História da Igreja
Capítulo 38: Real e imensurável


Capítulo 38

Real e imensurável

Exterior do templo de San Salvador, El Salvador

Em fevereiro de 2011, Marco e Claudia Villavicencio ficaram surpresos ao receber um e-mail de Joshua Perkey, editor de revistas da Igreja em Salt Lake City. Um ano antes, Joshua visitou El Coca, Equador, como parte de um esforço editorial para aumentar a publicação de artigos que falassem mais sobre os santos de todo o mundo nas revistas. Por vários dias, Joshua visitou os Villavicencio e outros membros do ramo, participou de reuniões da Igreja e de aulas no seminário, e tirou fotografias da cidade e de seus moradores.

Na época da visita de Joshua, o ramo em El Coca tinha apenas um ano de existência. Mas havia crescido de 28 membros para 83. Marco atribuiu o crescimento aos esforços do ramo em ajudar todos a se sentirem valorizados e amados. “Procuramos colocar em prática o que o presidente Gordon B. Hinckley aconselhou, que cada recém-converso precisa ser nutrido pela boa palavra de Deus, ter um amigo e ter uma responsabilidade”, disse Villavicencio a Joshua. Claudia, que ainda servia como presidente das Moças do ramo, concordou e acrescentou: “Quando chegam à igreja pela primeira vez, as pessoas se impressionam com o modo como são recebidas. Por isso, ensinamos às moças o quanto cada alma é importante para o Senhor.”

Muitos dos membros compartilharam histórias e testemunhos sinceros com Joshua. Lourdes Chenche, presidente da Sociedade de Socorro, falou da alegria que ela e sua presidência experimentaram servindo as mulheres no ramo. “Nós as confortamos quando elas têm problemas”, disse ela. “Mostramos que não estão sozinhas, que temos a ajuda de Jesus Cristo e do ramo”.

No e-mail que Joshua enviou à família Villavicencio, ele explicou que estava criando um pequeno vídeo para as revistas da Igreja. O vídeo fazia parte de uma nova série on-line voltada para as crianças da Primária. Chamado “One in a Million”, apresentava crianças de todo o mundo contando histórias sobre a vida delas e seus testemunhos. Em um dos vídeos, um menino da Ucrânia contou como o presidente Thomas S. Monson o convidou para colocar um pouco de argamassa no alicerce do novo templo em Kiev. Em outro, uma menina da Jamaica falou sobre tentar ser um bom exemplo em sua escola.

Cada vídeo durava cerca de um minuto e meio, e Joshua queria saber se Marco e Claudia permitiriam que Sair, seu filho de seis anos, fosse apresentado em um vídeo. Foi difícil para Sair ficar longe de seus parentes e do convívio com a Primária. Porém, no último ano, com a chegada de mais crianças à igreja, ele pôde frequentar a Primária novamente. Claudia achou que o vídeo seria uma boa oportunidade para ajudar o menino a se lembrar da identidade divina que ele tinha.

Então, Joshua enviou algumas perguntas para Sair sobre hobbies, comidas e hinos da Igreja favoritos, e Claudia e Marco se prontificaram em ajudar na formulação das respostas. Sair estava ansioso para fazer a gravação com Claudia e ela, por sua vez, estava aproveitando o tempo que passavam juntos.

Eles enviaram o áudio para Joshua e montaram o vídeo com algumas fotos que ele havia tirado durante sua visita a El Coca. Sem perder tempo, pouco depois da publicação do vídeo, a família Villavicencio se sentou em frente ao computador que ficava na sala de estar para assisti-lo. Sair estava muito animado para ver como ficou.

O vídeo começou com uma foto da família. Sair, com a sua voz baixinha, disse em espanhol: “Meu nome é Sair e sou do Equador”. Imagens de El Coca apareceram na tela, e Sair descrevia os pássaros e animais coloridos da cidade, bem como sua comida e esportes favoritos. Ele também falou da mudança para El Coca e de como era antes de o ramo ser criado. “Não havia igreja para nós irmos”, disse ele. “Logo, outras famílias se mudaram para cá e mais pessoas foram batizadas.

Todos nós somos missionários!”, prosseguiu. “Agora tenho muitos amigos na Primária. Cantamos hinos sobre Jesus e o Pai Celestial, como qualquer criança do mundo. Eu gosto de cantar ‘Sou um filho de Deus’.”

Enquanto Claudia estava sentada com o filho, ela mal podia acreditar que as pessoas de todos os lugares agora poderiam ver o quão feliz a sua família era por causa do evangelho. O vídeo a lembrou de que Deus cuidava de lugares como El Coca e que trabalhava por meio de pessoas como ela, Marco, Sair e outros santos do ramo.

Ela esperava que o vídeo mostrasse a Sair que ele fazia parte de uma organização grande e importante como a Primária e que, mesmo sendo ainda uma criança, ele poderia servir ao Senhor.


No final de fevereiro de 2011, Emma Hernandez entregou pessoalmente um convite de formatura ao seu pai. Seis anos antes, ele tinha se declarado contra o casamento dela com Hector David, porque pensava que iria atrapalhar os estudos da filha. Mas, com o suporte financeiro do Fundo Perpétuo da Educação, Emma se formou em marketing em uma prestigiada universidade hondurenha.

Seu pai estava feliz por ela, e ela estava orgulhosa dele. Há muito tempo, ele havia mudado de ideia em relação ao casamento. Antes do casamento, Emma havia orado para que o coração de seu pai se abrandasse. E sua mãe o ajudou a ver que Hector David era um bom pretendente para a filha. Mais recentemente, graças aos esforços de ministração de um presidente diligente do quórum de élderes combinados com um forte desejo de se achegar a Cristo e fazer convênios com Ele, seu pai voltou para a Igreja após muitos anos afastado.

Emma se alegrou com o retorno de seu pai à Igreja. Mãe e filha oraram durante anos para que o coração dele mudasse para que um dia a família pudesse ir à casa do Senhor juntos. A resposta às orações chegou na manhã de 1º de abril de 2010, quando Emma e grande parte de sua família foram ao Templo da Cidade da Guatemala para serem selados uns aos outros para toda a eternidade. O céu estava limpo, e as flores recém-plantadas adornavam o jardim do templo quando ela entrou na casa do Senhor com o pai, a mãe e a irmã.

Emma sentiu o Espírito quando entrou na sala de selamento e viu seus pais de joelhos no altar. A paz e o amor tomaram conta deles enquanto davam as mãos e olhavam nos olhos uns dos outros. Após a cerimônia, na sala celestial, eles se abraçaram e derramaram lágrimas de felicidade. O pai de Emma era um homem introvertido, mas em seu abraço, ela conseguiu sentir o quanto ele estava emocionado.

Um ano após o selamento, ela e Hector alcançaram seus objetivos educacionais ao mesmo tempo em que constituíam família, sem deixar de servir na Igreja. Emma descobriu sua paixão pelo marketing e agora tinha o conhecimento e as ferramentas para se capacitar na profissão. Com o diploma de Hector em finanças, ambos conseguiram uma renda considerável para cuidar da família. O mais importante foi o amadurecimento de Emma durante seus estudos, aprendendo a superar os desafios e a confiar no Senhor.

No começo, ela ficou preocupada com o curso. Houve um tempo em que não achava que a família conseguiria arcar com os estudos dela até se formar. Mas o Fundo Perpétuo da Educação acabou com essa preocupação, e o apoio de sua família a fortaleceu e a manteve motivada para seguir em frente com seus sonhos. Sua gratidão ao Senhor cresceu e ela e Hector viram o serviço deles na Igreja como uma oportunidade de agradecer e mostrar amor ao Salvador. Emma estava ansiosa para usar seus conhecimentos adquiridos para pagar o empréstimo do FPE. Ela acreditava ser capaz de obter conquistas ainda maiores no futuro.

Em 4 de março de 2011, no dia da formatura de Emma, sua família se reuniu novamente, dessa vez na universidade para a cerimônia de formatura. Ela havia chegado mais cedo para ensaiar a cerimônia com seus colegas graduados, todos trajados de beca preta e capelo combinando. Emma se emocionou ao ver seus familiares chegando na cerimônia, principalmente seus pais, Hector David e Oscar David.

Enquanto caminhava pela fileira de autoridades da universidade, Emma expressava gratidão ao Senhor por Suas bênçãos, cumprimentando cada uma delas até finalmente receber seu diploma. Seu pai foi o primeiro a abraçá-la quando a cerimônia terminou. “Parabéns, filha”, disse ele, com a sensação de dever cumprido. Emma ficou feliz em vê-lo tão aliviado.

Ela então abraçou e beijou Hector, agradecida pelo apoio recebido ao longo dos estudos.

“Obrigada”, disse ela enquanto se abraçavam. “Eu não teria conseguido sem você.”


Na manhã de 2 de abril de 2011, o presidente Thomas S. Monson se colocou junto ao púlpito do centro de conferências e olhou para os milhares de santos reunidos para a conferência geral anual da Igreja. “Quando este edifício foi planejado, pensamos que nunca ficaria cheio”, comentou ele, sorrindo. “Mas olhem para ele agora.”

A conferência marcava seu terceiro ano como presidente da Igreja, um chamado que o manteve mais ocupado do que a maioria das pessoas poderia imaginar. Ele estava profundamente grato aos santos de todo o mundo, que agora somavam mais de 14 milhões. “Agradeço sua fé e devoção ao evangelho, o amor e o carinho que demonstram uns pelos outros e pelo serviço que vocês prestam em suas alas, ramos, estacas e distritos”, disse ele.

Foi um momento especial para os santos dos últimos dias. Meio século antes, o presidente David O. McKay se regozijou com a boa reputação da Igreja, principalmente nos Estados Unidos. Mesmo assim, a Igreja era relativamente desconhecida para a maioria das pessoas. Esse não era mais o caso. Décadas de trabalho missionário amplamente difundido, iniciativas de relações públicas bem-sucedidas, projetos de ajuda humanitária em grande e pequena escala, e os simples gestos diários dos santos tornaram a Igreja conhecida em muitas partes do mundo.

Recentemente, a Igreja também havia chamado significativa atenção da mídia. A cobertura da Igreja durante os Jogos Olímpicos de Inverno de 2002 acabou sendo um prelúdio para um aumento repentino de publicidade que veio quando Mitt Romney, chefe do Comitê Organizador Olímpico de 2002 e proeminente político membro da Igreja, anunciou que estava concorrendo à presidência dos Estados Unidos. Embora ele não tenha conseguido a indicação de seu partido político em 2008, muitas pessoas esperavam que ele concorresse novamente em 2012.

E o interesse público pela Igreja permaneceu em alta. Os santos dos últimos dias ganharam destaque no noticiário como legisladores e líderes empresariais. Alguns participaram de reality shows ou se destacaram profissionalmente nos esportes. Outros ganharam fama como estrelas do rock ou como músicos de concerto. Além disso, alguns escreveram best-sellers, sendo que alguns foram adaptados para filmes de grande sucesso.

O crescente interesse pela Igreja e seus membros não significava que todos estavam entusiasmados para abraçar o evangelho restaurado. Muitas pessoas interpretaram errado a Igreja ou discordaram de seus ensinamentos. De fato, o presidente Monson e outros líderes temiam o afastamento dos valores cristãos de longa data e dos ensinamentos e práticas da Igreja. A maior evidência dessa tendência poderia ser constatada nas crenças sobre o casamento.

Nos últimos anos, defensores das pessoas homossexuais, bissexuais, transgêneros e queer (LGBTQ) fizeram pressão pelo direito ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. A Igreja e outras organizações religiosas haviam se oposto a essas medidas, afirmando que o casamento entre um homem e uma mulher era ordenado por Deus.

O exemplo mais importante ocorreu em novembro de 2008, quando os residentes da Califórnia tiveram a chance de votar em uma emenda constitucional estadual que definiria legalmente o casamento sendo exclusivamente entre um homem e uma mulher. A Igreja uniu forças com outros grupos religiosos para angariar fundos em apoio à emenda. Os líderes da Igreja em Salt Lake City também incentivaram os membros da Califórnia a apoiar e promover ativamente a proposta.

Embora ela tenha sido aprovada por uma pequena margem, a Igreja recebeu críticas significativas por sua influência na votação, resultando em protestos nas proximidades dos templos.

O presidente Monson e outros líderes da Igreja permaneceram firmes na defesa da doutrina do casamento e dos padrões da Igreja. Eles falaram da liberdade religiosa e da liberdade de ensinar e definir o casamento como uma união sagrada entre um homem e uma mulher. Eles também procuraram construir pontes com outras denominações, como a Igreja Católica Romana, que acreditavam na mesma definição.

Cada vez mais, eles se esforçavam para estabelecer um diálogo com a comunidade LGBTQ. À medida que os debates sobre o casamento e os direitos dos homossexuais continuavam, os líderes da Igreja incentivavam os membros a ser amorosos e respeitosos quando surgissem divergências e a condenar o bullying à comunidade LGBTQ. Em novembro de 2009, a Igreja se uniu aos legisladores de Salt Lake City no apoio aos direitos de moradia justa para todos, sem levar em consideração a orientação sexual. Os líderes da Igreja também procuraram fornecer melhores recursos e promover maior empatia pelos membros LGBTQ da Igreja, que muitas vezes se sentiam perdidos em meio ao debate. Entre os recursos, estava em desenvolvimento um novo site da Igreja com artigos e vídeos de membros e seus familiares compartilhando experiências e testemunhos.

Um dos vídeos contava a história de Suzanne Bowser, uma irmã que lutou por anos para lidar com sua atração por mulheres. Ela continuava frequentando a igreja, mas às vezes sentia o seu coração dividido. Com o passar do tempo e com o apoio de amigos e familiares que compartilharam de sua luta, ela conseguiu chegar a um entendimento que lhe trouxe paz. “Isso faz parte de mim, continuará fazendo e tudo bem. Eu ainda posso ser feliz. Eu ainda posso ter o Salvador na minha vida”, ponderou ela. O amor Dele preencheu o vazio que às vezes ela sentia.

Suzanne também encontrou apoio nos líderes da Igreja dispostos a ouvi-la, o que foi fundamental para ela. “Eu tive líderes do sacerdócio que realmente se importavam com o que eu dizia”, recordou ela.

Quando o presidente Monson encerrou a conferência geral em abril de 2011, exortou os santos a deixar sua luz brilhar, conforme os ensinamentos do Salvador. “Que sejamos bons cidadãos das nações em que vivemos e bons vizinhos em nossa comunidade, estendendo a mão para pessoas de outras religiões, bem como para nossos próprios membros”, disse ele. “Que sejamos exemplos de honestidade e integridade, onde quer que estejamos e em tudo o que fizermos.”

Ele e outros líderes da Igreja entendiam e enfatizavam a importância de sermos discípulos de Cristo tanto em palavras como em ações. Pelo menos, a recente atenção da mídia mostrou que, embora muitas pessoas tivessem ouvido falar da Igreja, as percepções sobre a religião e sua mensagem central variavam muito. Para muitas pessoas, a Igreja ainda era um mistério.

Os líderes da Igreja sabiam que isso deveria mudar. Nunca deveria haver dúvidas de que os santos dos últimos dias eram seguidores de Jesus Cristo.


No dia 17 de agosto de 2011, Silvia e Jeff Allred viajaram para San Salvador, a cidade onde Silvia nasceu e cresceu, em El Salvador. O motivo da viagem foi a dedicação de uma casa do Senhor que ocorreria nos próximos dias. O templo havia sido anunciado pouco depois de seu chamado para a presidência geral da Sociedade de Socorro, porém, devido às suas novas responsabilidades, ela não conseguiria estar presente na cerimônia de abertura de terra. Mas dessa vez, a convite da Primeira Presidência, ela pôde fazer as malas para participar de sua dedicação. Ela e Jeff estavam emocionados.

Silvia estava servindo na presidência geral da Sociedade de Socorro há quatro anos. Durante essa época, os esforços da organização estavam voltados para tratar de assuntos sobre fé, família e auxílio aos necessitados. A presidência viajou muito, usando o Manual de Instruções da Igreja revisado para treinar as líderes locais da Sociedade de Socorro no recebimento de revelações, no trabalho nos conselhos da Igreja, na ministração aos necessitados e no cumprimento de tantas outras responsabilidades. A própria Silvia visitou as irmãs da Sociedade de Socorro em vinte países em cinco continentes.

A presidência também trabalhou com os membros do conselho para criar vídeos que fornecessem treinamento imediato para as novas líderes em todo o mundo. Esses vídeos podiam ser acessados na página da Sociedade de Socorro na internet e foram incluídos na Biblioteca de Treinamento de Liderança, uma nova coleção de recursos de instrução on-line encontrada no site da Igreja.

O fortalecimento das professoras visitantes foi outro foco importante no trabalho da organização. Durante anos, as revistas da Igreja publicaram lições simples para as professoras visitantes. Depois, as lições foram publicadas juntamente com dicas e recursos adicionais para aprimorar o ensino das irmãs. Sob a supervisão de Silvia, os membros do conselho também buscaram maneiras de apoiar a transição das Moças para a Sociedade de Socorro. Em suas viagens, Silvia procurava conversar com as líderes da Sociedade de Socorro e das Moças sobre diminuir a distância entre as duas organizações, incentivando-as a interagir mais. Ela também incentivou as irmãs da Sociedade de Socorro a se aproximarem das irmãs recém-batizadas e buscar maneiras de orientar as moças.

Inspirada pela história que havia recebido do presidente Boyd K. Packer e, na tarefa da Primeira Presidência, a Sociedade de Socorro estava se preparando para publicar um livro, Filhas em Meu Reino: A História e o Trabalho da Sociedade de Socorro. O livro foi totalmente ilustrado e escrito em um estilo simples para alcançar todos os tipos de leitores. Também seria traduzido para 23 idiomas e distribuído às mulheres da Igreja. A presidência esperava que a obra ajudasse as irmãs a aprender com o passado, a compreender melhor sua herança espiritual como discípulas de Cristo e a abraçar a missão divinamente designada da Sociedade de Socorro.

Na véspera da dedicação do Templo de San Salvador, Silvia e Jeff visitaram o prédio e ficaram impressionados com a riqueza de detalhes ornamentados — a madeira cuidadosamente esculpida e os acessórios decorativos de vidro e metal gravados com a flor de yucca, símbolo nacional de El Salvador. Perto da entrada, atrás do balcão da recepção, Silvia viu uma pintura original do Salvador. Ele abraçava duas crianças, que pareciam ser da América Central e ter entre oito e nove anos de idade. O fundo da pintura era exuberante e verde, como a vegetação em todo El Salvador. Comovida com o amor do Salvador por todos os Seus filhos, Silvia chorou.

Na dedicação do dia seguinte, Silvia não conseguia parar de pensar no passado. Ela tinha sido uma das primeiras pessoas a ser batizada na Igreja em El Salvador e, embora suas viagens a tivessem levado ao redor do mundo, era maravilhoso ver a Igreja florescer em sua terra natal.

Sentada na sala celestial, ela olhou em volta para os membros locais que ocupavam todos os assentos. Muitos deles eram mais velhos e, como ela, foram batizados quando a Igreja era nova em El Salvador. Eles permaneceram fiéis aos seus convênios, muitas vezes em meio à pobreza e adversidade. Alguns deles seriam oficiantes de ordenanças quando o templo abrisse as portas. Ela sabia que eles haviam orado por esse templo por muitos anos.

Quando Silvia se filiou à Igreja, ainda adolescente, em 1959, o templo mais próximo ficava em Mesa, Arizona — a quatro dias de viagem. Agora havia cem mil membros em El Salvador. A Igreja prosperou ali de uma forma que Silvia não poderia ter imaginado quando era mais nova.

Quando foi sua vez de falar, Silvia se levantou. Embora falasse inglês fluentemente, o espanhol continuou sendo o idioma em que ela pensava, orava e buscava o Espírito Santo. Especialmente nesta dedicação, ela faria o discurso em sua língua materna, o que tornava muito mais fácil transmitir seus sentimentos mais profundos. Ela não estava apenas falando com as pessoas na casa do Senhor, mas também para milhares de santos no distrito do templo que assistiam à transmissão da dedicação em suas capelas.

“Hoje, o meu coração está transbordando de alegria e gratidão”, disse ela. “Testifico a vocês que as bênçãos que nos são prometidas no templo são reais e imensuráveis. O templo é a casa do Senhor. Ele mesmo o santificou. Seus olhos e Seu coração estarão aqui perpetuamente.”


Seis semanas depois, em 2 de outubro de 2011, um gerador movido a gasolina começou a funcionar na capela de Luputa na República Democrática do Congo. Dentro da capela, cerca de 200 santos, incluindo Willy e Lilly Binene, procuravam um bom lugar em frente à televisão. Dentro de instantes, naquela noite de domingo, a transmissão da 181ª Conferência Geral Semestral da Igreja começaria e seria traduzida para o francês, um dos 51 idiomas disponíveis para os santos do mundo todo. Era a primeira conferência geral que os membros da Igreja em Luputa desfrutariam como membros de uma estaca de Sião.

A organização da Estaca Luputa, três meses antes, não foi surpresa para aqueles que estavam familiarizados com o rápido crescimento da Igreja na cidade. Em 2008, no mesmo ano em que a família Binene foi selada no templo, mais de 1.200 santos dos últimos dias moravam em Luputa. Naquela época, não havia missionários de tempo integral servindo ali. No entanto, nos três anos seguintes, Willy e outros líderes da Igreja trabalharam com missionários do ramo fiéis para mais do que dobrar o número de santos em seu distrito. Esse esforço foi, sem dúvida, impulsionado pelo papel da Igreja em proporcionar acesso à água potável na cidade. O distrito havia enviado 34 missionários de tempo integral para servir em diferentes regiões da República Democrática do Congo, da África e do mundo.

Ainda assim, Willy ficou surpreso quando o élder Paul E. Koelliker e o élder Alfred Kyungu, dos setenta, chamaram-no para ser presidente da nova estaca. A Igreja em Luputa tinha vários líderes do sacerdócio experientes, que poderiam servir como presidente da estaca. Não seria a vez de outra pessoa liderar?

No dia 26 de junho, o dia em que a estaca foi organizada, Willy auxiliou os élderes Koelliker e Kyungu na distribuição de chamados de missão de tempo integral para 15 jovens, tanto homens quanto mulheres da estaca. Ao término, Willy sorriu enquanto posava para uma foto com o grupo. Duas décadas antes, conflitos étnicos e derramamento de sangue o forçaram a sair de casa, privando-o da oportunidade de servir o Senhor em missão de tempo integral. Ainda assim, seus anos de dedicação servindo à Igreja em Luputa contribuíram para oferecer à nova geração de santos oportunidades que ele mesmo não teve.

Quando a transmissão da conferência começou, Willy se acomodou para ouvir os discursantes. Normalmente, o presidente Monson era o primeiro orador na sessão de abertura da conferência, mas um problema de saúde atrasou sua chegada ao Centro de Conferências. Mas após o hino intermediário, ele então se aproximou do púlpito e deu as boas-vindas aos santos à conferência com um caloroso “olá”.

“Quando estamos atarefados, o tempo parece passar rápido demais, e os últimos seis meses não foram exceção para mim.”

O presidente Monson falou sobre a dedicação do templo em El Salvador, bem como da rededicação do templo em Atlanta, no sul dos Estados Unidos. “A construção de templos continua ininterrupta, irmãos e irmãs”, prosseguiu ele. “Tenho hoje o privilégio de anunciar vários outros novos templos.”

Willy ouvia atentamente. Naqueles dias, os templos estavam na mente dos líderes da Igreja em Luputa. De fato, na primeira conferência de estaca na cidade, muitos dos discursos haviam se concentrado na preparação dos santos para frequentar a casa do Senhor. Além da família Binene, apenas alguns santos em Luputa conseguiram ir ao Templo de Joanesburgo. Embora os passaportes fossem relativamente fáceis de obter na República Democrática do Congo, os vistos de viagem para a África do Sul não eram nada fáceis. A longa espera para obtenção de vistos deixava muitos santos na República Democrática do Congo preocupados com a possibilidade de seus passaportes expirarem antes que pudessem obter um visto para visitar o templo.

O primeiro templo que o presidente Monson anunciou foi o segundo templo da cidade de Provo, Utah. Há pouco tempo, o tabernáculo histórico da cidade havia sido consumido por um incêndio acidental, restando apenas as paredes externas. Neste momento, a Igreja está planejando reconstruí-lo e transformá-lo em uma casa do Senhor.

“Tenho também o prazer de anunciar novos templos nas seguintes localidades”, continuou o presidente Monson. “Barranquilla, Colômbia; Durban, África do Sul; Kinshasa, na República Democrática do Congo; e…”

Assim que ouviram “Kinshasa”, Willy e todos ao seu redor ficaram em pé e aplaudiram. A notícia pegou todos de surpresa. Logo, os santos congoleses não teriam que se preocupar com vistos ou expiração de passaportes. O simples anúncio do profeta mudava tudo.

Não havia rumores, nem sinais de que a Igreja tinha planos de construir um templo na República Democrática do Congo. Havia apenas a esperança de que, um dia, o Senhor estabelecesse Sua casa no país.

Agora está se tornando realidade! Estava finalmente acontecendo!

  1. Perkey, Entrevista de história oral, [00:00:54]–[00:06:48], [00:13:07]–[00:13:55]; Villavicencio e Villavicencio, Entrevista por e-mail, julho de 2023; E-mail de Joshua Perkey para Marco Villavicencio, 7 de fevereiro de 2011; Marco Villavicencio e Claudia Villavicencio, Entrevista de história oral, Biblioteca de História da Igreja; Villavicencio e Villavicencio, Entrevista de história oral, maio de 2023, pp. 21–28. Tópicos: Periódicos da Igreja; Globalização; Equador

  2. Joshua J. Perkey, “Fome da palavra no Equador”, A Liahona, fevereiro de 2012, p. 28; Villavicencio, Entrevista de história oral, p. 17.

  3. E-mail de Joshua Perkey para Marco Villavicencio, 7 de fevereiro de 2011, Marco Villavicencio e Claudia Villavicencio, Entrevista de história oral, Biblioteca de História da Igreja; Perkey, Entrevista de história oral, [00:07:10]–[00:07:50]; R. Scott Lloyd, “‘One in a Million’ Feature Spotlights Primary Children”, Church News, 12 de fevereiro de 2011, p. 14; “Danil” e “Giordayne”, One in a Million, ChurchofJesusChrist.org/media/video; Villavicencio e Villavicencio, Entrevista por e-mail, julho de 2023; Villavicencio e Villavicencio, Entrevista de história oral, maio de 2023, pp. 2, 8, 21–28.

  4. Villavicencio e Villavicencio, Entrevista por e-mail, julho de 2023; “Sair”, One in a Million, ChurchofJesusChrist.org/media/video. Tópico: Primária

  5. Hernandez e Hernandez, Entrevista de história oral, 2023, pp. 21–29, 34–41; Hernandez e Hernandez, Entrevista de história oral, 2022, pp. 5, 7–11, 15, 23–25, 33, 37–38; E-mails de Emma Hernandez para James Perry, 11 de outubro de 2023; 14 de março de 2024, Emma Acosta Hernandez e Hector David Hernandez, Entrevista de história oral, Biblioteca de História da Igreja.

  6. Hernandez e Hernandez, Entrevista de história oral, 2023, pp. 35, 39–41. Tópico: Selamento

  7. Hernandez e Hernandez, Entrevista de história oral, 2023, pp. 25, 27, 29, 32–33; Hernandez e Hernandez, Entrevista de história oral, 2022, pp. 5, 11, 17, 19, 24–26, 30–31, 33, 36; E-mails de Emma Hernandez para James Perry, 12 de setembro de 2023; 11 de outubro de 2023; 12 de março de 2024, Emma Acosta Hernandez e Hector David Hernandez, Entrevista de história oral, Biblioteca de História da Igreja.

  8. Hernandez e Hernandez, Entrevista de história oral, 2023, pp. 25–27, 29–33; Família Hernandez na formatura de Emma Hernandez, 4 de março de 2011, fotografia; E-mail de Emma Hernandez para James Perry, 12 de setembro de 2023, Emma Acosta Hernandez e Hector David Hernandez, Entrevista de história oral, Biblioteca de História da Igreja.

  9. Thomas S. Monson, “Estamos novamente em conferência”, e Brook P. Hales, “Relatório Estatístico de 2010”, A Liahona, maio de 2011, pp. 4, 6, 29; Diário de Monson, 31 de janeiro de 2011; 1º de fevereiro de 2011; 2 e 16 de março de 2011.

  10. Haws, Mormon Image in the American Mind, pp. 172–175, 195–199, 207–238; Shipps, Sojourner, pp. 98–123; Walter Kirn, “The Mormon Moment”, Newsweek, 5 de junho de 2011, newsweek.com. Tópico: Relações públicas

  11. Haws, Mormon Image in the American Mind, pp. 237–238; Thomas S. Monson, “O poder do sacerdócio”, A Liahona, maio de 2011, p. 66; Diário de Monson, 16 de fevereiro de 1999; 30 de março de 1999; 8 de outubro de 1999; 31 de maio de 2006.

  12. NeJaime, “Before Marriage”, pp. 87–172; Russell M. Nelson, “Elder Russell M. Nelson: The Family: The Hope for the Future of Nations”, Church News, 12 de agosto de 2009, thechurchnews.com; Da Primeira Presidência às autoridades gerais e interessados, 20 de junho de 2008, disponível em “California and Same-Sex Marriage”, Newsroom, 30 de junho de 2008; “Church Readies Members on Proposition 8”, Newsroom, 8 de outubro de 2008, newsroom.ChurchofJesusChrist.org; Young, “Mormons and Same-Sex Marriage”, pp. 159–160.

  13. Young, “Mormons and Same-Sex Marriage”, pp. 161–162; “Catholic Bishop Decries Religious Bigotry against Mormons”, Newsroom, 7 de novembro de 2008, newsroom.ChurchofJesusChrist.org.

  14. Young, “Mormons and Same-Sex Marriage”, pp. 164–166; “Church Issues Statement on Proposition 8 Protest”, Newsroom, 7 de novembro de 2008, newsroom.ChurchofJesusChrist.org; Scott Taylor, “Mormon Church Supports Salt Lake City’s Protections for Gay Rights”, Deseret News, 10 de novembro de 2009, deseret.com; “Church Responds to HRC Petition: Statement on Same-Sex Attraction”, Newsroom, 12 de outubro de 2010, newsroom.ChurchofJesusChrist.org.

  15. Deus Ama Seus Filhos, p. 1; “New Pamphlet: ‘God Loveth His Children’”, Church News, 4 de agosto de 2007, p. 5; Doug Andersen et al. para Michael Otterson, 25 de janeiro de 2010; “Gays and Mormons”, 22 de fevereiro de 2010; Doug Andersen para Michael Otterson, 10 de março de 2010; Paul Pieper para Michael Otterson, 12 de abril de 2011; “Mormon Issues: Sexual Orientation and Identity”, maquete web, 8 de março de 2012; Dallin H. Oaks, “Helping Leaders, Families, and Individuals Deal with Same-Gender Attraction”, 30 de março de 2012, Departamento de Relações Públicas, arquivos de Michael Otterson, Biblioteca de História da Igreja.

  16. “Disciples of Christ Love All People”, “True to Beliefs” e “I Never Stopped Going to Church”, transcrições de vídeo, Love One Another: A Discussion on Same-Sex Attraction, Mormons and Gays (website), mormonsandgays.org, acesso em 14 de setembro de 2016, às 21h20min, arquivado em Wayback Machine, web.archive.org.

  17. Thomas S. Monson, “Ao despedir-nos”, A Liahona, maio de 2011, p. 114.

  18. “Directors’ Council Discussion on Branding”, 8 de maio de 2009, Departamento de Relações Públicas, Arquivos de Michael Otterson, Biblioteca de História da Igreja; “Driving Core Messages for the Church”, 12 de janeiro de 2010, de Michael Otterson para o Quórum dos Doze, Memorando, 13 de janeiro de 2010; Mensagem de apresentação da Igreja, julho de 2010, Departamento de Relações Públicas, Arquivos de Michael Otterson, Biblioteca de História da Igreja.

  19. Diário de Allred, 17 de agosto de 2011; Chris Morales, “New Temple for El Salvador”, Church News, 24 de novembro de 2007, p. 3; Allred e Allred, Entrevista de história oral, p. 7; Allred, Entrevista de história oral, junho de 2021, p. 10; Da Primeira Presidência para Silvia Allred, 24 de fevereiro de 2011, Sociedade de Socorro, Arquivos de Silvia Allred, Biblioteca de História da Igreja.

  20. Beck, Resumo executivo da presidência da Sociedade de Socorro, pp. 6–10, 18–20, 29–32; Conselho Executivo do Sacerdócio, Atas e Registros, 9 de fevereiro de 2011; Do Conselho Executivo do Sacerdócio à Primeira Presidência, Memorando, 9 de março de 2011, Conselho Executivo do Sacerdócio, Atas e Registros, Biblioteca de História da Igreja; Do Executivo do Sacerdócio às autoridades gerais e interessados, 5 de outubro de 2011, Departamento de História, Carta circular, Biblioteca de História da Igreja.

  21. Beck, Resumo executivo da presidência da Sociedade de Socorro, pp. 45–48; Allred, Entrevista de história oral, 2023, pp. 13–15.

  22. “Relief Society History Book Proposal”, 19 de maio de 2009, Sociedade de Socorro, Atas de reunião da presidência geral, Biblioteca de História da Igreja; Atas do Conselho Executivo do Sacerdócio, 20 de maio de 2009; Atas e Registros do Conselho Executivo do Sacerdócio, 12 de janeiro de 2011; 22 de março de 2011; 6 de abril de 2011; Beck, Resumo executivo da presidência da Sociedade de Socorro, pp. 41–44, 49–54; Sarah Jane Weaver, “Witness of Divine Roles”, Church News, 10 de setembro de 2011, p. 3; Filhas em Meu Reino, pp. xi–xiv. Tópico: Sociedade de Socorro

  23. Allred, Entrevista de história oral, março de 2012, pp. 41–42; Allred, Entrevista de história oral, junho de 2021, pp. 10–12; Allred, Entrevista de história oral, 2023, pp. 17–18. Tópico: El Salvador

  24. Silvia Allred, Discurso de dedicação do templo em San Salvador, El Salvador, 21 de agosto de 2011, pp. 1–2, Sociedade de Socorro, Atas de reunião da presidência geral, Biblioteca de História da Igreja; Allred, Entrevista de história oral, junho de 2021, pp. 10–13; Allred, Entrevista de história oral, 2023, p. 18; Jason Swensen, “El Salvador Temple: A Symbol of Peace and Hope”, Church News, 27 de agosto de 2011, p. 6.

  25. Allred, Entrevista de história oral, junho de 2021, p. 13; Da Primeira Presidência às autoridades gerais e interessados, 28 de janeiro de 2011, Primeira Presidência, Carta circular, Biblioteca de História da Igreja; Silvia Allred, Discurso de dedicação do templo em San Salvador, El Salvador, 21 de agosto de 2011, pp. 1, 4, Sociedade de Socorro, Atas de reunião da presidência geral, Biblioteca de História da Igreja. Tópico: Dedicação e oração dedicatória de templos

  26. Willy Binene, Entrevista de história oral, dezembro de 2023; Binene e Binene, Entrevista de história oral, junho de 2023; Da Primeira Presidência às autoridades gerais e interessados, 18 de agosto de 2011, Primeira Presidência, Carta circular, Biblioteca de História da Igreja.

  27. “Growth of Church in Remote Central Africa Is Remarkable”, Church News, 23 de julho de 2011, p. 10; “Membership by Branch in the Luputa Democratic Republic of the Congo District for Years 2006–2012”, Cópia de editores; Willy Binene, Entrevista de história oral, dezembro de 2023; Willy Binene e líderes da Igreja com missionários recém-chamados, 26 de junho de 2011, fotografia, foto da estaca de Luputa na República Democrática do Congo, Biblioteca de História da Igreja.

  28. Diário de Monson, 30 de setembro e 1º de outubro de 2011; Thomas S. Monson, “Ao reunir-nos novamente”, A Liahona, novembro de 2011, p. 4; “Growth of Church in Remote Central Africa Is Remarkable”, Church News, 23 de julho de 2011, p. 10; Binene e Binene, Entrevista de história oral, junho de 2023.

  29. Thomas S. Monson, “Ao reunir-nos novamente”, A Liahona, novembro de 2011, p. 5; Cowan e Bray, Provo’s Two Temples, pp. 148–171, 176–179, 185. Cópia de um retrato da Segunda Vinda de Cristo que resistiu ao incêndio. (Ryan Morgenegg, “Fire Devastates Historic Provo Tabernacle”, Church News, 25 de dezembro de 2010, p. 2.)

  30. Thomas S. Monson, “Ao reunir-nos novamente”, A Liahona, novembro de 2011, p. 5; Binene e Binene, Entrevista de história oral, junho de 2023. Tópico: República Democrática do Congo; Construção do Templo