História da Igreja
Capítulo 17: Não abandonaremos a fé


Capítulo 17

Não abandonaremos a fé

panfleto do testemunho de Joseph Smith

Na manhã de 10 de outubro de 1975, vários automóveis antigos e reluzentes ganharam vida no campus da Universidade Brigham Young, sinalizando o início do desfile do Dia dos Fundadores da universidade. Milhares de professores, alunos e ex-alunos, representando as diversas faculdades e associações da universidade, marchavam rapidamente atrás dos carros. Ao longe, na encosta de uma montanha ao leste do campus, o gigantesco “Y” branco brilhava sob o sol.

A BYU celebrava sua fundação a cada outono, mas esse ano marcava o centenário da universidade. Para comemorar a ocasião, o presidente Spencer W. Kimball e sua esposa, Camilla, andaram no carro principal, um Cadillac vermelho de 1906. Para combinar com o tema nostálgico do desfile, o presidente Kimball usava um chapéu clássico à moda antiga e um casaco listrado. A irmã Kimball, por sua vez, segurava uma sombrinha de renda preta acima da cabeça.

Embora suas roupas lembrassem o passado, o presidente Kimball tinha os olhos fixos no futuro. Agora que a Igreja estava rapidamente se tornando uma organização mundial, não parecia certo fornecer programas e serviços para alguns membros e não para outros. Os líderes já haviam eliminado os torneios esportivos em toda a Igreja em Salt Lake City. E, em 1974, a Primeira Presidência havia anunciado que a Igreja abdicaria dos 15 hospitais que operava no oeste dos Estados Unidos. Então, no ano seguinte, o presidente Kimball anunciou que todas as conferências anuais das organizações gerais — MIA, Escola Dominical, Primária e Sociedade de Socorro — estavam chegando ao fim porque aconteciam em Salt Lake City e geralmente beneficiavam apenas os santos em Utah e nos arredores.

“Com as distâncias aumentando e o número de membros crescendo muito”, explicou ele, “parece que chegou a hora de dar mais um longo passo em nossa descentralização”.

A proeminência de novas conferências gerais de área foi uma evidência do compromisso da Igreja com seus membros no mundo todo. Somente em 1975, o presidente Kimball presidiu grandes conferências no Brasil, na Argentina, no Japão, nas Filipinas, em Taiwan, em Hong Kong e na Coreia do Sul. E a Igreja estava chamando mais missionários do que nunca. Durante suas viagens como apóstolo, o presidente Kimball distribuía moedas de dólares para as crianças que conhecia, pedindo-lhes que começassem um fundo missionário. Nesse momento, como presidente da Igreja, ele pediu que todos os rapazes servissem missão e incentivou os santos de todos os países a fornecer sua própria força missionária.

Enquanto estava no Japão, ele anunciou planos de construir um templo em Tóquio, o primeiro na Ásia. Mais recentemente, na conferência geral de outubro, ele chamou homens para servir em um novo quórum geral do sacerdócio, o primeiro quórum dos setenta. De acordo com Doutrina e Convênios, o Quórum dos Doze Apóstolos deveria “recorrer aos Setenta (…) quando houver necessidade de auxílio”. Os membros do novo quórum deveriam apoiar os Doze, presidir conferências locais e criar novas estacas no mundo todo. Embora apenas alguns homens tivessem sido chamados para o novo quórum até o momento, ele poderia ter até 70 membros.

O centenário da BYU também fez com que o presidente Kimball pensasse sobre o futuro da universidade. Com cerca de 25 mil alunos, a BYU era a maior das quatro instituições de ensino superior da Igreja, que também incluíam o Ricks College, em Idaho; a BYU–Havaí, em Oahu; e o LDS Business College, em Salt Lake City. Era também a maior universidade particular dos Estados Unidos. Os alunos de lá, e de todas as escolas da Igreja, cumpriam um código de honra que exigia altos padrões de moralidade, honestidade e decoro.

Em 1971, Dallin Oaks, um jovem santo dos últimos dias que era professor de direito na Universidade de Chicago, substituiu o presidente da BYU, Ernest Wilkinson. Sob a liderança do presidente Oaks, a universidade proporcionou mais oportunidades para professoras e alunas mulheres, fundou-se a Faculdade de Direito J. Reuben Clark e outros programas acadêmicos se expandiam.

Nos últimos tempos, entretanto, a universidade vinha sendo inspecionada, pois algumas de suas políticas do código de honra aparentemente violavam as novas leis federais de igualdade de oportunidades. O presidente Oaks e o conselho de administração estavam preocupados com o regulamento, observando que a BYU poderia ser forçada a eliminar certas determinações, como as moradias separadas para homens e mulheres. Eles seguiam o princípio da igualdade de oportunidades na educação e no emprego. No entanto, opunham-se a qualquer lei que exigisse que a universidade comprometesse a liberdade religiosa, adotando políticas que pudessem minar as crenças e práticas da Igreja.

Até o momento, o problema permanecia sem solução. No entanto, como presidente do conselho de administração da BYU, o presidente Kimball foi inflexível em relação ao cumprimento dos padrões da Igreja. Ele acreditava que o compromisso da BYU com o aprendizado secular e espiritual era fundamental para seu sucesso futuro, mesmo que essa abordagem os diferenciasse de outras universidades.

Após o desfile do Dia dos Fundadores, o presidente Kimball falou a uma grande assembleia a respeito de sua visão para o segundo século da BYU. “Esta universidade compartilha com outras universidades a esperança e o trabalho envolvidos na expansão de cada vez mais áreas do conhecimento”, declarou ele, “mas também sabemos que, por meio do processo de revelação, ainda há ‘muitas coisas grandiosas e importantes’ a serem oferecidas à humanidade que terão um impacto intelectual e espiritual muito maior do que meros mortais podem imaginar”.

Ele incentivou o corpo docente e os alunos a serem mais “bilíngues” em seus estudos. “Como estudiosos santos dos últimos dias, vocês devem falar com autoridade e excelência aos seus colegas profissionais na linguagem da erudição”, disse ele, “e também devem ser alfabetizados na linguagem das coisas espirituais”.

Ele incentivou a universidade a abraçar o futuro com fé, seguindo a orientação do Senhor, linha sobre linha. Ele testificou que a universidade seguiria adiante. “Entendemos”, afirmou ele, “que a educação faz parte dos negócios de nosso Pai e que as escrituras contêm os conceitos fundamentais para a humanidade”.

“Temos a expectativa — não apenas a esperança — de que a Universidade Brigham Young se torne uma referência entre as grandes universidades no mundo”, continuou ele. “A essa expectativa, eu acrescentaria: Que a universidade se torne singular em todo o mundo!”


Por volta dessa época, representantes de uma igreja protestante nos Estados Unidos chegaram a Cape Coast, em Gana, procurando por Billy Johnson. Eles tinham ouvido falar que Billy havia realizado milagres poderosos e esperavam persuadi-lo e a seus seguidores a se juntarem à sua igreja. Cerca de 4 mil ganeses em 41 congregações se denominavam santos dos últimos dias. Billy supervisionava cinco dessas congregações. Os representantes precisavam de alguém para cuidar de suas congregações ganesas, e Billy foi considerado o homem certo para liderá-los.

Billy e seus seguidores concordaram em adorar com os visitantes em um centro comunitário na cidade. Os americanos os cumprimentaram lhes oferecendo sabonetes e cosméticos como presente. “Vocês são pessoas gentis e deviam ser nossos irmãos”, disseram eles, “e devemos ficar juntos”. Eles pediram a Billy e aos outros que parassem de esperar por missionários. “Eles não virão.”

Um dos visitantes pediu a Billy que se juntasse a eles e se tornasse um líder em sua igreja. “Pagaremos a você”, disse ele. “Pagaremos a seus ministros.” Eles também se ofereceram para ajudar Billy a visitar os Estados Unidos e prometeram providenciar instrumentos musicais para a congregação e um novo prédio para a igreja.

Naquela noite, Billy convidou os visitantes a ficarem em sua casa enquanto ele considerava a oferta. Por ser realmente muito pobre, ele levou a proposta a sério. Contudo, não queria trair a Deus ou sua própria fé no evangelho restaurado.

Sozinho em seu quarto, Billy chorou. “Senhor, o que devo fazer?”, ele orou. “Esperei por tanto tempo e meus irmãos não vieram.”

“Johnson, nunca cause confusão a si mesmo ou a seus membros”, uma voz lhe disse. “Permaneça firme na Igreja e, muito em breve, seus irmãos virão em seu auxílio.”

Billy concluiu a oração e saiu de seu quarto. Logo, um dos convidados saiu de outro cômodo. “Johnson”, disse o homem, “você não está dormindo?”

“Estou pensando em como resolver as coisas”, admitiu Billy.

“Irmão Johnson”, disse o homem, “queria vir e bater à sua porta para lhe dizer que sua igreja já está organizada. Não devo confundi-lo”. Ele disse que o Senhor havia lhe revelado essa verdade. “Eu deveria ser apenas um irmão para você”, disse ele. “Continue com sua igreja.”

“O Senhor falou comigo também”, disse Billy. “É a Igreja do Senhor. Não posso dar a Igreja a ninguém.”

Representantes de outras igrejas americanas vieram depois com ofertas semelhantes. Billy rejeitou a todos. Logo, líderes de sua própria congregação descobriram que ele estivera recusando dinheiro e presentes dos americanos. Enfurecidos, os líderes invadiram sua casa. “Essas pessoas vieram ajudar”, disse um dos homens. “Eles vão nos pagar em dinheiro.”

“Não venderei a Igreja”, afirmou Billy. “Se levar 20 anos, esperarei pelo Senhor.”

“Você não tem dinheiro”, disse um homem. “Eles querem nos pagar.”

“Não”, disse Billy, “não”.

Os homens pareciam prontos para vencê-lo, mas ele se recusou a mudar de ideia. Por fim, eles recuaram e, ao saírem, Billy abraçou cada um deles. O último homem se desfez em lágrimas quando Billy o pegou nos braços.

“Desculpe por estar magoando você”, disse o homem. “Por favor, peça a Deus que perdoe meus pecados.”

Billy chorou com ele. “Pai”, ele orou, “perdoai-o”.


Em agosto de 1976, em outra parte da África Ocidental, Anthony Obinna enviou uma carta ao presidente Kimball. “Gostaríamos que voltasse sua atenção para a Nigéria”, escreveu ele, “e dedicasse esta terra aos ensinamentos do verdadeiro evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo”.

Dois anos haviam se passado desde a última vez que Anthony ouvira falar de seu contato no Departamento Missionário, LaMar Williams. Enquanto isso, Lorry Rytting, um professor membro da Igreja nos Estados Unidos, havia passado um ano lecionando em uma universidade na Nigéria. Anthony e outros fiéis haviam se encontrado com Lorry e esperavam que sua visita resultasse em um contato mais direto com a sede da Igreja — e talvez o início de uma missão. Lorry havia retornado a Utah e feito aos líderes da Igreja um relato favorável a respeito de como a Nigéria estava pronta para o evangelho, mas nada ainda havia acontecido.

Anthony não estava disposto a desistir. “Os ensinamentos de sua Igreja incorporam coisas tão boas que não podem ser encontradas em outras igrejas”, ele escreveu ao presidente Kimball. “Deus nos chama para sermos salvos, e desejamos que vocês acelerem o trabalho.”

Anthony logo recebeu uma resposta de Grant Bangerter, presidente da Missão Internacional da Igreja, uma missão especial que supervisiona áreas onde membros da Igreja moravam, mas onde a Igreja não era oficialmente reconhecida. O presidente Bangerter disse a Anthony que tinha empatia pela situação, mas informou que ainda não havia planos de organizar a Igreja na Nigéria.

“Incentivamos você, com todo o nosso sentimento de amor fraternal, a seguir a prática de sua fé da melhor maneira que puder até o momento em que for possível para a Igreja tomar medidas mais diretas”, escreveu ele.

Nessa época, Anthony e sua esposa, Fidelia, descobriram que seus filhos estavam sendo assediados e humilhados na escola por causa de suas crenças religiosas. Sua filha de 8 anos contou como os professores chamavam seus irmãos e a ela diante dos outros alunos durante as orações da escola, forçando-os a se ajoelhar com as mãos erguidas e batendo em suas mãos com uma vara.

Depois que Anthony e Fidelia descobriram o que estava acontecendo, foram falar com os professores. “Por que vocês estão fazendo isso?”, perguntaram eles. “Temos liberdade de culto na Nigéria.”

A punição física parou, mas a família e seus companheiros fiéis continuaram a enfrentar oposição da comunidade. “A ausência de visitas de qualquer uma das autoridades de Salt Lake City nos tornou motivo de ridicularização para algumas pessoas aqui”, escreveu Anthony ao presidente Bangerter em outubro de 1976. “Estamos fazendo todo o possível para estabelecer a verdade entre tantos filhos de nosso Pai Celestial nesta parte do mundo.”

Anthony esperou por uma resposta, mas não recebeu nenhuma. Será que suas cartas não haviam chegado a Salt Lake City? Ele não sabia, então escreveu novamente.

“Não nos cansaremos de escrever e pedir que a Igreja seja aberta aqui, como vocês fizeram em todo o mundo”, declarou ele. “Em nosso grupo, estamos seguindo fervorosamente os ensinamentos de nosso Salvador, Jesus Cristo. Não abandonaremos nossa fé.”


Quando Katherine Warren soube do evangelho restaurado pela primeira vez, ela trabalhava como auxiliar de enfermagem na casa de uma mulher no nordeste dos Estados Unidos. Certo dia, ela atendeu a porta e se deparou com dois missionários de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.

“A dona da casa está na cama”, disse Katherine.

“Diga a ela que os élderes de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias vieram”, responderam eles, entregando-lhe um panfleto que continha o testemunho do profeta Joseph Smith. Katherine pegou o panfleto, e os missionários seguiram seu caminho.

Katherine ficou impressionada com os rapazes. Mas, quando sua empregadora descobriu sobre eles, ela pegou o panfleto da mão de Katherine e o jogou na lata de lixo.

Katherine permaneceu intrigada, então recuperou o panfleto. Mais tarde naquele dia, ao ler sobre a Primeira Visão de Joseph Smith e o Livro de Mórmon, ela acreditou em tudo.

Pouco tempo depois, Katherine contou sobre o panfleto a uma amiga. “Acho que tenho esse Livro de Mórmon”, disse a amiga, “e você pode ficar com ele”.

Katherine acreditava que o Senhor a estava levando em busca de algo importante. Depois que começou a ler o Livro de Mórmon, soube que era aquilo que o Senhor queria que ela encontrasse. Quando parte do que o livro ensinava sobre batismo contradisse o que aprendera na infância, ela ouviu uma voz pedindo que não deixasse o livro de lado. “Creia em todas as coisas”, disse a voz.

Não muito tempo depois, Katherine se mudou para Nova Orleans, uma cidade no sul do estado de Louisiana, e se casou. Ansiosa para se reunir com os santos dos últimos dias, ela procurou a Igreja na lista telefônica e foi à ala local. Ela se sentia bem na igreja e começou a frequentá-la regularmente. No entanto, sendo uma mulher negra, ela era tratada de maneira diferente. Algumas pessoas pareciam desconfortáveis com sua presença e até se recusavam a falar com ela. Ela acabou conhecendo uma mulher negra idosa na ala, Freda Beaulieu. Embora Freda amasse o evangelho e fosse membro da Igreja desde a infância, ela não frequentava a ala regularmente.

Vários anos se passaram, e Katherine queria se juntar à Igreja, mas não sabia como. Ela escreveu ao presidente Kimball sobre seu desejo, e ele encaminhou a carta aos líderes da Igreja em Louisiana. Dois missionários servindo na missão do presidente LaMar Williams foram para a casa dela imediatamente.

Os élderes ensinaram a Katherine as lições missionárias-padrão, e logo ela estava pronta para o batismo. Mas, na época, para evitar possíveis conflitos entre casais, a Igreja tinha a política de que uma mulher não poderia ser batizada sem a permissão do marido. No entanto, o marido de Katherine se recusou a dar seu consentimento.

“Irmã Warren, esta é sua Igreja. Você pode continuar a vir aqui”, disseram os élderes quando ela lhes contou a má notícia. “Pode levar 50 anos até que você seja batizada, mas continue vindo à Igreja.”

Então Katherine continuou a frequentar a Igreja. Quando novos missionários chegaram à área, eles começaram a ensiná-la novamente, mas ela sabia todas as respostas para suas perguntas. “Viemos ensiná-la”, disseram a ela, “mas é você quem está ensinando a nós”.

Ainda com a esperança de ser batizada, Katherine novamente procurou a permissão do marido. Dessa vez, ela lhe deu um formulário que os missionários haviam escrito para que ele assinasse. “Se é isso que você quer, vou assinar”, afirmou ele.

Mas, quando o presidente Williams viajou para Nova Orleans a fim de entrevistar Katherine para o batismo, seu marido não a deixou ir falar com ele. Desanimada, Katherine quase desistiu. Ela sabia que o Espírito a havia conduzido à Igreja, mas tentar se tornar membro havia causado um problema após o outro. O esforço valia a pena?

Ela decidiu jejuar e, naquele momento, teve uma visão. Uma figura de terno cinza aparecia em sua casa. No início, ela pensou que fosse um missionário, mas rapidamente reconheceu que era um anjo. Seu rosto brilhava e ele não disse palavras a ela. Ele simplesmente a pegou pela mão. Ela se sentiu inspirada a convidar os missionários e o presidente Williams para entrevistá-la em sua casa. Eles não precisavam se preocupar com a interferência do marido.

O presidente Williams veio a Nova Orleans e entrevistou Katherine. Ela foi batizada no dia de Natal, em 1976.


Na época em que Katherine Warren aceitou o evangelho restaurado, o presidente do Ramo de Saigon, Nguyen Van The, estava preso em Thành Ông Năm, uma fortaleza vietnamita em ruínas que servia como campo de prisioneiros. Ele estava desesperado por notícias de sua esposa e seus filhos, mas o acampamento impedia, em grande parte, seu contato com o mundo exterior. Tudo o que ele sabia sobre o paradeiro de sua família tinha vindo em um telegrama do presidente da Missão Hong Kong: “Lien e a família estão bem. Com a Igreja”.

The havia recebido o telegrama pouco antes de entrar no acampamento. Em um esforço para restaurar a ordem após haver conquistado Saigon, o governo norte-vietnamita exigiu que todos os ex-membros das forças armadas sul-vietnamitas se submetessem a um curso de “reeducação” sobre os princípios e as práticas do novo governo. Tendo em vista que The servira como oficial júnior e professor de inglês no Vietnã do Sul, ele havia se entregado com relutância, esperando que o processo de reeducação durasse cerca de dez dias. Naquele momento, mais de um ano depois, ele se perguntava quando ficaria livre novamente.

A vida em Thành Ông Năm era degradante. The e seus companheiros de cativeiro foram organizados em unidades e alojados em quartéis infestados de ratos. Dormiram no chão frio até que seus captores os fizeram construir camas com chapas de aço. Alimentos escassos e estragados, com as condições insalubres no acampamento, deixaram os homens vulneráveis a doenças como disenteria e beribéri.

A reeducação também envolvia trabalho pesado e doutrinação política. Quando não estavam cortando árvores ou cuidando das plantações para alimentar o acampamento, os homens eram forçados a memorizar as declarações do partido e confessar seus crimes contra o Vietnã do Norte. Qualquer um que quebrasse as regras do acampamento poderia esperar uma surra brutal ou um confinamento na solitária: uma caixa de ferro semelhante a uma lixeira.

Eles haviam sobrevivido até aquele momento por não chamarem a atenção e se agarrarem à sua fé. Ele tentou obedecer às regras do acampamento e praticou sua religião em segredo. Ele observava os domingos de jejum, apesar de estar desnutrido, e, para fortalecer sua fé, recitava silenciosamente as escrituras que tinha memorizado. Quando um colega cristão no acampamento lhe deu uma Bíblia contrabandeada, ele leu o livro inteiro duas vezes em três meses, valorizando a chance de poder ler a palavra de Deus novamente.

Ele desejava ser livre. Por algum tempo, ele considerou fugir do acampamento. Tinha certeza de que poderia usar seu treinamento militar para escapar de seus captores, mas, enquanto orava por ajuda na fuga, sentiu que o Senhor o restringia. “Seja paciente”, sussurrou o Espírito. “Tudo ficará bem no devido tempo do Senhor.”

Algum tempo depois, The soube que sua irmã, Ba, receberia permissão para visitá-lo no acampamento. Se ele pudesse enviar uma carta para sua família, ela poderia enviá-la ao presidente Wheat em Hong Kong, e ele poderia encaminhá-la para Lien e as crianças.

No dia da visita de Ba, The aguardou na fila enquanto os guardas revistavam os prisioneiros à sua frente. Sabendo que os guardas o mandariam direto para a solitária se encontrassem sua carta para Lien, ele escondeu a mensagem atrás da faixa de pano, na parte de dentro de seu chapéu. Então, ele colocou um pequeno caderno e uma caneta no chapéu e os colocou no chão. Com sorte, o caderno distrairia os guardas apenas o suficiente para impedi-los de vasculhar o restante do chapéu.

Quando chegou sua vez de ser revistado, The tentou manter a calma. Mas, quando os guardas o inspecionaram, ele começou a tremer. Pensou no confinamento que o aguardava se os captores descobrissem a carta. Vários momentos de tensão se passaram, e os guardas voltaram sua atenção para o chapéu. Eles examinaram a caneta e o caderno, mas, quando não encontraram nada fora do comum, perderam o interesse em The e o deixaram passar.

Logo, The viu sua irmã se aproximando, então ele discretamente tirou a carta do chapéu e a colocou nas mãos dela. Ele chorou conforme Ba lhe deu comida e dinheiro. Ela e o marido administravam um negócio de produtos hortifrutícolas e não lhes sobrava muito. The se sentia grato por tudo que ela podia ofertar. Quando se separaram, ele confiou que ela enviaria sua carta a Lien.

Seis meses depois, Ba retornou ao acampamento com uma carta. Dentro havia uma fotografia de Lien e das crianças. Os olhos de The transbordaram de lágrimas ao olhar para o rosto deles. Seus filhos haviam crescido muito. Ele percebeu que não conseguia esperar mais.

Tinha que encontrar uma maneira de sair do acampamento e ir para os braços de sua família.

  1. Filmagem do evento Dia dos Fundadores na BYU, 10 de outubro de 1975, filme de 16 milímetros, rolos 25–26, [00:12:02]–[00:15:40], Departamento de História, coleção de filmagens da Igreja em ação, Biblioteca de História da Igreja; Dorothy O. Rea, “Bells Toll Second Century at Y”, Deseret News, 10 de outubro de 1975, p. B1; Dan Croft, “BYU Bell Tower Dedicated as Part of Founder’s Day”, Provo (UT) Daily Herald, 10 de outubro de 1975, p. 1; Lynne Hollstein, “Celebration Marks 100 Years at BYU”, Church News, 18 de outubro de 1975, p. 3; Wilkinson, diário, 10 de outubro de 1975.

  2. “Church Divests Self of Hospitals”, Church News, 14 de setembro de 1974, p. 3; “Athletic Program Changed for Greater Participation”, Church News, 26 de junho de 1971, p. 10; “June Conferences to End, Pres. Kimball Tells Session”, Church News, 28 de junho de 1975, p. 3; Kapp, diário, 7 de setembro de 1974; 4 e 13 de junho de 1975; Deseret News 1976 Church Almanac, pp. A7–A8. Tópicos: Crescimento da Igreja; Globalização.

  3. Deseret News 1976 Church Almanac, pp. A9–A10; Kimball e Kimball, Spencer W. Kimball, pp. 343–344; Spencer W. Kimball, diário, 4 de abril de 1974; Spencer W. Kimball, discurso, seminário de representantes regionais, 4 de abril de 1974, pp. 11–15, Quórum dos Doze Apóstolos, discursos no seminário de representantes regionais, Biblioteca de História da Igreja. Tópico: Crescimento do trabalho missionário.

  4. Hunter, diário, 31 de outubro de 1974; Deseret News 1976 Church Almanac, pp. A5, A9; Spencer W. Kimball, “O tempo de trabalhar é agora”, A Liahona, fevereiro de 1976, p. 1; Doutrina e Convênios 107:38; “Tópicos de debate do Quórum dos Doze”, 14 de dezembro de 1977, p. 3, Gordon B. Hinckley, correspondência da Primeira Presidência e de autoridades gerais, auxiliares, diversos, Biblioteca de História da Igreja. Tópicos: Ajustes na organização do sacerdócio; Quóruns dos setenta.

  5. Universidade Brigham Young, ata do conselho de administração, 9 de outubro de 1975, pp. 2–5; Karen J. Winkler, “Brigham Young University Challenges Parts of Bias Law”, Chronicle of Higher Education, 28 de outubro de 1975, pp. 1, 10; Turley, In the Hands of the Lord, pp. 140–142; Wilkinson, Universidade Brigham Young, vol. 4, pp. 4–27, 79–137, 245–275, 298–305; Primeira Presidência para Neal A. Maxwell e Dallin H. Oaks, 14 de maio de 1973, Primeira Presidência, correspondência geral, Biblioteca de História da Igreja; conselho de educação, ata da reunião do conselho de educação da Igreja, 7 de abril de 1971, pp. 7–8; 5 de janeiro de 1972, pp. 9–10. Tópico: Universidades da Igreja.

  6. Lynne Hollstein, “Celebration Marks 100 Years at BYU”, Church News, 18 de outubro de 1975, p. 3; Wilkinson, diário, 10 de outubro de 1975; Kimball, Second Century Address, pp. 1–3, 9–11.

  7. Joseph Johnson, Entrevista de história oral [1988], pp. 38, 99; Joseph Johnson, Entrevista de história oral [1998], pp. 7, 31–32; Joseph Johnson, Entrevista de história oral [2005], p. 6; Imbrah, Entrevista de história oral, pp. 40–42; William Bangerter para Spencer W. Kimball, 27 de maio de 1976; Spencer W. Kimball, correspondência da sede e arquivos de assuntos, Biblioteca de História da Igreja; Cannon e Bateman, “Report of a Visit to Ghana and Nigeria”, p. 8.

  8. Joseph Johnson, Entrevista de história oral [1988], p. 38; Joseph Johnson, Entrevista de história oral [1998], p. 31; Joseph Johnson, Entrevista de história oral [2005], p. 6; Imbrah, Entrevista de história oral, p. 42.

  9. Joseph Johnson, Entrevista de história oral [1988], pp. 38–40; Joseph Johnson, Entrevista de história oral [1998], p. 31.

  10. Joseph Johnson, Entrevista de história oral [1998], pp. 38–39.

  11. Joseph Johnson, Entrevista de história oral [1998], p. 39; Joseph Johnson, Entrevista de história oral [1998], pp. 7, 31.

  12. Joseph Johnson, Entrevista de história oral [1998], pp. 40–41, 99–101; Joseph Johnson, Entrevista de história oral [1998], p. 31; Joseph Johnson, Entrevista de história oral [2005], p. 7.

  13. Joseph Johnson, Entrevista de história oral [1998], p. 7.

  14. Joseph Johnson, Entrevista de história oral [2005], pp. 7–8.

  15. Anthony Obinna para Spencer W. Kimball, 3 de agosto de 1976, Primeira Presidência, correspondência geral, Biblioteca de História da Igreja.

  16. Anthony Obinna para Spencer W. Kimball, 3 de agosto de 1976, Primeira Presidência, correspondência geral, Biblioteca de História da Igreja; LaMar Williams para Anthony Obinna, 11 de junho de 1974, correspondência do Departamento Missionário da África e Índia, Biblioteca de História da Igreja.

  17. Kalu Oku e outros para Lorry Rytting e Gloria Rytting, 14 de junho de 1975; Lorry Rytting para William Bangerter, 4 de agosto de 1975, coleção de Edwin Q. Cannon, Biblioteca de História da Igreja; Lorry Rytting para “Amigos e irmãos em Cristo”, 15 de agosto de 1975, documentos de missão de Ted e Janath Cannon, Biblioteca de História da Igreja; Lorry Rytting para Carlos E. Asay, 10 de agosto de 1982, arquivos da Missão Internacional, Biblioteca de História da Igreja.

  18. Anthony Obinna para Spencer W. Kimball, 3 de agosto de 1976, Primeira Presidência, correspondência geral, Biblioteca de História da Igreja.

  19. William Bangerter para Anthony Obinna, 24 de setembro de 1976, arquivos da Missão Internacional, Biblioteca de História da Igreja; “Mission Organized to Aid ‘Unattached’”, Church News, 16 de dezembro de 1972, pp. 4, 6; “International Mission Continues to Reach Out”, Ensign, julho de 1976, p. 77.

  20. Anthony Obinna, Entrevista de história oral, p. 24.

  21. Anthony Obinna, Entrevista de história oral, pp. 22–24; Anthony Obinna para William Bangerter, 9 de outubro de 1976, correspondência de Edwin Q. Cannon, Biblioteca de História da Igreja.

  22. Anthony Obinna para William Bangerter, 25 de janeiro de 1977, arquivos da Missão Internacional, Biblioteca de História da Igreja.

  23. Missão Louisiana Baton Rouge, manuscrito histórico e relatórios históricos, 31 de dezembro de 1976, p. 71; Warren, Entrevista de história oral, p. 3; Embry, Black Saints in a White Church, p. 54.

  24. Missão Louisiana Baton Rouge, manuscrito histórico e relatórios históricos, 31 de dezembro de 1976, p. 71; Warren, Entrevista de história oral, pp. 3–4; Roger W. Carpenter, “13 of Convert’s Relatives Join Church”, Church News, 17 de fevereiro de 1979, p. 13.

  25. Warren, Entrevista de história oral, pp. 5, 10–11.

  26. Warren, Entrevista de história oral, p. 5; Manual do Missionário, pp. 34–35; McKay, diário, 26 de fevereiro de 1964.

  27. Warren, Entrevista de história oral, pp. 5–6.

  28. Warren, Entrevista de história oral, pp. 6, 15.

  29. Nguyen e Hughes, When Faith Endures, pp. 158–160, 163, 184, 190.

  30. Nguyen e Hughes, When Faith Endures, pp. 33–35, 53, 58–67, 154–162, 171, 174, 180–181, 189–190; Vo, Bamboo Gulag, pp. 1–2, 53–92.

  31. Nguyen e Hughes, When Faith Endures, pp. 160–162, 165–173, 177; Vo, Bamboo Gulag, pp. 62–63, 72, 77, 117–126.

  32. Nguyen e Hughes, When Faith Endures, pp. 162, 168–169, 174–175; Vo, Bamboo Gulag, pp. 143–146, 151–156.

  33. Nguyen e Hughes, When Faith Endures, pp. 162, 176–179.

  34. Nguyen e Hughes, When Faith Endures, p. 189.

  35. Nguyen e Hughes, When Faith Endures, pp. 190–191.

  36. Nguyen e Hughes, When Faith Endures, pp. 193–194.