro de 1954. Alguns visitantes dos Estados Unidos haviam acabado de embarcar em um ônibus para o aeroporto e ela estava se despedindo deles.

Os visitantes eram líderes de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias que viajavam pelo Leste Asiático. Mais de 1 bilhão de pessoas residiam naquela parte do mundo, mas apenas aproximadamente mil delas tinham aceitado o evangelho restaurado de Jesus Cristo. A Igreja não tinha uma presença oficial em Hong Kong havia vários anos, desde que a agitação social na China e uma guerra na vizinha Coreia levaram os líderes da Igreja a fechar a missão em 1951. Mas o conflito já havia terminado, e os visitantes tinham ido para se reunir com Nora e os outros 18 santos que moravam na cidade.

Liderando o grupo estava o élder Harold B. Lee, membro sênior do Quórum dos Doze Apóstolos da Igreja. Nora percebeu que ele era importante, mas não sabia o suficiente sobre a administração da Igreja para entender o motivo. Ainda assim, ela sabia que a mensagem sussurrada era para ele.

Sem pensar duas vezes, ela estendeu a mão em direção ao ônibus, esperando que ele não fosse embora. “Apóstolo Lee”, disse ela.

O élder Lee estendeu a mão para fora de uma janela aberta e Nora a segurou. “Por favor, envie novamente a Igreja”, gritou ela. “Nós, santos sem a Igreja, somos como pessoas sem comida. Precisamos ser alimentados espiritualmente.”

Os olhos do apóstolo encheram-se de lágrimas. “Não cabe a mim decidir”, disse ele, “mas vou relatar à liderança”. Ele disse a Nora que orasse e mantivesse sua fé, assegurando-lhe que, enquanto houvesse santos fiéis como ela, a Igreja estaria presente em Hong Kong.

O ônibus então engatou a marcha e partiu devagar.

Mês após mês se passou, e Nora não ouviu nada da Igreja. Às vezes ela se perguntava se algum dia a veria. Os missionários santos dos últimos dias sempre tiveram dificuldades em Hong Kong. Os élderes pregaram lá pela primeira vez na década de 1850, mas doenças, diferenças religiosas e culturais, pobreza e a barreira do idioma os levaram a abandonar a missão depois de apenas alguns meses, sem nenhum batismo. O grupo seguinte de missionários chegou em 1949, mas essa missão durou apenas dois anos.

Naquela época, Nora e suas duas irmãs mais novas tornaram-se os primeiros chineses a filiar-se à Igreja em Hong Kong. A família delas estava entre as centenas de milhares de refugiados que tinham ido para a colônia britânica a fim de escapar da agitação na China continental. A sede da missão ficava na rua onde elas moravam, e a madrasta de Nora as mandava para lá todas as manhãs, esperando que aprendessem inglês e tudo o mais que os missionários estivessem ensinando.

Nora ainda se lembrava das lições bíblicas que recebia da irmã Sai Lang Aki, uma missionária havaiana descendente de chineses que a ajudou a aprender inglês. Nora recebeu um testemunho do evangelho restaurado naquela época. Seu testemunho a ajudou a permanecer firme após o fechamento da missão, quando parecia que a luz havia se apagado em Hong Kong. Mesmo na ausência de ordenanças do sacerdócio, reuniões sacramentais, capelas e literatura da Igreja em chinês, ela se apegou com firmeza à sua fé em Jesus Cristo.

Em agosto de 1955, quase um ano depois da visita do élder Lee, um jovem alto e loiro abordou Nora no cinema onde ela trabalhava. De repente, ela reconheceu Grant Heaton, que havia servido como missionário em Hong Kong antes do fechamento da missão. Ele e sua esposa, Luana, tinham acabado de chegar a Hong Kong para inaugurar a recém-criada Missão Extremo Oriente Sul.

Nora ficou extremamente feliz. Conforme ela esperava, o élder Lee havia falado com os líderes da Igreja sobre os santos de Hong Kong. Na verdade, logo após retornar aos Estados Unidos, ele recomendou a reabertura da missão e até contou a história de Nora na conferência geral da Igreja. O presidente da Igreja, David O. McKay, chamou Grant para liderar a nova missão, que abrangia Hong Kong, Taiwan, Filipinas, Guam e outros lugares da região.

“O sol está raiando”, pensou Nora. “A luz voltou para os santos de Hong Kong!”


Em 22 de setembro de 1955, quase dois meses após o início da Missão Extremo Oriente Sul, o presidente David O. McKay voltou a Salt Lake City após uma visita de cinco semanas aos santos da Europa. Embora ele e sua esposa, Emma Ray, tivessem passado o dia inteiro confinados em um avião, cumprimentaram alegremente os líderes da Igreja, familiares e amigos que foram ao aeroporto para recebê-los de volta ao lar.

Parando na pista para conversar com repórteres e fotógrafos, o presidente McKay falou prontamente sobre o ponto alto de sua viagem: a dedicação do templo próximo de Berna, na Suíça. Na época, aquele era um dos sete templos em funcionamento no mundo e o primeiro a ser construído na Europa. Sua dedicação ocorreu em dez sessões em sete idiomas. E centenas de santos europeus já haviam nele recebido sua investidura.

Os cidadãos de Berna ficaram encantados com o edifício sagrado. “Eles o chamam de ‘nosso templo’”, disse o presidente McKay a um repórter, “e agora os membros da Igreja ali estão sendo considerados cristãos”.

O Templo da Suíça era um símbolo do compromisso da Igreja em estabelecer congregações fortes em todo o mundo depois de passar décadas incentivando os santos a se reunirem em Utah. Na época, com templos em construção na Inglaterra e na Nova Zelândia, a Igreja procurava aproximar os templos de seus membros distantes e expandir a disponibilidade das ordenanças do templo.

O presidente McKay sabia que esses templos eram apenas o começo. Conforme Joseph Smith havia profetizado, a verdade de Deus varreria todos os países e soaria em todos os ouvidos.

Esse dia ainda não havia chegado, mas a Igreja estava progredindo. Embora a maior parte da população mundial nunca tivesse ouvido falar do evangelho restaurado de Jesus Cristo, o respeito pela Igreja vinha crescendo desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Havia pouco mais de um milhão de santos dos últimos dias no mundo, e muitas pessoas admiravam sua vida íntegra, seus valores cristãos, sua preocupação com os pobres e sua mensagem de alegria. O Coro do Tabernáculo da Igreja também havia se tornado muito popular, apresentando-se em programas de rádio no mundo inteiro. No início do ano, quando a Igreja comemorou seu 125º aniversário, o New York Times, um dos jornais mais importantes dos Estados Unidos, só tinha elogios para os santos.

Ao refletir sobre o destino da Igreja, o presidente McKay e seus conselheiros, Stephen L. Richards e J. Reuben Clark, perceberam que havia obstáculos no caminho para um crescimento ainda maior.

Um obstáculo era o de prover boas capelas e outras edificações para os santos. Na década de 1920, a Igreja criou um sistema para suprir as congregações com plantas arquitetônicas padronizadas e fundos significativos para ajudar os santos locais a construir prédios com eletricidade, encanamento interno e, mais recentemente, ar condicionado. Mas, em lugares onde a Igreja estava menos estabelecida, muitos ramos não tinham meios ou experiência para realizar projetos de grande escala. Consequentemente, muitas vezes eles tinham que se reunir em salões alugados.

Os problemas eram mais sérios em muitas partes do mundo. Alguns ramos enfrentavam dificuldades por terem poucos membros, líderes locais inexperientes, contato pouco frequente com a sede da Igreja e pouca literatura da Igreja nos idiomas locais. Alguns lugares ficavam muito distantes das estacas ou dos distritos da Igreja para manter congregações fortes.

Além disso, como mais de 90 por cento dos santos dos últimos dias moravam nos Estados Unidos, a Igreja era frequentemente associada à América do Norte. Essa percepção criou problemas em nações comunistas como a União Soviética, que desconfiavam profundamente dos Estados Unidos e da religião em geral. Na década anterior, muitas dessas nações tinham promulgado políticas que dificultaram — ou até impossibilitaram — a operação da Igreja dentro de suas fronteiras.

A abertura da Missão Extremo Oriente Sul demonstrou que a Primeira Presidência e o Quórum dos Doze Apóstolos estavam ansiosos para expandir o trabalho missionário para novas regiões, especialmente na Ásia e na América do Sul. A África, porém, apresentava um obstáculo especial. Desde o início da década de 1850, a Igreja havia impedido que os descendentes de negros africanos possuíssem o sacerdócio ou recebessem a investidura e as ordenanças de selamento do templo, de modo que a Igreja havia realizado pouco trabalho missionário no continente. Ainda assim, de tempos em tempos, os líderes da Igreja recebiam cartas de pessoas da África Ocidental expressando interesse no evangelho restaurado.

O presidente McKay tinha esses problemas e sucessos em mente seis meses depois, quando viajou para a Califórnia a fim de dedicar o Templo de Los Angeles. Os planos para a construção haviam começado sob a direção do presidente Heber J. Grant, mas a Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial atrasaram a conclusão por quase 20 anos. Era o maior templo que a Igreja já havia construído, e sua visitação pública altamente divulgada deu a 700 mil pessoas a chance de entrar nele e aprender a respeito de seu propósito sagrado.

Na cerimônia de dedicação, o presidente McKay agradeceu ao Senhor ao contemplar a congregação presente na sala de reuniões do templo.

“Sentimos Tua presença e, em tempos de dúvida e perplexidade, ouvimos Tua voz”, declarou ele em sua oração dedicatória. “Aqui em Tua casa sagrada, com humildade e profunda gratidão, reconhecemos Tua orientação divina, Tua proteção e inspiração.”


Por volta dessa época, em São Paulo, Brasil, um aspirante a pastor metodista chamado Hélio da Rocha Camargo estava começando seu terceiro ano em uma faculdade de teologia. Certo dia, um conhecido de sua congregação disse-lhe que havia se encontrado com missionários santos dos últimos dias, e ele convidou Hélio para estar presente na visita seguinte que lhe fariam.

Hélio ficou curioso sobre os santos e seus ensinamentos, então aceitou o convite. A Igreja estava no Brasil há quase 30 anos, mas havia apenas cerca de 300 membros no país, e Hélio nunca havia conhecido nenhum. Infelizmente, no dia marcado, os missionários não compareceram.

Pouco tempo depois, durante uma discussão em classe sobre a natureza de Deus, Hélio perguntou ao professor se os santos dos últimos dias acreditavam na Trindade, ou na visão de que Deus Pai, Jesus Cristo e o Espírito Santo eram um só ser.

“Não tenho nenhuma informação”, disse o professor. Ele nem sabia se os santos dos últimos dias eram cristãos.

“Ora”, disse Hélio, “acho que eles se consideram cristãos porque o nome oficial da igreja é a Igreja de Jesus Cristo”.

“Veja se é possível encontrar um em São Paulo”, disse o professor. Ele então sugeriu que Hélio convidasse um santo dos últimos dias para falar ao corpo discente em seu fórum semanal.

Hélio foi até a sede da Igreja na cidade e convidou Asael Sorensen, presidente da Missão Brasileira, para falar no fórum. O presidente Sorensen queria aceitar o convite, mas, como tinha um compromisso anterior a cumprir, ofereceu-se para enviar dois jovens missionários em seu lugar.

“Garanto que esses jovens estão bem preparados”, disse ele a Hélio.

No dia do fórum, dois missionários dos Estados Unidos — os élderes David Richardson e Roger Call — chegaram à faculdade. Hélio deu as boas-vindas aos jovens e os apresentou a uma sala com cerca de 50 alunos e uma dezena de professores. O élder Richardson, que tinha mais experiência em falar português, foi até o púlpito e começou a falar sobre a Igreja. O élder Call, enquanto isso, anotava pontos importantes em um quadro-negro.

Hélio ficou impressionado com a coragem e a tranquilidade do élder Richardson. O jovem falou primeiro sobre a Trindade, testificando que o Pai, o Filho e o Espírito Santo eram três seres separados. Logo os membros da plateia começaram a interrompê-lo, fazendo uma pergunta após outra. “Deixem-me terminar”, disse o élder Richardson, por fim, “e então vocês podem fazer perguntas depois”.

A plateia se aquietou e o missionário continuou sua mensagem. Ele usava a Bíblia com frequência e, toda vez que citava um versículo, os professores e alunos abriam as escrituras para verificar se ele estava correto. Hélio podia sentir que seus colegas não concordavam com tudo o que os missionários ensinavam, mas passaram a ouvir com mais respeito.

Então o élder Richardson levantou o assunto da autoridade do sacerdócio e do batismo. “Se pudermos provar a vocês que temos autoridade para batizar”, disse ele, “quantos de vocês concordariam em ser batizados?”

Um aluno gritou: “Sim!”, e o diretor da faculdade fez uma careta para ele com desgosto.

Quando o élder Richardson concluiu sua apresentação, ele convidou o público a fazer perguntas. Imediatamente, alguns dos alunos perguntaram sobre o Massacre de Mountain Meadows e outras controvérsias. Parecia que poucos alunos queriam demonstrar interesse na Igreja.

Após a apresentação, Hélio e outros três alunos foram almoçar com os missionários. Fizeram mais perguntas aos élderes, mostrando interesse sincero em sua mensagem. Hélio queria aprender mais sobre a Igreja, mas seu tempo era precioso. Ele e sua esposa, Nair, tinham quatro filhos pequenos, com outro a caminho. Estava muito ocupado com a escola e a família.

Em pouco tempo, deixou de lado seu interesse pelos santos e perdeu contato com os missionários.


Certo dia, em maio de 1956, Mosese Muti e seu amigo e membro da Igreja ʻAtonio ʻAmasio estavam viajando por uma estrada nos arredores da cidade de Nukuʻalofa, Tonga, nas ilhas do Pacífico. Enquanto conversavam, um carro passou por eles e parou abruptamente. Ambos sabiam que o carro pertencia a Fred Stone, o presidente da Missão Tonganesa. O presidente Stone tinha cerca de 50 anos — apenas alguns anos mais velho que Mosese. Ele e sua esposa, Sylvia, serviam no país havia cerca de seis meses.

Mosese e ʻAtonio correram até o carro, e o presidente Stone os cumprimentou. “Você conhece alguém que gostaria de servir missão?”, perguntou ele. Em todo o Pacífico Sul, a Igreja estava chamando dezenas de “missionários de construção” para acelerar o ritmo de construção de capelas na área. O presidente McKay havia aprovado recentemente a construção de 21 novas capelas em Tonga, e o presidente Stone foi autorizado a chamar os santos locais para realizar o trabalho.

Mosese olhou para ʻAtonio, e seu amigo encolheu os ombros. Havia mais de 4 mil membros da Igreja em Tonga, mas nenhum missionário em potencial veio-lhe à mente. As missões de construção forneciam aos santos um valioso treinamento prático como pedreiros, eletricistas, encanadores e carpinteiros, o que poderia ajudá-los a conseguir um emprego após a missão. Mas o trabalho podia ser bem estafante.

“Você deve conhecer alguém”, insistiu o presidente Stone. “Que tal você, Muti?”

“Se for um chamado do Senhor, irei com prazer”, disse Mosese. Ele e sua esposa, Salavia, eram membros da Igreja há mais de 20 anos. Já haviam servido em várias missões, inclusive em uma para ajudar a construir a Liahona College, a nova escola secundária da Igreja em Tonga. Mas Mosese trabalhava então como gerente de materiais de construção para o governo tonganês e tinha uma família numerosa para sustentar. Ele não queria desorganizar toda a sua vida simplesmente porque o presidente precisava de um missionário que estivesse disposto a servir.

“O Senhor quer você”, assegurou-lhe o presidente Stone. “Você tem algum dinheiro, alguma poupança?”

“É por isso que dei a você a resposta que dei”, disse Mosese. “Ele sabe como somos pobres e com o que Ele teria de nos abençoar para que conseguíssemos servir como missionários.”

“Por que não conversa sobre isso com Salavia?”, sugeriu o presidente Stone. “Deixe-me saber o que ela acha de servir nessa missão.”

“Tudo o que quero saber é onde e quando”, disse Mosese.

O presidente disse-lhe que ele serviria em Niue, uma pequena nação insular quase 650 quilômetros a nordeste de Tonga. Quatro missionários já estavam pregando o evangelho e se preparando para construir uma capela ali, mas o progresso era lento.

“Minha esposa e família ficarão felizes em ir”, disse Mosese. Ele contou ao presidente Stone um sonho que tivera recentemente em que ele e Salavia estavam caminhando juntos em outra ilha. “Era um lugar onde todas as aldeias estavam localizadas ao redor da ilha ao longo da costa”, disse Mosese. “Eu nunca tinha visto uma ilha assim antes. Deve ser Niue!”

“Ótimo”, disse o presidente. “Você tem duas semanas e meia para se preparar antes que o barco chegue.”

Salavia se alegrou quando Mosese lhe contou sobre o chamado para a missão, e juntos agradeceram ao Senhor por isso. Desde o casamento deles em 1933, ela nunca o vira recusar uma oportunidade de servir na Igreja. E ela compartilhava a dedicação dele ao trabalho missionário, confiando que Deus os abençoaria pelos sacrifícios que fizessem em Seu nome.

Mais do que tudo, o casal Muti ansiava por receber as bênçãos do templo. O templo mais próximo ficava no Havaí, a 5 mil quilômetros de distância, e o custo sempre os impedia de fazer a viagem. Assim que o templo na Nova Zelândia fosse concluído, a jornada para atingir essa meta seria bem mais curta. Porém, mesmo assim, o custo seria maior do que aquele com o qual eles poderiam arcar, especialmente naquele momento, quando estavam indo para outra missão.

Ainda assim, eles tinham motivos para esperar que um dia entrariam no templo. Em 1938, enquanto Mosese servia como missionário, o apóstolo George Albert Smith visitou Tonga e lhe conferiu o sacerdócio de Melquisedeque. “Se você continuar seu trabalho missionário”, prometeu o apóstolo, “você passará pelo templo sem gastar um centavo de seu bolso”.

Em 29 de maio de 1956, Mosese e Salavia embarcaram em um navio para Niue com seus quatro filhos mais novos. A família tinha dinheiro apenas para a passagem. Como se sustentariam no campo missionário, porém, estava nas mãos do Senhor. À medida que Tonga sumia de vista, substituída por grandes ondas e um horizonte infinito, a família Muti estava cheia de fé nas promessas de Deus.


Poucos meses depois que a família Muti partiu para Niue, Hélio da Rocha Camargo se viu cheio de dúvidas sobre o batismo de bebês, prática comum entre os metodistas e outras denominações cristãs. A princípio, ele simplesmente queria clareza. Por que essas igrejas batizam criancinhas? Como o batismo beneficiava o bebê? A Bíblia parecia não dizer nada sobre a prática, então ele fez essas perguntas a seus professores e colegas da faculdade de teologia. Ninguém sabia respondê-las de modo satisfatório.

“Como costume histórico, deve ser preservado”, sugeriu uma pessoa.

Hélio não conseguiu ver a lógica. “Qual é o benefício?”, perguntou ele. “As tradições históricas são necessariamente verdadeiras?”

Quanto mais ele pensava sobre o batismo de bebês, mais isso o perturbava. Sua esposa, Nair, acabara de dar à luz seu quinto filho, um menino chamado Josué. Por que uma criança como Josué precisaria ser batizada? Que pecado ele tinha cometido?

Outros alunos da faculdade se juntaram a Hélio para questionar a prática. Alarmados, os diretores da escola convocaram um conselho de professores e entrevistaram Hélio e os outros alunos. Hélio foi honesto com os professores. “Não encontro justificativa suficiente para o batismo de bebês”, disse a eles. “É uma prática que não é apoiada pela doutrina que posso entender ou encontrar no Novo Testamento.” Como pastor, disse ele, não poderia, em sã consciência, batizar um bebê.

Após a entrevista, Hélio e três de seus amigos foram suspensos por um período a fim de buscar respostas para suas perguntas. Quando Hélio deu a notícia a Nair, ela ficou chateada. Ela compartilhava da devoção de Hélio a Jesus Cristo e ao estudo da Bíblia, e não gostava de como a faculdade o estava tratando. Se os estudos de Hélio não o levassem a concordar com seus pontos de vista, o conselho da faculdade simplesmente encerraria seu vínculo com a faculdade, ou até mesmo sua carreira no ministério.

Hélio tentou mais uma vez entender o batismo infantil. Pediu a alguns de seus amigos e professores que o ajudassem a encontrar respostas. Eles se recusaram. “Qual bem isso faria?”, disseram. “Você nunca vai mudar de ideia.”

“Mas quero mudar de ideia”, insistiu Hélio. “Quero encontrar um bom motivo para mudar de ideia.”

Um professor finalmente concordou em examinar o assunto com ele. Estudaram todas as passagens sobre o batismo no Novo Testamento, às vezes consultando comentários e o texto grego original para obter mais informações. “Você está certo”, disse o professor depois de algumas semanas. “Não há base bíblica para a doutrina.”

Ao final da suspensão, Hélio voltou a se reunir com o conselho da faculdade e informou que sua posição sobre o batismo infantil não havia mudado. Percebendo que não havia mais nada que pudessem realizar para fazê-lo mudar de ideia, o conselho encerrou seu vínculo com a faculdade.

Hélio começou a trabalhar em um banco, mas continuou lendo sobre o batismo, procurando saber o que as outras igrejas ensinavam. Nair apoiou sua busca por mais verdade, mas seus parentes acharam estranho e um pouco imaturo da parte dele deixar a faculdade. Hélio não lhes deu atenção. Ele orava frequentemente pedindo orientação, não apenas para seu próprio bem, mas também para o bem de Nair e de sua família. Como pai, ele sentia a obrigação de levar seus filhos à luz e à verdade.

Um dia, Hélio lembrou-se dos missionários santos dos últimos dias que foram à sua escola. Na época, ele havia comprado um livro sobre a igreja deles chamado Uma Obra Maravilhosa e um Assombro, mas não o havia lido muito. Ele encontrou o livro em uma prateleira e o abriu. O autor, LeGrand Richards, era um apóstolo santo dos últimos dias que servira duas vezes como presidente de missão. Cada capítulo delineava um princípio do evangelho restaurado, ponto por ponto, baseando-se fortemente na Bíblia para apoiar cada afirmação.

Hélio logo perdeu o interesse por outras igrejas. O livro Uma Obra Maravilhosa e um Assombro havia captado completamente sua atenção. “Este livro”, pensou ele, “tem respostas que nenhum outro tem”.

Ele sabia que tinha de procurar a Igreja. Havia mais a aprender sobre os santos.

  1. Jue, Reminiscência, p. 4; Harold B. Lee, em One Hundred Twenty-Fifth Semi-annual Conference, p. 131.

  2. Jue, Reminiscência, pp. 3–4; Britsch, From the East, pp. 234–235; Lee, Diário, 25 de setembro de 1954; Harold B. Lee para “Prezados irmãos”, 13 de outubro de 1954, Primeira Presidência, Correspondência da missão, 1950–1959, Biblioteca de História da Igreja; Harold B. Lee, em One Hundred Twenty-Fifth Semi-annual Conference, pp. 125–126. Tópico: Hong Kong.

  3. Jue, Reminiscência, p. 4; Harold B. Lee, em One Hundred Twenty-Fifth Semi-annual Conference, p. 131. Tópico: Harold B. Lee.

  4. Jue, Reminiscência, p. 5; Britsch, From the East, pp. 33–39, 231–235; Stout, Diário, 9 de junho de 1853; Xi, “History of Mormon-Chinese Relations”, pp. 24–25.

  5. Jue, Reminiscência, pp. 1–4; Britsch, From the East, pp. 231–233.

  6. Jue, Reminiscência, p. 5; Southern Far East Asian Mission Report, 9 de maio de 1955; Britsch, From the East, pp. 235–237.

  7. Harold B. Lee, em One Hundred Twenty-Fifth Semi-annual Conference, p. 131; Jue, Reminiscência, p. 5; Heaton, Personal History, vol. 2, p. 19; Britsch, From the East, pp. 98, 236; Harold B. Lee para “Prezados irmãos”, 13 de outubro de 1954, Primeira Presidência, Correspondência da missão, 1950–1959, Biblioteca de História da Igreja. Tópicos: Guam; Filipinas; Taiwan.

  8. Lee, Diário, 22 de setembro de 1955; S. Perry Lee, “Third European Temple Site Chosen”, Deseret News, 23 de setembro de 1955, p. 1; S. Perry Lee, “Pres. McKay Home, Pleased with Bern Temple, Choir”, Church News, 24 de setembro de 1955, p. 2; “Pres. McKay Tells Plans for Third Europe Temple”, Salt Lake Tribune, 23 de setembro de 1955, seção 2, p. 1; Santos, vol. 3, capítulo 39. Tópicos: David O. McKay; Suíça.

  9. Santos, vol. 3, capítulo 39; Rebecca Franklin, “A Mighty People in the Rockies”, New York Times, 3 de abril de 1955, p. 17; David O. McKay, em One Hundredth Annual Conference, pp. 82–83; David O. McKay, “The Church—A World-Wide Institution”, Deseret News, 20 de dezembro de 1947, seção do Church News, p. 4; Joseph Smith, “Church History”, 1º de março de 1842, em JSP, H1:499–500. Tópicos: Globalização; Construção de templos.

  10. Deseret News 1989–1990 Church Almanac, p. 205; Rebecca Franklin, “A Mighty People in the Rockies”, New York Times, 3 de abril de 1955, p. 17; David A. Smith, em One Hundred Fourth Semi-annual Conference, p. 73; Wallace F. Toronto para J. Spencer Cornwall, 24 de novembro de 1946; Kenneth Lyman e outros para o Coro do Tabernáculo Mórmon, 10 de fevereiro de 1949, Mormon Tabernacle Choir Fan Mail, Biblioteca de História da Igreja; “Listening Post”, Tab (Salt Lake City), 2 de outubro de 1949, pp. 1, 3–4; Cornwall, Century of Singing, pp. 278–294; O’Dea, Mormons, pp. 2, 146–147, 255; Lythgoe, “Changing Image of Mormonism in Periodical Literature”, pp. 147, 182–183, 186–187, 193–194; Shipps, Sojourner, pp. 68–72. Tópico: Coro do Tabernáculo.

  11. Paul L. Anderson e Richard W. Jackson, “Building Program”, em Ludlow, Encyclopedia of Mormonism, vol, 1, pp. 236–238; Allen e Leonard, Story of the Latter-day Saints, pp. 551, 571–572; Gordon T. Allred, “The Great Labor of Love”, Improvement Era, abril de 1958, pp. 226–229, 268–271; ver também, por exemplo, Jackson, Places of Worship, pp. 175–189, 222–225, 239–252; e “Chicken Dinner Helps Pay for Boise Air Conditioning”, Deseret News, 22 de agosto de 1951, seção da Igreja, p. 12.

  12. Ver, por exemplo, John Csarnecki para “Prezados irmãos”, 1º de janeiro de 1954; 12 de agosto de 1954; Dr. N. K. Panchal para Joseph Anderson, 9 de janeiro de 1954; Joseph Anderson para “Prezado bispo Panchal”, 25 de janeiro de 1954; John Beturas e Mary Beturas para David O. McKay, 25 de outubro de 1954; Joseph Anderson para John Beturas e Mary Beturas, 10 de novembro de 1954, Primeira Presidência, Arquivos gerais de correspondência, Biblioteca de História da Igreja. Tópico: Crescimento da Igreja.

  13. McKay, Diário, 25 de outubro de 1955; David O. McKay, em One Hundred Twenty-Third Semi-annual Conference, pp. 11–12; Plewe, Mapping Mormonism, p. 156; Kuehne, Mormons as Citizens of a Communist State, pp. 40–44, 55–61; Mehr, “Enduring Believers”, pp. 140–144; Van Orden, Building Zion, pp. 193–215; ver também Santos, vol. 3, capítulos 33, 3536.

  14. McKay, Diário, 22 de janeiro–14 de fevereiro de 1954; 28 de setembro de 1955; 13 de junho de 1956; Quórum dos Doze Apóstolos, Atas do Comitê Missionário, 14 de abril de 1955; Albert L. Zobell Jr., “President McKay Visits Missions in Latin America”, Improvement Era, abril de 1954, pp. 228–229; Ilma Lewis, “Pres. McKay Lays Chapel Cornerstone”, Church News, 13 de fevereiro de 1954, p. 3; Joseph Fielding Smith, em One Hundred Twenty-Sixth Semi-annual Conference, pp. 42–44.

  15. Allen, “West Africa before the 1978 Priesthood Revelation”, pp. 210–218; Santos, vol. 2, capítulos 12 e 39; Santos, vol. 3, capítulo 16; Primeira Presidência para Bryan Bunker, 10 de junho de 1952, Primeira Presidência, Arquivos de correspondência geral, Biblioteca de História da Igreja; E. O. Dick para “Irmão em Cristo”, 6 de junho de 1953; Primeira Presidência para Harvey Taylor, 27 de fevereiro de 1959, Primeira Presidência, Correspondência da missão, 1946–1969, Biblioteca de História da Igreja; C. E. Otu para “Prezados irmãos”, 24 de setembro de 1955, Primeira Presidência, Arquivos administrativos gerais, 1923, 1932, 1937–1967, Biblioteca de História da Igreja. Tópico: Sacerdócio e restrição ao templo.

  16. McKay, Diário, 10 de março de 1956; Santos, vol. 3, capítulo 24; Cowan, Beacon on a Hill, pp. 16–38, 120–146.

  17. McKay, Diário, 11 de março de 1956; David O. McKay, “Dedicatory Prayer”, Improvement Era, abril de 1956, p. 226.

  18. Hélio da Rocha Camargo, “Meu testemunho”, A Liahona (São Paulo, Brasil), março de 1959, p. 75; Camargo, Entrevista de história oral, p. 9; Santos, vol. 3, capítulo 18; Departamento Missionário, Relatórios mensais de progresso das missões de tempo integral, junho de 1956. Tópico: Brasil.

  19. Sorensen, “Personal History”, p. 172; Camargo, Entrevista de história oral, pp. 9–10; Hélio da Rocha Camargo, “Meu testemunho”, A Liahona (São Paulo, Brasil), março de 1959, pp. 75–76; Chipman e Richardson, Entrevista de história oral, p. 19.

  20. Sorensen, “Personal History”, p. 173; Camargo, Entrevista de história oral, p. 10; Hélio da Rocha Camargo, “Meu testemunho”, A Liahona (São Paulo, Brasil), março de 1959, p. 76; Chipman e Richardson, Entrevista de história oral, pp. 19–20; Camargo, Reminiscências, pp. 43–44; “Onward March”, Church News, 5 de outubro de 1957, p. 15. Tópico: Massacre de Mountain Meadows.

  21. Muti, Livro de recordações, pp. [55], [71]; Muti, “Mosese Lui Muti”, p. 169; Muti, Entrevista de história oral, p. 16; Muti e Muti, Man of Service, pp. 145–146; Britsch, Unto the Islands of the Sea, p. 475.

  22. Allen e Leonard, Story of the Latter-day Saints, pp. 571–572; Primeira Presidência para D’Monte Coombs, 14 de dezembro de 1954, Primeira Presidência, Correspondência da missão, 1950–1959, Biblioteca de História da Igreja; Moffat, Woods e Anderson, Saints of Tonga, pp. 200–204, 222; Britsch, Unto the Islands of the Sea, pp. 474–475. Tópicos: Programa de construção; Tonga.

  23. Muti e Muti, Man of Service, p. 146; Departamento Missionário, Relatórios de progresso das missões de tempo integral, abril de 1956; Allen e Leonard, Story of the Latter-day Saints, pp. 571–572; Feinga, “Labor Missions in Tonga and Hawai‘i”, pp. 46–48; Gordon T. Allred, “The Great Labor of Love”, Improvement Era, abril de 1958, pp. 270–271.

  24. Muti, “Mosese Lui Muti”, p. 170; Muti e Muti, Man of Service, pp. 16, 27, 30, 36, 145, 336–337; Charles Woodworth para Marsha Davis, 10 de junho de 1956, Documentos de Charles J. Woodworth, Biblioteca de História da Igreja; Moffat, Woods e Anderson, Saints of Tonga, pp. 188–195, 207–209.

  25. Muti, Entrevista de história oral, p. 17; Muti, “Mosese Lui Muti”, p. 170.

  26. Muti e Muti, Man of Service, pp. 146–147; Woodworth, Diário da missão, 16 de fevereiro e 23 de maio de 1956; Charles Woodworth para Marsha Davis, 25 de maio de 1956, Documentos de Charles J. Woodworth, Biblioteca de História da Igreja; Mortensen, “Serving in Paradise”, pp. 18–19, 37–39.

  27. Muti, “Mosese Lui Muti”, p. 170.

  28. Muti, “Mosese Lui Muti”, p. 170; Muti e Muti, Man of Service, p. 148; Muti, Livro de recordações, pp. [71], [84]; Muti, Entrevista de história oral, pp. 9–10; Charles Woodworth para Marsha Davis, 10 de junho de 1956; 18 de fevereiro de 1957; 18 de junho de 1957, Documentos de Charles J. Woodworth, Biblioteca de História da Igreja.

  29. Muti, Livro de recordações, pp. [92]–[93]; Muti, Entrevista de história oral, pp. 15–16; Muti, “Mosese Lui Muti”, p. 172.

  30. Muti, Livro de recordações, pp. [71]–[72]; Woodworth, Diário da missão, 29 de maio de 1956; Woodworth, “District News”, p. 2; Muti, “Mosese Lui Muti”, pp. 170–171; Muti e Muti, Man of Service, pp. 48–51, 150–151.

  31. Camargo, Entrevista de história oral, p. 10; Camargo, Reminiscências, p. 42; Rodriguez, From Every Nation, p. 131.

  32. Camargo, Entrevista de história oral, pp. 10–11; Camargo, Reminiscências, p. 42; de Queiroz, Entrevista de história oral [2011], p. 6.

  33. Camargo, Entrevista de história oral, pp. 10–13; Camargo, Reminiscências, pp. 42, 45; de Queiroz, Entrevista de história oral [2011], p. 6; de Oliveira, Entrevista de história oral, pp. 2–3; John L. Hart, “Skills Gained in Military, Business and Ministry Prepared Him for New Calling”, Church News, 16 de junho de 1985, p. 4.

  34. Rodriguez, From Every Nation, p. 132; Camargo, Reminiscências, p. 43.

  35. Rodriguez, From Every Nation, p. 132; Camargo, Entrevista de história oral, p. 11.

  36. Camargo, Entrevista de história oral, pp. 10, 12–13; Camargo, Reminiscências, pp. 43, 44; Rodriguez, From Every Nation, pp. 132–133; Hélio da Rocha Camargo, “Meu testemunho”, A Liahona (São Paulo, Brasil), março de 1959, p. 76; LeGrand Richards, A Marvelous Work and a Wonder, Salt Lake City: Deseret Book, 1950; “4 Churchmen Elevated after Long Service”, Deseret News, 7 de abril de 1952, A1.