Capítulo 37
As respostas virão
“O que você acha?”
A pergunta de Marco Villavicencio ficou no ar esperando por uma resposta de sua esposa, Claudia. Sua empresa, uma companhia de telecomunicações em Machala, Equador, tinha acabado de lhe oferecer a oportunidade de abrir um novo escritório em Puerto Francisco de Orellana, uma pequena cidade na floresta amazônica ao leste do Equador.
Marco estava interessado no cargo, que incluía uma promoção, mas ele não queria decidir sem consultar sua esposa. O trabalho exigiria que o casal e seu filho de quatro anos, o pequeno Sair, se mudassem para um lugar a mais de 600 quilômetros de distância.
Claudia, assim como Marco, havia crescido em uma cidade grande, então se mudar para o meio da floresta tropical seria uma grande mudança. Mas ela apoiou Marco e queria que ele crescesse em sua carreira. Ela também gostou da ideia de se mudar para uma área rural. Pensava que isso estreitaria os laços familiares entre eles.
Contudo, tanto ela quanto Marco tinham a mesma dúvida sobre Puerto Francisco de Orellana: “Há um ramo da Igreja ali?” Ambos serviram missão, e a Igreja era importante para eles. Eles queriam que seu filho crescesse em um lugar onde pudesse frequentar a Primária, aprender o evangelho e ter experiências espirituais. O Equador tinha quase 200 mil santos dos últimos dias, mas a maioria deles morava perto de grandes cidades como Quito, capital do país, e Guayaquil, onde uma casa do Senhor tinha sido dedicada em 1999.
Puerto Francisco de Orellana, conhecida localmente como El Coca, era pequena em comparação com outras cidades, embora tenha crescido rapidamente depois da descoberta de petróleo alguns anos antes. Claudia procurou por uma ala ou ramo próximo da cidade com o auxílio do localizador de capelas no site da Igreja. A busca não trouxe resultados, mas pouco tempo depois, amigos de Marco e Claudia contaram que havia outros membros da Igreja que se mudaram para lá para trabalhar.
A notícia foi um consolo para Marco e Claudia. Depois de orarem sobre a oferta, eles decidiram aceitar o trabalho.
A família Villavicencio chegou a El Coca em fevereiro de 2009. A cidade ficava em meio à densa floresta, mas para a surpresa da família, não parecia estar desconectada do resto do mundo. Em todos os lugares que olhavam, as pessoas estavam ocupadas com seus negócios.
Quando o proprietário do lugar onde eles iriam ficar soube que eles eram membros da Igreja, disse que sabia onde um grupo de membros se reunia para ler as escrituras. “Eu emprestei a eles a casa”, disse o homem.
O grupo estava se reunindo todos os domingos de manhã às nove horas para cantar hinos, ler a revista Liahona e estudar as escrituras. Eles também entraram em contato com Timothy Sloan, presidente da Missão Equador Quito, que enviou dois missionários para visitá-los. Contudo, os missionários moravam a quatro horas de El Coca e não conseguiam estar presentes com frequência.
Marco, Claudia e Sair começaram a participar das reuniões de domingo toda semana. No começo, Sair sentia falta da Primária e perguntava onde estavam as outras crianças. Marco e Claudia também tinham saudades da vida de antes, mas ao se dedicarem a fundo no serviço do Senhor, conseguiam minimizar esse sentimento.
Quando os missionários chegaram à cidade, Marco pediu ajuda para encontrar mais membros. “Élderes”, disse ele, “acho que vocês precisam andar pela cidade”. Ele pensava que, se as pessoas reconhecessem os missionários, perguntariam a eles onde poderiam se reunir com outros membros locais.
Pouco a pouco, os membros da Igreja na cidade ficaram sabendo da reunião e se juntaram ao grupo. Com o crescimento do grupo, Marco acabou se tornando seu líder. Os missionários começaram a vir toda semana para ensinar as pessoas e encontrar mais membros da Igreja. Em pouco tempo, os santos em El Coca receberam permissão para seguir o programa de unidades básicas da Igreja.
E com a permissão veio a autoridade para ministrar o sacramento.
Quando Angela Peterson Fallentine soube que seria extremamente difícil para ela e seu marido ter filhos biológicos, telefonou para a mãe. “Eu não sei o que fazer”, disse ela. “Não conheço ninguém que tenha passado por isso.” Ela estava aterrorizada.
Sua mãe, depois de ouvi-la, perguntou se ela se lembrava de Ardeth Kapp, a ex-presidente geral das Moças. “Ela e o marido nunca foram abençoados com filhos”, contou para Angela, “Mas ela sempre foi um exemplo de como lidar com infertilidade sem deixar que isso a definisse.
Não deixe que isso seja um obstáculo para você”, continuou sua mãe. “Sinto que você precisa compreender a doutrina da maternidade e da família, caso contrário, será algo que continuará incomodando você pelo resto de sua vida.”
Prosseguiu: “Não sei por que você e John têm que passar por isso ou quanto tempo durará, mas se puder aguentar e tentar entender o que o Senhor precisa que você aprenda com isso, as respostas virão”.
Angela podia sentir o amor e o apoio de sua mãe naquelas palavras, e as guardou no coração enquanto ela e John continuavam explorando alternativas como a adoção e a fertilização in vitro. Ao mesmo tempo, enfrentavam os desafios que surgiam para realizarem o sonho de serem pais. Quando eles pesquisaram sobre a adoção por meio dos Serviços Familiares SUD e do programa nacional da Nova Zelândia, perceberam que as suas chances de adotar eram extremamente baixas.
Enquanto enfrentava seguidas decepções, Angela se apoiou na oração, no jejum e na adoração no templo em busca de ajuda. Ela pensava constantemente no Salvador, confiante de que Ele a estava ajudando a suportar as suas provações. Ao mesmo tempo, Angela também desejava que Ele simplesmente a livrasse de todas elas. Nesses momentos de maior angústia, John a confortava. Ele tinha fé de que tudo ficaria bem.
Os olhos de Angela ainda eram atraídos para a proclamação da família pendurada na parede. Ela sempre amou seus ensinamentos. Mas depois de descobrir sobre sua infertilidade, ela muitas vezes sentia um aperto no coração quando lia a afirmação sobre o “mandamento dado por Deus a Seus filhos, de multiplicarem-se e encherem a Terra”. Angela entendeu que ela e John não estavam quebrando nenhum mandamento, pois não era culpa deles não poderem ter filhos naturalmente. Mas mesmo quando eles começaram os tratamentos para sua infertilidade, Angela se perguntou se estavam fazendo o suficiente.
Nessa época, eles se mudaram para Tauranga, uma cidade grande na Baía de Plenty, na Nova Zelândia, e Angela foi chamada como presidente das Moças da estaca. O novo chamado a deixou insegura. Ela tinha trinta e poucos anos e se sentia jovem demais para dizer às outras líderes o que fazer. Ao mesmo tempo, também se preocupava em estar velha demais para se relacionar com as jovens. Angela orou para saber como guiá-las.
Logo descobriu que poderia se relacionar com as moças de maneiras que não esperava. Ela era mais jovem que os pais delas e muitas moças a admiravam e consideravam seus conselhos. Ela, por sua vez, conseguia fazer amizade com as jovens e incentivá-las de uma maneira que a mãe delas não conseguia. Sem seus próprios filhos, ela descobriu que poderia dedicar seu tempo a elas e ser uma figura de confiança para aconselhá-las naquilo que precisavam.
Ela e seu marido também se sentiam felizes em apoiar outras famílias em sua ala e estaca. Faziam churrascos, sessões de cinema ao ar livre e encontros para a noite no lar. Durante as conferências gerais, eles convidavam as moças para comer crepes antes de irem à sede da estaca, onde participavam da transmissão geral das Moças. Como era difícil estar longe da família na época do Natal, eles realizavam uma festa na véspera de Natal para imigrantes que conheciam da África do Sul e da ilha de Niue. Essas atividades sempre enchiam a casa de Angela e John de crianças, e eles adoravam passar o tempo com elas e com os pais que as acompanhavam.
Um dia, ao passar pela proclamação da família emoldurada na parede, Angela se atentou às palavras da introdução: “Nós, a Primeira Presidência e o Conselho dos Doze Apóstolos de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, solenemente proclamamos…”
“Eu realmente acredito nisso?” Ela se perguntou. “Eu realmente acredito no que eles estão dizendo e que eles são profetas e apóstolos?” Suas experiências mudaram a maneira como ela lia e entendia a proclamação da família. No entanto, ela sabia que os profetas e apóstolos tinham testemunho especial de Jesus Cristo, e ela acreditava nas palavras deles.
Ela estava começando a perceber que havia muitas maneiras de ser mãe e tinha fé que ela e John teriam a oportunidade de se tornarem pais na eternidade. Esse entendimento a ajudou a compreender a importância do casamento e da família no plano de salvação.
Ela se lembrou de como a proclamação da família havia inspirado e impressionado o mecânico e oficial do Oriente Médio que conheceu em Washington, DC. As verdades que a proclamação ensinava eram poderosas e relevantes para sua vida, e ela confiava nelas.
De volta a El Coca, Equador, Marco Villavicencio havia conseguido facilmente abrir um escritório de telecomunicações na cidade, mas gerenciá-lo era um desafio diário. Seus funcionários eram novos no setor e precisavam de treinamento antes que pudessem atender adequadamente às necessidades dos clientes. Depois, havia a questão de encontrar clientes. Como o escritório era novo, Marco e sua equipe passaram grande parte do tempo conhecendo pessoas e promovendo seus negócios. O trabalho duro não foi em vão, o escritório estava crescendo.
Mesmo tão ocupado, Marco encontrava tempo para sua família e a Igreja. A cada mês que passava, mais e mais pessoas apareciam para as reuniões sacramentais nas manhãs de domingo. O Espírito do Senhor havia preparado muitas pessoas para o evangelho restaurado de Cristo. Eles ansiavam por saber sobre Deus e Seu amor.
Os missionários passaram a visitar a cidade mais vezes durante a semana para ensinar as pessoas e convidá-las para a igreja. Marco e Claudia se perguntavam quanto tempo levaria para que o grupo deles se tornasse um ramo.
Sete meses após a chegada da família Villavicencio a El Coca, o presidente da missão, Timothy Sloan, visitou a cidade. Já que Marco liderava o grupo da Igreja local, o presidente Sloan pediu que ele o apresentasse aos santos enquanto eles visitavam El Coca.
Durante boa parte da manhã e uma parte da tarde, Marco guiou o presidente da missão pelas ruas da cidade. O presidente Sloan estava especialmente interessado em conhecer os portadores do sacerdócio de Melquisedeque, muitos dos quais conseguiu entrevistar. Enquanto se deslocavam de um lugar para outro, ele também perguntou a Marco sobre a sua família, carreira e experiência com a Igreja.
No final do dia, o presidente Sloan disse a Marco que queria conversar. Eles foram à casa onde os santos realizavam suas reuniões e procuraram uma sala vazia. O presidente Sloan então confidenciou que estava orando para encontrar um presidente de ramo na cidade. “Eu tive o sentimento de que você é essa pessoa”, disse ele. “Você aceita este chamado do Senhor?”
“Sim”, respondeu Marco.
No dia seguinte, em 6 de setembro de 2009, o presidente Sloan organizou o ramo de Orellana e designou Marco como seu presidente. Uma semana depois, o escritório da área da Igreja em Quito enviou cadeiras, quadros negros, mesas e outros itens para o local de reuniões do ramo.
O ramo contava com muitos novos líderes, inclusive Claudia, que serviu como presidente das Moças. A maioria dos líderes tinha pouca experiência na Igreja, então Marco fez do treinamento uma prioridade. Ele queria que os líderes do ramo fossem exemplos de amor e serviço cristão. Ele usou todos os recursos que tinha em mãos, todos os manuais e vídeos da Igreja, para ajudar os novos líderes a aprender quais eram as suas responsabilidades. Como os celulares estavam se tornando mais comuns na cidade, ele ligava para membros do ramo ou enviava mensagens de texto durante a semana para conduzir os negócios do ramo, planejar atividades e atender às necessidades de seus amigos membros da Igreja.
Entre os itens que o ramo recebeu da Igreja estava um computador com acesso à internet. A Igreja havia desenvolvido um programa de computador chamado Serviços para Membros e Líderes para ajudar os líderes e secretários locais a registrar e relatar o dízimo, a frequência dos membros e outros dados com precisão e segurança. Marco tinha familiaridade com computadores devido a sua experiência no setor da tecnologia e aprendeu rapidamente a usar o programa. Como os computadores eram raros em El Coca, ele também teve que mostrar a alguns dos novos líderes como usá-los. Felizmente, o Espírito os guiou, e como eram dedicados, logo se adaptaram à tecnologia.
Nas reuniões de conselho do ramo, Marco e outros líderes compartilhavam abertamente seus pensamentos sobre como ajudar as pessoas que estavam sob seus cuidados. O conselho entendia que todos no ramo precisavam desenvolver um testemunho de Jesus Cristo. Nas reuniões e atividades do ramo, Marco e os demais líderes falavam de Cristo com frequência, criando um ambiente em que visitantes e membros novos podiam sentir Seu amor e achegar-se a Ele.
Um mês após a organização do ramo, a Igreja transmitiu a conferência geral semestral via rádio, televisão, satélite e internet. Embora esses canais de comunicação tenham atingido a maioria das áreas do mundo, o ramo em El Coca ainda não tinha acesso à televisão por satélite ou a uma conexão de internet forte o suficiente para transmitir uma conferência. Porém, pouco tempo depois, o escritório da Igreja em Quito enviou ao ramo a gravação da conferência em espanhol, em formato de DVD.
Na esperança de replicar a experiência de assistir à conferência ao vivo, Marco e outros líderes do ramo decidiram mostrar a gravação ao longo de um fim de semana, dividindo-a por sessão. Na casa, eles arrumaram as cadeiras, a televisão, as caixas de som, e fizeram convites especiais para enviar a cada um dos membros. Claudia ficou encarregada de recepcionar as pessoas quando chegassem.
No dia da primeira sessão, os membros vieram vestidos com roupas de domingo. Alguns estavam familiarizados com a conferência geral, enquanto outros não tinham ideia do que esperar. O Espírito preencheu a sala enquanto todos ouviam atentamente os oradores e desfrutavam da música do Coro do Tabernáculo.
Muitos dos membros mais novos achavam que a Igreja era pequena e local. Quando assistiram à conferência, porém, viram que faziam parte de uma organização mundial. Assim como eles, milhões de outros membros da Igreja estavam trabalhando juntos para levar adiante a obra do Senhor.
No início de 2010, mais de 170 mil membros da Igreja moravam nas ilhas do Caribe. Na República Dominicana, lar de dois terços desses santos, havia dezoito estacas e três missões. Em 1998, a Igreja criou um Centro de Treinamento Missionário em Santo Domingo, capital da República Dominicana, para preparar missionários do Caribe para o serviço. Dois anos depois, em setembro de 2000, o presidente Hinckley foi à cidade para dedicar o templo de Santo Domingo, a primeira casa do Senhor na região.
Quando os missionários da Igreja chegaram à República Dominicana em 1978, cerca de uma dúzia de membros, os únicos santos no país, os encontraram no aeroporto. Entre eles estavam Rodolfo e Noemí Bodden. A família Bodden e vários de seus filhos haviam se juntado à Igreja três meses antes, graças a seus amigos John e Nancy Rappleye e Eddie e Mercedes Amparo. Nos anos que se seguiram, Rodolfo e Noemí serviram fielmente na Igreja.
O evangelho restaurado se espalhou para outras nações do Caribe de maneiras semelhantes. Na Jamaica, uma ilha a oeste da República Dominicana, os missionários da Igreja haviam pregado o evangelho já na década de 1850. Mas a Igreja não se estabeleceu lá até que os conversos nascidos na Jamaica, Victor e Verna Nugent, despertassem interesse pelo evangelho na década de 1970. Victor e Verna receberam um Livro de Mórmon de um colega de trabalho americano, Paul Schmeil. Ele também lhes apresentou o filme da Igreja, O Homem em Busca da Felicidade; e a mensagem transmitida pelo filme, juntamente com o exemplo cristão de Paul, inspirou Victor.
Em 20 de janeiro de 1974, a família Nugent foi batizada. Quatro anos mais tarde, depois que a revelação do presidente Spencer W. Kimball abriu as portas para os Nugents e outras pessoas de ascendência africana negra receberem todas as bênçãos do sacerdócio, a família foi selada no Templo de Salt Lake.
Nesse mesmo ano, 1978, outro santo dos últimos dias norte-americano, Greg Young, batizou seus amigos John e June Naime em Barbados. Pouco mais de um ano depois, o primeiro ramo em Barbados foi organizado com John como presidente do ramo e June como presidente da Sociedade de Socorro. Mais tarde, Barbados serviu como sede da Missão Índias Ocidentais, e o evangelho se espalhou de lá para Granada, Guadalupe, Santa Lúcia, Martinica, São Vicente, Guiana Francesa, São Martinho e outros países vizinhos.
Enquanto isso, no Haiti, o haitiano nascido no Chile, Alexandre Mourra, soube da Igreja por um parente que havia conseguido uma cópia do Livro de Mórmon e outras literaturas da Igreja de missionários na Flórida. Após ler o testemunho do profeta Joseph Smith, Alexandre pediu um Livro de Mórmon para si e nele teve o testemunho da verdade. Como a Igreja ainda não estava no Haiti, ele voou para a Flórida, reuniu-se com o presidente da missão lá e foi batizado em julho de 1977. Ele então voltou para casa em Porto Príncipe e ensinou o evangelho às pessoas. Um ano depois, o presidente da missão visitou o Haiti e oficiou o batismo de 22 amigos de Alexandre.
A Igreja no Haiti continuou a crescer nos anos que se seguiram, apesar da agitação social e política que frequentemente assolava o país. Ao final de 2009, havia 16 mil santos espalhados por duas estacas e dois distritos. Sua resiliência foi testada em 12 de janeiro de 2010, quando um terremoto devastador atingiu o Haiti, destruindo casas e matando mais de 200 mil pessoas, incluindo 42 santos dos últimos dias.
Quando o terremoto aconteceu, Soline Saintelus estava com o bispo na capela de Porto Príncipe. Seu marido, Olghen, estava trabalhando em um hotel local. Eles correram para casa, um conjunto de apartamentos, onde seus três filhos pequenos estavam aos cuidados da babá. Do edifício, restaram apenas escombros.
“Pai Celestial”, orou Olghen, “se for de Tua vontade e se houver apenas um de meus filhos vivo, por favor, ajuda-nos”.
Por dez horas, a equipe de resgate escavou os escombros. A certa altura, eles ouviram o filho mais velho, Gancci, de cinco anos, cantando “Sou um filho de Deus”, seu hino favorito. Sua voz ajudou os trabalhadores a resgatar não somente ele como seus irmãos e a sua babá.
Nas semanas seguintes, a Igreja ajudou líderes locais e organizações humanitárias no fornecimento de médicos, tendas, alimentos, cadeiras de rodas, suprimentos médicos e demais necessidades. Abriu também capelas para abrigar muitas pessoas que perderam suas casas no desastre. Posteriormente, a Igreja ajudou as pessoas a encontrar emprego e iniciar novos negócios.
Assim que foi resgatado, Gancci Saintelus foi levado em estado grave à Flórida para receber tratamento médico. Lá, os membros locais da Igreja prestaram assistência à família Saintelus, doando brinquedos, alimentos, fraldas e outros recursos. A bondade deles levou Olghen às lágrimas.
“Sou muito grato à minha igreja”, disse ele.
Em setembro de 2010, os moradores de Luputa, na República Democrática do Congo, tinham quase terminado de colocar a tubulação para a canalização de água potável financiada pela Igreja. Em conversa com um jornalista, o presidente distrital, Willy Binene, enfatizou a importância de haver água encanada.
“O homem consegue viver sem eletricidade”, disse ele. “Mas a falta de água potável é um fardo quase insuportável.”
Se o repórter percebeu ou não, Willy estava falando com base na experiência de vida. Como estudante de engenharia elétrica, ele nunca havia desejado morar em Luputa, uma cidade sem eletricidade. Contudo, seus planos mudaram e ele se adaptou bem — chegando até a prosperar — sem energia. Ele, sua família e todas as outras pessoas na região, sofreram os efeitos dolorosos de doenças transmitidas pela água. Na igreja, para não correrem o risco de contaminação, fizeram um grande esforço comprando água engarrafada para o sacramento.
Todavia, com um pouco mais de trabalho, a vida em Luputa estava prestes a mudar. Desde o início do projeto, foram estabelecidos os dias de trabalho na canalização para cada bairro da cidade e dos seus arredores. Naquela fase, os caminhões da ADIR, a organização que gerenciava o projeto, passava cedo nos bairros para transportar os voluntários até o local de trabalho.
Como presidente do distrito, Willy queria ser um líder modelo. Nos dias em que seu bairro estava na escala de trabalho, ele deixava seu trabalho de enfermagem de lado para ajudar a cavar. Entre Luputa e a fonte de água limpa havia quilômetros de colinas e vales. Como a tubulação precisava da gravidade para funcionar, os voluntários tiveram que cavar a vala e enterrar os canos com precisão para garantir que a água fluísse adequadamente.
Willy e os voluntários cavaram tudo manualmente. A vala tinha que ter aproximadamente 46 centímetros de largura e 1 metro de profundidade. Em alguns lugares, o solo era arenoso, o que agilizava o trabalho. Já em outros lugares, era um emaranhado de raízes de árvores e rochas, tornando o trabalho exaustivo. Os voluntários só podiam orar para que os incêndios florestais e os ninhos de insetos perigosos não retardassem o andamento do projeto. Em um bom dia de trabalho, eles conseguiam cavar quase 150 metros de vala.
Os santos do distrito de Luputa trabalhavam em turnos extras, devido às suas outras atividades no bairro. Naqueles dias, os homens da Igreja se juntavam aos voluntários regulares para cavar as valas, enquanto as mulheres da Sociedade de Socorro preparavam refeições para os trabalhadores.
O comprometimento dos santos com o projeto ajudou as pessoas a aprender mais sobre a religião deles. A população local via a Igreja como uma instituição que não apenas cuidava de seus próprios membros, mas também da comunidade em geral.
Quando a canalização ficou pronta, em novembro de 2010, muitas pessoas foram a Luputa para testemunhar a chegada da água. Cisternas enormes, instaladas sobre estacas altas foram construídas na cidade para o armazenamento e distribuição de água. No entanto, algumas pessoas se perguntavam se a canalização conseguiria mesmo levar água suficiente para encher os tanques. O próprio Willy tinha suas dúvidas.
Então as comportas se abriram e todos puderam ouvir o som da água enchendo as cisternas. Uma alegria imensa tomou conta da multidão. Dezenas de pequenas estações feitas de concreto para conter a água, distribuídas por toda a cidade, cada uma com muitas torneiras, agora podiam fornecer água potável.
Para comemorar a ocasião, a cidade realizou uma celebração. As festividades atraíram 15 mil pessoas de Luputa e região. Entre os convidados de honra estavam dignitários governamentais e tribais, funcionários da ADIR e um membro da presidência da Área África Sudeste da Igreja. Em um dos tanques de água estava pendurada uma grande faixa com letras azuis brilhantes:
AGRADECEMOS À IGREJA
AGRADECEMOS À ADIR
PELA ÁGUA POTÁVEL
Quando os convidados chegaram e se sentaram sob os gazebos construídos especialmente para a celebração, um coral de jovens santos dos últimos dias cantou hinos.
Assim que todos estavam acomodados, e o burburinho da multidão cessou, Willy pegou um microfone e se dirigiu ao público como um representante local da Igreja. “Assim como Jesus realizou muitos milagres”, disse ele, “hoje presenciamos um milagre com a chegada da água a Luputa”. Ele disse à multidão que a Igreja havia financiado a canalização para toda a comunidade e pediu a todos que fizessem bom uso dela.
E para quem se perguntou por que a Igreja havia se interessado por um lugar como Luputa, ele deu uma resposta simples.
“Somos todos filhos do Pai Celestial”, respondeu. “Devemos fazer o bem a todos.”