Capítulo 6
Bênçãos em toda parte
Na primavera de 1962, Ruth Funk, membro da junta das Moças estava muito atarefada com o trabalho. A conferência anual da AMM estava próxima de acontecer e ela estava coproduzindo um musical para o evento. A conferência, que acontecia desde a década de 1890, reuniu cerca de 25 mil líderes de jovens na cidade de Salt Lake para receber conselhos e treinamento dos líderes gerais da Igreja. Ruth e os membros de seu comitê queriam apresentar um lindo show para a conferência, e estavam aprendendo à medida que o programa se desenvolvia.
Quando a primeira apresentação estava próxima de acontecer, Ruth foi convidada a participar de uma reunião sobre o foco da Igreja. Ela não sabia por que recebera esse convite e não estava muito disposta a ir. Com a correria do momento, ela mal tinha tempo para ver o marido Marcus e seus quatro filhos.
Mesmo assim, no dia do compromisso, Ruth foi apressadamente para a reunião. Ela encontrou uma sala lotada de pessoas, inclusive alguns líderes gerais da Igreja, debatendo sobre os objetivos básicos da Igreja. Reed Bradford, um professor de sociologia da Universidade Brigham Young, conduzia a reunião.
Inicialmente, Ruth não se manifestou, mas quando a reunião estava próxima de acabar, Reed disse: “Irmã Funk, você ainda não expressou sua opinião”.
“Bem, tenho alguns sentimentos fortes”, ela respondeu. Como muitas pessoas nos Estados Unidos e em outros lugares, os membros da Igreja estavam cada vez mais preocupados com temas como o divórcio, a delinquência juvenil e outras dificuldades sociais. “Sinto que todos os esforços devem ser feitos para enfatizar a força da família”, disse ela.
A reunião terminou e Ruth voltou para suas outras responsabilidades. Depois que a conferência da AMM terminou e o musical tinha sido um sucesso, ela recebeu uma ligação do apóstolo Marion G. Romney. “Ruth”, disse ele: “Você está sendo chamada para servir no Comitê de Correlação”.
O coração de Ruth disparou. “O que significa correlação?”, perguntou ela.
Ela logo ficou sabendo o que era em uma reunião de orientação com o élder Harold B. Lee. O comitê era o principal responsável por alinhar todo o currículo da Igreja com os princípios básicos do evangelho. Mas, com a Igreja se espalhando rapidamente por todo o mundo, o programa também colocaria nova ênfase no sacerdócio, no lar e na família como pontos centrais do evangelho restaurado de Jesus Cristo.
O élder Lee descreveu os comitês que supervisionariam os programas para os adultos, os jovens e as crianças. Para sua surpresa, Ruth foi chamada para trabalhar com o comitê para os adultos, apesar de ter muitos anos de experiência trabalhando com os jovens. Ela e os outros membros do comitê — três mulheres e cinco homens — tinham que equilibrar as demandas de uma carreira e as responsabilidades de uma família. O membro mais jovem do comitê, Thomas S. Monson, com 34 anos, terminara recentemente seu serviço como presidente da Missão Canadá, com sua esposa Frances.
À medida que os meses se passaram e o comitê começou a pesquisar os planos anteriores das aulas da Igreja, todos eram incentivados a expressar suas opiniões livremente quando debatiam o futuro do currículo da Igreja. O comitê tinha muitos anos de estudo e trabalho pela frente, mas Ruth estava ansiosa para fazer tudo o que pudesse para ajudar a Igreja a progredir.
Em outra parte da sede da Igreja, Henry D. Moyle — um apóstolo, empresário e ex-diretor do Programa de Bem-Estar da Igreja — servia como primeiro conselheiro recém-chamado do presidente McKay.
O profeta o havia chamado originalmente para servir na presidência junto com o primeiro conselheiro J. Reuben Clark, após a morte de Stephen L. Richards, em maio de 1959. Dois anos mais tarde, a saúde do presidente Clark começou a declinar, então, o presidente McKay designou o apóstolo Hugh B. Brown para se juntar a eles como um terceiro conselheiro na presidência. Quando o presidente Clark faleceu, em outubro de 1961, o presidente McKay designou o presidente Moyle e o presidente Brown como seus primeiro e segundo conselheiros, respectivamente.
Como primeiro conselheiro na Primeira Presidência, o presidente Moyle era responsável por todos os aspectos do programa missionário da Igreja, um dever que ele apreciava. Ao redor do mundo, muitas pessoas estavam demonstrando grande interesse no cristianismo, e o presidente Moyle era responsável por garantir que cada missão encontrasse essas pessoas eficazmente. Sob sua supervisão, os batismos cresceram mundialmente acima de 300 por cento e os missionários trabalhavam uma média mensal de 221 horas — 44 por cento a mais do que em 1960.
Com sua experiência em negócios, o presidente Moyle apreciava números fortes e porcentagens sólidas. Contudo, no trabalho missionário, os números em si não tinham muito significado se as conversões eram de curto prazo. O presidente Moyle queria garantir que as pessoas fizessem mudanças duradouras na vida.
Ele e o presidente McKay acreditavam na mesma abordagem para compartilhar o evangelho: “Cada membro é um missionário”. Mas ele se preocupava com os problemas que estavam surgindo porque muitos jovens se filiavam à Igreja apenas para jogar nos times de beisebol dos missionários, e ele ficava desapontado quando as missões davam mais ênfase a números de batismo do que à conversão verdadeira. Ao se reunir com os missionários, ele os aconselhava a ensinar famílias e ajudar os conversos a se sentirem bem-vindos na Igreja. Reafirmava que os jovens precisavam da permissão dos pais para ser batizados.
Pouco tempo depois que o Comitê de Correlação foi organizado, o presidente Moyle participou de uma reunião na qual o élder Harold B. Lee propôs que o programa de correlação fosse ampliado a fim de incluir a obra missionária. A ideia preocupou o presidente Moyle. Ele servira por muitos anos com o élder Lee no Programa de Bem-Estar da Igreja e no Quórum dos Doze Apóstolos e o considerava um amigo próximo. Embora aprovasse os outros aspectos da correlação, ele não concordava com o élder Lee sobre este ponto.
Desde o início da Igreja, a obra missionária estivera sob a direção da Primeira Presidência. A presidência fazia os chamados missionários, designava os presidentes de missão e se correspondia diretamente com os escritórios de missão. Pela proposta do élder Lee, no entanto, um membro do Quórum dos Doze Apóstolos, e não um conselheiro na Primeira Presidência, lideraria o comitê missionário da Igreja. A presidência receberia os relatórios escritos dos apóstolos que visitavam as missões e os relatos verbais dos presidentes de missão retornados, mas ficariam livres do gerenciamento direto das missões.
Em 18 de setembro, o presidente Moyle conversou com o presidente McKay sobre o plano de correlação expandido do élder Lee. O sistema atual estava funcionando bem, ele ponderou. “Se este novo plano for adotado”, ele disse, “a obra missionária ficará completamente fora das mãos da Primeira Presidência”.
“Ela tem estado em nossas mãos desde que a Igreja foi organizada”, reconheceu o presidente McKay, mas com o crescimento rápido da Igreja, em breve a Primeira Presidência teria que delegar muitas de suas responsabilidades. Havia 64 missões e mais de dez mil missionários que precisavam ser cuidados — e esses números só cresceriam. O presidente Moyle e dois assistentes já dispendiam muitas horas na semana apenas com os chamados missionários. Além disso, cuidavam da aparentemente interminável correspondência com os presidentes de missão para resolver questões administrativas, como a compra de terrenos para capelas.
O presidente McKay queria que a Primeira Presidência continuasse a chamar os novos presidentes de missão, como sempre o fizeram, mas estava aberto para as mudanças propostas pelo élder Lee e desejava saber mais sobre elas.
Alguns meses mais tarde, em 11 de janeiro de 1963, o Deseret News publicou uma notícia inesperada: “A Igreja vai abrir a obra missionária na Nigéria”.
O anúncio foi feito apenas alguns dias depois que o apóstolo N. Eldon Tanner, e sua esposa, retornaram da África Ocidental. Durante a viagem de duas semanas, o élder Tanner conversara com várias autoridades nigerianas, reunira-se com centenas de santos em perspectiva e dedicara o país para a pregação do evangelho restaurado. Após o retorno do casal Tanner a Utah, o presidente McKay chamou LaMar Williams e alguns outros missionários para servir na Nigéria, tão logo obtivessem vistos de viagem.
Charles Agu, o líder de um grupo de santos em perspectiva em Aba, Nigéria, alegrou-se com as notícias. Sua congregação tinha mais de 150 pessoas e estava crescendo rápido. Quando LaMar visitou o país em 1961, Charles se tornou seu amigo e juntos fizeram algumas visitas. Charles e sua congregação compreendiam bem o evangelho e tinham uma fé inabalável na Restauração. Antes de LaMar voltar para os Estados Unidos, Charles gravou uma mensagem para o presidente McKay. “Cremos que esta Igreja tem todas as revelações e profecias exigidas por Deus para guiar Seu povo corretamente”, ele testificou. “Portanto, não rejeitaremos esta Igreja porque o sacerdócio nos é negado.”
Depois disso, Charles e LaMar trocaram muitas cartas e Charles mal podia esperar a volta de LaMar para estabelecer oficialmente a Igreja na África Ocidental. “Para todos nós aqui, este é um momento de grande expectativa”, ele escreveu a LaMar, em fevereiro de 1963.
Por não ter a autorização de portar o sacerdócio, Charles entendia que não poderia servir como presidente de ramo depois que a Igreja fosse estabelecida na Nigéria. No entanto, durante a visita do élder Tanner, o apóstolo explicou que Charles e outros líderes nigerianos continuariam a guiar suas congregações como líderes não-ordenados de distrito ou grupo. Os santos nigerianos também preencheriam todos os chamados que não exigissem a realização das ordenanças do sacerdócio.
Conforme as semanas se passavam, Charles esperava ouvir que LaMar estava a caminho da Nigéria, mas em quase todas as cartas LaMar explicava que estava aguardando a aprovação do governo nigeriano para seu visto de viagem. Ninguém conseguia explicar a demora.
Em março, Charles viu um artigo a respeito da Igreja em um jornal chamado Nigerian Outlook, trazendo o relato de um estudante universitário nigeriano que estivera em uma reunião dos santos dos últimos dias na Califórnia. O rapaz ficara em choque durante a reunião ao saber da restrição ao sacerdócio e das justificativas usadas para explicá-la.
“Não acredito em um Deus cujos seguidores pregam a superioridade de uma raça sobre a outra”, escreveu o estudante em seu artigo. Ele acreditava que a reputação da Nigéria ficaria prejudicada se permitisse que a Igreja fosse estabelecida no país.
Apenas alguns anos haviam se passado desde que a Nigéria ganhara sua independência da Grã-Bretanha e o artigo refletia uma desconfiança generalizada de influências externas no país. Acreditando que o atraso do visto tinha a ver com o artigo, Charles o enviou para LaMar. Ele achava que a presença de um representante oficial da sede da Igreja poderia ajudar a combater o estrago feito pelo artigo.
LaMar não pensava da mesma maneira. Os líderes da Igreja tinham proposto uma missão na Nigéria porque milhares de nigerianos haviam buscado paciente e persistentemente o evangelho restaurado. Se alguém precisava falar em defesa da Igreja na Nigéria, um converso nigeriano deveria fazê-lo, acreditava LaMar. “Tenho certeza de que por meio de suas orações e sua inspiração, vocês podem fazer e dizer as coisas que convencerão os líderes governamentais a respeito de nossa integridade”, ele escreveu.
Charles se reuniu com Dick Obot, outro santo nigeriano em perspectiva e juntos publicaram um artigo sobre a Igreja no Nigerian Outlook, testificando da Restauração do evangelho de Jesus Cristo por meio do profeta Joseph Smith, do papel da revelação atual para o estabelecimento da doutrina e da preocupação da Igreja com o bem-estar espiritual e material de todas as pessoas.
Charles esperava que o artigo ajudasse a mudar a mente e o coração das pessoas sobre os santos. Antes de conhecer a Igreja, ele fumava, bebia e vivia uma vida sem disciplina. Agora, ele era diferente.
“Encontrei alegria na vida, progresso em meu trabalho e bênçãos em toda parte”, ele contou a LaMar.
Em março de 1963, quatro meses depois de ser batizada, Delia Rochon, de 13 anos, desejava pagar o dízimo. Ela era membro de um ramo com cerca de 20 pessoas em Colonia Suiza, uma cidade no sul do Uruguai. Ela sabia que o dízimo era um mandamento, e estava disposta a fazer tudo o que o Senhor lhe pedisse. O único problema é que não tinha uma renda.
Delia pediu o conselho da mãe, que não era membro da Igreja, e a mãe sugeriu que ela encontrasse um meio de ganhar dinheiro.
Um vizinho idoso concordou em pagar para Delia lhe trazer água potável. Todos os dias, Delia levava um balde a uma fonte perto de sua casa, enchia-o com cerca de quatro litros de água, e o carregava até a casa do vizinho. Depois de algumas semanas economizando seus ganhos, ela levou uma moeda de $1 peso para Victor Solari, seu presidente do ramo, como pagamento do dízimo.
“Quanto você ganhou?”, perguntou o presidente.
“Três pesos”, Delia respondeu.
“Bem”, disse o presidente Solari, “o dízimo é 10 por cento”. Um peso — que era mais de 30 por cento do que ela ganhara — era muito.
“Mas eu quero dar o dinheiro”, Delia disse.
O presidente Solari pensou e disse: “Bem, então faça uma oferta de jejum”. Ele explicou o que era a oferta de jejum e ajudou Delia a preencher seu primeiro recibo de doação.
Pouco tempo depois, o presidente Solari a convidou para uma entrevista. Ela nunca tinha ido ao escritório dele, então, estava ansiosa. A sala era pequena, com uma mesa de metal e algumas prateleiras cheias de manuais da Igreja. Quando se sentou em uma cadeira na frente da mesa dele, seu pé não encostava no chão.
O presidente Solari foi direto ao ponto. A presidente da Primária tinha acabado de se mudar do ramo para outra área para trabalhar como professora e ele queria que Delia a substituísse no chamado.
No passado, geralmente os missionários ocupavam os cargos de liderança de ramo, mas Thomas Fyans, o presidente da Missão Uruguaia, acreditava firmemente em liberar os missionários norte-americanos dessas responsabilidades e chamar os santos locais para fazer o trabalho. Isso havia se tornado uma prioridade para as missões sul-americanas desde a viagem do élder Kimball ao continente em 1959. Dar mais oportunidades aos santos locais — mesmo aos santos que tinham apenas 13 anos — era considerado um passo vital para o estabelecimento das estacas na América do Sul.
Delia nunca participara da Primária quando criança. Ela nem sabia ao certo o que fazia uma presidente da Primária. Mesmo assim, ela aceitou o chamado e se sentiu bem,
mas ficou preocupada com a reação de seus pais quando soubessem. Eles eram divorciados e nenhum dos dois era membro da Igreja. A família do pai era de protestantes devotos e desaprovavam a condição dela como membro da Igreja. A mãe católica aceitava melhor suas crenças, mas ficaria preocupada com uma possível interferência do chamado em suas responsabilidades em casa e na escola.
“Vou conversar com sua mãe”, disse o presidente Solari.
Demorou um pouco para convencê-la, mas o presidente do ramo e Delia chegaram a um acordo com a mãe: Delia faria suas obrigações de casa aos sábados pela manhã e depois estaria livre para cumprir as tarefas de seu chamado na Igreja.
Depois de ser designada, Delia começou a trabalhar em seu novo chamado. Por ser um ramo muito pequeno, ela era responsável sozinha pela liderança e o ensino das crianças da Primária. Como treinamento, o presidente Solari lhe entregou um manual grosso da Primária e duas folhas de instruções datilografadas.
“Se tiver dúvidas”, ele disse, “ore!”
Antes de preparar a primeira aula, Delia leu as instruções. Depois, abriu o manual da Primária, colocou as mãos sobre as páginas e inclinou a cabeça.
“Pai Celestial”, ela disse, “Preciso ensinar esta lição para as crianças e não sei como fazê-lo. Por favor, ajuda-me”.
Na mesma época, Suzie Towse, de 18 anos, embarcou em um trem com destino a Londres. Fazia quase dois anos que ela se batizara no Ramo Beverley, e agora estava a caminho para servir missão como secretária no escritório do Departamento de Construção da Igreja no Reino Unido.
Seus pais não estavam contentes por ela estar saindo de casa. Na verdade, sua mãe, que se filiara à Igreja não muito tempo depois de Suzie, ficou ressentida com a Igreja depois que um missionário a ofendeu, mas isso não deteve Suzie. Servir missão era sua meta desde que se filiara à Igreja.
Geoff Dunning, um rapaz de seu ramo, foi se despedir dela na estação. Ele se filiara à Igreja cerca de um ano antes e os dois se tornaram amigos servindo juntos no comitê de integração do ramo. O forte testemunho de Geoff e sua ética no trabalho chamaram a atenção dos líderes locais da Igreja e ele havia servido em vários chamados.
Enquanto viajava para o sul, Suzie estava ansiosa para servir no Departamento de Construção. Em julho de 1960, a Igreja iniciara o programa missionário de construção na Europa. Logo, os presidentes de missão começaram a chamar centenas de santos locais, inclusive alguns rapazes que permaneceram ativos depois de se filiar à Igreja por meio dos times de beisebol da missão, para servir como “missionários de construção”. Agora, os santos britânicos poderiam aguardar com grande expectativa para se reunir em novas e espaçosas capelas, em vez de salões alugados apertados. Na verdade, Suzie e Geoff já haviam passado muitas noites e sábados ajudando os missionários de construção que trabalhavam em uma capela em Beverley.
Suzie recebeu o chamado para servir do presidente da recém-organizada Missão Britânica Nordeste, Grant Thorn. A idade mínima para as moças servirem missão de proselitismo era 21 anos, mas os missionários de construção poderiam ser mais jovens. Como Suzie trabalhava como secretária em uma empresa de contabilidade, ela sabia como realizar várias tarefas em um escritório. Quando o Departamento de Construção a entrevistou para conhecer sua experiência como secretária, ela foi imediatamente considerada preparada para o chamado.
Em Londres, Suzie foi morar em um apartamento com outras duas missionárias. Todas as manhãs no escritório, os missionários começavam o dia com uma oração, um hino e uma escritura. O restante do tempo era gasto datilografando cartas, anotando as atas das reuniões, transcrevendo anotações, acompanhando e mantendo os registros de dedicação das capelas.
Entre as capelas em construção estava a de Merthyr Tydfil, País de Gales, o lugar de nascimento da mãe do presidente McKay. A abertura de terra aconteceu em março de 1961, e o projeto ganhou força em janeiro de 1963, quando o profeta decidiu dedicar o edifício pessoalmente. Nos próximos oito meses, os missionários e os santos consagraram mais de 30 mil horas para construir a capela, concluindo-a em 23 de agosto.
Dois dias depois, Suzie e outras mil e trezentas pessoas compareceram à dedicação da nova capela. Assim que ela viu o presidente McKay, um sentimento de amor e paz tomaram seu coração. Ela soube na mesma hora que estava na presença de um profeta de Deus.
Poucos meses depois da dedicação, Suzie recebeu uma carta dramática de sua mãe. “Se você não voltar para casa imediatamente”, a mãe escreveu, “não precisa mais voltar”.
Suzie não queria aborrecer os pais, mas também não queria deixar a missão. “É muito difícil, às vezes, saber o que fazer quando os pais aconselham uma coisa e a Igreja ensina outra”, ela confidenciou a Geoff em uma carta. “Estou me sentindo muito confusa e preocupada.”
Ela contou ao presidente Thorn sobre seu dilema. “Fique e termine sua missão”, ele aconselhou. “O Senhor vai preparar um caminho.”
Suzie seguiu seu conselho à risca. “Um dia meus pais entenderão”, disse a Geoff. “Sei que não estaria longe de casa se essa não fosse a obra do Senhor.”
No início de 1963, quando o élder Harold B. Lee e seu comitê apresentaram o plano final de correlação do sacerdócio à Primeira Presidência e ao Quórum dos Doze Apóstolos, o presidente McKay o aprovou prontamente. “Está tudo glorioso”, ele disse.
O plano abrangia todo o programa da Igreja, uma expansão significativa das responsabilidades originais do comitê para correlacionar o currículo. As organizações da Igreja não mais publicariam lições nem emitiriam normas sem a orientação das autoridades gerais. O novo sistema dividia a governança da Igreja em quatro áreas: bem-estar, genealogia e templo, ensino familiar e o trabalho missionário. Cada área seria supervisionada por um comitê de cerca de 25 membros, liderado por um apóstolo ou um membro do bispado presidente.
Quando o élder Lee falou sobre o programa de correlação na conferência geral de abril, ele explicou que o lar era o alicerce de uma vida de retidão e que as organizações da Igreja existiam sob a autoridade do sacerdócio para ajudar e apoiar o lar. “É sobre esses fundamentos”, disse ele, “que fomos guiados em nossos estudos de correlação dos currículos e das atividades de todo o sacerdócio e das organizações auxiliares”.
O presidente Moyle e o presidente Brown tinham fé no chamado do presidente McKay como profeta de Deus. No entanto, apesar de ele ter aprovado o programa, eles tinham reservas sobre algumas de suas características. Após se aconselhar com o élder Lee, o presidente Brown deixou de lado suas preocupações e o presidente Moyle aceitou a maior parte do plano. Mas continuou a questionar se eles deveriam passar a supervisão das missões da Primeira Presidência para o Quórum dos Doze Apóstolos.
O élder Lee e o presidente Moyle eram amigos próximos há muitos anos. Quando o presidente Moyle foi chamado para a Primeira Presidência, o élder Lee não conseguiu conter sua alegria. “Parecia muito bom para ser verdade”, escreveu ele em seu diário. Mais tarde, quando a esposa do élder Lee, Fern, faleceu, o presidente Moyle o consolou e discursou no funeral dela. Agora, o élder Lee ansiava pelo apoio sincero de seu amigo para a correlação.
Enquanto a Igreja se preparava para lançar o novo programa, o élder Lee começou a cortejar Joan Jensen, uma professora que tinha mais ou menos a idade dele e nunca havia se casado. Depois que decidiram se casar, eles perguntaram ao presidente McKay se ele poderia realizar a cerimônia, e o profeta alegremente aceitou o convite.
Um dia antes do casamento, o élder Lee convidou Marion G. Romney, que era também um amigo próximo, para ser uma das testemunhas. Enquanto os dois homens conversavam, o presidente Moyle chegou perto e perguntou se poderia ir à cerimônia também. Em pouco tempo, a distância entre os dois homens se desvaneceu e suas diferenças sobre a correlação não tinham mais importância.
“Você gostaria de ser uma das testemunhas?”, perguntou o élder Lee.
O presidente Moyle ficou emocionado. “Você me permitiria?”
“Se o presidente McKay realizar nosso casamento e vocês dois forem as testemunhas”, o élder Lee disse, “seria perfeito”.
Na manhã seguinte, o presidente McKay selou Harold e Joan como marido e esposa no Templo de Salt Lake. O élder Romney e o presidente Moyle serviram como testemunhas desta sagrada ordenança.
Alguns meses depois, em setembro, o presidente Moyle voou para a Flórida, no sudeste dos Estados Unidos, para inspecionar uma fazenda de gado de aproximadamente 122 mil hectares que a Igreja possuía e administrava para ajudar a financiar o programa de assistência aos pobres.
Enquanto isso, o élder Lee estava presidindo uma conferência de estaca no Havaí. Certa manhã, uma ligação de Utah o acordou. Era o presidente Brown ligando para informá-lo que o presidente Moyle falecera enquanto dormia na fazenda, na Flórida. Em choque, naquela mesma manhã, o élder Lee embarcou em um avião de volta para casa.
Três dias depois, no funeral do presidente Moyle, o élder Lee subiu ao púlpito do Tabernáculo de Salt Lake e falou sobre a amizade que ele e Marion G. Romney compartilhavam com Henry D. Moyle.
“Éramos três homens obstinados e teimosos”, ele disse. “Mas acho que três homens nunca tiveram maior respeito mútuo do que o que existia entre nós.”