História da Igreja
Capítulo 26: Desejo servir


Capítulo 26

Desejo servir

Coro do Tabernáculo no palco de uma casa de espetáculos ornamentada

Um dia após a explosão em Huaraz, os médicos transferiram Manuel Navarro para uma clínica em Lima. Lá ele foi recebido pelo presidente da missão, Enrique Ibarra, e também recebeu uma bênção do élder Charles A. Didier, membro da presidência da área. Durante a bênção, o élder Didier prometeu que Manuel logo deixaria a clínica e retornaria ao campo missionário.

Após tratar de outros ferimentos de Manuel, os médicos se dedicaram à reconstrução de seu rosto ferido. Os estilhaços haviam cortado suas bochechas e rompido o nervo óptico de seu olho direito, o que fez com que seu olho precisasse ser removido. Seus pais, que tinham ido a Lima, deram-lhe a notícia. “Filho”, disse sua mãe, “você vai ser operado”.

Manuel ficou em choque. Ele não sentia dor alguma no olho e, até então, não sabia porque estava enfaixado. Sua mãe o confortou. “Estamos aqui”, disse ela. “Estamos aqui com você.”

Com total apoio financeiro da Igreja, Manuel passou por três operações para remover o olho e restaurar a órbita ocular danificada. A recuperação seria longa, e os membros de sua família achavam que ele deveria retornar à sua cidade após ser liberado da clínica. Mas Manuel se recusou a deixar o campo missionário. “Meu contrato com o Senhor é de dois anos e ainda não terminou”, disse a seu pai.

Enquanto se recuperava na clínica, Manuel recebia visitas de Luis Palomino, um amigo de sua cidade natal que estava estudando em Lima. Apesar de ser difícil conversar com Luis por causa dos ferimentos, Manuel começou a compartilhar as lições missionárias. Luis ficou surpreso e impressionado com a decisão de Manuel de terminar a missão.

“Quero saber o que motiva você”, disse Luis. “Por que sua fé é tão grande?”

Seis semanas após a explosão, Manuel deixou a clínica e começou a servir no escritório da missão em Lima. A ameaça do terrorismo ainda existia e ele sentia medo sempre que via um carro como aquele que tinha explodido. À noite, ele tinha dificuldade para dormir sem medicação.

Todos os dias, um dos élderes do escritório da missão trocava seus curativos. Manuel não suportava se olhar no espelho e ver que tinha perdido um olho. Cerca de três semanas após deixar a clínica, ele recebeu uma prótese.

Um dia, Luis foi ao escritório da missão para visitar Manuel. “Quero ser batizado”, disse ele. “O que preciso fazer?” Luis não morava longe do escritório da missão, então, ao longo de algumas semanas, Manuel e seu companheiro lhe ensinaram o restante das lições em uma capela local. Manuel estava animado por ensinar a um amigo, e Luis completou com entusiasmo todas as metas que havia definido com os missionários.

Em 14 de outubro de 1990, Manuel batizou Luis. O ferimento ainda o incomodava, mas, por causa dessa provação, ele pôde batizar um amigo de sua cidade natal — algo que jamais esperava fazer em sua missão. Depois que Luis saiu da água, eles se abraçaram e Manuel sentiu fortemente o Espírito. Ele sabia que Luis também O sentiu.

Para comemorar a ocasião, Manuel deu a Luis uma bíblia. “Quando os dias se tornarem sombrios”, Manuel escreveu no lado de dentro da capa, “lembre-se desse dia, o dia em que você renasceu”.


Enquanto isso, em Utah, Darius Gray recebeu uma ligação de sua amiga Margery “Marie” Taylor, especialista em genealogia afro-americana, que trabalhava na Biblioteca de História da Família da Igreja, em Salt Lake City. Ela havia acabado de descobrir alguns rolos de microfilme com importantes registros afro-americanos e mal conseguia conter sua empolgação. “Você precisa vir aqui dar uma olhada”, disse ela.

Intrigado, Darius concordou em encontrá-la. A Biblioteca de História da Família era o maior centro de genealogia do mundo, sendo visitado por centenas de milhares de pessoas todos os anos. Quando Darius visitou a biblioteca pela primeira vez, ele sabia muito pouco sobre seus antepassados além do que já tinha descoberto com as histórias e fotografias de família. Foi Marie quem o ajudou a encontrar mais respostas. Apesar de não ser negra, ela se mostrou muito competente em apresentar a Darius os registros da família dele e da história dos negros nos Estados Unidos.

Quando Darius chegou à Biblioteca de História da Família, Marie lhe mostrou os registros que tinha encontrado. A empresa Freedman’s Savings and Trust havia sido credenciada pelo congresso americano em 1865 com o objetivo de oferecer segurança financeira aos afro-americanos que tinham sido escravizados e aos nascidos livres. Mais de cem mil pessoas haviam criado uma conta no banco, mas ele faliu nove anos depois, levando embora o dinheiro suado de seus clientes.

Apesar da falência do banco, seus livros de registros eram extremamente valiosos para os genealogistas. Descendentes de escravos tinham muita dificuldade de encontrar informações sobre seus antepassados. Os registros que costumam ser utilizados para encontrar nomes e datas de familiares — como listas de cemitérios, registros de eleitores e certificados de óbito — não existiam para os escravos ou eram de difícil acesso. Os registros do Banco Freedman, no entanto, possuíam uma grande quantidade de informações sobre os titulares das contas, incluindo nomes de parentes e onde haviam sido escravizados. Alguns registros continham até descrições físicas dos clientes.

Darius imediatamente reconheceu a importância dessa informação para a população afro-americana. Mas os registros também eram um grande desafio para os pesquisadores. Os secretários responsáveis pelos livros tinham registrado os nomes e os detalhes dos titulares na ordem em que as contas foram sendo abertas, não em ordem alfabética. Por causa disso, os pesquisadores tinham que inspecionar os livros linha por linha até encontrar a informação que estavam buscando. Para serem mais úteis, os livros precisavam ser organizados melhor.

Marie perguntou a Darius se os membros do Grupo Gênesis poderiam ajudar a transcrever e indexar os registros, mas nem todos tinham tempo — nem um computador — para fazer tal trabalho. Darius escreveu a um dos apóstolos, pedindo ajuda à Igreja. Apesar de demostrar apoio, o apóstolo disse que a Igreja não poderia realizar o projeto. Naquela época, a sede da Igreja não costumava financiar projetos de extração de nomes. Esse era um trabalho feito por estacas e alas.

Já quase sem opção, Marie teve uma ideia. Ao longo dos últimos 25 anos, a Igreja tinha estabelecido mais de 1.200 centros de história da família em 45 países. Os centros eram lugares onde pessoas de dentro e fora da Igreja podiam aprender mais sobre seus antepassados. Geralmente, os centros de história da família faziam parte das estacas, mas Marie sabia de um que tinha acabado de abrir na prisão estadual de Utah. Os presos podiam usar o centro uma hora por semana. E se ela e Darius os recrutassem para ajudar no projeto do Banco Freedman?

Marie conversou com o diretor de história da família na prisão e, em pouco tempo, quatro presos voluntários estavam trabalhando intensamente nos registros.


Em setembro de 1990, Alice Johnson estava estudando no Holy Child Teacher Training College, em Takoradi, Gana. Já tinha se passado mais de um ano desde que o governo havia suspendido as atividades da Igreja no país, pondo um fim abrupto à sua missão. No início, ela não sabia o que fazer. Mas seguiu o conselho de sua irmã e decidiu se tornar professora, sendo aceita pela faculdade para o ano acadêmico seguinte.

À medida que o congelamento persistia, Alice e os outros membros da Igreja foram, mês após mês, adaptando-se a fazer as reuniões da Igreja em casa. Emmanuel Kissi, presidente do Distrito Acra Gana, tornou-se presidente em exercício da missão e autoridade presidente da Igreja no país. Ele viajou muito por todo o país de Gana, visitando e fortalecendo os santos. O governo permitiu que os “serviços essenciais” da Igreja permanecessem abertos temporariamente, possibilitando que alguns de seus funcionários continuassem trabalhando com bem-estar, distribuição e educação na Igreja. Os santos não podiam pagar o dízimo ou fazer ofertas, mas alguns separavam seus rendimentos e aguardavam pacientemente para poder fazer as doações novamente.

Diferentemente de William Acquah e dos santos detidos temporariamente em Cape Coast, Alice não sofreu perseguição durante o congelamento. Ela se reunia com os amigos aos domingos numa residência privada para tomar o sacramento, orar e dar discursos. Seus pais, que continuavam a servir missão sem utilizar plaquetas ou roupas missionárias, encontravam-na sempre que visitavam a região. Ainda assim, Alice sentia que estava parada, esperando as reuniões regulares da Igreja serem retomadas.

Por fim, em novembro de 1990, Alice soube que o governo havia suspendido a proibição da Igreja. Desde o início do congelamento, o presidente Kissi e outros santos estavam se comunicando com as autoridades do governo para acabar com as restrições. Em resposta à desinformação sobre os ensinamentos da Igreja, eles escreveram longas cartas explicando sua doutrina e história e fizeram petições a líderes do governo pessoalmente. Quando as autoridades levantaram preocupações acerca das antigas restrições da Igreja ao sacerdócio, os santos explicaram que os negros tinham os mesmos direitos que qualquer outro membro da Igreja. Outras igrejas, que antes se mostravam hostis aos santos dos últimos dias, também defenderam os direitos de adoração dos membros da Igreja assim que perceberam que o congelamento também colocava a liberdade religiosa delas em risco.

Uma pessoa fundamental para a suspensão da proibição foi Isaac Addy, gerente regional de assuntos temporais no país de Gana. Ele era o meio-irmão mais velho do presidente de Gana, Jerry Rawlings. Os irmãos haviam se afastado, e Isaac não queria conversar com Jerry sobre o congelamento. Certo dia, porém, Georges Bonnet, diretor de assuntos temporais da África, pediu-lhe que orasse até seu coração se abrandar em relação ao irmão. Isaac assim o fez, e o Espírito tocou seu coração. Ele concordou em se encontrar com Jerry. Eles conversaram naquela noite e, por fim, resolveram suas diferenças. No dia seguinte, o governo decidiu acabar com o congelamento.

Alice estava emocionada por voltar a frequentar as reuniões públicas da Igreja pela primeira vez em 18 meses. Quase cem santos compareceram ao Ramo Takoradi naquele dia, e a reunião durou mais de duas horas, pois muitos prestaram testemunho.

Alice se sentia animada, mas também preocupada ao pensar nos conversos de sua missão em Koforidua. Ela se perguntava se eles haviam se mantidos fiéis ao evangelho ao longo do último ano e meio. Ela sabia que alguns membros da Igreja tinham desanimado e abandonado a fé.

Pouco tempo após o fim do congelamento, as duas primeiras estacas de Gana foram organizadas. Em Cape Coast, Billy Johnson, pai de Alice, foi chamado para servir como patriarca da estaca. Enquanto isso, o governo permitiu que os santos retomassem o trabalho missionário no país. Grant Gunnell, o novo presidente da Missão Gana Acra, chamou Alice para uma entrevista. Ele havia localizado 60 dos missionários que estavam servindo antes do congelamento e gostaria de saber se eles estavam dispostos a retornar ao campo missionário.

“Você gostaria de retornar e servir missão após a escola?”, perguntou ele.

“Não”, disse ela sem hesitar. “Quero servir agora.”

“O quê?”, perguntou o presidente, surpreso pela resposta rápida.

“Quero servir agora”, ela repetiu. A prioridade dela sempre foi servir a Deus e estava disposta a colocar sua educação em segundo plano por Ele.

Alice logo retornou ao campo missionário. Quando contou a seu pai, um homem que havia dedicado grande parte de sua vida para pregar o evangelho restaurado, ele não ficou surpreso.

“Essa é minha filha”, disse ele.


Quando Manuel Navarro completou sua missão em março de 1991, seus pais foram a Lima para buscá-lo. Como na região onde ele morava não havia uma estaca, o presidente da missão local o desobrigou do serviço. Ainda assim, Manuel não estava pronto para voltar para Nazca, sua cidade natal, no sul do Peru. Ele havia prometido a uma amiga em sua antiga área que iria ao batismo dela, então ele e os pais ficaram na cidade por mais uma semana.

Certa manhã, Manuel e seu pai saíram a fim de comprar pão para o café da manhã. O pai percebeu que tinha esquecido de pegar dinheiro, então deu meia volta e entrou em casa novamente. “Espere por mim aqui”, disse ele.

Manuel congelou. Depois de ter um companheiro de missão por tanto tempo, era estranho estar sozinho na rua. Após alguns instantes, ele decidiu ficar onde estava. “Não sou mais missionário”, pensou.

Mesmo após voltar a Nazca, Manuel teve dificuldade em se adaptar a uma vida sem missão, principalmente por causa de seu ferimento. Apertar a mão de outras pessoas era mais difícil com um olho só. Ele vivia colocando a mão no lugar errado. Ele começou a jogar ping-pong com um irmão de seu ramo, e seguir a bolinha branca com um olho só ajudava a melhorar sua noção de profundidade.

Em abril, Manuel se mudou para uma cidade maior, Ica, para estudar mecânica automotiva na universidade. A cidade ficava a menos de 160 quilômetros de Nazca e ele tinha amigos e parentes lá. Ele morava na casa de sua tia e tinha seu próprio quarto. Sua mãe se preocupava com ele e ligava quase todas as noites. “Filho”, dizia ela frequentemente, “sempre se lembre de orar”. Toda vez que ele se sentia angustiado, orava pedindo forças e encontrava refúgio no Senhor.

Para incentivar os jovens adultos solteiros da Igreja a se encontrarem e socializarem, a estaca de Ica oferecia cursos do instituto, além de possuir um grupo para adultos solteiros que realizava atividades e devocionais. Manuel se sentia realizado com essas atividades, e a nova ala em Ica se tornou sua segunda casa. Enquanto as crianças na igreja costumavam encarar sua prótese ocular, os adultos o tratavam como qualquer outro membro.

Certo dia, Manuel foi convidado para encontrar Alexander Nunez, o presidente de estaca de Ica. Manuel conhecia o presidente Nunez desde sua adolescência em Nazca, e o presidente tinha visitado sua classe do seminário como coordenador do Sistema Educacional da Igreja. Manuel o admirava muito.

Durante a entrevista, o presidente Nunez chamou Manuel para servir no sumo conselho da estaca.

“Uau!”, disse Manuel a si mesmo. Geralmente, os santos que serviam nos chamados de estaca eram mais velhos e mais experientes do que ele. Apesar disso, o presidente Nunez demonstrava confiança nele.

Nas semanas seguintes, Manuel visitou as alas designadas. No início, ele se sentia inseguro trabalhando com os líderes da ala. Mas aprendeu a focar em seu chamado, e não em si mesmo. À medida que estudava os manuais da Igreja e se apresentava à estaca, ele foi perdendo o medo de ser jovem demais para o cargo que desempenhava. Descobriu que gostava de compartilhar seu testemunho com os membros da estaca, participando de devocionais e incentivando os jovens a servirem missão.

Os problemas causados pelos ferimentos de Manuel não desapareceram. Às vezes, quando ele estava sozinho, sentia-se triste e abalado ao lembrar do ataque pelo qual havia passado. As escrituras estavam repletas de histórias milagrosas de pessoas de fé sendo curadas de enfermidades ou protegidas do perigo. Mas contavam também histórias de pessoas como Jó e Joseph Smith, que sofreram dores e injustiças sem receber libertação imediata. Às vezes, quando se lembrava de seus ferimentos, Manuel pensava: “Por que isso aconteceu comigo?”

Apesar disso, sabia que teve sorte de sobreviver ao ataque. Após ele ter se ferido, os terroristas atacaram e mataram missionários e membros da Igreja, espalhando tristeza e medo entre os santos no Peru. Mas as coisas estavam mudando. O governo peruano havia começado a reprimir o terrorismo, diminuindo o número de ataques. Na Igreja, os santos locais abraçaram a iniciativa denominada “Confiar no Senhor”, que os convidava a jejuar, orar e exercer fé, acreditando que seriam libertados da violência no país.

Manuel percebeu que os estudos na universidade e o serviço na Igreja o ajudavam a lidar com as dificuldades. Ele confiava no Senhor e pensava Nele com frequência.


Por volta da época em que Manuel retornou de sua missão, Gordon B. Hinckley, primeiro conselheiro na Primeira Presidência, viajou para Hong Kong a fim de visitar possíveis locais para a Casa do Senhor. Sendo um jovem apóstolo, ele havia supervisionado o desenvolvimento da Igreja na Ásia e estava muito feliz com o progresso. A região agora tinha 200 mil santos e quatro templos, localizados no Japão, em Taiwan, na Coreia do Sul e nas Filipinas. Apesar de a Igreja ainda não estar presente em países como Myanmar, Laos, Mongólia e Nepal, novos ramos estavam criando raízes em Singapura, na Indonésia, Malásia e Índia.

Hong Kong, onde ficava o escritório da Área Ásia da Igreja, era um território britânico. Em seis anos, porém, a autoridade sobre a região passaria do Reino Unido para a República Popular da China.

Como parte dessa transferência, a China prometeu honrar os sistemas econômico e político de Hong Kong e respeitar as práticas religiosas de seus cidadãos. Ainda assim, já com 18 mil santos vivendo na região, os líderes da Igreja sentiram que deveriam construir uma Casa do Senhor antes da transferência de autoridade.

O presidente Hinckley passou o dia olhando diferentes localidades, mas não encontrou nenhuma opção acessível financeiramente. Em outras regiões do mundo, a Igreja evitava comprar lotes caros nas cidades e construía templos nos subúrbios. Mas Hong Kong era uma região densamente povoada, com mais de 5 milhões de pessoas, sendo quase impossível adquirir um terreno adequado.

O presidente Hinckley se perguntava se a Igreja não deveria simplesmente construir um templo em um dos pequenos lotes que já possuía na cidade. Ele imaginava um grande edifício multifuncional, com os andares de baixo servindo de capela e escritório de missão.

“Os três andares de cima poderiam ser o templo”, pensou ele. “Não seria difícil fazer isso.”

Era uma possibilidade interessante. Mas a Igreja nunca tinha construído um prédio desse tipo e ele não tinha certeza se essa era a melhor opção para os santos em Hong Kong.


Em 15 de junho de 1991, a histórica Casa de Ópera de Budapeste se encheu de aplausos quando o Coro do Tabernáculo apresentou a última música para um público de 1.400 pessoas. Entre os presentes, estavam o élder Russell M. Nelson e sua esposa Dantzel. Eles estavam viajando com o coro em uma turnê de três semanas por vários países da Europa.

O élder Nelson liderou, por cinco anos, os esforços da Igreja para melhorar o relacionamento com os governos na Europa central e no leste Europeu. Muitos desses países, como a Hungria, estavam saindo de um regime comunista. A Tchecoslováquia agora passava a ter completa liberdade religiosa, e o governo havia reconhecido oficialmente a Igreja. A Alemanha Ocidental e a Alemanha Oriental haviam se tornado um só país, pondo fim às antigas restrições da República Democrática Alemã. Agora, os missionários eram permitidos na Polônia, Hungria, Romênia, Eslovênia e Croácia também.

A turnê do coro era uma oportunidade de construir pontes. E, pelo som dos aplausos, o concerto tinha sido bem-sucedido.

“Quero que saibam”, disse um homem húngaro a um membro do coro após a performance, “que minha esposa e eu também acreditamos em Deus. Entendemos o que sua música quer nos dizer”.

No dia seguinte, o élder Nelson discursou em uma reunião sacramental, no salão de um hotel com vista para o monte de onde ele havia dedicado, quatro anos antes, a Hungria para a pregação do evangelho. Naquela ocasião, ele estava com poucas pessoas, incluindo o único membro da Igreja em Budapeste. Agora, o país tinha mais de 400 santos.

Partindo da Hungria, o coro viajou pela Áustria, Tchecoslováquia, Alemanha, Polônia e União Soviética. O élder Nelson encontrou com o élder Dallin H. Oaks na República Soviética da Armênia, onde a Igreja havia concedido ajuda humanitária após um terremoto devastador. Desde a visita do élder Nelson à União Soviética em 1987, mudanças políticas e sociais significativas haviam ocorrido no país. O país havia se tornado mais aberto a estrangeiros, e os habitantes das várias repúblicas soviéticas agora buscavam mais controle sobre seus assuntos locais. Também havia mais liberdade religiosa na região, e o interesse das pessoas por religião estava aumentando.

Embora a Igreja não tivesse presença oficial na União Soviética, nada impedia os cidadãos soviéticos de viajar para o exterior, obter o evangelho restaurado e levá-lo consigo de volta para casa. Em 1990, já existiam santos o suficiente em Leningrado, na Rússia, e em Talin, na Estônia, para que a Igreja fosse registrada nessas cidades. Na mesma época, missionários e santos foram designados na Finlândia para apoiar os novos conversos.

Em Moscou, o élder Nelson ficou impressionado com o fato de o governo russo ter se tornado tolerante com a Igreja. Ao longo dos últimos anos, ele havia cruzado o Atlântico diversas vezes para se encontrar com autoridades do governo no leste Europeu. No início, eles raramente pareciam felizes em vê-lo, e o élder Nelson frequentemente sentia que seus esforços eram infrutíferos. Então o Senhor preparou um caminho.

Os santos agora tinham um ramo em Leningrado. Os membros da Igreja das cidades de Viburgo e Moscou também haviam conseguido aprovação governamental para suas pequenas congregações. O progresso era incrível, e o élder Nelson esperava que logo a Igreja pudesse ser publicamente reconhecida em toda a Rússia, de longe a maior república da União Soviética.

Após um concerto do Coro do Tabernáculo no Teatro Bolshoi, em Moscou, o casal Nelson e o élder Oaks atravessaram a rua em direção ao hotel Metropol, onde a Igreja tinha organizado um jantar após a apresentação. O élder Nelson havia participado de muitos jantares e recepções ao longo da turnê graças a Beverly Campbell, diretora do escritório de assuntos internacionais da Igreja, em Washington, D.C. Nessa função, Beverly organizou reuniões e edificou relacionamentos entre representantes da Igreja e autoridades do governo no mundo inteiro.

No jantar, o élder Nelson se aproximou de um microfone e agradeceu aos vários dignitários por terem comparecido. Em seguida, convidou Alexander Rutskoi, vice-presidente da Rússia, para se juntar a ele na frente do público. “Ficaríamos agradecidos”, disse o élder Nelson, “por qualquer comentário que você puder fazer”.

“Caros convidados”, disse o vice-presidente Rutskoi, “estamos contentes nesta noite por ter a oportunidade de dar as boas-vindas a todos aqui presentes. Gostaria de ler com vocês este formulário, de 28 de maio de 1991, que registra A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias na República Socialista Federativa Soviética da Rússia”.32

O élder Nelson ficou impressionado enquanto o vice-presidente Rutskoi lia o documento. Ele esperava que logo fosse feito o pronunciamento, mas não achou que seria naquela noite. Receber reconhecimento formal significava que a Igreja poderia enviar mais missionários para a Rússia, imprimir e distribuir obras da Igreja e estabelecer mais congregações.

No dia seguinte, em meio a visitas às autoridades do governo com o élder Oaks e outros membros, o élder Nelson foi a um pequeno parque próximo ao Kremlin e ofereceu uma oração de agradecimento ao Senhor.

Uma semana depois, os dois apóstolos visitaram o presidente Benson em seu apartamento, em Salt Lake City. Eles apresentaram uma cópia do documento de registro da Igreja na Rússia e lhe disseram que a Igreja havia sido estabelecida no leste europeu.

Ao receber a notícia, o rosto do presidente Benson se iluminou de alegria.

  1. Navarro, entrevista de história oral, 10 de maio de 2022, pp. 2, 6–7, 9, 12; Navarro, entrevista de história oral, agosto de 2022, pp. 1–4; Chuquimango, entrevista de história oral, p. 7.

  2. Navarro, entrevista por e-mail; Navarro, entrevista de história oral, 10 de maio de 2022, pp. 9–10; Navarro, entrevista de história oral, agosto de 2022, pp. 5–6.

  3. Palomino, entrevista de história oral, pp. 1–2, 4; Navarro, entrevista de história oral, 10 de maio de 2022, p. 11.

  4. Navarro, entrevista de história oral, 10 de maio de 2022, pp. 7, 10–11; Navarro, entrevista de história oral, agosto de 2022, pp. 6–8; Navarro, entrevista por e-mail; Navarro, entrevista de história oral, 20 de maio de 2022, pp. 1–3; Palomino, entrevista de história oral, pp. 4, 6.

  5. Gray, entrevista de história oral, pp. 225–226, 228, 287, 292; Allen, Embry e Mehr, Hearts Turned to the Fathers, pp. 295, 297–298; Taylor, entrevista de história oral, pp. 16, 21, 35; R. Scott Lloyd, “Golden Anniversary of Microfilming”, Church News, 3 de dezembro de 1988, p. 8; “‘Remarkable Growth’ in Church Will Increase Interest, Tourism in Utah”, Church News, 4 de fevereiro de 1989, p. 10. Tópico: História da família e genealogia.

  6. Gray, entrevista de história oral, pp. 226, 287; Josiah, “Providing for the Future”, pp. 2, 5, 7–9; Osthaus, Freedmen, Philanthropy, and Fraud, pp. 1–3, 8–9, 95–96, 201–208; Fleming, Freedmen’s Savings Bank, pp. 129–130. Tópico: Escravidão e abolicionismo.

  7. Bob Mims, “Ex-slave Files a Prize for History Buffs”, Salt Lake Tribune, 21 de fevereiro de 2001, pp. A1, A8; Bob Mims, “Rich Lode of Black History Opens”, Salt Lake Tribune, 27 de fevereiro de 2001, p. B1; Rose e Eichholz, Black Genesis, pp. 22–23, 39, 49; Blockson, Black Genealogy, pp. 2–5, 40–41, 44–45; Gray, “Tracing Ancestors”; Gray, entrevista de história oral, p. 227.

  8. Gray, entrevista de história oral, pp. 226–227, 287; Jason Swensen, “Freedman’s Bank”, Church News, 3 de março de 2001, p. 3.

  9. Gray, entrevista de história oral, pp. 226–227, 287–288; Allen, Embry e Mehr, Hearts Turned to the Fathers, pp. 272–273, 280–282, 312–317; Gray, Entrevista, outubro de 2022, p. 13; Nelson, Elijah Abel Freedman’s Bank Project, pp. 4–5; “Operating Statistics: Family History Department”, 14 de dezembro de 1990, pp. 19–20b, Departamento de História da Família e da Igreja, relatórios anuais, Biblioteca de História da Igreja; Jason Swensen, “Freedman’s Bank”, Church News, 3 de março de 2001, p. 3.

  10. Haney, entrevista de história oral, pp. 9–10, 12–13; Alice Johnson Haney, “Mission Interrupted by the ‘Freeze’”, Liahona, dezembro de 2015, páginas locais da Área África Oeste, pp. A4–A5.

  11. Kissi, Walking in the Sand, pp. 200–203, 207. Tópico: Gana.

  12. Haney, entrevista de história oral, pp. 8, 11–14; Alice Haney para Brenda Homer, e-mail, 22 de fevereiro de 2024, Alice Haney, entrevista de história oral, Biblioteca de História da Igreja; Alice Johnson Haney, “Mission Interrupted by the ‘Freeze’”, Liahona, dezembro de 2015, páginas locais da Área África Oeste, p. A4.

  13. Kissi, Walking in the Sand, pp. 204–232, 239; Bruce Olsen para Eric Otoo, 23 de junho de 1989, Primeira Presidência, correspondência missionária, 1964–2010, Biblioteca de História da Igreja; Stokes, entrevista de história oral, pp. 16–21; Haws, “The Freeze and the Thaw”, pp. 35–37. Tópico: Restrição ao sacerdócio e ao templo.

  14. Kissi, Walking in the Sand, pp. 200, 205; Bonnet, entrevista de história oral, 2017, pp. 2, 4–7; Robert Sackley, “Historical Report”, pp. 1–2, em Área África, relatórios históricos anuais, 1990; Bonnet, diário, 10 de dezembro de 1990; ver também Georges Bonnet para Richard Lindsay, memorando, 24 de novembro de 1990, Georges Bonnet, entrevista de história oral, 2023, Biblioteca de História da Igreja.

  15. Haney, entrevista de história oral, pp. 14–16; Directory of General Authorities and Officers, 1991, p. 44; James E. Faust para Primeira Presidência e Conselho dos Doze, memorando, 19 de dezembro de 1990, Gordon B. Hinckley, arquivos da área, Biblioteca de História da Igreja; Kissi, Walking in the Sand, pp. 238–239.

  16. Área África, relatórios históricos anuais, 1991, p. 4; Faust, diário, 20 de abril de 1991; Gunnell e Gunnell, entrevista de história oral, pp. 6, 14–15.

  17. Haney, entrevista de história oral, pp. 17–18; Alice Johnson Haney, “Mission Interrupted by the ‘Freeze’”, Liahona, dezembro de 2015, páginas locais da Área África Oeste, p. A5.

  18. Kissi, entrevista de história oral, pp. 34–35; Haws, “The Freeze and the Thaw”, p. 39; Gunnell e Gunnell, entrevista de história oral, p. 15; Haney, entrevista de história oral, pp. 17–18.

  19. Navarro, entrevista de história oral, agosto de 2022, pp. 8–10, 12; Navarro, entrevista de história oral, 10 de maio de 2022, p. 15; Navarro, entrevista de história oral, 20 de maio de 2022, p. 8; Navarro, entrevista por e-mail.

  20. Navarro, entrevista de história oral, janeiro de 2023, p. 2; Navarro, entrevista de história oral, agosto de 2022, pp. 10–12; Navarro, entrevista de história oral, 20 de maio de 2022, p. 7; Nunez, Entrevista de história oral, [00:01:54]–[00:04:03], [00:04:29]–[00:04:42], [00:16:20]–[00:16:54], [00:29:45]–[00:29:57]. Tópico: Sumo conselho.

  21. Navarro, entrevista de história oral, agosto de 2022, pp. 10, 12; Navarro, entrevista de história oral, 10 de maio de 2022, p. 14; Navarro, entrevista de história oral, 20 de maio de 2022, p. 8; Cook, entrevista de história oral, pp. 5–17, 27–35. Tópico: Peru.

  22. Hinckley, diário, 22 de abril de 1991; Gordon B. Hinckley, “Struggle for Peace”, 27 de janeiro de 1991, discursos de Gordon B. Hinckley, Biblioteca de História da Igreja; Deseret News 1991–1992 Church Almanac, p. 84; Departamento Missionário, relatórios anuais, 1991, pp. 7–8; ver também Chou e Chou, Voice of the Saints in Mongolia, pp. 1–27. Tópicos: Gordon B. Hinckley; Índia; Malásia; Singapura.

  23. Howard W. Hunter para Merlin Lybbert, 7 de novembro de 1990, Quórum dos Doze Apóstolos, cartas circulares, Biblioteca de História da Igreja; Woodger, “Hong Kong Temple”, pp. 57–58; Hook, “From Repossession to Retrocession”, pp. 1–29; Hinckley, diário, 22 de outubro de 1986; 11 de fevereiro de 1992; 6 de maio de 1992; 26 julho de 1992. Tópico: Hong Kong.

  24. Hinckley, diário, 22 de abril de 1991 e 6 de dezembro de 1994; Gordon B. Hinckley, em Templo de Hong Kong, Serviços de dedicação, pp. 8, 67; Nicholas D. Kristof, “Hong Kong Symbol Looks Away”, New York Times, 7 de janeiro de 1991, p. D1; Britsch, From the East, p. 295.

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  29. Jepson, diário, 23–24 e 29 de junho de 1991; Condie, Russell M. Nelson, p. 287; Nelson, “Lord Uses the Unlikely”; Dew, Insights from a Prophet’s Life, pp. 191, 194–196, 204.

  30. Browning, Russia and the Restored Gospel, pp. 38–39, 44, 87, 137–138; “Registration of Leningrad Branch Approved”, Church News, 29 de setembro de 1990, p. 3; Russell M. Nelson para Primeira Presidência e Quórum dos Doze, memorando, 2 de novembro de 1990, Russell M. Nelson, arquivos da área, Biblioteca de História da Igreja; Dew, Insights from a Prophet’s Life, pp. 181, 194–195.

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  32. “Announcement of Official Recognition of The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints in the Russian Soviet Socialist Republic”, 24 de junho de 1991, Coro do Tabernáculo Mórmon, arquivos cronológicos, Biblioteca de História da Igreja; Dew, Insights from a Prophet’s Life, pp. 180–181; “Certificate of Registration of the Charter of a Religious Association for The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints”, 28 de maio de 1991, em Liudmila S. Terebenina, “History of the Church in the USSR and in Russia”, p. 38.

  33. Dew, Insights from a Prophet’s Life, p. 181; Gerry Avant and Matthew Brown, “Church Is Recognized by Russian Republic”, Church News, 29 de junho de 1991, p. 3; Browning, entrevista de história oral, pp. 1–2; Browning, Russia and the Restored Gospel, p. 151.

  34. Joan Browning para a família, 30 de junho de 1991, Gary L. Browning Papers, Biblioteca de História da Igreja; Dew, Insights from a Prophet’s Life, pp. 197–198; Nelson e Oaks, entrevista de história oral, p. 8; Nelson, “Lord Uses the Unlikely”; Hinckley, diário, 30 de maio de 1991.