Capítulo 20
De uma forma maravilhosa e magnífica
Após cinco anos na presidência, Spencer W. Kimball sentia os desafios da idade. Ele havia completado 84 anos em março de 1979. O médico o aconselhou a descansar mais para preservar suas forças, mas ele e sua esposa, Camilla, continuaram a ter uma agenda de viagens intensa. Para conseguir fazer tudo o que queria, ele acordava bem cedo e ia dormir tarde, tirando apenas um breve cochilo após o almoço.
“Não quero me guardar para este mundo”, disse ele ao médico. “Quero ser exaltado no mundo que está por vir.”
Mas o peso da idade o atingiu no verão. Os médicos descobriram um sangramento intracraniano e o encaminharam imediatamente para uma cirurgia a fim de aliviar a pressão no cérebro. A cirurgia foi um sucesso e, um mês depois, o presidente e a irmã Kimball estavam viajando novamente — dessa vez para Jerusalém.
O profeta visitou a Terra Santa para dedicar o Orson Hyde Memorial Garden, um belo parque de cinco acres que a Igreja havia construído recentemente no Monte das Oliveiras. Criado a convite do prefeito de Jerusalém, Teddy Kollek, e financiado por 30 mil doadores particulares, o parque recebeu o nome do apóstolo dos últimos dias que veio à cidade em 1841 a fim de dedicar a terra para a coligação do povo de Judá e como uma terra de promissão para os descendentes de Abraão. O prefeito Kollek queria criar mais espaços verdes em Jerusalém e trabalhou com o élder Howard W. Hunter para tornar o parque uma realidade.
A visita do profeta a Jerusalém, da mesma forma que o parque memorial, refletia o desejo da Igreja de ampliar a luz e a verdade para pessoas estimadas em todo o mundo. O presidente Kimball tinha imenso respeito pelas tradições religiosas presentes na Terra Santa e em outros lugares. Ele ensinou que a salvação e a felicidade duradoura vinham somente por meio de Jesus Cristo. Além disso, ele afirmava que a luz de Deus havia inspirado Maomé, Confúcio, os líderes da reforma protestante e outros líderes religiosos. Ele também acreditava que Sócrates, Platão e outros grandes pensadores haviam sido iluminados por Deus.
A Primeira Presidência declarou recentemente: “Nossa mensagem é de amor e atenção especiais pelo bem-estar eterno de todos os homens e mulheres, seja qual for sua crença religiosa, raça ou nacionalidade”.
Em 24 de outubro de 1979, no aniversário da oração dedicatória do élder Hyde, o presidente Kimball estava de braços dados com o prefeito Kollek, enquanto seguiam por um caminho sinuoso do jardim. O profeta andava com dificuldade, mas era bom estar no parque. Lá do jardim, ele podia ver muitos lugares por onde o Salvador havia caminhado e ensinado.
Na base da colina, foi montado um palanque para a inauguração. O élder Hunter iniciou o serviço, e um coro de quase 300 santos, incluindo alunos da BYU que estudavam na cidade, cantou “A alva rompe”. O prefeito Kollek então se levantou e falou sobre a longa história de Jerusalém.
“Desejo que vocês permaneçam durante muitas gerações como nós”, disse ele aos santos, “e que esse bom relacionamento entre nós persista durante todos os séculos vindouros”.
Quando chegou a vez do presidente Kimball fazer seu discurso, ele se maravilhou com a história sagrada ao seu redor. “Jesus Cristo passou por esse monte em várias ocasiões”, disse ele. “Em um jardim chamado Getsêmani, bem aqui embaixo, Ele cumpriu a parte de Sua Expiação que nos permite retornar ao nosso Pai Celestial.”
Inclinando a cabeça, ele fez uma oração dedicando o jardim a Deus e à Sua glória. “Que seja um refúgio”, declarou ele, “onde todos os que vierem possam meditar sobre a glória que o Senhor derramou sobre Jerusalém em épocas passadas e a glória maior que ainda está por vir”.
David Galbraith, presidente do distrito da Igreja em Israel, encerrou a reunião com uma bênção. “Que este jardim espiritual, com sua vista magnífica, seja uma fonte de inspiração e um local de meditação para muçulmanos, cristãos e judeus”, ele orou. “Que sirva para nos unir a todos com laços de fraternidade e paz.”
Antes de o casal Kimball deixar a cidade, David lhes mostrou uma propriedade perto do jardim memorial. Durante muitos anos, a Igreja quis construir um campus em Jerusalém para abrigar os alunos da BYU que estudam no exterior, disponibilizar uma capela para o ramo local dos santos e servir como um centro de boas-vindas para os visitantes. Esse local tinha uma vista impressionante do monte do templo, mas as rígidas leis de zoneamento impossibilitavam que organizações privadas construíssem na propriedade. Ainda assim, o presidente Kimball achou que aquele era o melhor local que ele tinha visto para o centro.
O presidente Kimball e sua esposa retornaram a Salt Lake City em 26 de outubro, cansados, mas felizes. Pouco tempo depois, quando o presidente Kimball se preparava para participar de conferências de área na Austrália e na Nova Zelândia, ele notou que sua mão esquerda estava dormente. Ele se internou no hospital, e os médicos descobriram um novo sangramento intracraniano.
Na manhã seguinte, o profeta estava de volta à sala de cirurgia.
Mais ou menos na mesma época, Silvia Allred, de 35 anos, e sua família se mudaram da Costa Rica para a Guatemala. Convertida em El Salvador, Silvia havia servido missão na Guatemala há cerca de 15 anos e estava ansiosa para retornar com seu marido, Jeff, e seus seis filhos pequenos.
Jeff era o diretor da Igreja para assuntos temporais na América Central. Essa função, assim como outras semelhantes em todo o mundo, foi criada em 1979 para ajudar o escritório do Bispado Presidente em tarefas como a distribuição de currículo da Igreja, a manutenção das propriedades da Igreja e a compra de locais para novas capelas.
A família Allred chegou à cidade da Guatemala no início do ano letivo. Matricularam as crianças em uma escola de língua inglesa com alunos locais e internacionais. Aos domingos, a família frequentava uma grande ala de língua espanhola na cidade.
Quando Silvia era missionária, na década de 1960, havia cerca de 11 mil membros da Igreja e nenhuma estaca na América Central. Ela tinha passado grande parte do tempo servindo em ramos pequenos e com dificuldades, nos quais os missionários assumiam boa parte da liderança. Embora os guatemaltecos falassem muitos idiomas e dialetos, ela e os outros missionários ensinavam exclusivamente em espanhol.
Desde aquela época, o número de membros da Igreja havia aumentado muito em toda a América Latina. Por volta de 1980, a Guatemala tinha cinco estacas, cerca de 18 mil membros da Igreja e uma forte liderança local. Os países vizinhos de El Salvador, Costa Rica, Honduras e Panamá também tinham suas próprias estacas. E cerca de mil homens e mulheres da América Central estavam agora servindo em missões de tempo integral.
Porém, com esse crescimento, houve a necessidade de mudanças. Um número crescente de indígenas estava se filiando à Igreja na América Central, e muitos deles não falavam espanhol. Outros conversos também precisavam de ajuda para aprender e entender os ensinamentos do evangelho restaurado.
Para atender a essas necessidades, a Igreja aprovou a tradução de partes do Livro de Mórmon para os idiomas indígenas locais — quiché, keqchi, kaqchikel e mam. Os membros recém-conversos também poderiam estudar Princípios do Evangelho, um manual simples e fácil de ler da Escola Dominical que a Igreja havia produzido recentemente para ensinar verdades básicas a membros de todos os lugares.
O grande crescimento também exigiu ajustes na forma como os santos dos últimos dias de todo o mundo se reuniam a cada semana. Durante quase meio século, a Igreja realizava a Escola Dominical, as reuniões do sacerdócio e as reuniões sacramentais em horários diferentes no sábado, com a Primária, a Sociedade de Socorro e as reuniões de jovens nos dias de semana. Mas os santos que moravam longe da capela e não tinham carro ou acesso a transporte público muitas vezes achavam desafiador cumprir esse cronograma.
Pouco tempo antes, o apóstolo Boyd K. Packer tinha ido à Guatemala e dedicado nove pequenas capelas nas regiões mais altas do país. Essas capelas reduziram consideravelmente o tempo de viagem de muitos membros da Igreja, e Jeff recomendou a construção de mais capelas em toda a zona rural da América Central. Os líderes da missão na região alta da Guatemala também implementaram um cronograma de reuniões que permitia que os santos da zona rural se reunissem apenas uma vez por semana. De acordo com o novo plano, as crianças da Primária se reuniam enquanto os homens e as mulheres realizavam suas próprias reuniões. Depois, os santos de todas as idades se encontravam para a reunião sacramental.
A ala de Silvia e Jeff na Cidade da Guatemala seguia o cronograma tradicional de reuniões. No entanto, em 1980, exatamente quando a família Allred estava se acostumando com sua nova casa, a Primeira Presidência anunciou um cronograma de reuniões em toda a Igreja muito parecido com o que era usado na zona rural da Guatemala. Em vez de se reunirem em horários diferentes durante a semana, todas as alas e ramos agora se reuniriam aos domingos para um bloco de três horas de reuniões.
Nas congregações em que esse cronograma foi testado, a frequência à Igreja melhorou, e os santos tiveram mais tempo para ensinar e estudar o evangelho em casa. Os líderes da Igreja esperavam que a mesma coisa acontecesse agora em todo o mundo. Incentivaram as famílias a passar o Dia do Senhor juntas e a fazer de seu lar um lugar onde todos pudessem encontrar amor, incentivo, apoio e apreço. Com o aumento dos custos do petróleo em todo o mundo, os líderes da Igreja também esperavam que o novo cronograma permitisse que os santos economizassem combustível e reduzissem os custos de transporte.
Silvia podia ver a sabedoria de ter um cronograma de reuniões que funcionasse para os santos em qualquer lugar do mundo. Suas filhas poderiam frequentar as aulas das Moças no domingo quando se tornassem adolescentes, e Jeff e seus filhos não precisariam acordar tão cedo para participar das reuniões matinais do sacerdócio.
Ainda assim, a nova programação exigiria algum tempo para se estabelecer.
Quando o apóstolo Gordon B. Hinckley acordou em 6 de abril de 1980, viu que era uma bela manhã de Páscoa. Era o aniversário de 150 anos da Igreja. Ele e o presidente Spencer W. Kimball tinham ido a Fayette, Nova York, para transmitir parte da conferência geral da fazenda de Peter e Mary Whitmer, onde os santos haviam realizado sua primeira reunião em 1830.
A Igreja tinha muito a comemorar em seu sesquicentenário. O evangelho restaurado de Jesus Cristo havia se espalhado por 81 países — quase metade das nações do mundo — levando propósito, esperança e cura a pessoas que há muito ansiavam por sua mensagem. O número de templos estava aumentando, com novas Casas do Senhor anunciadas ou em construção na Argentina, na Austrália, no Chile, no Japão, no México, em Samoa, no Taiti, em Tonga e nos Estados Unidos. E graças ao pagamento fiel do dízimo, aliado a sábios investimentos financeiros, a Igreja estava construindo centenas de novas capelas a cada ano. Embora os santos locais continuassem a pagar uma pequena porcentagem por esses edifícios, a Igreja não chamava mais missionários para fazer a construção.
No entanto, o élder Hinckley sabia que a Igreja ainda enfrentava uma oposição significativa. Em muitos lugares do mundo, as congregações lutavam para reter novos membros, e o élder Hinckley estimava que metade dos 4,5 milhões de membros da Igreja não praticava sua fé. Havia também pessoas que viam o rápido crescimento mundial, a segurança financeira e os ensinamentos diferenciados da Igreja como ameaças à corrente principal do cristianismo, levando os críticos a produzir panfletos, livros e filmes atacando os santos dos últimos dias.
Outras pessoas se opuseram quando a Primeira Presidência falou sobre questões políticas atuais, alegando que não era apropriado que a Igreja fizesse isso publicamente. Em resposta às críticas sobre a oposição da Igreja à Emenda de Direitos Iguais, o élder Hinckley redigiu uma importante declaração da Igreja sobre o assunto. Publicada em fevereiro de 1980, a declaração expressou apoio à igualdade de direitos das mulheres, reiterou as preocupações da Primeira Presidência sobre a Emenda de Direitos Iguais e reafirmou o direito da Igreja de falar sobre questões morais.
Por ter estudado a história da Igreja, o élder Hinckley sabia que os santos passavam por ciclos com bons e maus momentos. Em meio a tudo isso, a Igreja tinha se fortalecido. “Assim será no futuro”, ele havia lembrado recentemente a seus colegas apóstolos. “A Igreja crescerá, prosperará e se expandirá de uma forma maravilhosa e magnífica.”
A Igreja nunca havia transmitido a conferência geral de dois locais antes, então o élder Hinckley chegou à fazenda Whitmer duas horas mais cedo para se certificar de que tudo estava em ordem.
Sob sua direção, a Igreja havia construído há pouco tempo uma casa de madeira histórica e uma capela moderna na propriedade da família Whitmer. Ele e o presidente Kimball planejavam falar aos santos de dentro da casa. Se tudo funcionasse como planejado, uma grande antena parabólica no local transmitiria os procedimentos em tempo real para o Tabernáculo de Salt Lake e para capelas em todo o mundo.
Depois de inspecionar a casa, o élder Hinckley e o presidente Kimball repassaram seus discursos. Sabendo que o profeta ainda estava se recuperando de suas recentes cirurgias, o élder Hinckley se questionou se o presidente Kimball teria forças para fazer seus comentários. No dia anterior, o presidente Kimball parecia cansado durante a abertura da conferência no Tabernáculo. Agora, enquanto repassava seu discurso, ele continuava falando com dificuldade.
Foi doloroso para o élder Hinckley observar as dificuldades do profeta. Pouco tempo antes, a Igreja havia implementado uma nova política pela qual os membros mais velhos do primeiro quórum dos setenta se aposentavam de seu serviço ativo. No entanto, os presidentes e os apóstolos da Igreja ainda continuavam servindo até o fim da vida e, às vezes, tinham problemas de saúde que dificultavam sua presença entre os santos. Nessas ocasiões, os conselheiros da Primeira Presidência geralmente se empenhavam mais em ajudar o presidente. Infelizmente, os conselheiros do presidente Kimball, N. Eldon Tanner e Marion G. Romney, também estavam com a saúde debilitada e nem sempre podiam dar ao profeta todo o apoio de que ele precisava.
A transmissão teve início ao meio-dia. Na cabana da família Whitmer, o élder Hinckley e o presidente Kimball assistiram a uma transmissão pela televisão do presidente Tanner abrindo a sessão da conferência no Tabernáculo. Após uma oração e alguns hinos do coro, o presidente Kimball se levantou, e a transmissão mudou para uma imagem dele na cabana de madeira, dando as boas-vindas aos santos.
“Estamos aqui hoje”, disse ele, “e relembramos em nossa mente a poderosa fé e os trabalhos daqueles que, desde este humilde início, deram muito para ajudar a levar a Igreja à sua magnífica estrutura atual; e, mais importante, contemplamos com os olhos da fé uma visão de seu futuro seguro e glorioso”.
O élder Hinckley observava e sentiu como se estivesse presenciando um milagre. O presidente Kimball estava falando sem nenhuma dificuldade!
Quando o profeta terminou seu discurso, o élder Hinckley apresentou uma proclamação especial da Primeira Presidência e do Quórum dos Doze Apóstolos.
“A missão da Igreja hoje, como tem sido desde o início, é ensinar o evangelho de Cristo ao mundo inteiro”, ele declarou. “É nossa obrigação, portanto, ensinar a fé no Senhor Jesus Cristo, suplicar às pessoas na Terra que se arrependam individualmente, administrar as ordenanças sagradas do batismo por imersão para a remissão dos pecados e a imposição de mãos para o dom do Espírito Santo.”
O élder Hinckley sentiu o Espírito de maneira poderosa ao ler a proclamação. “Contemplamos com humildade e gratidão os sacrifícios daqueles que vieram antes de nós”, disse ele. “Estamos decididos a ampliar esse legado para a bênção e o benefício daqueles que virão depois de nós.”
Logo depois que a Igreja adotou o cronograma consolidado de reuniões, o bispo de Silvia Allred na Cidade da Guatemala pediu para se encontrar com ela. “As irmãs da Primária estão tendo muita dificuldade para implementar o novo programa”, disse ele.
Como a Primária passou a ser realizada no mesmo horário das aulas para adultos, os professores da Primária não podiam participar das reuniões da Escola Dominical, da Sociedade de Socorro e do sacerdócio, que há muito tempo frequentavam. A Primária agora tinha o dobro do tempo de antes, e lidar com crianças cheias de energia por tanto tempo era cansativo.
“As irmãs não sabem o que fazer com duas horas de Primária”, explicou o bispo, “então elas estão simplesmente levando as crianças para o jardim a fim de brincar”. O bispo queria que as líderes da Primária seguissem o novo programa com precisão. “Você pode nos ajudar a fazer isso”, disse ele a Silvia.
Na Primária, Silvia achava que o maior desafio era o “tempo de compartilhar”, quando as crianças se reuniam para aprender mais sobre como viver o evangelho de Jesus Cristo. Silvia trabalhou com os líderes da Primária para incluir música, recursos visuais e encenações nas aulas delas. E, em pouco tempo, as crianças começaram a gostar de participar. Em uma atividade com base no evangelho, elas montavam um grande quebra-cabeça. Em outra, cantavam mais alto ou mais baixo sempre que um líder aumentava ou diminuía a temperatura em um termômetro de brincadeira. As crianças também encenavam histórias das escrituras, como a parábola de Jesus sobre o bom samaritano.
No entanto, Silvia permaneceu na Primária por pouco tempo. Ao visitar Salt Lake City em abril de 1980, ela e Jeff ficaram sabendo que a Primeira Presidência planejava transferir a sede do escritório de assuntos temporais na América Central para fora da Guatemala. Há mais de duas décadas, o país estava envolvido em uma guerra civil, e os grupos rebeldes estavam ganhando força.
Embora Silvia e Jeff estivessem sempre atentos ao conflito desde que se mudaram para a Guatemala, sua família levava uma rotina normal, frequentando a igreja e a escola, fazendo compras e passeando juntos sem muita preocupação.
Assim, um mês depois do retorno da família Allred de Utah, a Igreja transferiu o escritório de assuntos temporais para San José, Costa Rica. A mudança não era o ideal para Jeff, cujos projetos de trabalho eram principalmente na Guatemala e em El Salvador. E Silvia tinha sentimentos contraditórios em relação à mudança de volta para a Costa Rica. Eles haviam morado na Guatemala por menos de um ano, e Silvia gostava de fazer parte do grande crescimento da Igreja no país. Ela gostou muito de ver os jovens guatemaltecos economizando dinheiro para missões e progredindo espiritualmente em suas aulas para jovens e no seminário.
Em julho de 1980, um pouco antes da mudança da família, a ala organizou uma pequena festa de despedida para eles. Embora o povo da Guatemala enfrentasse provações contínuas, a família Allred sabia que os santos de lá continuariam a prosperar. A guerra civil não estava interferindo nas reuniões da Igreja, e nenhum líder de missão ou missionário havia sido mandado embora do país.
Apesar da tristeza, a família Allred estava disposta a ir para onde o Senhor ordenasse e, não importava onde eles estivessem, estavam animados para ajudar a edificar o reino do Senhor.
Na mesma época em que a família Allred se mudou para a Costa Rica, Olga Kovářová, de 20 anos, estava estudando educação física em uma universidade em Brno, na Tchecoslováquia. Em uma aula, ela aprendeu sobre a ioga e seus benefícios para a mente e o corpo. Fascinada, ela quis saber mais.
Um dia, uma colega de turma falou com ela sobre um instrutor de ioga local, Otakar Vojkůvka. Olga aceitou ir com ela para encontrá-lo.
Otakar era um senhor idoso e baixinho, e sorriu quando abriu a porta. Olga sentiu uma conexão imediata com ele. Durante a visita, ele perguntou a ela e à amiga se elas eram felizes.
“Não sabemos”, responderam com sinceridade.
Otakar contou a elas sobre as dificuldades que enfrentou na vida. Na década de 1940, ele havia administrado uma fábrica lucrativa. Porém, depois que o governo com influência da União Soviética assumiu o poder na Tchecoslováquia, o Estado confiscou a fábrica e enviou Otakar para um campo de prisioneiros, e sua esposa, Terezie Vojkůvková, teve que criar seus dois filhos sozinha durante um período. Terezie já havia morrido, e Otakar agora vivia com seu filho, Gád, e a família dele.
Olga ficou perplexa ao ouvir a história de Otakar. A maioria das pessoas que ela conhecia em seu país era triste e desconfiada. Ela se questionava como Otakar podia ser tão feliz mesmo depois de passar por tantas coisas difíceis.
Olga logo voltou a visitar Otakar. Dessa vez, Gád também estava presente. “Então”, disse ele, “você está interessada em ioga?”
“Não sei nada sobre ioga”, disse Olga, “mas gostaria de descobrir por que vocês todos aparentam ser tão felizes. Imagino que seja por causa da ioga”.
Eles começaram a conversar sobre espiritualidade e o propósito da vida. “Deus nos enviou à Terra para semear alegria, vida e amor nas almas”, disse Otakar.
Por ter crescido em uma sociedade ateísta, Olga nunca havia pensado muito em Deus ou no propósito da vida. No entanto, seus antepassados eram protestantes, e ela percebeu então que tinha muitas dúvidas sobre religião. Ao contrário de seus professores e colegas de escola, que desestimulavam o interesse pela religião, Otakar levava a sério as perguntas dela e emprestava livros sobre o assunto.
À medida que estudava, Olga ansiava por encontrar mais propósito na vida. Ela continuou a se encontrar com Otakar, sentindo-se cada vez mais feliz quando ele lhe ensinava sobre suas crenças. Ele falava mais sobre sua fé cristã e sua devoção a Deus. E, quanto mais Olga aprendia, mais ela ansiava por uma comunidade espiritual.
Um dia, Otakar recomendou que ela lesse um livro do élder John A. Widtsoe sobre A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Após a leitura, ela disse a Otakar que estava fascinada pelos santos. “Você poderia me dar o endereço de um mórmon tcheco?”, ela perguntou.
“Você não precisa de nenhum outro endereço”, disse Otakar. “Você já está na casa de um deles.”
Otakar havia sido batizado pouco antes da Segunda Guerra Mundial e foi um dos primeiros membros da Igreja na Tchecoslováquia. Em 1950, quando o governo da Tchecoslováquia forçou todos os missionários estrangeiros santos dos últimos dias a deixarem o país, ele e cerca de 245 membros da Igreja continuaram a praticar sua fé, adorando juntos em casas particulares em Praga, Plzeň e Brno.
Olga aprendia cada vez mais e pegou um Livro de Mórmon emprestado com Otakar. Quando ela leu as palavras de Leí: “Os homens existem para que tenham alegria”, sentiu como se tivesse descoberto uma verdade perdida. O amor e a luz pareciam inundar todas as células de seu corpo. Ela sabia, sem sombra de dúvida, que o Pai Celestial e Jesus Cristo vivem. Ela sentiu o amor Deles por ela e por todas as pessoas do mundo inteiro.
Pela primeira vez na vida, ela se ajoelhou para orar e expressou sua gratidão a Deus. E, na manhã seguinte, ela foi ao apartamento de Otakar e perguntou: “Existe alguma maneira de começar minha vida como uma nova pessoa?”
“É claro que sim”, disse ele. Ele abriu a Bíblia e mostrou a ela os ensinamentos de Jesus sobre o batismo.
“O que significa entrar no reino de Deus?”, perguntou ela.
“Tornar-se discípulo de Cristo”, ele respondeu. Ele então explicou que ela precisaria ser batizada e guardar os mandamentos de Deus. Ele explicou que ela precisaria aprender algumas lições primeiro e então fez um convite para que ela fosse à sua casa no domingo seguinte para uma reunião dos santos. Olga aceitou com prazer.
Eles se reuniram em uma sala no andar superior do apartamento de Otakar. O pequeno grupo se acomodou em alguns sofás, e fecharam as cortinas para evitar os olhares dos vizinhos que não confiavam na religião. Quando olhou em volta, Olga ficou surpresa ao descobrir que os sete membros tinham a idade de seus pais e avós.
“Será que essa igreja é só para idosos?”, ela se perguntou. “O que estou fazendo aqui?”