História da Igreja
Capítulo 9: Este dia maravilhoso


Capítulo 9

Este dia maravilhoso

élder Spencer W. Kimball conduzindo uma conferência de estaca em São Paulo

No final de 1965, Hélio da Rocha Camargo atendeu o telefone em seu escritório em São Paulo, Brasil. Wayne Beck, presidente da Missão Brasileira, estava do outro lado da linha. Ele queria saber se Hélio poderia sair mais cedo do trabalho e ir ao escritório da missão. Victor L. Brown, conselheiro no Bispado Presidente da Igreja, estava visitando São Paulo e queria falar com Hélio antes de voltar para Utah.

Hélio, que agora trabalhava para uma empresa do ramo automobilístico, foi imediatamente para o escritório da missão. Ele e o presidente Beck haviam conversado há pouco tempo sobre vários assuntos relacionados à missão com o bispo Brown, inclusive sobre a situação das publicações da Igreja no Brasil, e Hélio presumiu que o bispo queria continuar a conversa.

Quando Hélio chegou ao escritório da missão, o bispo Brown disse-lhe que uma grande mudança aconteceria na Igreja no Brasil. Já havia mais de 23 mil santos no país, dez vezes mais do que quando Hélio fora batizado, oito anos antes. Para acomodar esse crescimento, a Primeira Presidência queria estabelecer o escritório de um centro editorial para administrar as publicações da Igreja no Brasil.

Recentemente, a Primeira Presidência abrira um escritório semelhante na Cidade do México para supervisionar as publicações da Igreja nos países de língua espanhola. Visto que a Igreja estava produzindo vários novos manuais e guias correlacionados, fazia sentido canalizar esse trabalho para um escritório central, em vez de esperar que as missões cuidassem sozinhas da enorme tarefa de publicação. O novo escritório no Brasil traduziria todas as publicações da Igreja para o português e depois as imprimiria e distribuiria entre os santos.

“Quero convidá-lo a se encarregar do trabalho, tornando-o um funcionário em tempo integral da Igreja”, disse o bispo Brown a Hélio.

“A única resposta possível é sim”, respondeu Hélio.

Logo após aceitar o novo cargo, Hélio e Nair venderam o carro para que pudessem viajar aos Estados Unidos e ir ao Templo de Salt Lake. Durante o mês em que estiveram em Utah, reuniram-se frequentemente com os santos, maravilhando-se com o tamanho e a força de suas alas e suas estacas. Pelo que Hélio pôde perceber, as classes da Sociedade de Socorro, da Primária, da Escola Dominical e do quórum do sacerdócio estavam repletas de membros da Igreja firmes na fé. Ele sabia que a Igreja no Brasil ainda estava crescendo e levaria um tempo para funcionar tão bem quanto em Utah. Mas acreditava que os santos brasileiros estavam quase prontos para uma estaca.

“Com a liderança que temos agora”, pensou ele, “em breve estaremos nos igualando aos nossos irmãos dos Estados Unidos, porque nosso povo também é bom e, quando quer fazer algo, o faz”.

Antes de deixar Utah, Hélio e Nair receberam a investidura e foram selados no Templo de Salt Lake e receberam a bênção patriarcal de Eldred G. Smith, o patriarca da Igreja. Amigos dos Estados Unidos, incluindo os ex-presidentes de missão Asael Sorensen e Grant Bangerter, compareceram ao selamento. O élder Spencer W. Kimball, que ocupava um lugar especial no coração do casal Camargo depois de abençoar o filho doente deles, realizou a cerimônia.

Hélio e Nair retornaram ao Brasil em meados de dezembro de 1965, e Hélio imediatamente começou a organizar o escritório do centro editorial, enquanto continuava em seu chamado na presidência da missão. Ao participar de conferências por toda a missão, ele procurava inspirar os santos com uma visão do que seria a Igreja no Brasil quando as estacas fossem organizadas nesta parte do mundo.

Em uma conferência de distrito nos arredores de São Paulo, ele lamentou que eles tivessem tão pouco tempo para se reunir e aprender juntos como santos. “Devemos viver fielmente, o máximo possível, a tudo o que aprendemos”, disse. Ele exortou os membros a ajudar seus presidentes de ramo e a ser obedientes aos princípios do evangelho. Um ramo era como um carro de corrida, explicou. “A AMM, a Primária, a Sociedade de Socorro e a Escola Dominical são os quatro pneus”, disse ele. “O sacerdócio é o motor, e o motorista é o presidente do ramo.” Cada parte tinha um papel a desempenhar para fazer o carro funcionar.

Entusiasticamente, ele os aconselhou a guardar os mandamentos de Deus. “Devemos ser obedientes”, declarou ele, “se quisermos ser uma estaca”.


No início de 1966, LaMar Williams ainda não entendia por que a Primeira Presidência o havia chamado de volta da Nigéria. Poucas horas depois de receber o telegrama, ele pegou um voo para sair do país. Seus contatos no governo nigeriano não queriam que ele saísse no meio das negociações.

LaMar esperava obter mais esclarecimentos assim que chegasse a Salt Lake City. Pouco depois de seu retorno, ele se reuniu com a Primeira Presidência e expressou sua confusão por causa de seu súbito retorno para casa. Ele lhes contou sobre as reuniões promissoras com funcionários do governo e os milhares de nigerianos entusiasmados que desejavam se filiar à Igreja.

Mas a Primeira Presidência já havia expressado dúvidas sobre o futuro da missão. Enquanto LaMar estava na Nigéria, o presidente McKay chamara dois conselheiros adicionais: o apóstolo Joseph Fielding Smith e Thorpe B. Isaacson, para servir na Primeira Presidência. O presidente Isaacson, que era assistente dos Doze antes de seu chamado como apóstolo, parecia particularmente preocupado com a reação dos santos nigerianos à restrição do sacerdócio.

Além disso, alguns dos apóstolos temiam que o proselitismo entre as populações negras na Nigéria levasse grupos de direitos civis nos Estados Unidos a pressionar a Igreja a retirar a restrição. Outros temiam que a pregação do evangelho na Nigéria ofendesse os oficiais segregacionistas do apartheid na África do Sul e possivelmente os levasse a restringir o trabalho missionário naquele país.

LaMar fez o possível para aliviar as preocupações da presidência. “Talvez seja uma boa ideia uma ou mais autoridades gerais irem à Nigéria e examinarem a situação antes que a decisão final seja tomada”, sugeriu. A Primeira Presidência, entretanto, não achava que tal caminho fosse o certo a seguir.

LaMar saiu da reunião desanimado. Ele acreditava que o Senhor queria que ele estabelecesse a Igreja na Nigéria. As escrituras ensinavam que a mensagem do evangelho era para todas as pessoas e que o Senhor não negava a ninguém que viesse a Ele — “negro e branco, escravo e livre, homem e mulher”. Se isso fosse verdade, por que a Primeira Presidência o chamou de volta para os Estados Unidos?

Em 15 de janeiro de 1966, dois meses após o retorno de LaMar a Utah, oficiais do exército nigeriano organizaram um golpe militar, orquestrando o assassinato do primeiro-ministro e de outros funcionários do governo. As forças legalistas rapidamente reprimiram a revolta, mas o golpe agravou as tensões regionais e desestabilizou o país.

As notícias do conflito perturbaram LaMar. Mesmo que tivesse conseguido estabelecer uma missão na Nigéria, o golpe teria posto fim ao seu trabalho. Ele agora acreditava que não era o momento certo para estabelecer a Igreja lá.

No entanto, ele se preocupava com seus muitos amigos na Nigéria. “Lamento que a Primeira Presidência tenha me chamado para casa inesperadamente”, disse a Charles Agu em uma carta logo após o golpe. “Por favor, diga-me se posso ser útil ou incentivá-lo em seu desejo de servir ao Senhor e às pessoas ao seu redor.

Charles, meu coração ficará partido se você perder a fé e a coragem de continuar o excelente trabalho que iniciou”, escreveu ele. “Nunca duvidei de que a obra do Senhor acabará se estabelecendo em seu país. Sinto isso em meu coração e tenho certeza de que assim o Espírito testifica. Quanto tempo vai demorar, eu não sei.”


Por volta dessa época, em Colonia Suiza, Uruguai, Delia Rochon estava lendo o Livro de Mórmon em casa quando recebeu uma impressão espiritual: “Você precisa sair de casa”.

Foi a inspiração mais poderosa que já sentira. Ela tinha apenas 16 anos, e sair de casa interromperia a vida que ela conhecia, mas também sabia que ficar onde estava a impediria de crescer e se desenvolver como seguidora de Cristo.

Desde o batismo de Delia, sua mãe a apoiava e, às vezes, até participava das atividades da Igreja, mas a família passava por dificuldades financeiras e havia tensão entre o padrasto e a mãe. Seu pai, por sua vez, morava longe e achava que a Igreja a estava afastando de sua família. Quando ficava com ele, Delia não podia cuidar da Primária nem assistir às reuniões.

Felizmente, Delia podia sair de casa várias vezes por ano para participar das conferências de distrito e de atividades missionárias em Montevidéu e outras cidades. Delia adorava participar dessas reuniões distantes, especialmente das conferências da AMM, nas quais podia fazer amizade com outros jovens santos dos últimos dias — uma oportunidade que não tinha em seu pequeno ramo. A reunião de testemunho no final de cada conferência ajudava a fortalecer sua fé ainda mais.

Pouco depois de receber essa impressão, Delia conversou com o presidente do ramo. O presidente Solari conhecia a família de Delia e não procurou convencê-la a ficar. Ele mencionou um casal na cidade, os Pellegrini. Eles não eram membros da Igreja, mas a filha deles, Miryam, era.

“Vamos ver se a família dela pode acolhê-la”, disse o presidente Solari.

O casal Pellegrini estava sempre disposto a ajudar alguém em necessidade e convidou Delia para morar com eles. Delia aceitou a gentil oferta e concordou em ajudar na limpeza da casa e trabalhar algumas horas por dia na loja do outro lado da rua. Embora mudar de casa fosse difícil, Delia progrediu naquele novo ambiente. Com a família Pellegrini, ela encontrou apoio e estabilidade.

Ainda assim, sua vida não era totalmente livre de conflitos. O Uruguai era um dos países mais prósperos da América do Sul, mas a economia estava em crise. Algumas pessoas desconfiavam profundamente dos Estados Unidos e viam o comunismo como uma resposta aos problemas financeiros de seu país. À medida que outros países da América do Sul experimentavam reveses econômicos semelhantes, o antiamericanismo se espalhava pelo continente. Como a sede da Igreja ficava nos Estados Unidos, os santos sul-americanos, às vezes, encontravam desconfiança e hostilidade.

Muitos dos colegas de classe de Delia apoiavam o comunismo e falavam sobre isso. Para evitar controvérsias, Delia revelou sua condição de membro da Igreja e suas crenças apenas para alguns colegas de classe. Se falasse muito abertamente, correria o risco de ser ridicularizada.

Certa noite, os missionários foram à casa de Delia. Ela estava saindo para a reunião da AMM, então, os missionários decidiram acompanhá-la. Estava agradável do lado de fora, mas quando se aproximaram da praça da cidade, Delia sabia o que estava por vir. Muitos de seus colegas gostavam de se reunir na praça. Se a vissem com os missionários norte-americanos, descobririam que ela era membro da Igreja.

Delia olhou para os missionários e decidiu que não devia se envergonhar deles. “Sei que sou mórmon”, disse para si mesma, “mas até que ponto sou mórmon?”

Reunindo coragem, atravessou a praça ao lado dos missionários. Ela sabia que enfrentaria o isolamento na escola, mas não podia abandonar suas crenças. Seu testemunho do evangelho restaurado era forte demais.

Como Joseph Smith, ela sabia que era verdade. E não podia negá-lo.


Em fevereiro de 1966, o presidente da Missão Brasileira, Wayne Beck, apresentou uma proposta aos líderes da Igreja em Salt Lake City recomendando a organização de uma estaca em São Paulo.

A cidade tinha 3 distritos em funcionamento, 20 ramos e aproximadamente 5.500 santos, e o presidente Beck e outros líderes locais pensaram em solicitar mais de uma estaca. Porém, não havia outras estacas na América do Sul e eles concordaram que seria melhor organizar primeiro uma estaca central composta pelas unidades mais fortes de cada um dos distritos de São Paulo. A Igreja poderia então criar estacas adicionais em São Paulo e em outras cidades brasileiras nos anos seguintes.

“Acho que temos uma liderança tão boa e pessoas voltadas para o futuro nesta área quanto em qualquer lugar do mundo”, afirmou o presidente Beck em sua proposta. “Elas estão preparadas, acredito, para aceitar as responsabilidades e fazer a parte delas.”

No mês seguinte, o élder Spencer W. Kimball, o apóstolo que supervisionava as sete missões sul-americanas da Igreja, apresentou a proposta ao Quórum dos Doze. Muitos dos apóstolos ficaram entusiasmados com a ideia. Eles viajavam por toda a Igreja e sabiam o quanto os santos se beneficiavam com as responsabilidades de uma estaca. Sob a direção do profeta, vários apóstolos já haviam criado estacas fora da América do Norte e testificaram que sentiam o Espírito enquanto faziam esse trabalho.

Depois de estudar a proposta do presidente Beck, a Primeira Presidência e o Quórum dos Doze Apóstolos aprovaram a criação da estaca. Uma semana depois, o presidente McKay e seus conselheiros enviaram uma carta ao presidente Beck para lhe dar a notícia.

“Foi o sentimento unânime do conselho que uma estaca seja criada no Brasil com sede em São Paulo”, informaram. “Estamos orando para que o Senhor continue a abençoá-lo em seu trabalho.”


Em Palermo, Itália, Giuseppa Oliva continuava a compartilhar o evangelho com amigos e vizinhos. Entre as pessoas a quem ensinou havia um jovem de 18 anos chamado Salvatore Ferrante. Ele trabalhava na mesma fábrica que o irmão dela, Antonino, e estava fascinado com os ensinamentos do Livro de Mórmon.

Depois de dar a Salvatore um exemplar do livro, Giuseppa escreveu ao presidente Mabey pedindo mais materiais. Ele concordou em enviar outro Livro de Mórmon, bem como um exemplar de Doutrina e Convênios, que havia sido recentemente traduzido para o italiano. O presidente Mabey também mencionou que recebera uma carta de Salvatore expressando interesse em ser batizado.

“Ele será batizado”, prometeu o presidente Mabey a Giuseppa. “Até lá, por favor, continue a ensiná-lo e a prepará-lo para o batismo.”

Alguns meses depois, Giuseppa se reuniu com o presidente Mabey, Antonino e Salvatore na casa de Antonino para avaliar se Salvatore estava pronto para o batismo. Eles conversaram sobre a Palavra de Sabedoria, o dízimo e outros princípios do evangelho, usando Doutrina e Convênios como referência. Foi uma boa conversa, apesar da barreira do idioma, mas como Salvatore morava com os pais, o presidente Mabey disse que precisaria da permissão deles para o batismo.

O grupo pegou um ônibus até a casa de Salvatore, que ficava em uma rua estreita com varais pendurados entre os prédios. Em pouco tempo, eles viram o pai de Salvatore, Girolamo, virando a esquina da rua. O presidente Mabey se aproximou dele e o cumprimentou em alemão, o único idioma que conhecia além do inglês. Girolamo respondeu em alemão, explicando que passara dois anos como prisioneiro de guerra em Viena durante a Segunda Guerra Mundial.

No momento em que Girolamo soube que o presidente Mabey estava ali para batizar seu filho, ele começou a falar rápido em italiano; seu descontentamento ficou evidente no tom de sua voz e nos gestos de suas mãos. Giuseppa e o irmão também estavam falando alto e suas vozes sobrepostas ecoavam pela rua.

“Quero que saiba”, interveio o presidente Mabey em alemão, “que o que seu filho deseja fazer é certo e justo”.

Com essas palavras, a tensão se dissolveu. Girolamo convidou o grupo para entrar em casa, onde Giuseppa o pressionou a dar permissão para o batismo. Ela prestou seu testemunho e implorou a ele que honrasse o desejo justo de seu filho.

“Bem, se você quer batizá-lo e se ele quer ser batizado”, finalmente disse, “ele tem minha permissão com uma condição: que eu possa assistir”.

Salvatore foi batizado mais tarde naquele dia, na mesma praia onde o batismo de Antonino havia ocorrido seis meses antes.

Logo após a confirmação de Salvatore, os santos se reuniram na casa de Antonino. O presidente Mabey, com a ajuda de Girolamo como tradutor, ensinou sobre a autoridade do sacerdócio e conferiu o Sacerdócio Aarônico a Antonino e Salvatore. Ele então organizou formalmente o Ramo de Palermo, com Antonino como seu líder. Após a reunião, o pai de Salvatore disse: “Este é um dia que nunca esquecerei”.

Na semana seguinte, o ramo se reuniu na casa de Giuseppa e partilhou do sacramento. Pouco tempo depois, ela recebeu a notícia do presidente Mabey de que a Igreja estava organizando a Missão Italiana. Em breve, os missionários chegariam à Sicília.

“Tenho a mesma certeza”, escreveu ele, “de que seu sonho de um ramo em Palermo tão grande quanto o da Argentina vai se tornar realidade”.


No dia em que Hélio da Rocha Camargo e sua equipe inauguraram oficialmente o escritório do centro editorial da Igreja no Brasil, eles se ajoelharam em oração. Ninguém ali parecia saber exatamente o que fazer, mas isso não deixava Hélio assustado. O que o assustava era que todos ali pareciam achar que ele sabia o que fazer.

Depois de voltar de Salt Lake City, ele fez um inventário detalhado de todas as publicações da Igreja no escritório da Missão Brasileira e da Missão Brasileira Sul, alugou um escritório em São Paulo, montou uma sede e contratou uma pequena equipe para organizar e traduzir as publicações. Entre as pessoas que contratou estava Walter Guedes de Queiroz, que havia saído com ele do seminário metodista e se filiado à Igreja.

No final de abril de 1966, após o primeiro mês em operação, o escritório cuidava da distribuição de todas as publicações da Igreja no Brasil. Os membros e os líderes da Igreja no país agora encomendavam materiais diretamente do escritório, e não mais da missão. Hélio também transferiu a produção da revista da Igreja em português para os santos brasileiros, A Liahona, da missão para o centro editorial.

Na tarde de terça-feira, 26 de abril, o élder Spencer W. Kimball chegou a São Paulo para organizar uma estaca. Como tinha uma presidência de estaca para chamar, além de um sumo conselho e vários bispados para preencher, ele mal dormiu nos dias seguintes enquanto entrevistava candidatos em potencial na cidade. Como não falava português, então o presidente Beck geralmente servia como seu tradutor.

Na maioria das entrevistas, o élder Kimball perguntava: “Você é feliz na Igreja?” Os homens respondiam com tanta sinceridade que o deixavam emocionado. “É a minha vida”, disseram alguns. “Eu não conseguiria sobreviver sem a Igreja.” Outros testificaram: “É a melhor coisa do mundo” e “Minha vida começou depois que me filiei à Igreja”. Alguns homens contaram ao élder Kimball como o evangelho mudara a vida deles, ajudando-os a vencer o álcool, o fumo ou a imoralidade sexual.

Hélio foi uma das primeiras pessoas entrevistadas pelo élder Kimball, e muitas pessoas acreditavam que ele seria um bom presidente de estaca. Na verdade, entrevista após entrevista, o élder Kimball ouviu as pessoas elogiarem a liderança de Hélio e o recomendarem para o cargo. Mas depois de entrevistar Hélio mais uma vez, o élder Kimball sentiu que o Senhor tinha outro trabalho para ele.

No domingo, 1º de maio, Hélio e Nair, seus filhos e mais de 1.500 santos lotaram uma grande capela em São Paulo para testemunhar a organização da estaca. Para dar espaço a mais pessoas, foram abertas as cortinas que separavam a capela do salão cultural, e depois que cada assento foi ocupado, algumas pessoas colocaram cadeiras nos corredores enquanto outras se sentaram do lado de fora, ouvindo a conferência por meio de um sistema de alto-falantes.

O presidente Beck estava muito emocionado ao iniciar a reunião. Depois de dar as boas-vindas aos santos, ele passou o tempo para o élder Kimball, que disse: “É com grande alegria que estou aqui, em uma designação da Primeira Presidência da Igreja, neste dia maravilhoso, para criar a primeira estaca da América do Sul na grande cidade de São Paulo”.

Ele falou brevemente sobre o início da Igreja na América do Sul. O élder Melvin J. Ballard, que dedicou a América do Sul para a pregação do evangelho restaurado em 1925, profetizara que a Igreja na América do Sul cresceria lentamente, como uma pequena castanha se tornando um poderoso carvalho e que, por fim, seria uma das regiões mais fortes da Igreja.

“Vemos como está crescendo em toda a América do Sul”, disse o élder Kimball, “na Argentina, no Uruguai, no Chile, no Peru, no Paraguai e no grandioso Brasil, com seu povo gentil e doce, que aceitou o chamado de Cristo e tem dedicado o melhor de sua vida ao crescimento de Sua Igreja”.

Lendo uma declaração preparada em português, ele então criou a Estaca São Paulo com sete novas alas e um ramo, e chamou Walter Spät, um fabricante de móveis, como presidente da estaca. Walter filiara-se à Igreja em 1950 e fora presidente de ramo e distrito antes de servir como assistente na presidência da missão.

Depois que o élder Kimball organizou a presidência da estaca e chamou outros líderes da estaca, todos santos locais, ele anunciou os novos bispados e a presidência do ramo. Entre eles estava Hélio, que foi chamado para servir como bispo da Ala São Paulo 2.

O peso do chamado caiu sobre Hélio. Embora tivesse muita experiência em liderança na Igreja, nunca havia sido presidente de ramo ou distrito, e a responsabilidade de servir uma grande congregação parecia enorme. Ainda assim, ele sabia que o Senhor abençoava Seus servos e os ajudava a ter sucesso.

“Isaías achava que não poderia ser um profeta, mas aceitou o chamado e seguiu em frente”, dissera ele recentemente a um grupo de líderes do sacerdócio. “Quando somos chamados a realizar um trabalho, nossa reação é de que não somos capazes. Se pensarmos assim, nunca seremos capazes. Devemos nos lembrar de que é o Senhor quem está nos chamando, e não devemos negar o chamado.”

Após a conferência, o élder Kimball cumprimentou os santos. Hélio ficou por perto, sorrindo e apertando as mãos das pessoas que o cumprimentavam pelo chamado. No dia seguinte, ele voltou ao trabalho no escritório do centro editorial e, à noite, realizou uma reunião do bispado, possivelmente a primeira desse tipo no continente.

A criação da estaca e das alas foi um momento decisivo de mudança para Hélio.

  1. Camargo, Entrevista de história oral, p. 26; Camargo, reminiscências, pp. 51–52.

  2. Camargo, Entrevista de história oral, p. 26; Camargo, reminiscências, p. 52; Grover, “Mormonism in Brazil”, pp. 299–300; Departamento Missionário, relatórios de progresso mensal de missão de tempo integral, maio de 1957 e outubro de 1965; Primeira Presidência e Bispado Presidente, atas, 5 de setembro de 1964 e 29 de janeiro de 1965, Primeira Presidência, arquivos administrativos gerais, 1921–1972, Biblioteca de História da Igreja; “Fyans to Head Translation Unit”, Church News, 1º de maio de 1965, p. 13. Tópicos: México; Brasil

  3. Camargo, reminiscências, p. 52; Camargo, Entrevista de história oral, p. 26; Wayne Beck e Evelyn Beck, Entrevista de história oral, pp. 80–81.

  4. Camargo, reminiscências, p. 53; Spencer W. Kimball, diário, 1º de maio de 1966; “Reunião da presidência com as juntas das organizações auxiliares da missão brasileira”, 16 de dezembro de 1965, Missão Brasil São Paulo Norte, história manuscrita, Biblioteca de História da Igreja; Grover, “Mormonism in Brazil”, pp. 186–187; “New Brazilian Post”, Church News, 4 de dezembro de 1965, p. 10.

  5. “Reunião da presidência com as juntas das organizações auxiliares da missão brasileira”, 16 de dezembro de 1965, Missão Brasil São Paulo Norte, história manuscrita, Biblioteca de História da Igreja; Camargo, reminiscências, p. 57; “Elder Helio R. Camargo of the First Quorum of the Seventy”, Ensign, maio de 1985, p. 93; Helio da Rocha Camargo e Nair Belmira de Gouvea Camargo, registro de selamento, 24 de novembro de 1965, registro do templo para os vivos, 1955–1991, microfilme 470.944, Biblioteca do FamilySearch; Spencer W. Kimball, diário, 24 de novembro de 1965. Tópicos: Bênçãos patriarcais; Selamento

  6. Camargo, Entrevista de história oral, p. 27.

  7. “Conferência do distrito de Tietê”, 30 de janeiro de 1966, Missão Brasil São Paulo Norte, história manuscrita, Biblioteca de História da Igreja.

  8. Williams e Williams, Entrevista de história oral, p. 20; Williams, diário, 6–7 de novembro de 1965, p. 155; McKay, diário, 10 de novembro de 1965.

  9. Williams, diário, 7 de novembro de 1965, p. 155; Williams e Williams, Entrevista de história oral, p. 20; McKay, diário, 10 de novembro de 1965; Allen, anotações da Entrevista com LaMar Williams, 11 de julho de 1988, p. 2.

  10. Williams e Williams, Entrevista de história oral, p. 20; Tanner, diário, 8 de novembro de 1965; McKay, diário, 18, 21 e 28 de outubro de 1965; 4 e 10 de novembro de 1965; Henry A. Smith, “Pres. McKay Appoints Two More Counselors: Church Growth Is Cited”, Deseret News, 29 de outubro de 1965, pp. A1, A3; Saunders, “1968 and Apartheid”, pp. 133–135.

  11. McKay, diário, 10 de novembro de 1965; Allen, anotações da Entrevista com LaMar Williams, 11 de julho de 1988, p. 2.; Williams e Williams, Entrevista de história oral, p. 20; 2 Néfi 26:33.

  12. Falola e Heaton, History of Nigeria, pp. 172–173; Gould, Struggle for Modern Nigeria, pp. 26–32; “Military Chief Rules Nigeria Government”, Deseret News, 17 de janeiro de 1966, p. A4; Williams e Williams, Entrevista de história oral, pp. 20–21; ver também Allen, “West Africa before the 1978 Priesthood Revelation”, pp. 236–237.

  13. LaMar Williams para Charles Agu, 18 de fevereiro de 1966, Departamento Missionário, correspondências da África e da Índia, Biblioteca de História da Igreja.

  14. Delia Rochon para James Perry, e-mail, 18 de janeiro de 2022, Entrevistas de Delia Rochon, Biblioteca de História da Igreja; Rochon, Entrevista, pp. 3–6, 18–19, 22–24, 28–29, 54–55, 57; Ramo Colonia Suiza, atas, 11 de dezembro de 1966, pp. 37–38.

  15. Rochon, Entrevista, pp. 8–9, 30, 42–44. Tópicos: Organizações dos Rapazes; Organizações das Moças

  16. Rochon, Entrevista, pp. 4–5, 53–55, 57.

  17. Paul e outros, Paths to Victory, p. 266; “Reds of Every Shade Moving In on Uruguay”, Daily News (New York City), 4 de outubro de 1964, edição local, p. 121; McDonald, “Struggle for Normalcy in Uruguay”, p. 72; George Natanson, “Chaos Reigns in Latin Nations”, Boston Globe, 15 de agosto de 1965, p. 51.

  18. Rochon, Come and See, pp. 19–21; Rochon, Entrevista, pp. 9–10, 62, 64–65, 67–68; Theodore Tuttle para Primeira Presidência, 22 de junho de 1965, Primeira Presidência, correspondência da missão, 1964–2010, Biblioteca de História da Igreja; Joseph Smith—História 1:25.

  19. Missão Brasil São Paulo Norte, história manuscrita, 17 de fevereiro de 1966; Wayne Beck para A. Theodore Tuttle, 11 de fevereiro de 1966, arquivos de A. Theodore Tuttle, Biblioteca de História da Igreja; proposta para Joseph Fielding Smith e o Conselho dos Doze, 23 de março de 1966, Primeira Presidência, correspondência da missão, 1964–2010, Biblioteca de História da Igreja; Wayne Beck e Evelyn Beck, Entrevista de história oral, pp. 93–95; “1st Latin Stake in Church”, Deseret News, 3 de maio de 1966, p. B1.

  20. Proposta para Joseph Fielding Smith e o Conselho dos Doze, 23 de março de 1966, Primeira Presidência, correspondência da missão, 1964–2010, Biblioteca de História da Igreja.

  21. Spencer W. Kimball, diário, 17 e 24 de março de 1966; “Foreign Stakes: Shall We Organize Stakes Other Than in America?”, em Spencer W. Kimball, diário, 20 de março de 1966; Primeira Presidência para Spencer W. Kimball, 18 de maio de 1965, Primeira Presidência, arquivos administrativos gerais, 1921–1972, Biblioteca de História da Igreja; Spencer W. Kimball para Primeira Presidência, 9 de junho de 1966, Primeira Presidência, correspondência da missão, 1964–2010, Biblioteca de História da Igreja; Cowan, Church in the Twentieth Century, pp. 263, 266. Tópicos: Globalização; Quórum dos Doze

  22. Primeira Presidência para Wayne Beck, 1º de abril de 1966, Primeira Presidência, correspondência da missão, 1964–2010, Biblioteca de História da Igreja; Spencer W. Kimball, diário, 24 de março de 1966.

  23. Rendell Mabey para Giuseppa Oliva, 25 de fevereiro de 1966, cópia em posse dos editores; registro de Salvatore Ferrante, batismos e confirmações, 1966, Ramo Palermo, Distrito Palermo, Missão Italiana, p. 31, na Itália (país), parte 2, coleção de registro de membros, Biblioteca de História da Igreja; Giurintano, entrevista, p. 2; Simoncini, “La storia dei primi pionieri del ramo di Palermo”, p. 1.

  24. Mabey, diário, 10 de maio de 1966; “Day I’ll Never Forget”, pp. 1–2; registro de Salvatore Ferrante, batismos e confirmações, 1966, Ramo Palermo, Distrito Palermo, Missão Italiana, p. 31, na Itália (país), parte 2, coleção de registro de membros, Biblioteca de História da Igreja.

  25. Mabey, diário, 10 de maio de 1966; “Day I’ll Never Forget”, p. 2; Toronto, Dursteler e Homer, Mormons in the Piazza, pp. 275–276.

  26. Toronto, Dursteler e Homer, Mormons in the Piazza, p. 276; Rendell Mabey para Giuseppa Oliva, 16 de junho de 1966, documentos de Giuseppa Oliva, Biblioteca de História da Igreja; Abner, reminiscências da Missão Italiana, pp. 26–28.

  27. Camargo, reminiscências, p. 63.

  28. Camargo, Entrevista de história oral, pp. 14, 27; Camargo, reminiscências, p. 63; de Queiroz, Entrevista de história oral, 2011, p. 6.

  29. “Reunião da presidência da missão com os presidentes dos distritos e os portadores do sacerdócio dos distritos da missão”, 30 de janeiro de 1966, Missão Brasil São Paulo Norte, história manuscrita, Biblioteca de História da Igreja; Missão Brasil São Paulo Norte, história manuscrita, 16 de abril de 1966; Liahona (São Paulo, Brasil), abril de 1966, p. 3; maio de 1966, p. 3.

  30. Spencer W. Kimball, diário, 25 de abril a 2 de maio de 1966; Missão Brasil São Paulo Norte, história manuscrita, 26–30 de abril de 1966.

  31. Spencer W. Kimball, diário, 1º de maio de 1966; Missão Brasil São Paulo Norte, história manuscrita, 26 e 28 de abril de 1966.

  32. Spencer W. Kimball, diário, 1º de maio de 1966; Camargo e outros, Entrevista de história oral, pp. 13–14.

  33. Santos, vol. 3, capítulo 16; “São Paulo: A primeira estaca da América do Sul”, Liahona (São Paulo, Brasil), junho de 1966, p. 10; Sharp, autobiografia, p. 48.

  34. Evelyn Beck, carta, 6 de maio de 1966, cópia em posse dos editores; “São Paulo: A primeira estaca da América do Sul”, Liahona (São Paulo, Brasil), junho de 1966, p. 11; Spencer W. Kimball, diário, 1º de maio de 1966; Camargo, Entrevista de história oral, p. 23. Tópico: Alas e estacas

  35. São Paulo: A primeira estaca da América do Sul”, Liahona (São Paulo, Brasil), junho de 1966, p. 11; Spencer W. Kimball, diário, 1º de maio de 1966; Camargo, reminiscências, p. 64. Tópico: Bispo.

  36. Camargo, Entrevista de história oral, pp. 23–24.

  37. “Reunião do sacerdócio da missão brasileira”, 30 de abril de 1966, Missão Brasil São Paulo Norte, história manuscrita, Biblioteca de História da Igreja.

  38. Spencer W. Kimball, diário, 1º de maio de 1966.

  39. Camargo, reminiscências, p. 64. Tópico: Brasil