História da Igreja
Capítulo 19: Unidos como família


Capítulo 19

Unidos como família

Templo de São Paulo, paisagem e fonte

Certa noite, em junho de 1978, Billy Johnson retornou para sua casa em Cape Coast, Gana. Ele e outros membros de sua congregação estavam jejuando, como costumavam fazer, mas o jejum não havia ajudado a levantar seu ânimo. Ele estava cansado e se sentia desanimado porque mais fiéis haviam parado de adorar a seu lado e retornado às suas antigas igrejas.

Billy desejava se sentir espiritual e emocionalmente forte mais uma vez. Alguns meses antes, uma mulher que era membro de sua congregação havia contado a ele sobre uma revelação que tivera. “Muito em breve, os missionários virão”, disse ela. “Tenho visto homens brancos vindo à nossa Igreja. Eles nos abraçaram e se juntaram a nós em adoração.” Outra mulher anunciou que havia recebido uma revelação semelhante. O próprio Billy havia sonhado com alguns homens brancos entrando na capela e dizendo: “Somos seus irmãos e viemos batizá-lo”. Depois, ele sonhou com pessoas negras vindo de longe para se juntar à Igreja.

Ainda assim, Billy não conseguia se livrar do desânimo.

Já era tarde, mas ele não conseguia dormir. Uma forte impressão o levou a ouvir a British Broadcasting Corporation (BBC) no rádio — algo que ele não fazia havia anos.

Ele encontrou seu rádio, que era marrom e tinha quatro botões prateados perto da base. O rádio ganhou vida quando ele o ligou. Girou os botões, e o ponteiro vermelho deslizou para frente e para trás no mostrador. Contudo, ele não conseguia sintonizar a transmissão.

Então, após uma hora de busca, Billy finalmente encontrou um noticiário da BBC. O repórter anunciou que o presidente de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias havia recebido uma revelação. Todos os homens dignos da Igreja, independentemente de sua raça, agora podiam receber o sacerdócio.

Billy desabou, lágrimas de alegria escorreram por seu rosto. A autoridade do sacerdócio finalmente chegaria a Gana.


Como a grande maioria dos santos, Ardeth Kapp, segunda conselheira na presidência geral das Moças, comemorou quando ouviu a notícia de que todos os homens dignos agora podiam receber o sacerdócio. “Outra nova revelação e uma tão bonita”, ela refletiu. “Como somos abençoados e gratos por ter um profeta para nos guiar nestes últimos dias.”

O anúncio da revelação sobre o sacerdócio ocorreu pouco depois que a presidente geral das Moças, Ruth Funk, havia informado a Ardeth que sua presidência seria desobrigada com honra. A notícia surpreendeu a todos. A maioria das presidências anteriores tinha servido por pelo menos uma década. Sua presidência terminaria após apenas cinco anos e meio.

Agora Ardeth estava com dificuldade de entender o tempo do Senhor. Servir às moças tinha lhe dado um novo senso de propósito. Agora que seu chamado estava chegando ao fim, o que o futuro reservava para ela?

“Aos 47 de idade, não acredito que tudo esteja acabado — especialmente em um momento em que estou mais bem preparada do que nunca para entender e enxergar as coisas”, escreveu ela em seu diário. Ela sabia que tinha mais a oferecer. “No entanto”, escreveu, “não vejo uma oportunidade neste momento de fazer a diferença de maneira substancial”.

A desobrigação foi particularmente difícil porque a presidência das Moças ainda queria fazer muito mais. Os primeiros anos de seu serviço tinham sido desacelerados por ajustes organizacionais na Igreja. O nome Sacerdócio Aarônico MIA tinha se mostrado complicado e deixado as pessoas confusas sobre como as moças fariam parte do programa. Após a morte do presidente Harold B. Lee, a nova Primeira Presidência havia descontinuado o nome Associação de Melhoramentos Mútuos e criado duas organizações de jovens separadas, as Moças e o Sacerdócio Aarônico.

Mesmo depois que essas mudanças ocorreram, Ardeth e outras líderes das Moças continuaram sem saber ao certo sobre o lugar das Moças na estrutura da Igreja. Inicialmente, as mudanças haviam criado canais de comunicação que não permitiam que a presidência geral treinasse as líderes locais das Moças ou se correspondesse diretamente com elas. Em vez disso, elas tinham que transmitir suas mensagens por meio dos líderes locais do sacerdócio. Embora a comunicação com os líderes locais tivesse melhorado a partir daquele momento, a presidente geral das Moças ainda tinha pouco contato com a Primeira Presidência ou com o Quórum dos Doze, uma vez que a maioria das vezes o contato com eles ocorria por meio de um membro dos setenta que atuava como intermediário.

A presidência das Moças fez o possível para seguir adiante. No início de sua presidência, a presidente Funk decidiu desenvolver um programa para ajudar as moças a nutrir sua espiritualidade, alcançar objetivos pessoais e honrar os papéis de esposa e mãe, que ela acreditava estarem sob ataque na mídia popular.

O novo programa iniciou em 1977. Chamado de Meu Progresso Pessoal, incentivava as moças a desenvolver habilidades em seis áreas: consciência espiritual, serviço e compaixão, habilidades domésticas, recreação e o mundo natural, artes culturais e educação, e refinamento pessoal e social. Ele também incentivava as moças a escrever um diário, algo que o presidente Kimball convidou todos os santos a fazer. Naquele mesmo ano, Ardeth publicou um livro best-seller, Miracles in Pinafores and Bluejeans, que contava histórias de sua própria vida e da vida de jovens heroicas do passado e do presente.

No final de junho de 1978, Ardeth e outros líderes da Igreja estavam em Nauvoo, Illinois, para a dedicação do jardim do Monumento Memorial às Mulheres. O jardim de 12 mil metros quadrados apresentava estátuas de mulheres em diferentes estágios da vida, com ênfase na maternidade. Com uma transmissão geral via satélite para mulheres a ser realizada mais tarde naquele ano — a primeira na Igreja —, o monumento foi projetado para honrar a importância das mulheres no plano do evangelho, afirmar suas contribuições como esposas e mães, e comemorar a fundação da Sociedade de Socorro em 1842. O dia da dedicação estava chuvoso, mas 2.500 mulheres testemunharam a cerimônia sob uma enorme tenda.

Poucas semanas após a dedicação, a Primeira Presidência desobrigou honrosamente a presidência geral das Moças. Ardeth agora se sentia melhor com isso. “Neste momento”, escreveu ela, “sinto-me mais otimista, comprometida, confiante e grata do que sou capaz de expressar”.

O bispo de Ardeth logo a chamou para servir como consultora do primeiro ano das lauréis na ala. Ela estava ansiosa para aproveitar sua recente experiência na presidência geral a fim de ensinar e treinar as meninas de 16 anos. Em seu diário, ela escreveu: “Realmente acredito que, com o auxílio do Senhor, posso ajudar cada uma delas”.


Em 29 de setembro de 1978, o presidente Kimball falou em Salt Lake City, em um seminário para os representantes regionais da Igreja. “Temos a obrigação, o dever e a comissão divina”, disse ele, “de pregar o evangelho em todas as nações e a todas as criaturas”.

A Igreja, naquele momento, tinha mais de 4 milhões de membros e recebia bem mais de 100 mil novos membros por ano. Mas pessoas em todos os lugares ainda precisavam do evangelho. Ele sentia a urgência de buscá-las. “Ainda há muito a se fazer”, declarou ele.

Mais de 26 mil missionários de tempo integral serviam naquela época no mundo todo, um número muito maior do que as instalações de treinamento existentes comportavam. A fim de preparar esse vasto grupo, os líderes da Igreja construíram o Centro de Treinamento Missionário em Provo, Utah, onde novos missionários estudariam de quatro a oito semanas um entre 25 diferentes idiomas, incluindo a língua de sinais para surdos.

Novas áreas de missão abriam o tempo inteiro. Com o incentivo do presidente Kimball, David Kennedy, representante pessoal da Primeira Presidência, ajudou a Igreja a ser oficialmente reconhecida em Portugal e na Polônia. Agora ele trabalhava para fazer o mesmo na Índia, no Sri Lanka, no Paquistão, na Hungria, na Romênia e na Grécia. Mas ainda havia muito a ser feito.

No discurso do presidente Kimball aos representantes regionais, ele se referiu aos fiéis de Gana e da Nigéria. Ele disse: “Eles já esperaram tempo demais. Podemos pedir que esperem mais?” Ele achava que não. “E a Líbia, a Etiópia, Costa do Marfim, o Sudão e outros países?”, perguntou ele. “Esses são nomes que devem se tornar tão familiares para nós quanto o Japão, a Venezuela, a Nova Zelândia e a Dinamarca se tornaram.”

A China, a União Soviética e muitas outras nações também precisavam do evangelho restaurado, mas ainda não haviam reconhecido oficialmente a Igreja e não tinham congregações locais. Ele afirmou: “Atualmente, há quase 3 bilhões de pessoas vivendo na Terra em nações onde o evangelho não está sendo pregado. Se pudéssemos ter um pequeno começo em cada nação, logo os novos membros em cada sociedade e idioma poderiam espalhar a luz para seu próprio povo e o evangelho seria pregado em todas as nações antes da vinda do Senhor”.

Ele queria que os santos orassem e se preparassem. Ele achava que as barreiras ao crescimento da Igreja permaneceriam até que os santos estivessem prontos para que elas caíssem. A Igreja precisava que seus membros, jovens e idosos, aprendessem idiomas e servissem missão. “A única paz duradoura que pode existir é a paz do evangelho de Jesus Cristo”, disse ele aos representantes regionais. “Devemos levá-la a todas as pessoas em todos os lugares.”

No dia seguinte, o Tabernáculo de Salt Lake estava lotado para a conferência geral. A pedido do presidente Kimball, seu conselheiro N. Eldon Tanner se aproximou do púlpito e leu a declaração da Primeira Presidência, anunciando que todos os homens dignos poderiam receber o sacerdócio, independentemente de sua raça.

“Reconhecendo Spencer W. Kimball como profeta, vidente e revelador”, disse ele, “e presidente de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, é proposto que nós, como assembleia constituinte, aceitemos essa revelação como a palavra e a vontade do Senhor”.

Ele pediu a todos que estivessem a favor que levantassem a mão direita, e um mar de mãos se ergueu no ar. Perguntou se alguém se opunha. Nem uma única mão se levantou.

Pouco depois da conferência, o presidente Kimball se sentou ao final de uma longa mesa, em uma sala de reuniões, no edifício administrativo da Igreja. Juntaram-se a ele seus conselheiros, várias autoridades gerais e dois casais mais velhos, Edwin e Janath Cannon e Rendell e Rachel Mabey. O casal Cannon e o casal Mabey tinham acabado de concordar em servir como os primeiros missionários na África Ocidental, embora o chamado significasse que Janath teria que ser desobrigada como primeira conselheira na presidência geral da Sociedade de Socorro.

O grupo falou sobre a designação dos missionários e os desafios que eles provavelmente enfrentariam ao entrar em contato com os fiéis de Gana e da Nigéria. Quando chegou a hora de terminar a reunião, 40 minutos depois, o presidente Kimball agradeceu aos casais por sua fé.

“Há mais alguma pergunta?”, ele falou.

O élder Mabey olhou para os outros missionários. “Apenas uma no momento”, disse ele. “Quando o senhor quer que partamos?”

O presidente Kimball sorriu.

“Ontem.”


Rudá Martins foi a primeira em sua família a ouvir a respeito da revelação sobre o sacerdócio. Quando a notícia foi divulgada, as linhas telefônicas no bairro onde ela morava no Rio de Janeiro haviam caído, então uma amiga da família percorreu um trecho de 40 minutos de ônibus para contar a ela. A jovem bateu à sua porta, gritando que tinha novidades.

“Ouvi dizer que a Igreja recebeu uma revelação”, falou ela, dizendo a Rudá que todos os homens dignos agora podiam receber o sacerdócio.

Helvécio estava no trabalho, então Rudá teve que esperar para contar a ele. “Tenho novidades, novidades incríveis!”, exclamou ela quando ele finalmente chegou em casa. “Helvécio, você terá o sacerdócio.”

Helvécio ficou sem palavras. Ele não conseguia acreditar. Em seguida, o telefone começou a tocar e ele o atendeu. Do outro lado, havia um colega de Salt Lake City.

“Tenho a declaração oficial em minhas mãos”, disse o colega, “e vou lê-la para você”.

Depois que Helvécio desligou o telefone, ele e Rudá choraram enquanto ofereciam uma oração de gratidão ao Pai Celestial. Faltavam poucos meses para a dedicação do Templo de São Paulo. E agora eles poderiam receber sua investidura e ser selados aos seus quatro filhos.

Duas semanas depois, Helvécio e Marcus receberam o Sacerdócio Aarônico. Uma semana depois, Helvécio foi ordenado élder e imediatamente conferiu o Sacerdócio de Melquisedeque a Marcus. Marcus estava noivo de uma ex-missionária, Mirian Abelin Barbosa, e eles já haviam enviado convites para o casamento. No entanto, decidiram adiar o casamento para que Marcus pudesse servir missão.

No início de novembro de 1978, os Martins participaram da dedicação do templo. Rudá se sentou com o coro perto do presidente Kimball e de outras autoridades gerais que tinham ido para a cerimônia. Helvécio estava sentado na congregação com os filhos. Os missionários das quatro missões do Brasil receberam permissão para participar da dedicação, então Marcus, então missionário de tempo integral na Missão São Paulo Norte, também pôde participar.

Alguns dias depois, em 6 de novembro, Rudá, Helvécio e Marcus receberam a investidura. Eles foram então conduzidos a uma sala de selamento onde Marcus serviu de testemunha enquanto Rudá e Helvécio eram selados para o tempo e a eternidade. As três crianças mais novas foram trazidas para a sala, vestidas de branco.

“Mãe”, perguntou a filha de 3 anos do casal, “o que vamos fazer aqui?”

“Vamos nos ajoelhar em frente a esta mesa”, disse Rudá, referindo-se ao altar, “e estaremos unidos como família”.

A garotinha então disse: “Estou feliz que realmente vou ser sua filha”.

“Você já é minha filha”, assegurou Rudá.

A família tomou os lugares ao redor do altar e o selador realizou a cerimônia. Das crianças, apenas Marcus tinha idade suficiente para entender completamente o significado daquele momento. Mas cada um dos filhos parecia sentir o esplendor e a felicidade presentes na sala. Para Rudá e Helvécio, a visão de sua família reunida no templo era linda. A alegria os dominou.

“Eles são meus agora”, pensou Rudá. “Eles são realmente meus.”


Após seu batismo, Katherine Warren costumava viajar para a cidade de Baton Rouge, Louisiana, cerca de 130 quilômetros a noroeste de sua casa em Nova Orleans, para estudar a Bíblia com familiares. Muitos deles haviam começado a frequentar recentemente uma igreja pentecostal na área. Katherine trazia informações do evangelho restaurado para estudar, mas tinha o cuidado de não cansar seus parentes com seu entusiasmo pela Igreja. “Não quero sobrecarregar vocês com informações de uma só vez”, ela lhes disse.

Quando soube da revelação do sacerdócio, no entanto, Katherine mal conseguiu se conter. Katherine ligou para sua sobrinha, Betty Baunchand, a fim de falar sobre a notícia. A família de Betty vinha estudando a Bíblia com ela, mas ela não sabia muito sobre a Igreja e não entendia o significado da revelação.

O bispo de Katherine, no entanto, sabia. Ele ligou para ela no mesmo instante. “Irmã Katherine”, disse ele, “você sabe o que está acontecendo agora?”

“Sim”, ela respondeu.

O bispo não sabia ao certo o que dizer. “Você é uma boa pessoa”, disse ele por fim. “Estou pensando em fazer de você uma missionária.”

Um mês após o anúncio, Freda Beaulieu, a outra mulher negra que pertencia à ala de Nova Orleans, viajou mais de 1.600 quilômetros até o templo mais próximo, em Washington, D.C., onde recebeu sua investidura e foi selada por procuração ao falecido marido.

Embora as bênçãos do templo estivessem agora disponíveis para ela e para tantas outras pessoas pela primeira vez, Katherine não foi ao templo imediatamente. Contudo, ela agradeceu ao Pai Celestial.

Certo dia, o marido de Betty Baunchand, Severia, viu um colega de trabalho lendo o Livro de Mórmon. Depois de conversar com Katherine a respeito da Igreja, Severia iniciou uma conversa com ele, e ele perguntou a Severia se gostaria de se reunir com os missionários. “Tudo bem”, disse Severia, “peça que venham”.

Naquela noite, os missionários fizeram uma visita e ensinaram a primeira das sete lições do Sistema padronizado para o ensino das famílias, a mais recente série de lições dos missionários da Igreja. Publicadas em 1973, as lições estavam disponíveis em 20 idiomas, incluindo o inglês, e começavam com uma introdução à Primeira Visão, ao Livro de Mórmon e à restauração do sacerdócio.

A família gostou da lição e agendou outra visita dos missionários. Betty e Severia estavam ansiosos para saber mais e convidaram outros membros da família para participar das lições. Logo, a casa de Baunchand ficava repleta de pessoas sempre que os missionários estavam lá.

Em um fim de semana em que Katherine estava visitando a família, ela ouviu Betty falando ao telefone. “Não”, disse Betty, “iremos outra hora. Minha tia de Nova Orleans está aqui nos visitando”.

“Quem é?”, perguntou Katherine.

“Élderes da Igreja dos Santos dos Últimos Dias.” Eles estavam convidando a família para participar das reuniões dominicais.

“Diga-lhes que sim.”

Então, naquele domingo, todos da família participaram das reuniões em Baker, Louisiana. E, durante as lições subsequentes com os missionários, todos assumiram o compromisso de obedecer à Palavra de Sabedoria e à lei da castidade, pagar o dízimo, aceitar Jesus Cristo como seu Salvador e Redentor e perseverar até o fim.

Cerca de duas semanas após sua primeira visita à Igreja, os Baunchand telefonaram para Katherine. “Adivinha?”, eles disseram. “Seremos batizados e gostaríamos que você viesse ao nosso batismo!”

No dia do batismo, a capela estava lotada. Cento e dez membros da Igreja estavam presentes para receber Betty, Severia e 11 outros parentes de Katherine na ala. O salão cultural e a área da fonte batismal estavam em construção, então todo o ambiente estava frio. Mas o Espírito era poderoso, aquecendo a todos na sala.

Katherine chorava enquanto envolvia toalhas secas em torno de seus familiares recém-batizados. “Este foi um momento pelo qual esperei e orei por muito tempo”, afirmou ela depois. Ela amava a Igreja e queria que membros negros como ela e sua família recebessem todas as bênçãos oferecidas.

Ela sabia que o Salvador tinha Seus olhos voltados aos santos.


Em 18 de novembro de 1978, Anthony Obinna se aproximou solenemente de três americanos — uma mulher e dois homens — esperando por ele na capela de sua congregação no sudeste da Nigéria. Anthony tinha vindo assim que soubera da chegada deles. Ele havia esperado por eles por mais de uma década.

Os americanos eram o élder Rendell Mabey, a síster Rachel Mabey e o élder Edwin Cannon. Eles perguntaram: “Você é Anthony Obinna?”

“Sim”, respondeu Anthony, e eles entraram na capela. O prédio tinha cerca de nove metros de comprimento. As letras “LDS” adornavam a parede acima de uma porta, e as palavras “Lar missionário” acima de outra. Logo abaixo do teto, alguém havia pintado as palavras “Santos dos Últimos Dias da Nigéria”.

“Tem sido uma espera longa e difícil”, disse Anthony aos visitantes, “mas isso não importa agora. Vocês finalmente chegaram”.

“Uma longa espera, sim”, disse o élder Cannon, “mas o evangelho realmente está aqui agora em toda a sua plenitude”.

Os missionários pediram a Anthony que contasse sua história, então ele lhes disse que tinha 48 anos e era professor assistente em uma escola próxima. Ele contou sobre o sonho que havia tido anos antes, com o Templo de Salt Lake, e sobre como depois encontrara uma foto desse templo em uma revista antiga. Ele nunca tinha ouvido falar da Igreja antes. “Mas, diante dos meus olhos”, disse Anthony, sua voz mal conseguindo conter a emoção, “estava o próprio prédio que eu havia visitado em meu sonho”.

Ele contou aos missionários sobre seu cuidadoso estudo do evangelho restaurado de Jesus Cristo, sua correspondência com LaMar Williams e sua tristeza pela contínua falta de uma presença da Igreja na Nigéria. Mas também deu testemunho de sua fé e de sua recusa em perder a esperança mesmo quando ele e seus companheiros fiéis enfrentaram perseguição por causa de sua devoção à verdade.

Depois que Anthony terminou sua história, o élder Mabey pediu para falar com ele em particular. Eles entraram na sala ao lado e o élder Mabey perguntou se havia alguma lei na Nigéria que restringisse o batismo, já que a Igreja ainda não estava legalmente registrada no país. Anthony disse que não havia nenhuma.

“Bem”, disse o élder Mabey, “fico muito feliz em ouvir isso. Devemos viajar muito nas próximas semanas para visitar outros grupos como o seu”. Ele disse que a visita a esses grupos poderia levar de cinco a seis semanas e que os missionários poderiam retornar para batizar Anthony e seu grupo.

“Não, por favor”, disse Anthony. “Sei que há muitos outros, mas estamos esperando há 13 anos.” Ele olhou nos olhos do élder Mabey. “Se for humanamente possível”, disse Anthony, “peço que faça os batismos agora”.

“A maioria de seu povo está realmente pronta?”, perguntou o élder Mabey.

“Com toda a certeza, sim!”, respondeu Anthony. “Vamos batizar as pessoas com a fé mais forte agora e ensinar ainda mais as outras.”

Três dias depois, Anthony se reuniu com o élder Mabey para aprender como liderar um ramo da Igreja. Lá fora, as crianças cantavam uma nova música que haviam aprendido com os missionários:

Sou um filho de Deus,

Por Ele estou aqui.

Mandou-me à Terra, deu-me um lar,

E pais tão bons pra mim.

Logo, Anthony, os missionários e os outros fiéis se reuniram à margem de uma lagoa isolada no rio Ekeonumiri. A lagoa tinha cerca de nove metros de diâmetro, com densos arbustos verdes e árvores ao redor. Fragmentos de luz solar passavam pelas árvores e dançavam na superfície da água, enquanto peixinhos coloridos nadavam para frente e para trás perto da margem.

O élder Mabey entrou na água e pegou Anthony pela mão. Anthony sorriu e o seguiu. Depois de se preparar, Anthony segurou com firmeza o pulso do élder Mabey, e o missionário levantou a mão direita.

“Anthony Uzodimma Obinna”, disse ele, “tendo sido comissionado por Jesus Cristo, eu te batizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.

Anthony sentiu a água o envolver enquanto o élder Mabey o imergia. E, quando Anthony saiu da água, a multidão ao longo da margem soltou um suspiro coletivo — seguido de risadas alegres.

Após a esposa de Anthony, Fidelia, e outras 17 pessoas terem sido batizadas, o grupo retornou para a capela. Anthony e três de seus irmãos — Francis, Raymond e Aloysius — foram ordenados ao ofício de sacerdote no Sacerdócio Aarônico. O élder Mabey designou Anthony como presidente do Ramo Aboh, com Francis e Raymond como seus conselheiros.

Pela autoridade do sacerdócio que possuía, Anthony então designou Fidelia como presidente da Sociedade de Socorro do ramo.

  1. Acquah e Acquah, Entrevista de história oral [2018], p. 16; E. Dale LeBaron, “Steadfast African Pioneer”, Ensign, dezembro de 1999, p. 49.

  2. Acquah e Acquah, Entrevista de história oral [2018], p. 16; Joseph Johnson, Entrevista de história oral [1988], pp. 22–23, 43–45.

  3. E. Dale LeBaron, “Steadfast African Pioneer”, Ensign, dezembro de 1999, p. 49; Joseph Johnson, Entrevista de história oral [1988], pp. 22–23; Kissi, Walking in the Sand, p. 28.

  4. Johnson, rádio, imagens disponíveis em Biblioteca de História da Igreja; Joseph Johnson, Entrevista de história oral [1988], p. 43; E. Dale LeBaron, “Steadfast African Pioneer”, Ensign, dezembro de 1999, p. 49; Kissi, Walking in the Sand, pp. 27–28; “Raça e o sacerdócio”, Textos sobre os Tópicos do Evangelho, ChurchofJesusChrist.org/study/manual/gospel-topics-essays. Tópico: Gana.

  5. Kapp, diário, 9 e 12 de junho de 1978; “LDS Soon to Repudiate a Portion of Their Pearl of Great Price?”, Salt Lake Tribune, 23 de julho de 1978, p. A16; Spencer W. Kimball, diário, 11 de junho de 1978; Departamento de Comunicações Públicas, atas dos conselheiros de autoridade geral, 21 de junho de 1978; “Priesthood News Evokes Joy”, Church News, 17 de junho de 1978, pp. 3–5; William Bangerter para Spencer W. Kimball, 12 de junho de 1978; Spencer W. Kimball, correspondência da sede e arquivos de assuntos, Biblioteca de História da Igreja; Kennedy, diário, 9 de junho de 1978.

  6. Pulsipher, Ruth Hardy Funk, pp. 174–175; Kapp, diário, 17 de maio de 1978; Primeira Presidência para Ruth Funk, 19 de junho de 1978, Primeira Presidência, correspondência geral, Biblioteca de História da Igreja.

  7. Kapp, diário, 18 de junho de 1978. Tópico: Ardeth G. Kapp.

  8. Pulsipher, Ruth Hardy Funk, pp. 174–176; Kapp, Entrevista de história oral, pp. 91–96; Smith, Entrevista de história oral, pp. 184–185.

  9. Kapp, Entrevista de história oral, p. 96; J. M. Heslop, “Priesthood to Direct Youth of the Church”, Church News, 29 de junho de 1974, p. 3; Romney, diário, 25 a 26 de abril de 1974; 30 e 31 de maio de 1974; 6 e 23 de junho de 1974; Spencer W. Kimball, diário, 23 de junho de 1974; Kapp, diário, 5 de junho de 1974.

  10. Kapp, diário, 15 de fevereiro de 1975; 22 de novembro de 1975; 3 de fevereiro de 1976; 8 de abril de 1976; 13, 16, 19 e 25 de junho de 1976; 9 de outubro de 1976; 27 de novembro de 1976; 26 de dezembro de 1976; 23 de janeiro de 1977; 21 de fevereiro de 1977; 26 de dezembro de 1977; Kapp, Entrevista de história oral, pp. 91–92, 98–99, 106, 129, 154–155; Smith, Entrevista de história oral, pp. 185–187; Funk, entrevista, p. [4]; Pulsipher, Ruth Hardy Funk, p. 163.

  11. Kapp, Entrevista de história oral, pp. 128–129, 144–147; “Behold Thy Handmaiden”, Church News, 22 de junho de 1974, pp. 8–9; “Love in Homes Stressed at June Conference Close”, Deseret News, 25 de junho de 1973, p. A7; “Excerpts from Talks Given at the 1973 Priesthood MIA June Conference”, New Era, novembro de 1973, p. 9; “Young Women Possess Great Potential for Good”, Church News, 5 de julho de 1975, p. 4.

  12. Kapp, diário, 3 de janeiro de 1977; 30 de março de 1977; 7 de março de 1978; Moças, ata da junta geral, 13 de abril de 1977 e 11 de janeiro de 1978; My Personal Progress, pp. 4–11; Kapp, Entrevista de história oral, p. 146; Spencer W. Kimball, “The Angels May Cote from It”, New Era, outubro de 1975, pp. 4–5; Spencer W. Kimball, “Precisamos de um ouvido atento”, A Liahona, março de 1980, p. 5.

  13. Ardeth Greene Kapp, Miracles in Pinafores and Bluejeans, Salt Lake City: Deseret Book, 1977; Kapp, diário, 30 de março de 1977; 3 de abril de 1977; 29 de julho de 1977; Kapp, Entrevista de história oral, pp. 180–182. Tópico: Organizações das Moças.

  14. Kapp, diário, 28 de junho de 1978; Black, “Monument to Women Memorial Garden”, pp. 189–211; Diane Cole, “LDS President Stresses Special Role of Women”, Salt Lake Tribune, 17 de setembro de 1978, p. B1; Primeira Presidência para presidentes de estaca e outros, 30 de abril de 1976, Primeira Presidência, cartas circulares, Biblioteca de História da Igreja; Gerry Avant, “Nauvoo Park Honors Women”, Church News, 8 de julho de 1978, p. 3.

  15. Primeira Presidência para Dean Larsen, 21 de junho de 1978; Dean Larsen para a Primeira Presidência, 27 de junho de 1978, Primeira Presidência, correspondência geral, Biblioteca de História da Igreja; Kapp, diário, 12 de julho e 1º de agosto de 1978; Kapp, Entrevista de história oral, p. 110.

  16. Kapp, diário, 16 de julho de 1978.

  17. Kimball, “Uttermost Parts of the Earth”, pp. 4–5; Hunter, diário, 29 de setembro de 1978; “Statistical Report 1976”, Ensign, maio de 1977, p. 18; “Statistical Report 1977”, Ensign, maio de 1978, p. 17.

  18. Spencer W. Kimball, “Apegai-vos à barra de ferro”, A Liahona, abril de 1979, p. 5; “Mission Training Shifts to Provo”, Church News, 9 de setembro de 1978, p. 10; Golden Buchmiller, “Church Growth Measured for 5-Year Period”, Church News, 6 de janeiro de 1979, p. 5; “Missionary Training Center Statistics”, pp. 1–6; Cowan, Every Man Shall Hear, vol. 1, pp. 57, 105; “Sign Language in Spanish”, Church News, 8 de julho de 1978; Departamento Missionário, relatório anual, 1977, p. 38, Primeira Presidência, correspondência geral, Biblioteca de História da Igreja.

  19. Departamento Missionário, relatório anual, 1977, p. 38, Primeira Presidência, correspondência geral, Biblioteca de História da Igreja; Kennedy, diário, 24 de maio de 1976; 1º de fevereiro de 1977; 30 de maio de 1977; 9 de novembro de 1977; 23 de dezembro de 1977; Kimball, “Uttermost Parts of the Earth”, p. 8; Gene R. Cook para John Hardy, 14 de maio de 1974; Primeira Presidência para David Kennedy, 24 de maio de 1974; David Kennedy, relatório, em Francis Gibbons para Ezra Taft Benson, 16 de setembro de 1974, Primeira Presidência, correspondência geral, Biblioteca de História da Igreja. Tópicos: Crescimento da Igreja; Globalização; Hungria; Índia; Polônia; Portugal; Romênia.

  20. Kimball, “Uttermost Parts of the Earth”, pp. 3–11.

  21. N. Eldon Tanner, “Revelation on Priesthood Accepted, Church Officers Sustained”, Ensign, novembro de 1978, p. 16; Faust, diário, 30 de setembro de 1978. Tópico: Comum acordo.

  22. Cannon e Cannon, Together, pp. 161–162; Romney, diário, 3 de outubro de 1978; Kennedy, diário, 3 de outubro de 1978; Mabey e Allred, Brother to Brother, pp. 17–18.

  23. Martins, Martins e Martins, Entrevista de história oral, pp. 20–21.

  24. Martins, Autobiography of Elder Helvécio Martins, pp. 69–70; Marcus Martins para Jed Woodworth, e-mail, 3 de agosto de 2022, cópia em posse dos editores; Martins, Martins e Martins, Entrevista de história oral, pp. 21–22, 39, 43. Tópico: Selamento.

  25. Martins, Autobiography of Elder Helvécio Martins, pp. 70, 72–73; Martins, Martins e Martins, Entrevista de história oral, pp. 23–26, 30, 32–33; Martins, “Thirty Years after the ‘Long-Promised Day’”, p. 80; Golden A. Buchmiller, “3 Black Members Called on Missions”, Church News, 16 de setembro de 1978, p. 5.

  26. Cardall, “Glimpses of Prophets”, p. 42; Dell Van Orden, “São Paulo Temple Dedicated”, Church News, 4 de novembro de 1978, p. 3; Martins, Martins e Martins, Entrevista de história oral, p. 38; Martins, diário, 2 de novembro de 1978; Martins, Autobiography of Elder Helvécio Martins, p. 73. Tópico: Brasil.

  27. Martins, Autobiography of Elder Helvécio Martins, pp. 78–79; Martins, Martins e Martins, Entrevista de história oral, pp. 43–44; Martins, Entrevista de história oral, pp. 23–24; Martins, diário, 6 de novembro de 1978.

  28. Warren, Entrevista de história oral, p. 7; Baunchand, Entrevista de história oral, pp. 2–4.

  29. Warren, Entrevista de história oral, pp. 14–15; Baunchand, Entrevista de história oral, p. 3.

  30. Beaulieu, discurso, 16 de janeiro de 1982, p. 5; “Beaulieu, Freda Lucretia Magee”, entrada biográfica, site Century of Black Mormons, exhibits.lib.utah.edu/s/century-of-black-mormons.

  31. Warren, Entrevista de história oral, pp. 9, 15.

  32. Baunchand, Entrevista de história oral, p. 4; Baunchand e Baunchand, Entrevista de história oral, [00:33:00]–[00:34:10]; Warren, Entrevista de história oral, p. 7.

  33. Uniform System for Teaching Families, pp. C1–C39.

  34. Baunchand, Entrevista de história oral, p. 4; Roger W. Carpenter, “13 of Convert’s Relatives Join Church”, Church News, 17 de fevereiro de 1979, p. 13.

  35. Warren, Entrevista de história oral, p. 7; Baunchand, Entrevista de história oral, p. 4; Uniform System for Teaching Families, pp. H1, I1, J1.

  36. Roger W. Carpenter, “13 of Convert’s Relatives Join Church”, Church News, 17 de fevereiro de 1979, p. 13; ala Baker, manuscrito histórico e relatórios históricos, 21 de janeiro de 1979.

  37. Warren, Entrevista de história oral, p. 7.

  38. Mabey e Allred, Brother to Brother, pp. 29–34; Mabey, diário, 18 de novembro de 1978.

  39. Anthony Obinna, Entrevista de história oral, p. 8; Mabey, diário, 18 de novembro de 1978; Rendell Mabey, filmagem da missão na Nigéria, novembro de 1978, [00:01:45]–[00:01:51], [00:04:4], Rendell N. Mabey, coleção de filmes sobre missões na África, Biblioteca de História da Igreja.

  40. Mabey e Allred, Brother to Brother, pp. 34–36; Mabey, diário, 18 de novembro de 1978.

  41. Mabey e Allred, Brother to Brother, pp. 36–37; Mabey, diário, 18 de novembro de 1978.

  42. Mabey e Allred, Brother to Brother, pp. 42–43; Mabey, diário, 21 de novembro de 1978; Cannon e Cannon, Together, p. 171.

  43. Mabey e Allred, Brother to Brother, pp. 46–47; Mabey, diário, 21 de novembro de 1978; Cannon e Cannon, Together, p. 171.

  44. Mabey, diário, 21 de novembro de 1978; Mabey e Allred, Brother to Brother, p. 50; Distrito Estadual de Imo, batismos e confirmações no Ramo de Aboh, 21 de novembro de 1978, arquivos da Missão Internacional, Biblioteca de História da Igreja.