História da Igreja
Capítulo 13: Um conhecimento eterno


Capítulo 13

Um conhecimento eterno

Billy Johnson pregando com seu filho pequeno sentado em seus ombros

No início de maio de 1971, Darius Gray entrou na Biblioteca Marriott, na Universidade de Utah. Seu amigo Eugene Orr, que trabalhava no centro de cópias da biblioteca, havia convidado a ele e Ruffin Bridgeforth para encontrá-lo lá. Havia algum tempo, eles queriam conversar sobre os desafios dos santos dos últimos dias negros. Cada um deles estava jejuando e orando para saber o que fazer.

Quando Darius se encontrou com seus amigos, eles foram para uma sala de estudos vazia e começaram a conversar. Muitas de suas preocupações diziam respeito à restrição da Igreja, relacionada ao sacerdócio e ao templo. Por que alguns homens negros portaram o sacerdócio nos primórdios da Igreja? E quando os homens negros poderiam portar o sacerdócio novamente?

Enquanto debatiam sobre essas questões, mais perguntas surgiram. Eles sabiam que era difícil para os santos negros entender a restrição e permanecer ativos na Igreja. O que poderia ser feito para ajudá-los a participar de suas reuniões com mais frequência? A Igreja poderia organizar um ramo especificamente para seus membros negros?

E quanto à geração mais jovem de santos negros? Como pais, tanto Ruffin quanto Eugene queriam muito saber como responder às perguntas de seus filhos a respeito da restrição.

Depois de escrever suas perguntas, os amigos se ajoelharam e Ruffin fez uma oração, implorando pela orientação do Senhor. Quando terminaram, tiveram a poderosa impressão de levar suas perguntas pessoalmente ao presidente Joseph Fielding Smith e a outros líderes seniores da Igreja. Mas como poderiam marcar tal reunião?

Sabendo que Eugene era persuasivo e cheio de energia, Darius e Ruffin disseram a ele: “Por que você não entra em contato com eles?” Se havia alguém que poderia falar pelo grupo, essa pessoa era Eugene.

Alguns dias depois, Eugene se reuniu com Arthur Haycock, o secretário pessoal do presidente Smith, no edifício administrativo da Igreja. “Quaisquer que sejam as preocupações que você tenha”, Arthur disse a Eugene, “posso resolvê-las para você”.

“Está bem”, disse Eugene. “Minha maior preocupação agora é que gostaríamos de ver o profeta.” Ele mostrou a Arthur as perguntas que havia elaborado com Darius e Ruffin. “Os negros querem manter a cabeça erguida e ser importantes e ativos na Igreja”, disse ele. “Eles não querem apenas se sentar na fileira de trás.”

Arthur leu as perguntas e concordou que a lista era válida. Ele disse: “Vou levar isso aos irmãos e ver o que eles decidem”.

Eugene não recebeu confirmação da sede da Igreja depois disso, então, três semanas depois, ele retornou ao edifício administrativo da Igreja. Desta vez, Arthur disse a ele que o presidente Smith havia nomeado os apóstolos Gordon B. Hinckley, Thomas S. Monson e Boyd K. Packer para falar com eles. Uma reunião foi marcada para o dia 9 de junho.

Quando esse dia chegou, Darius, Eugene e Ruffin se reuniram com os três apóstolos no escritório do élder Hinckley. Os líderes da Igreja conheciam Ruffin há vários anos e conheciam Darius por seu trabalho na KSL. Nenhum dos apóstolos conhecia Eugene pessoalmente.

“Estamos muito preocupados com o problema em que nós, nossa família e nosso povo nos encontramos”, disseram Darius e seus amigos aos apóstolos. Ruffin contou que seus filhos tinham perdido o interesse pela Igreja depois que cresceram e não puderam portar o Sacerdócio Aarônico. Era doloroso para ele que seus filhos não frequentassem mais a Igreja.

Ao longo da reunião, Eugene fez a maioria das perguntas:

“O que devemos dizer aos nossos filhos quando perguntarem se vamos batizá-los, quando outras crianças na Primária dizem que o pai delas vai batizá-las?”

“Podemos participar da reunião do sacerdócio?”

“A obra missionária pode ser feita entre nosso povo?”

O élder Hinckley, o élder Monson e o élder Packer ouviram com empatia e concordaram em se reunir novamente com Ruffin, Darius e Eugene para conversar sobre essas e outras dúvidas. Ao final da reunião, eles reconheceram que a Igreja precisava fazer mais por seus membros negros.

“Temos fé e temos um testemunho”, disseram os três amigos aos apóstolos. “Queremos que as bênçãos do evangelho sejam estendidas de maneira mais ativa ao nosso povo, independentemente do sacerdócio.”


Enquanto isso, em Tóquio, no Japão, Kazuhiko Yamashita participava de jogos de basquete todos os fins de semana — e tinha pouco tempo para estudar com os missionários santos dos últimos dias. Os élderes começaram a visitá-lo pouco depois da feira mundial, e ele gostava de se reunir com eles. Eram americanos, e ele gostava de conversar com estrangeiros. Mas muitas vezes marcava reuniões com eles e acabava cancelando.

A religião simplesmente nunca tinha sido uma prioridade em sua vida. Sua mãe budista reverenciava seus antepassados ao visitar o túmulo deles, mas a família não orava, não meditava nem estudava os ensinamentos de sua religião. O budismo era uma tradição que Kazuhiko herdara, mas não era algo que influenciava muito seu modo de vida.

Os missionários, por outro lado, representavam uma Igreja que se reunia várias vezes por semana e incentivava seus membros a estudar as escrituras e guardar os mandamentos. Tornar-se um santo dos últimos dias não era apenas um importante compromisso de tempo, era uma grande mudança de vida.

No entanto, Kazuhiko ficou impressionado com a mensagem dos missionários. Quando soube da Primeira Visão de Joseph Smith, ficou surpreso. Ele não tinha dúvidas sobre isso. Acreditou imediatamente. Se ao menos tivesse mais tempo para a Igreja, talvez levasse a mensagem mais a sério.

Certo dia, Kazuhiko foi ao apartamento dos missionários e pediu desculpas por ter sido negligente com seus compromissos. “Irmão Yamashita, sinto muito”, disse um deles. “Vou voltar para casa.” Sua missão estava chegando ao fim.

A notícia deixou Kazuhiko surpreso e entristecido. Ele resolveu não desperdiçar mais o tempo dos élderes. “Vou estudar mais”, disse a si mesmo. “Vou ler o Livro de Mórmon.”

Ele começou a se reunir regularmente com os missionários, ir à igreja e a aprender mais sobre o evangelho restaurado. Ele gostava de participar das atividades da AMM nas noites de quinta-feira e fez amizade com os santos locais.

Era uma época emocionante para a Igreja no Japão. Nos 25 anos que se seguiram ao fim da Segunda Guerra Mundial, o número de membros no Japão havia crescido de algumas centenas para mais de 12 mil. Como o Brasil e outros países onde a Igreja estava crescendo rapidamente, o Japão tinha seu próprio escritório de tradução e distribuição da Igreja. As autoridades gerais visitavam o país regularmente, enquanto o ministério diário da Igreja era supervisionado pelos líderes locais. Naquela época havia quatro missões no Japão e uma estaca em Tóquio. Logo a Igreja também abriria um instituto de religião para estudantes universitários e matricularia santos mais jovens no programa do seminário de estudo no lar.

Muitas pessoas no Japão ainda não estavam familiarizadas com os santos dos últimos dias, mas o pavilhão da Igreja na Expo ’70 fez com que ela ganhasse mais reconhecimento no país. A exposição havia atraído dezenas de milhares de visitantes todos os dias, superando em muito a participação no pavilhão da Igreja na Feira Mundial de Nova York cinco anos antes. No final da exposição, mais de 650 mil pessoas haviam preenchido cartões de comentários no pavilhão, muitas solicitando a visita dos missionários. E cerca de 50 mil exemplares do Livro de Mórmon foram vendidos.

À medida que Kazuhiko estudava com os missionários, ele não entendia muito o que ensinavam. Mas a vida e o bom exemplo deles eram como uma mensagem de Deus, e ele desejava ser mais parecido com eles. Ao fazer sua primeira oração pessoal, seguindo as instruções fornecidas pelos missionários, ele se sentiu envolvido pela presença do Senhor. Quando os missionários o convidaram para ser batizado, ele aceitou.

Sua data de batismo era 17 de julho de 1971. O ramo não tinha uma fonte batismal, então os missionários improvisaram uma na cozinha da capela, com um pouco de madeira e uma grande placa de vinil. A fonte não era muito funda, mas havia água suficiente para imergi-lo.

Depois, enquanto um dos élderes confirmava uma mulher que também havia sido batizada naquele dia, ele parou no meio da bênção, com a voz embargada de emoção. Kazuhiko abriu os olhos para ver qual era o problema e viu lágrimas escorrendo pelo rosto do missionário.

Naquele momento, ele pôde sentir o amor do missionário — e o amor de Deus — por todos na sala.


Depois de se tornar presidente em exercício do Quórum dos Doze Apóstolos, Spencer W. Kimball estava mais ocupado do que nunca. Com frequência ele trabalhava desde o início da manhã até as 22h30 ou 23h e, às vezes, acordava no meio da noite para trabalhar. Ele procurou fazer pequenas mudanças em seus hábitos para tornar seus dias menos agitados, mas não sabia como fazer isso.

Em pouco tempo, começou a sentir dores agudas no lado esquerdo da garganta. No começo, a dor aparecia e sumia, mas, por fim, o pescoço e a garganta começaram a doer constantemente. Ele sentia dores frequentes no peito e até mesmo um leve esforço físico o deixava exausto. Fazer exercícios não melhorava sua saúde. Sua esposa, Camilla, percebeu que ele começou a ter dificuldades para respirar.

Em setembro de 1971, ele conversou em particular sobre seus sintomas com o Dr. Russell M. Nelson, recém-chamado superintendente geral da Escola Dominical e renomado cirurgião cardíaco. O Dr. Nelson ouviu atentamente e sugeriu que o élder Kimball consultasse um especialista imediatamente.

Não muito tempo depois, o élder Kimball consultou o Dr. Ernest Wilkinson, um especialista em cardiologia e filho do ex-presidente da Universidade Brigham Young. O Dr. Wilkinson analisou os relatórios do exame médico anterior do élder Kimball e realizou mais testes. Enquanto o médico estudava os resultados, o apóstolo percebeu sua preocupação. “Seja franco”, disse ele.

“Estenose aórtica”, replicou o Dr. Wilkinson. Ele explicou que a válvula da aorta do élder Kimball, que permitia que o sangue saísse do coração, havia se endurecido e estreitado. Seu coração estava se desgastando enquanto se esforçava para bombear sangue através da válvula doente.

O élder Kimball perguntou quanto tempo de vida ele teria. O médico disse que ele talvez tivesse mais um ou dois anos, mas também era possível que viesse a óbito sem aviso prévio a qualquer momento. Uma cirurgia poderia prolongar sua vida, mas, na idade do élder Kimball, ele teria apenas 50 por cento de chance de sobreviver.

A notícia foi devastadora. O élder Kimball sempre pensara na morte como algo vago e distante. Naquele momento, parecia que o fim do mundo — ou o começo do fim — havia chegado.

No dia seguinte, o élder Kimball caminhou até o Templo de Salt Lake para uma reunião com a Primeira Presidência e seus companheiros apóstolos. Ao longo da reunião, ele orou pedindo forças para servir bem, apesar da iminente possibilidade de morte.

Quando a reunião terminou e os homens começaram a deixar o templo, o élder Kimball notou que eles andavam em grupos de dois ou três; logo, um pensamento sombrio veio à sua mente — talvez esses mesmos homens em breve estariam andando em pares ou trios carregando seu caixão.

O élder Kimball sabia que o Senhor poderia curá-lo. “Mas por que Ele faria isso”, o apóstolo se perguntou, “quando Ele poderia chamar outros homens mais qualificados para servir no Quórum dos Doze?”

Ele pensou: “Minha partida causaria tanta agitação quanto soprar uma vela entre muitas outras”.


Um dia, por volta dessa época, Ruffin Bridgeforth, Darius Gray e Eugene Orr foram convidados para comparecer ao escritório de Gordon B. Hinckley.

Desde junho, os três homens haviam passado a se reunir com o élder Hinckley, o élder Monson e o élder Packer quase que semanalmente. Perguntas difíceis sobre o sacerdócio e a restrição do templo geralmente dominavam suas conversas, mas Ruffin sempre trazia um espírito de paz para a sala.

Na verdade, quanto mais os homens se aconselhavam mutuamente, mais eles aprendiam a amar e a respeitar uns aos outros. Darius ficou impressionado com o fato de o presidente Smith ter considerado suas preocupações importantes o suficiente para envolver três apóstolos. À medida que continuavam a se reunir, o Senhor estava com eles, e muitas vezes esses homens choraram juntos.

Um dia, o élder Hinckley começou a reunião com uma boa notícia. “Após oração e ponderação”, disse ele, “o presidente Smith e os irmãos do Quórum dos Doze sentiram que deveriam estabelecer um grupo de apoio para os membros negros da Igreja.”

Os líderes da Igreja falavam em organizar esse grupo desde que Darius, Eugene e Ruffin propuseram pela primeira vez, em sua lista de perguntas para o profeta, a organização de um ramo para os santos negros. O élder Hinckley explicou que o grupo funcionaria como parte da estaca de Liberty, em Salt Lake City. Os membros do grupo continuariam a frequentar a reunião sacramental e a Escola Dominical em suas respectivas alas. Mas o grupo teria sua própria Sociedade de Socorro, AMM e Primária. O objetivo era fornecer uma comunidade e ajuda para os santos negros, especialmente os jovens que não conseguiam encontrar um lugar na Igreja.

Os apóstolos já haviam chamado Ruffin para servir como presidente do grupo, e Ruffin havia recomendado Darius como seu primeiro conselheiro e Eugene como segundo. O élder Hinckley fez os chamados e eles aceitaram.

Pouco tempo depois, em 19 de outubro de 1971, Darius se sentou ao púlpito de uma capela em Salt Lake City. Era uma noite de terça-feira, mas a capela estava repleta de pessoas vestidas com roupas de domingo. Alguns dos rostos que Darius viu eram negros, mas a maioria das pessoas era branca.

Todos se reuniram para testemunhar o início do que Darius, Ruffin e Eugene decidiram chamar de Grupo Gênesis, a primeira organização oficial da Igreja para os santos dos últimos dias negros. O élder Hinckley, que dirigia a reunião, apresentou o grupo e seu propósito. Então, Ruffin Bridgeforth, como presidente do grupo, pediu um voto de apoio a seus líderes, incluindo Lucile Bankhead como presidente da Sociedade de Socorro. Quando terminou, ele prestou seu testemunho.

“Gênesis, como sabem, significa começo”, disse ele. “Este é um começo.” Ele falou de seu amor pelo evangelho restaurado e de sua gratidão pelos líderes da Igreja e por todos na congregação. “O Senhor está do nosso lado. Teremos sucesso”, testemunhou ele. “Vou me esforçar mais do que nunca para que sejamos bem-sucedidos.”

Quando o presidente Bridgeforth se sentou, o élder Hinckley convidou Darius para prestar seu testemunho, pegando-o desprevenido. Darius se aproximou do púlpito e disse: “Eu não ia dizer nada esta noite. Parece presunçoso de minha parte.”

Olhando para a congregação, ele viu membros da família Felix, que o haviam apresentado ao evangelho sete anos antes. “Eles poderiam facilmente ter me deixado de lado, mas não o fizeram”, disse ele à congregação. “Era importante que eu tivesse a oportunidade de ouvir o evangelho. Eles foram persistentes em apresentá-lo a mim.”

Ele fez uma longa pausa e depois disse: “Muitas vezes vi alguns homens se levantarem na reunião sacramental ou na reunião de jejum e testemunho, portadores do sacerdócio, e os ouvi testificar que o evangelho é verdadeiro”.

Naquele momento, ele também queria prestar seu testemunho. “Sei que o evangelho é verdadeiro”, declarou ele. “E esse é um conhecimento eterno.”


Depois de se formar no Ensino Médio como a melhor aluna de sua turma na Benemérito, Isabel Santana retornou à sua cidade natal, Ciudad Obregón, no norte do México. Ela não tinha certeza do que queria fazer em seguida. Poderia retornar à Benemérito e se matricular na escola preparatória de três anos, que se destinava a preparar os alunos para a universidade. Mas ela estava pensando seriamente em ficar em casa e frequentar a escola preparatória pública local.

O pai de Isabel estava satisfeito em deixá-la tomar sua própria decisão a respeito da escola. Sua mãe, no entanto, não estava entusiasmada com a ideia da filha frequentar a escola em Obregón, preocupada que ela pudesse se envolver em algum movimento estudantil radical na área.

“Se ficar aqui”, pensava a mãe, “ela se tornará uma revolucionária como todos os outros”.

Ainda com dúvidas, Isabel pediu conselhos a Agrícol Lozano, seu professor de educação cívica e diretor da escola preparatória da Benemérito. Ele a incentivou a voltar e fazer o exame de admissão.

“Venha imediatamente”, disse-lhe Agrícol. “Você tem um lugar aqui.”

Isabel retornou à Cidade do México, passou no exame e foi aceita. Mas ela não tinha certeza se havia feito a escolha certa, especialmente depois que um teste de aptidão revelou que ela era adequada para o trabalho social — uma carreira que ela não tinha interesse em seguir.

“Estou indo embora”, anunciou a Efraín Villalobos, seu mentor de confiança. “Não quero fazer a escola preparatória.”

“Não, não, não”, disse Efraín. “Seu lugar é aqui.” Ele a incentivou a frequentar a escola de treinamento de professores de Benemérito. Em vez de preparar os alunos apenas para a universidade, a escola de três anos também era projetada para prepará-los para ensinar nas escolas administradas pela Igreja no México. Isso significava que Isabel teria imediatamente um emprego quando concluísse seu curso.

As palavras de Efraín a persuadiram e ela mudou de escola.

Ela rapidamente gostou dos cursos e de seus professores. Durante os primeiros anos, ela teve aulas de educação geral, bem como cursos sobre técnicas de ensino, psicologia educacional e história da educação. Sua formação foi em Educação Infantil e, durante seu último ano na escola de treinamento de professores, ela passou uma semana ensinando em uma escola primária administrada pela Igreja em Monterrey, uma cidade no nordeste do México. Isabel nunca tivera um forte instinto de cuidado com outros e se preocupou com sua falta de paciência para trabalhar com crianças, mas a semana transcorreu bem.

Enquanto estava na escola de treinamento de professores, Isabel se tornou uma boa amiga de Juan Machuca, um rapaz da costa oeste do México que recentemente havia servido na Missão Norte do México. Alguns de seus colegas de classe os provocavam dizendo que eram um casal. Isabel ria e respondia que Juan era o último homem com quem ela se casaria. “Ele é meu amigo”, insistia ela. “Não vou me casar com meu amigo.”

Após a formatura, no entanto, ambos foram contratados para ensinar no seminário e instituto da Benemérito. Eles compartilhavam uma mesma sala e, em pouco tempo, começaram a ir ao cinema e a passar mais tempo juntos. No início de 1972, enquanto Isabel e Juan conversavam na sala de estar dela, Juan de repente perguntou: “Você gostaria de se casar comigo?”

“Sim”, respondeu ela, sem nenhum traço de hesitação em sua voz.

Eles formalizaram seu casamento civil em maio, durante as férias de verão. Algumas semanas depois, viajaram 2.200 quilômetros com outros membros da Igreja para o templo em Mesa, Arizona, para receber as bênçãos do templo. A viagem de ônibus de três dias foi sufocante, pois eles estavam sentados em assentos feitos de plástico e sem ar condicionado.

Mas o desconforto valeu a pena. Mesa foi o primeiro templo a oferecer ordenanças em espanhol e, naquela época, era o templo mais próximo dos membros da Igreja no México e na América Central. Para esses santos, a jornada era longa e exigia que fizessem grandes sacrifícios. Eles frequentemente viajavam para participar de uma conferência anual de membros latino-americanos da Igreja, organizada pelas estacas em Mesa. Essas conferências duravam vários dias e abençoavam os participantes com um senso de pertencimento e comunidade espiritual.

Assim que Isabel e Juan chegaram ao templo, receberam sua investidura e foram selados para o tempo e a eternidade. Ao adorarem lá, sentiram que o templo enriqueceu sua perspectiva de vida e aprofundou seu compromisso com o evangelho de Jesus Cristo.


No início de 1972, as congregações de Billy Johnson em Cape Coast, Gana, e seus arredores, haviam crescido e reuniam centenas de fiéis. Entre os mais devotos estava a mãe de Billy, Matilda. Jacob e Lily Andoh-Kesson e seus filhos, que se juntaram ao grupo logo após a chegada de Billy em Cape Coast, também eram membros comprometidos e amigos.

À medida que as congregações cresciam, Billy encontrou um prédio antigo que já havia sido usado para armazenar grãos de cacau. Agora, o espaço estava cheio de bancos, algumas pequenas cadeiras e mesas, um púlpito e um longo banco encostado em uma parede. Algumas pessoas ao redor de Cape Coast zombaram de Billy e seus seguidores por se reunirem em um prédio decadente, chamando-os de “igreja do barracão de cacau”. Mas o crescente número de seguidores não se importava de se reunir lá, mesmo quando a chuva se infiltrava pelos buracos no telhado e todos tinham que se agrupar ou usar guarda-chuvas para se manterem secos.

Billy fez o possível para tornar o humilde edifício acolhedor e confortável. Ele pendurou uma placa entre as duas entradas de portas duplas, que dizia “A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (Mórmons)”. Um mural de Cristo na cruz adornava uma parede, enquanto um mural em outra parede mostrava o Salvador com os braços erguidos e as palavras “Vinde a Mim” acima de Sua cabeça. Gravuras de Joseph Smith, do Coro do Tabernáculo e de outras cenas da Igreja pontilhavam as paredes, pintadas de azul claro.

Lily Andoh-Kesson mantinha o prédio limpo. Ela chegava lá no início da manhã para prepará-lo para as reuniões. Ela disse a sua filha Charlotte que tinha visto anjos lá, e queria que os anjos tivessem um lugar limpo para ficar.

A congregação de Billy se reunia de manhã e à noite três vezes por semana para os cultos de adoração, que eram repletos de hinos, danças, palmas, orações, gritos de louvor e sermões. Às vezes, Billy pregava com seu filho pequeno, Brigham, sentado em seus ombros.

Quando pregava, Billy ensinava os princípios que havia aprendido ao ler os materiais da Igreja, como as treze Regras de Fé, e compartilhava histórias de pioneiros santos dos últimos dias. Mas, acima de tudo, ele amava ensinar sobre o Livro de Mórmon.

Billy acreditava que os missionários viriam algum dia da sede da Igreja, mas temia que seus seguidores ficassem desanimados com a espera. Algumas pessoas até deixaram o grupo depois que críticos da Igreja lhes disseram que os santos dos últimos dias não gostavam de negros e nunca enviariam missionários.

Ocasionalmente, a pregação determinada de Billy o colocava em problemas com as autoridades locais. Ele foi acusado de espalhar falsidades porque testificou que A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias era a única igreja verdadeira na Terra.

Certa vez, a polícia o prendeu, mas antes que pudessem levá-lo à delegacia, ele olhou em volta, na esperança de ver um rosto familiar — alguém que iria com ele e a polícia. A princípio, não viu ninguém. Mas então avistou um jovem espectador chamado James Ewudzie, um amigo da família.

James estava chorando quando se aproximou de Billy. Ele não era membro da congregação de Billy, mas colocou a mão em seu ombro e o chamou de “Sofo”, a palavra no idioma fante para sacerdote. “Não se preocupe”, disse ele a Billy. “Eu vou com você.”

Depois de ser levado à delegacia, Billy rapidamente envolveu James e a polícia em um debate religioso. Quatro dos policiais se sentiram inspirados com sua mensagem e acreditaram em suas palavras. O chefe da polícia também ficou amigo de Billy e, em pouco tempo, os policiais soltaram a ele e a James. Mais tarde, o chefe da polícia convidou Billy para ensinar as lições do evangelho aos policiais de Cape Coast todas as manhãs de sexta-feira.

Nesse meio tempo, James teve um sonho em que se encontrava com Billy na capela. No sonho, Billy pediu que ele se ajoelhasse e, em seguida, uma luz brilhou pelo telhado. James fechou os olhos, mas a luz ainda o iluminava. Em seguida, ouviu uma voz chamar seu nome lentamente.

“Quero trazer minha Igreja para Gana”, disse o Senhor. Ele pediu a James que se juntasse a Billy. “Se você o ajudar, eu o abençoarei e abençoarei Gana.”

James sabia que o que o Senhor havia lhe falado no sonho era verdade e obedeceu a Sua ordem.

  1. Orr, “Eugene Orr’s Life History”, pp. 7, 9; Gray, entrevista sobre história verbal, p. 137; Orr, entrevista sobre história verbal, p. 12.

  2. Orr, entrevista sobre história verbal, p. 12; Gray, entrevista sobre história verbal, pp. 137, 139; Orr, “Eugene Orr’s Life History”, pp. 7, 9; Leitha Orr e Eugene Orr, carta, por volta de dezembro de 1971, arquivos de Gordon B. Hinckley, por volta de 1971–1977, Biblioteca de História da Igreja; “As etnias e o sacerdócio”, textos sobre os Tópicos do evangelho, ChurchofJesusChrist.org/study/manual/gospel-topics-essays; Santos, volume 2, capítulo 12. Tópicos: Restrição ao sacerdócio e templo; Elijah Able

  3. Arthur Haycock à Primeira Presidência, memorando, 11 de maio de 1971, Primeira Presidência, arquivos da administração geral, 1921–1972, Biblioteca de História da Igreja; Leitha Orr e Eugene Orr, carta, por volta de dezembro de 1971, arquivos de Gordon B. Hinckley, por volta de 1971–1977, Biblioteca de História da Igreja; Orr, “Eugene Orr’s Life History”, p. 7; Gray, entrevista sobre história verbal, p. 139.

  4. Orr, entrevista sobre história verbal, p. 12; Orr, “Eugene Orr’s Life History”, pp. 7, 9; Gray, entrevista sobre história verbal, p. 137; R. Scott Lloyd, “Ruffin Bridgeforth, First Black High Priest, Eulogized as a Pioneer”, Church News, 5 de abril de 1997, p. 7; ver também Lee, Ruffin Bridgeforth, p. 31.

  5. Orr, “Eugene Orr’s Life History”, pp. 7, 9; Orr, entrevista sobre história verbal, pp. 12, 14; Arthur Haycock à Primeira Presidência, memorando, 11 de maio de 1971, Primeira Presidência, arquivos da administração geral, 1921–1972, Biblioteca de História da Igreja.

  6. Orr, “Eugene Orr’s Life History”, p. 9; Orr, entrevista sobre história verbal, p. 14; Arthur Haycock a Gordon B. Hinckley, memorando, 4 de junho de 1971, arquivos de Gordon B. Hinckley, por volta de 1971–1977, Biblioteca de História da Igreja; Hinckley, diário, 9 de junho de 1971.

  7. Monson, diário, 9 de junho de 1971; Hinckley, diário, 9 de junho de 1971; Gray, entrevista sobre história verbal, pp. 137–139; Orr, “Eugene Orr’s Life History”, p. 9; Grupo Gênesis, primeira reunião, 19 de outubro de 1971, (00:12:55)–(00:13:27); Lee, Ruffin Bridgeforth, pp. 43, 58.

  8. Hinckley, diário, 9 de junho de 1971; Gray, entrevista sobre história oral, pp. 138–139; Orr, entrevista, pp. 1–2.

  9. Hinckley, diário, 9 de junho de 1971; Monson, diário, 9 de junho de 1971; Orr, “Eugene Orr’s Life History”, p. 9; ata do Conselho, 20 de maio de 1971, Primeira Presidência, arquivos da administração geral, 1921–1972, Biblioteca de História da Igreja.

  10. Yamashita, entrevista, pp. 2, 12–14, 16, 24, 26.

  11. Yamashita, entrevista, pp. 12, 16–17, 29.

  12. Yamashita, entrevista, pp. 26–27.

  13. Palmer, Church Encounters Asia, pp. 3–6, 177; Britsch, From the East, pp. 92, 127–131, 134–137; Peterson, “History of Mormon Exhibits in World Expositions”, p. 155; “Translations Director Named”, Church News, 22 de fevereiro de 1969, p. 4; Departamento Missionário, relatórios mensais de progresso da missão em tempo integral, junho de 1971.

  14. “Brief History of the Church Education in Japan and Okinawa”, pp. 1–3; Griffiths, “Globalization of Latter-day Saint Education”, pp. 171–181; “By Study and Also by Faith”, pp. 256–257. Tópicos: Japão; Seminários e Institutos

  15. Palmer, Church Encounters Asia, pp. 7–15; Britsch, From the East, pp. 131–134; Peterson, “History of Mormon Exhibits in World Expositions”, pp. 148–155; Edward Okazaki e Chieko Okazaki, relatório da missão Japão Central, 26 de outubro de 1971, Primeira Presidência, correspondência da missão, 1964–2010, Biblioteca de História da Igreja; “Expo Exhibit ‘Great Success’”, Church News, 26 de setembro de 1970, p. 3.

  16. Yamashita, entrevista, pp. 14, 17, 28–31, 50–51; Sarah Jane Weaver, “Missionaries Changed His Life”, Church News, 28 de maio de 2011, p. 11; Rupp, diário, 17 de julho de 1971.

  17. Spencer W. Kimball, diário, 28 de agosto de 1971; 15 de setembro de 1971; 15 de outubro de 1971, suplemento; Kimball, autobiografia de Camilla Eyring Kimball, pp. 83–84; Kimball e Kimball, Spencer W. Kimball, pp. 390–393; Nelson, From Heart to Heart, pp. 162.

  18. Spencer W. Kimball, diário, 15 de setembro de 1971 e 15 de outubro de 1971, suplemento.

  19. Spencer W. Kimball, diário, 15–16 de setembro de 1971, suplemento; Nelson, From Heart to Heart, p. 162. Tópico: Spencer W. Kimball

  20. Spencer W. Kimball, diário, 15–16 de setembro de 1971, suplemento e 15 de outubro de 1971, suplemento.

  21. Spencer W. Kimball, diário, 16 de setembro de 1971, suplemento.

  22. Gray, entrevista sobre história verbal, p. 140.

  23. Orr, “Eugene Orr’s Life History”, p. 9; Gray, entrevista sobre história verbal, pp. 138–140; Orr, entrevista sobre história verbal, pp. 17–19.

  24. Gray, entrevista sobre história verbal, pp. 140–141; ver também Hinckley, diário, 27 de junho de 1971.

  25. Ata do Conselho, 20 de maio de 1971, Primeira Presidência, arquivos da administração geral, 1921–1972, Biblioteca de História da Igreja; Hinckley, diário, 9 e 27 de junho de 1971; 19 de outubro de 1971; Joseph Fielding Smith à Primeira Presidência, 30 de março de 1955, Primeira Presidência, arquivos da administração geral, 1923, 1932, 1937–1967, Biblioteca de História da Igreja; Gray, entrevista sobre história verbal, p. 141; Monson, diário, 19 de outubro de 1971; Ruffin Bridgeforth a Catheryn Smith, 20 de dezembro de 1971, arquivos de Gordon B. Hinckley, por volta de 1971–1977, Biblioteca de História da Igreja; Orr, “Eugene Orr’s Life History”, p. 9.

  26. Gray, entrevista sobre história verbal, pp. 141–142; Hinckley, diário, 19 de outubro de 1971; Monson, diário, 19 de outubro de 1971; Grupo Gênesis, primeira reunião, 19 de outubro de 1971, (00:05:30)–(00:18:40). Tópico: Grupo Gênesis

  27. Grupo Gênesis, primeira reunião, 19 de outubro de 1971, (00:18:40)–(00:20:14); Gordon B. Hinckley, anotações da primeira reunião do Grupo Gênesis, 19 de outubro de 1971, arquivos de Gordon B. Hinckley, por volta de 1971–1977, Biblioteca de História da Igreja.

  28. Santana e Machuca, entrevista sobre história verbal, pp. 27–29; Isabel Santana, entrevista sobre história oral, 2 de fevereiro de 2022, pp. 5, 7–8, 10–11; Isabel Santana, entrevista sobre história verbal, 19 de abril de 2022, pp. 2–4, 6, 13; Taylor, Story of L.D.S. Church Schools, pp. 2:15, 22–23; Antorcha de Chiquihuite, p. 17; Isabel Santana, entrevista sobre história verbal, 5 de janeiro de 2022, p. 25. Tópico: Escolas da Igreja

  29. Santana e Machuca, entrevista sobre história verbal, pp. 8, 11–14, 29; Isabel Santana, entrevista sobre história verbal, 2 de fevereiro de 2022, pp. 16–17, 22–23; Isabel Santana, entrevista sobre história verbal, 5 de janeiro de 2022, pp. 17–18.

  30. Isabel Santana, entrevista sobre história verbal, 5 de janeiro de 2022, pp. 19–20; Santana e Machuca, entrevista sobre história verbal, pp. 15–16; Isabel Santana, entrevista sobre história verbal, 2 de fevereiro de 2022, p. 18.

  31. Santos, volume 3, capítulos 3136; Deseret News, 1989–1990, Church Almanac, p. 191; Mecham, entrevista sobre história verbal, pp. 57–69; “Mesa: Spanish Temple Sessions Told”, Church News, 7 de maio de 1966, p. 4; Isabel Santana, entrevista sobre história verbal, 5 de janeiro de 2022, pp. 19–20; Juan Antonio Machuca Caras e Isabel Santana Guirado, registro de selamento, 24 de maio de 1972, registro do templo para os vivos, 1955–1991, microfilme 820.337, Biblioteca de História da Família. Tópicos: Selamento; Investidura do templo

  32. Joseph Johnson, entrevista sobre história verbal, 2005, pp. 4, 48; Acquah e Acquah, entrevista sobre história verbal, 1999, pp. 14–16.

  33. Cannon e Bateman, “Report of a Visit to Ghana and Nigeria”, pp. 14–15; Acquah e Acquah, entrevista sobre história verbal, 2018, pp. 10–12; E. Dale LeBaron, “Steadfast African Pioneer”, Ensign, dezembro de 1999, p. 47; Joseph Johnson, entrevista sobre história verbal, 1988, p. 101.

  34. Cannon e Bateman, “Report of a Visit to Ghana and Nigeria”, pp. 14–15; Acquah e Acquah, entrevista sobre história verbal, 2018, pp. 10–12; E. Dale LeBaron, “Steadfast African Pioneer”, Ensign, dezembro de 1999, p. 47.

  35. Acquah e Acquah, entrevista sobre história verbal, 2018, pp. 7–8.

  36. Joseph Johnson, entrevista sobre história verbal, 1988, pp. 37, 46–47, 52; Joseph Johnson, entrevista sobre história verbal, 2005, pp. 4–5; Acquah e Acquah, entrevista sobre história verbal, 1999, pp. 14–15; Imbrah, entrevista sobre história verbal, pp. 8–11; Cannon e Bateman, “Report of a Visit to Ghana and Nigeria”, pp. 14–15.

  37. Joseph Johnson, entrevista sobre história verbal, 1988, p. 26; Johnson, “History of The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints in Ghana”, pp. 2–3.

  38. Johnson, “History of The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints in Ghana”, p. 2; Ewudzie, entrevista sobre história verbal, (00:02:13), (00:05:30)–(00:10:00).