Capítulo 14
Diferentes agora
Em fevereiro de 1972, o élder Spencer W. Kimball estava aflito. A radioterapia tinha removido o câncer da garganta, mas havia atingido sua voz já enfraquecida, e agora ele não conseguia falar mais alto do que um sussurro. Seu coração também enfraquecido continuava a ser uma fonte de ansiedade e fraqueza física. “Estou sendo definitivamente derrotado”, escreveu ele em seu diário.
Consciente da saúde em declínio do élder Kimball, a Primeira Presidência reduziu sua programação de viagens. Ele participou da dedicação dos templos de Ogden e Provo. Além disso, emitia os chamados dos futuros missionários e assessorava o recém-criado Departamento de História da Igreja e sua crescente equipe de profissionais. Ele estava grato por ainda ser capaz de servir ao Senhor dessa maneira, mas se preocupava cada vez mais em não ser um fardo para a Igreja.
Quando sua saúde teve uma piora, ele e Camilla se reuniram com os presidentes Harold B. Lee e N. Eldon Tanner. O Dr. Russell M. Nelson se juntou a eles para prestar seu conhecimento médico à conversa.
“Estou morrendo”, explicou o élder Kimball. “Posso sentir a vida deixando meu corpo. No ritmo atual de deterioração, acredito que tenho apenas mais dois meses de vida.”
Ele disse ao grupo que seria improvável se recuperar sem passar por uma cirurgia complexa. O Dr. Nelson, que estava familiarizado com o procedimento cirúrgico, explicou que seriam necessárias duas cirurgias distintas. Ele disse: “Primeiro, a válvula da aorta defeituosa teria que ser removida e substituída por uma prótese. Segundo, a artéria coronária descendente anterior esquerda teria que ser revascularizada com um enxerto do miocárdio”.
“Quais seriam os riscos desse procedimento?”, perguntou o presidente Lee.
Considerando a idade avançada do élder Kimball, o Dr. Nelson não sabia dizer. “Não temos experiência em fazer essas duas cirurgias em pacientes nessa faixa etária”, disse ele. “Tudo o que posso dizer é que isso implicaria um risco extremamente alto.”
“Estou velho e preparado para morrer”, disse o cansado élder Kimball. “O Senhor poderia me curar instantaneamente e pelo tempo que Ele me quisesse aqui. Mas por que Ele faria isso, sendo que estou velho e há outros que poderiam fazer ainda melhor o que estou fazendo?”
O presidente Lee se levantou. “Spencer”, disse ele, batendo a mão na mesa, “você foi chamado e não está morrendo. Faça tudo o que estiver a seu alcance para cuidar de sua saúde e continuar vivendo!”
“Tudo bem”, disse o élder Kimball, “então farei a cirurgia”.
Dois meses depois, do outro lado dos Estados Unidos, milhares de garotas recebiam aos gritos os irmãos Osmond — Alan, Wayne, Merrill, Jay e Donny — enquanto eles entravam no palco do coliseu em Hampton, Virgínia. Com idade entre 14 e 22 anos, os irmãos usavam macacões brancos com gola alta e strass cintilante. Quando eles começaram a cantar e dançar, as fãs continuaram gritando.
Nos bastidores, Olive Osmond achava bonitinho ver as meninas olhando fixamente para os filhos. Quando ela e o marido, George Osmond, se casaram no Templo de Salt Lake durante a Segunda Guerra Mundial, eles não imaginavam que os filhos se tornariam estrelas da música pop — e estariam entre alguns dos santos dos últimos dias mais famosos do mundo. Os dois filhos mais velhos, Virl e Tom, eram surdos, e um médico procurou convencer Olive e George a não ter mais filhos. Mas o casal teve outros sete, todos com audição perfeita.
Ainda muito jovens, Alan, Wayne, Merrill, Jay e Donny aprenderam a cantar em vozes e se tornaram artistas; eles se apresentavam regularmente em um programa de televisão transmitido nacionalmente. Quando ficaram mais velhos, porém, eles quiseram trocar o repertório de músicas ultrapassadas por outras mais modernas.
Muitos jovens gostavam da batida e das guitarras elétricas do rock. No entanto, alguns líderes da Igreja ficaram preocupados que isso fosse muito provocante. Olive e George tinham essas mesmas preocupações, mas eles e os filhos acreditavam que o rock também poderia promover a bondade. Olive achava que seus filhos poderiam ter uma influência positiva no mundo — bastava que sua música alcançasse o público certo.
“Vocês têm uma missão especial”, ela dizia aos meninos. “Deus lhes deu esse talento por um motivo.”
Em 1970, os irmãos gravaram uma música chamada “One Bad Apple”, com Merrill e Donny nos vocais. A gravação foi um sucesso, tornando os meninos em celebridades quase que da noite para o dia. Depois disso, Olive e George trabalharam arduamente para ajudar os filhos a guardar os mandamentos. Enquanto outras estrelas do rock bebiam e usavam drogas, os Osmonds obedeciam à Palavra de Sabedoria. Em vez de ir a festas loucas, os irmãos realizavam as noites no lar, frequentavam a Igreja e faziam devocionais durante as turnês.
Depois de se tornarem famosos, os irmãos se reuniram com o presidente Joseph Fielding Smith, que os lembrou do dever que tinham de compartilhar o evangelho sempre. Mais tarde, seu conselheiro, Harold B. Lee, lembrou-lhes de que o mundo os observava e poderia julgar a Igreja com base em suas ações. Ele os incentivou a evitar situações moralmente perigosas e a defender o que acreditavam.
“Sempre haverá duas escolhas”, ele lhes ensinou. “Escolham sempre a que os aproximará do reino celestial.” Então, ele citou as palavras do Salvador no Sermão da Montanha: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus”.
Em pouco tempo, muitas pessoas nos Estados Unidos passaram a associar a Igreja aos Osmonds. Ao falar com a imprensa, Olive quase sempre mencionava sua religião e sua influência no estilo de vida saudável e na música alegre da família. Em suas próprias interações com os repórteres, os meninos também falavam abertamente sobre sua fé, e os fãs frequentemente lhes enviavam mensagens com perguntas a respeito da Igreja. Como o crescimento da Igreja tinha sido especialmente rápido nos Estados Unidos, geralmente havia alas e ramos nas cidades onde os Osmonds se apresentavam, tornando fácil para que os fãs entrassem em contato com os missionários e conhecessem outros santos dos últimos dias.
Na verdade, naquela mesma época, o Church News tinha publicado trechos de cartas de pessoas que conheceram a Igreja por meio dos Osmonds. Um fã começou a pesquisar sobre os santos dos últimos dias depois de ver a felicidade e a proximidade da família Osmond. “Eu sabia que tinha algo a ver com sua religião”, escreviam eles.
Durante o show na Virgínia, o mais novo da família Osmond, Jimmy, de 8 anos, juntou-se aos irmãos no palco para cantar uma música. Olive permaneceu nos bastidores com a filha de 12 anos, Marie, respondendo a perguntas de um repórter local.
“Procuro manter um lar mesmo estando longe de casa”, explicou Olive. Ela sentia que a família estava mais próxima agora, estando juntos em turnê. Na verdade, os irmãos estavam elaborando um novo álbum ambicioso — algo mais profundo e pessoal do que tudo o que haviam feito até o momento.
“Eles estão fazendo o que Deus quer que façam”, disse ela. “Os jovens que eles atraem estão procurando alguma coisa.”
Um mês depois, na manhã do dia 12 de abril de 1972, o Dr. Russell M. Nelson se preparou para realizar uma cirurgia de peito aberto. Ele havia feito centenas de cirurgias na vida, mas nunca em um apóstolo do Senhor. E, embora tivesse orado antes do procedimento do élder Kimball e ponderado sobre a melhor maneira de realizar a cirurgia, não tinha certeza de que ele ou qualquer cirurgião pudesse ser bem-sucedido.
A seu próprio pedido, o Dr. Nelson havia recebido uma bênção do presidente Lee e do presidente Tanner no dia anterior. Colocando as mãos em sua cabeça, eles o abençoaram para que ele pudesse realizar a cirurgia sem erros. Disseram-lhe que não havia motivo para se sentir inadequado. O Senhor o havia escolhido para realizar aquela cirurgia.
O procedimento começou às 8 horas. Na sala de cirurgia, um anestesista sedou o élder Kimball, enquanto o assistente residente do Dr. Nelson aguardava de prontidão, com vários enfermeiros e outros membros da equipe cirúrgica. Uma máquina coração-pulmão estava próxima, pronta para oxigenar e bombear o sangue do élder Kimball.
Sob a orientação do Dr. Nelson, a equipe trabalhou habilmente para substituir a válvula danificada por uma prótese — uma pequena esfera plástica dentro de uma gaiola de metal. O dispositivo tinha cerca de metade da circunferência de seu polegar.
Depois de encaixar a válvula no lugar, o Dr. Nelson começou a suturar. Com uma sutura precisa após a outra, ele lentamente conectou o anel na base da válvula ao tecido circundante.
Em seguida, ele voltou sua atenção para contornar uma obstrução que bloqueava o fluxo sanguíneo até o coração. Ao localizar uma artéria sangrando no peito do élder Kimball, ele cortou sua extremidade inferior e colocou a artéria logo abaixo do vaso sanguíneo bloqueado. Mais uma vez, o médico costurou com suturas minúsculas e intrincadas até que a artéria saudável estivesse firmemente presa.
Conforme trabalhava, o Dr. Nelson ficou maravilhado com a fluidez da cirurgia. Ela demandava milhares de manobras complexas, cada qual exigindo uma técnica meticulosa. No entanto, nem um único erro ocorreu. Quando finalmente chegou a hora de desconectar o élder Kimball da máquina coração-pulmão, mais de quatro horas após o início da cirurgia, a equipe médica deu um choque elétrico em seu coração e ele imediatamente voltou à vida.
Após a cirurgia, o Dr. Nelson chamou o presidente Lee. A Primeira Presidência e o Quórum dos Doze estavam reunidos no templo, jejuando e orando pelo élder Kimball. O Dr. Nelson descreveu o procedimento e disse ao presidente Lee que se sentiu como um arremessador de beisebol que acabara de fazer um lançamento perfeito. O Senhor tinha ampliado suas habilidades, permitindo que ele realizasse a operação exatamente como prometido na bênção do sacerdócio.
O presidente Lee ficou muito feliz. “O irmão Kimball está progredindo muito bem e não está usando a máquina do coração”, disse ele aos apóstolos. “O Senhor respondeu às nossas orações.”
Naquele mesmo mês, no Rio de Janeiro, Brasil, Helvécio Martins, de 41 anos, havia saído do trabalho e dirigia para casa quando um engarrafamento o forçou a parar. A fila de carros à sua frente parecia não ter fim, e não parecia que o trânsito fluiria tão cedo.
Helvécio tirou um momento para refletir sobre a insatisfação espiritual que vinha sentindo havia anos. Desde sua juventude, ele tinha se esforçado muito para sair da pobreza. Havia deixado a escola aos 11 anos e começara a trabalhar colhendo laranjas. Mais tarde, depois que sua família se mudou para o Rio, ele trabalhou como office boy. Seus empregadores confiavam nele e valorizavam sua diligência. Com o passar do tempo, ele conheceu Rudá Tourinho de Assis e eles se casaram. Ela o incentivou a frequentar a escola noturna.
Após anos de persistência, Helvécio obteve um diploma do Ensino Médio e se formou em contabilidade na universidade. Então, começou a trabalhar para uma empresa de petróleo e, com o tempo, tornou-se chefe de um departamento com mais de 200 funcionários.
Enquanto isso, ele e Rudá e seus dois filhos, Marcus e Marisa, desfrutavam de convites para eventos sociais com pessoas proeminentes. Era um estilo de vida muito melhor do que qualquer coisa que Helvécio poderia ter imaginado.
Mas, apesar de seu sucesso, Helvécio se sentia insatisfeito. Ele e Rudá procuraram várias religiões, participando de práticas espíritas e mais tarde, conheceram várias denominações cristãs. Não importava aonde fossem, sentiam que faltava algo.
Sentado em seu carro, no trânsito, a frustração de Helvécio cresceu. Ele abriu a porta do carro e saiu para a rua. “Meu Deus”, orou, “sei que estás aí em algum lugar, mas não sei onde. Será que conheces a confusão que minha família e eu sentimos? Será que estás vendo que procuramos por algo que nem sequer sabemos o que é? Poderia nos ajudar?”
Quando terminou de fazer seu apelo, o engarrafamento começou a se dissipar. Helvécio voltou ao carro e seguiu em frente, logo se esquecendo do que havia acontecido.
Duas semanas depois, a família Martins encontrou um cartão debaixo da porta. De um lado, havia uma foto do Salvador e, do outro, uma programação das reuniões de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.
O cartão deixou Helvécio curioso, e ele o levou para o trabalho no dia seguinte.
“Chefe, não vá lá”, disse um dos seus funcionários. “Essa é uma igreja para norte-americanos. Se você não conhecer um membro, eu nem tentaria ir.”
Helvécio acreditou no funcionário e deixou de lado seu interesse pela Igreja. Mas, pouco tempo depois, dois missionários, Thomas McIntire e Steve Richards, apareceram à porta da família Martins. No momento em que entraram, Helvécio notou uma sensação de tranquilidade tomar conta da casa.
Os missionários se apresentaram. “Temos uma bênção para sua família, se quiserem”, disseram eles.
“Sim”, respondeu Helvécio. Mas primeiro ele queria fazer algumas perguntas.
Eles conversaram sobre algumas informações gerais sobre a Igreja e, em seguida, Helvécio levantou uma difícil questão — uma que ele considerava importante como descendente de escravos africanos. “Sendo que sua Igreja está sediada nos Estados Unidos”, disse ele, “como sua religião trata os negros? Eles têm permissão para entrar na Igreja?”
O élder McIntire parecia envergonhado. “O senhor realmente quer saber?”, perguntou ele.
“Sim”, respondeu Helvécio.
O élder McIntire explicou que os negros podiam ser batizados e participar como membros da Igreja, mas não tinham permissão para portar o sacerdócio nem frequentar o templo. Helvécio e Rudá aceitaram aquela resposta e fizeram mais perguntas a respeito do sacerdócio e do evangelho. Os missionários responderam todas as pergunta com calma e em detalhes.
Quando os missionários partiram, quatro horas e meia haviam se passado. Naquela noite, Helvécio e Rudá conversaram sobre o que os missionários lhes haviam ensinado. Eles ficaram impressionados com a lição dos missionários e sentiram que suas perguntas haviam sido totalmente respondidas.
Pouco tempo depois, a família Martins participou de sua primeira reunião sacramental. A reunião foi linda e a congregação os recebeu calorosamente. Não muito tempo depois, o presidente do ramo foi até a casa da família Martins e os apresentou a dois homens que seriam seus mestres familiares.
À medida que a família continuava a frequentar a igreja e a se reunir com os missionários, sua fé crescia. Certo dia, eles participaram de uma reunião especialmente poderosa no distrito do Rio de Janeiro e sabiam que precisavam se filiar à Igreja.
“Somos diferentes agora”, disse Marcus, de 13 anos, uma semana depois, enquanto a família voltava da Escola Dominical para casa. “O rosto de vocês brilha, e eu sei o que está causando isso — o evangelho de Jesus Cristo.”
Helvécio encostou o carro ao lado da calçada e todos se desfizeram em lágrimas. Quando a família Martins voltou à capela naquela noite para a reunião sacramental, eles disseram ao presidente do ramo que estavam prontos para ser batizados.
Certo dia, por volta dessa época, o empresário dos Osmonds, Ed Leffler, perguntou à família se eles queriam se apresentar na Inglaterra. A música dos irmãos “Down by the Lazy River” e a canção solo de Donny “Puppy Love” faziam sucesso nos Estados Unidos e no Canadá. Todos na América do Norte pareciam já conhecer os irmãos Osmond, e agora os adolescentes na Europa também os estavam descobrindo.
“Claro”, disse Olive, “mas com uma condição: que eu possa conhecer a rainha”.
Ela estava brincando, mas Ed levou seu comentário a sério. “Vou ver se isso pode ser providenciado”, disse ele.
Pouco tempo depois, Ed informou à família que havia acertado uma apresentação para a rainha Elizabeth II e seu marido, o príncipe Philip. E Olive realizaria seu desejo. Ela e George receberam um convite para se encontrarem com o casal real durante o intervalo do show.
Olive mal podia acreditar. Ela comprou um vestido de gala e luvas brancas para a ocasião. Comprou também um novo conjunto de escrituras e desafiou a si mesma a dá-lo de presente à rainha.
Os Osmonds chegaram a Londres em maio e passaram alguns dias ensaiando suas músicas. A apresentação ocorreu em 22 de maio de 1972 no London Palladium, um famoso teatro no West End da cidade. Foi um show de caridade televisionado com a apresentação de cantores, atores e comediantes do Reino Unido e dos Estados Unidos.
Olive e George se sentaram na plateia com Marie durante a primeira metade do show. No intervalo, Lew Grade, o homem que organizara o show, tocou George no braço. “Venha depressa”, disse ele.
Olive e George se levantaram e correram atrás de Lew. Antes de chegar ao final do corredor, no entanto, Olive percebeu que havia deixado seu presente para a rainha embaixo do assento. Por uma fração de segundo, ela pensou em deixar as escrituras lá. Mas ela passara grande parte da noite anterior marcando e anotando suas passagens favoritas para a rainha. Ela sabia que nunca mais teria aquela oportunidade. Virando-se, correu de volta para seu assento e pegou o livro.
Assim que Lew os conduziu à presença da rainha, Olive se aproximou do casal real, fez uma reverência, trocou algumas palavras com eles e seguiu em frente sem entregar o presente. Ela, então, olhou para trás e viu que George havia parado para falar com o príncipe Philip sobre seu interesse mútuo em caça e pesca.
Percebendo outro membro da família real próximo a ela, Olive se dirigiu a ele com sua cópia das obras-padrão. “Você se importaria de dar à rainha este pequeno presente depois que eu for embora?”, perguntou ela.
O homem olhou para Olive com um brilho no olhar. “Elizabeth!”, disse ele. “A sra. Osmond trouxe um presente para você.”
“Que adorável”, disse a rainha. “Venha aqui, por favor.”
Envergonhada, Olive obedeceu. “Eu queria trazer um presente para a senhora”, explicou ela, mal sabendo onde encontrara as palavras. “É difícil saber o que dar a uma rainha, então trouxe nosso bem mais valioso.”
“Você pode se desfazer disso?”, perguntou a rainha.
“Sim”, respondeu Olive, “tenho outro igual a este”.
A rainha olhou as escrituras. “Obrigada, sra. Osmond. Isto será de valor para mim”, disse ela. “Vou colocar sobre a minha lareira.”
Olive relaxou e conversou brevemente sobre sua família com a rainha. Eles então retornaram aos assentos para assistir ao show dos meninos.
Mais tarde, enquanto a família se preparava para voltar para casa, Ed Leffler aproximou-se de Olive. “O que você achou?”, ele perguntou.
“Foi um momento de grande emoção na minha vida”, disse Olive. “Pude até dar a ela um exemplar do Livro de Mórmon.”
“Você o quê?”, Disse Ed, visivelmente chateado. “Essa é a pior coisa que você poderia ter feito.” Ele explicou que, como chefe da Igreja da Inglaterra, a rainha não poderia aceitar os ensinamentos do Livro de Mórmon.
As palavras de Ed perturbaram Olive. Ela não pretendia magoar ninguém. Simplesmente acreditava que a rainha tinha o direito de ouvir o evangelho restaurado, tanto quanto qualquer outra pessoa. Ela realmente fizera algo errado?
Assim que a família embarcou no avião e todos estavam acomodados, Olive se sentou e começou a ler suas escrituras. As páginas se abriram e seus olhos pousaram em Doutrina e Convênios 1:23: “Para que a plenitude do meu evangelho seja proclamada pelos fracos e pelos simples aos confins da Terra e perante reis e governantes”.
As palavras confortaram Olive. Suas dúvidas desapareceram e ela sabia que havia feito a coisa certa.
Na noite de 15 de junho de 1972, Maeta Holiday, de 18 anos, sorria enquanto estava com mais de 500 alunos do Ensino Médio em um ginásio no sul da Califórnia. Em poucos minutos, ela e seus colegas receberiam o diploma do Ensino Médio e começariam a próxima etapa de sua vida. Eles usavam chapéus de formatura e togas que combinavam com a ocasião, as meninas em vermelho e os meninos em preto.
Para Maeta, a formatura significava que seu tempo no Programa de Integração para Alunos Indígenas estava chegando ao fim. Logo ela deixaria sua família adotiva para começar uma nova vida por conta própria. Como muitos graduandos do programa de integração, ela planejava frequentar a Universidade Brigham Young. Mais de 500 nativos americanos, sendo a maioria deles navajo como Maeta, frequentavam a BYU naquela época. A escola oferecia generosas bolsas de estudo a esses alunos, e os pais adotivos de Maeta, Venna e Spencer Black, a ajudaram a solicitar o auxílio.
Maeta sabia que a família Black continuaria a apoiá-la. Quando ela tinha ido morar com eles, havia quatro anos, eles imediatamente a trataram como filha. Eles lhe deram um lar estável e a ajudaram a sentir, pela primeira vez na vida, que fazia parte de uma família amorosa. E, embora tivesse se filiado à Igreja muito antes de ir morar com eles, ali ela aprendera como uma família centrada nos ensinamentos de Jesus Cristo poderia ser.
Nem todos os alunos do programa de integração tiveram experiências tão boas com a família adotiva. Alguns alunos não se sentiam bem-vindos em seu lar adotivo ou não se davam bem com os pais ou os irmãos adotivos. Outros resistiam aos esforços da família adotiva para apresentá-los à cultura não nativa. Por outro lado, alguns alunos encontraram maneiras de valorizar tanto sua herança cultural como a experiência no programa de integração. Eles retornavam às reservas, fortaleciam sua comunidade e viviam de modo gratificante como santos dos últimos dias.
De sua parte, Maeta ainda tinha medo das experiências difíceis que tivera quando criança. Ela não queria o tipo de vida que seus pais ou avós viviam. Venna, no entanto, incentivou-a a valorizar sua herança Navajo. “Você deveria se orgulhar de quem é”, Venna disse a ela certo dia. “Deus sabe que você é especial porque o Livro de Mórmon é sobre seu povo.” Como muitos santos na época, Venna entendia que as promessas do Livro de Mórmon se aplicavam aos nativos americanos. Quando ela olhou para Maeta, viu uma descendente de Leí e Saria, com direito às bênçãos do convênio.
“Quero isso para você, Maeta”, disse Venna. “Quero que você se case no templo um dia. Quero que continue indo à igreja e quero que saiba que você é uma pessoa especial e nós a amamos.”
Enquanto Maeta recebia seu diploma, ela ainda não entendia ou aceitava tudo o que Venna havia lhe ensinado. E, por mais que admirasse sua família adotiva, não sabia se conseguiria ter um casamento ou uma família bem-sucedidos. Depois de testemunhar o divórcio de seus pais e as dificuldades de sua mãe para cuidar de seus próprios filhos, ela não tinha interesse em se casar ou criar uma família.
Após a formatura, Maeta soube que sua candidatura na BYU havia sido aceita. Ao subir no ônibus para Provo, ela pensou em seu futuro — e em sua fé. Participar da Igreja e do seminário foi uma parte importante do Programa de Integração para Alunos Indígenas. Mas, será que ela queria que o evangelho restaurado fizesse parte de seu futuro?
“Bem, se vou para a BYU, imagino o que preciso fazer”, pensou ela. “Devo ou não frequentar a Igreja?”
Ela começou a pensar nas lições que aprendera com Venna e Spencer. Sua vida não tinha sido fácil, mas ela havia sido abençoada por viver com eles e se tornar parte da família.
“Acredito em Deus”, pensou ela. “Ele tem estado comigo todo esse tempo.”
Em 26 de agosto de 1972, Isabel Santana e seu marido, Juan Machuca, puderam sentir a emoção ao seu redor enquanto estacionavam seu Volkswagen amarelo do lado de fora do Auditório Nacional, na Cidade do México. Mais de 16 mil santos do México e da América Central haviam se reunido no grande centro de eventos para uma conferência geral de área. Para muitos, a conferência seria a primeira vez que ouviriam as autoridades gerais falarem pessoalmente.
Sob a direção do presidente Joseph Fielding Smith, a Igreja começara a realizar conferências gerais de área. Como a maioria dos membros da Igreja não podia participar da conferência geral em Salt Lake City, as conferências locais lhes davam a oportunidade de se reunir e receber instruções das autoridades locais e gerais. A primeira conferência geral de área foi realizada em Manchester, Inglaterra, em 1971. Com mais de 80 mil membros da Igreja, o México abrigava a maior população de santos fora dos Estados Unidos, o que o tornava o lugar ideal para realizar essas conferências.
Isabel e Juan ficaram surpresos conforme se dirigiam ao centro de eventos. Havia membros da Igreja de todo o México e de países como Guatemala, Honduras, Costa Rica e Panamá. Alguns dos santos viajaram 5 mil quilômetros para estar lá. Uma mulher do noroeste do México lavou a roupa dos vizinhos por cinco meses para juntar dinheiro suficiente para viajar. Alguns santos pagaram sua viagem vendendo tacos e tamales, lavando carros ou prestando serviços de jardinagem. Outros venderam seus pertences ou pediram dinheiro emprestado para que pudessem comparecer. Algumas pessoas estavam jejuando porque não tinham dinheiro para comprar comida. Felizmente, a Benemérito forneceu alojamento para muitos dos santos que tinham vindo de longe.
Enquanto o casal Machuca esperava na fila para entrar no auditório, um carro parou nas proximidades e Spencer W. Kimball e sua esposa, Camilla, saíram dele. Quatro meses haviam se passado desde a cirurgia cardíaca do élder Kimball, e ele já havia se recuperado o suficiente para retomar muitas de suas responsabilidades no Quórum dos Doze Apóstolos. Na verdade, estava programado para que ele falasse aos santos no final da tarde.
Embora o presidente Joseph Fielding Smith tivesse ajudado a planejar a conferência, ele faleceu antes de poder participar. Sua morte marcou o fim de décadas de uma vida longa e dedicada ao serviço da Igreja e a seus membros. Como apóstolo, ele escreveu amplamente sobre a doutrina do evangelho e tópicos históricos, promoveu o trabalho genealógico e do templo e dedicou as Filipinas e a Coreia para a pregação do evangelho. Como presidente da Igreja, ele autorizou a organização das primeiras estacas no Peru e na África do Sul, aumentou drasticamente o número de seminários e institutos em todo o mundo, revitalizou as comunicações públicas da Igreja e profissionalizou os departamentos da Igreja.
“Não há trabalho que qualquer um de nós possa realizar que seja mais importante do que pregar o evangelho e edificar a Igreja e o reino de Deus na Terra”, dissera ele aos santos em sua última conferência geral. “Assim, convidamos todos os filhos de nosso Pai, em todos os lugares, a crer em Cristo, a recebê-Lo como Ele é revelado pelos profetas vivos e a fazer parte de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.”
Depois de sua morte, seu sucessor, Harold B. Lee, havia sido designado como presidente da Igreja, tornando o élder Kimball o novo presidente do Quórum dos Doze Apóstolos.
Assim que Isabel e Juan entraram no Auditório Nacional, encontraram assentos entre os milhares de santos. O auditório tinha quatro níveis de assentos em torno do palco. Um coro de membros da Igreja do norte do México preencheu o palco. Na sua frente havia um púlpito e uma fileira de cadeiras de encosto alto para as autoridades gerais e outros oradores.
A conferência começou com um discurso do presidente Marion G. Romney, que nascera e havia sido criado nas colônias de santos dos últimos dias no norte do México, e recentemente fora designado como conselheiro na Primeira Presidência. Em espanhol, ele falou sobre seu amor pelos santos do México e da América Central e sobre seu apreço pelo governo mexicano.
O presidente N. Eldon Tanner falou em seguida, celebrando a força da Igreja no México e nas outras nações de língua espanhola das Américas. “O crescimento está ocorrendo e a liderança está sendo desenvolvida em todo o mundo”, declarou ele por meio de um intérprete. Para ajudar esses líderes em desenvolvimento, o Manual Geral de Instruções da Igreja tinha sido recentemente correlacionado e traduzido para mais de uma dúzia de idiomas, incluindo o espanhol. Líderes do mundo inteiro poderiam administrar a Igreja com base no mesmo modelo.
“É maravilhoso ver como as pessoas estão aceitando o evangelho e se unindo à Igreja e ao reino de Deus”, testificou o presidente Tanner, “todas prestando testemunho das bênçãos que ela lhes proporciona, percebendo que se trata da Igreja de Jesus Cristo”.
Ao ouvir os oradores, Isabel se sentiu feliz por ser membro da Igreja no México. Sua educação na Benemérito lhe ensinara o valor de ser membro da Igreja e de tornar o evangelho restaurado parte central de sua vida. Quando chegou à escola, ela era uma menina tímida e não conhecia claramente seu potencial espiritual. Mas seus professores a abençoaram de inúmeras maneiras. Ela desenvolveu uma rotina diária de estudo e oração e caminhou com confiança, tendo um testemunho fervoroso da verdade.
Agora, rodeada por tantos santos, ela não podia deixar de se alegrar. “Eu pertenço a isto”, pensou ela. “Meu lugar é aqui.”