História da Igreja
Capítulo 28: O caminho do Senhor


Capítulo 28

O caminho do Senhor

dois presidiários trabalhando em computadores

“Ele se foi.”

Ao telefone, o presidente Gordon B. Hinckley estava perplexo quando disse essas palavras. Do outro lado da linha, estava sua esposa, Marjorie. Ele podia ouvi-la chorando. Eles tinham orado para que esse dia nunca chegasse.

Era 3 de março de 1995. Mais cedo, naquela manhã, o presidente Hinckley ficara sabendo que o presidente Howard W. Hunter havia falecido em casa. O presidente Hunter estava recebendo tratamento para câncer e sua saúde estava se deteriorando rapidamente. Mas o presidente Hinckley ainda estava chocado com a notícia. Ele e o presidente Thomas S. Monson foram imediatamente ao apartamento do profeta e consolaram a irmã Inis Hunter. Em seguida, foram para outro cômodo e começaram a fazer todas as ligações necessárias.

Ao terminar a ligação com Marjorie, o presidente Hinckley se sentiu profundamente triste. Ele havia servido ao Senhor ao lado do presidente Hunter por mais de 30 anos, e agora ele havia perdido seu bom, gentil e sábio amigo. A morte do profeta fez do presidente Hinckley o apóstolo sênior, o que significava que a liderança da Igreja recaía sobre seus ombros. Ele se sentiu inesperadamente solitário.

“Só me resta orar e pedir ajuda”, pensou ele.

Cinco dias depois, o presidente Hinckley presidiu o funeral do presidente Hunter no Tabernáculo de Salt Lake. “Para o presidente Hunter, sua vida mortal era mais uma missão do que uma carreira”, disse ele aos presentes em luto. “Ele foi uma voz marcante e poderosa que proclamou os ensinamentos do evangelho de Jesus Cristo e levou adiante a obra da Igreja.”

Apesar de a presidência de nove meses do presidente Hunter ter sido a mais curta da Igreja, ele realizou muitas coisas enquanto servia. A Primeira Presidência enviou assistência humanitária às vítimas da escassez de alimentos em Laos no sudeste asiático; da guerra civil em Ruanda, no leste da África; e das enchentes e dos incêndios no sul dos Estados Unidos. Apesar de sua saúde precária tornar difícil viajar, ele dedicou templos em duas cidades nos Estados Unidos: Orlando, na Flórida; e Bountiful, em Utah. Em 11 de dezembro de 1994, ele viajou à Cidade do México para organizar a estaca de número 2 mil da Igreja.

No entanto, um de seus maiores legados como apóstolo foi seu amor por todas as pessoas, a despeito da religião. Ele tinha uma conexão espiritual profunda com a Terra Santa. Pouco antes de sua morte, ele havia planejado retornar a Jerusalém para uma última visita com o élder Jeffrey R. Holland, agora membro do Quórum dos Doze Apóstolos. Mas, para sua tristeza, sua saúde debilitada o impediu de viajar.

Em 9 de março, no dia após o funeral do presidente Hunter, o presidente Hinckley acordou e não conseguiu voltar a dormir. O peso de suas novas responsabilidades e das decisões que tinha que tomar desabaram sobre ele.

Ele decidiu jejuar e passar um tempo sozinho no Templo de Salt Lake. Ele pegou a chave do cômodo no quarto andar onde a Primeira Presidência e o Quórum dos Doze Apóstolos se encontravam semanalmente. Lá ele retirou seus sapatos, vestiu os calçados brancos do templo e leu as escrituras.

Por fim, seus olhos se desviaram para as três pinturas do Salvador na parede. Uma delas retratava a Crucificação, e o presidente Hinckley pensou profundamente sobre o preço que o Salvador havia pago para lhe redimir. Ele pensou novamente em sua enorme responsabilidade como profeta do Senhor e chorou quando foi tomado por sentimentos de inadequação.

Ele voltou sua atenção para uma pintura de Joseph Smith na parede norte. À sua direita, na parede leste, havia retratos de todos os presidentes da Igreja, de Brigham Young até Howard W. Hunter. O presidente Hinckley olhou para um retrato de cada vez. Ele havia conhecido pessoalmente todos os presidentes a partir de Heber J. Grant. Eles haviam depositado imensa confiança nele, e ele os amava. Agora, enquanto olhava os retratos, eles pareciam voltar à vida. Ele sentia que os presidentes estavam observando-o, encorajando-o silenciosamente e se comprometendo em apoiá-lo. Ele não tinha motivo para temer.

Ajoelhado, o presidente Hinckley trouxe perguntas ao Senhor e, pelo poder do Espírito, recebeu Sua palavra a respeito delas. O coração e a mente do presidente Hinckley se encheram de paz e segurança, e ele sabia que tinha o intento de seguir adiante com o trabalho.

Ele já tinha decidido chamar Thomas S. Monson para ser seu primeiro conselheiro. Agora ele se sentia inspirado a chamar o élder James E. Faust como segundo conselheiro. Ainda ajoelhado, ele orou pela confirmação de sua escolha, e um calor inundou seu coração.

Tempos depois, ao refletir sobre esse dia, o presidente Hinckley se sentiu melhor sobre seu novo chamado. “Espero que o Senhor tenha me treinado para fazer aquilo que Ele espera de mim”, escreveu em seu diário. “Darei a Ele minha total lealdade e certamente buscarei Sua orientação.”


Nessa mesma época, Darius Gray e Marie Taylor visitavam regularmente a prisão estadual de Utah, onde encontravam com centenas de presos que estavam extraindo informações genealógicas dos registros do Banco Freedman.

Os voluntários trabalhavam em um centro de história da família adjacente à capela da prisão. Para chegar lá, Darius e Marie tinham que passar por uma série de portões de metal, portas trancadas e corredores vigiados. Darius tinha ficado um pouco nervoso na primeira vez que Marie o levou, principalmente nas áreas onde ficavam cercados de presidiários. Mas agora ele visitava a prisão de tempos em tempos e já estava acostumado.

Quando o projeto de extração começou, a pesquisa genealógica estava passando por grandes mudanças. Os computadores estavam rapidamente substituindo armários de arquivos e índices impressos, tornando mais eficiente o processo de coleta e acesso de dados. Durantes os anos 1970 e 1980, a Igreja começou a adaptar a nova tecnologia ao trabalho de templo e história da família. E, no início dos anos 1990, a Igreja desenvolveu o TempleReady, um programa de computador que permitia que membros nos centros de história da família, incluindo aquele na prisão, enviassem mais facilmente nomes para as ordenanças do templo.

O centro de história da família onde os presos trabalhavam tinha diversos leitores de microfilme perto das paredes. Marie conseguiu, com a Biblioteca de História da Família, uma cópia do microfilme do Banco Freedman para deixar na prisão. Após os voluntários extraírem a informação para um formulário criado especificamente para esse projeto, eles levavam o formulário para um cômodo vizinho e inseriam a informação no banco de dados de um computador. Sob a direção de Marie, os voluntários verificavam diversas vezes cada registro. Dois voluntários extraíam a mesma informação de maneira independente, e depois um terceiro comparava as extrações com o documento original, certificando-se de que a informação tinha sido transcrita corretamente.

O homem no comando daquele centro de história da família estava cumprindo prisão perpétua. Ele mantinha o trabalho bem organizado e em andamento. Darius ficou impressionado com o entusiasmo dos voluntários e com sua atenção aos detalhes. As autoridades da prisão estavam felizes em informar que os detentos trabalhando nos registros do banco não costumavam causar problemas com outros presos.

O projeto era aberto a todos os presos elegíveis, independentemente de suas crenças religiosas. À medida que Darius e Marie serviam com os voluntários, eles enfatizavam a natureza espiritual do projeto. Os presos que haviam sido criados na Igreja entendiam a importância da genealogia a fim de unir as famílias para a eternidade. Alguns desses homens não tinham como sair da prisão, mas encontraram alegria ao trabalhar para libertar outras pessoas da prisão espiritual. Darius e Marie sempre começavam as reuniões na prisão com uma oração e incentivavam os voluntários a orar à sua própria maneira enquanto trabalhavam no projeto.

Às vezes, um preso se aproximava de Darius para pedir uma bênção do sacerdócio. Ele sempre concordava. Enquanto ministrava a esses homens, que haviam cometido todo tipo de crime e delito, ele se deu conta de que eles definitivamente eram filhos de Deus.

Nessa época, a Igreja incentivava seus membros a enviar nomes de familiares ao templo, mas eles também podiam enviar nomes daqueles que não eram seus parentes. Os presos frequentemente utilizavam o TempleReady para preparar os nomes do projeto do Banco Freedman para as ordenanças do templo. Para ajudar nesse trabalho, Marie criou um “registro de família” para o templo em homenagem a Elijah Able, um dos primeiros membros negros da Igreja. O arquivo estava disponível para membros em templos nos Estados Unidos e na África do Sul. Se um membro quisesse realizar ordenanças para alguém dos registros do Banco Freedman, eles podiam simplesmente ir ao templo e pedir um nome do registro de família.

Certa noite, Darius e Marie foram ao Templo de Jordan River, em South Jordan, Utah, com vários amigos a fim de realizar selamentos para as famílias dos registros do Banco Freedman. Apesar de serem um grupo de cerca de 20 pessoas, ainda assim precisaram da ajuda de outras pessoas do templo. Ao longo da noite, eles selaram famílias que haviam sido cruelmente separadas em vida pela escravidão.

Antes de partirem, Darius e Marie tinham contado aos presos a respeito de sua ida ao templo. Darius escolheu o Templo de Jordan River porque era o mais próximo de sua casa. Mas, coincidentemente, também era o mais próximo da prisão.

Naquela noite, vários presos que trabalhavam no projeto se juntaram em uma janela num canto da prisão. A janela era estreita, mas dela era possível ver o vale do Lago Salgado, incluindo o Templo de Jordan River.

Apesar de os voluntários não poderem estar lá pessoalmente, eles apoiaram Darius e Marie silenciosamente em seu trabalho sagrado.


Durante seu primeiro ano como presidente da Igreja, Gordon B. Hinckley acompanhou a Igreja na Ásia de longe. A construção do templo em Hong Kong tinha começado em 1994 e o presidente Hinckley recebia atualizações periódicas sobre o progresso. Ele também se comunicou com os líderes da Área Ásia para ajudar a planejar os eventos de dedicação do templo.

Ele estava muito contente com o progresso da Igreja na região. Desde 1955, a Igreja na Ásia tinha crescido de mil membros a quase 600 mil. Japão, Coreia do Sul, Taiwan e Filipinas eram agora fortes centros com seu próprio templo. A Igreja estava começando a crescer em lugares como Tailândia, Mongólia, Camboja, Índia e também Vietnã. Por toda a Ásia, uma nova geração de santos jovens e fiéis estava fazendo a diferença.

Em Taiwan, Kuan-ling “Anne” Liu tinha acabado de terminar o ano letivo na escola de ensino médio Taipei First Girls, onde era a única membro da Igreja em uma escola com mais de 4 mil alunos. Como muitos estudantes em Taiwan, Anne tinha uma agenda muito cheia. Ela acordava um pouco antes das 6 horas da manhã, pegava o ônibus às 6 horas e 30 minutos e passava nove horas na escola. Após jantar, ela estudava em uma sala de aula por mais algumas horas e depois pegava o ônibus para casa às 8 horas da noite.

Ainda assim, todas as noites antes de dormir, Anne reservava um tempo para ler as escrituras. Cada vez mais, os líderes da Igreja enfatizavam o estudo diário das escrituras como um componente essencial de adoração para os santos dos últimos dias. Anne sentia que as orações e o estudo das escrituras a ajudavam a evitar o desânimo e a aprender melhor na escola. Aos domingos, quando muitos de seus colegas estavam estudando para a escola, ela frequentava uma classe de seminário antes das reuniões regulares da Igreja em Taipei. Ela também servia como pianista na ala.

“Quando vou à reunião sacramental e ouço os discursos”, percebeu ela, “minha vida é sempre mais positiva e feliz”.

Enquanto isso, Soyolmaa Urtnasan, de 21 anos, ensinava as moças no ramo da capital da Mongólia, Ulaanbaatar. Das centenas de membros no ramo, a maioria estava na adolescência ou na casa dos 20 anos, e eles tinham se tornado membros havia menos de um ano. A própria Soyolmaa tinha sido batizada havia somente alguns meses e estava muito entusiasmada. Quando ela era adolescente, seus pais morreram no intervalo de um ano, deixando Soyolmaa com raiva de Deus.

“Eu era dissimulada”, lembrou-se ela, “feliz e extrovertida por fora, infeliz e acanhada por dentro”. Para apaziguar sua dor, ela ia a festas e recorria à bebida.

As coisas começaram a mudar quando um amigo que estava pesquisando a Igreja a convidou para uma reunião sacramental. Naquele primeiro domingo, Soyolmaa teve uma sensação de paz e pertencimento que nunca tinha sentido antes. Ela logo aprendeu que poderia se tornar uma nova pessoa por meio de Jesus Cristo. Quando ouviu o plano de salvação, ela se derramou em lágrimas.

“Eu sabia que estava no lugar certo”, lembrou-se ela. Em pouco tempo, ela se tornou uma das primeiras missionárias da Mongólia.

Enquanto isso, na Tailândia, os santos entenderam a importância dos templos e fizeram sacrifícios para visitá-los. Em 1990, cerca de 200 santos da Tailândia viajaram para as Filipinas a fim de frequentar a Casa do Senhor em Manila. O custo da viagem era elevado, então muitos santos guardaram dinheiro por mais de um ano para comprar as passagens de avião.

Como presidente do Distrito Khon Kaen, na região central da Tailândia, Kriangkrai Phithakphong via pessoalmente esses sacrifícios todos os dias. Muitos membros do distrito eram pobres. Alguns, sem trabalho fixo ou renda estável, mal tinham dinheiro suficiente para sobreviver. Ainda assim, eles serviam ativamente na Igreja, participando das reuniões mesmo quando tinham que viajar longas distâncias a pé, de bicicleta ou de ônibus.

“Viajar para Manila foi um marco na história da Igreja na Tailândia”, lembrou-se Kriangkrai. “Todos trabalharam muito a fim de arrecadar dinheiro para a viagem.” Até mesmo sua filha de 10 anos vendia carvão vegetal para ajudar a família a pagar a viagem. Por fim, Kriangkrai chegou ao templo com seus filhos e sua esposa, Mukdahan, e a experiência que tiveram lá fez o esforço e o sacrifício valerem a pena.

“Sermos selados uns aos outros no templo trouxe um espírito especial para nossa família”, testificou Kriangkrai. “Agora, além de nosso filho de 16 anos querer servir missão, nossas duas filhas mais novas também querem.”


Na noite de 9 de agosto de 1995, Celia Ayala de Cruz, de 59 anos, decidiu caminhar até uma atividade da Sociedade de Socorro. Ela gostava de chegar pontualmente às reuniões, mas a pessoa que prometeu lhe dar uma carona para a igreja não tinha chegado. Felizmente, a capela ficava a somente uma hora e meia de caminhada de sua casa. Se ela saísse de casa naquele instante, conseguiria chegar à igreja com alguns minutos de antecedência. A atividade era uma aula de costura de acolchoados, e ela era a professora.

Celia vivia em Ponce, uma cidade na costa sul de Porto Rico, no mar do Caribe. Missionários serviam no Caribe desde os anos 1960, principalmente em Porto Rico e, mais tarde, na República Dominicana. Ambos os países tinham dezenas de milhares de santos. O evangelho restaurado também tinha se enraizado em outras nações e territórios do arquipélago, chegando a pessoas de diversas culturas, religiões, idiomas e etnias. Os santos estavam em cidades e vilarejos de todos os tamanhos no Caribe.

Ao sair para sua reunião, Celia estava carregando uma bolsa com uma nota de 5 dólares e uma cópia do Livro de Mórmon embrulhada para presente. Desde que o presidente Ezra Taft Benson havia desafiado os santos a renovarem seu foco no Livro de Mórmon, ela e outros membros da Igreja buscaram oportunidades para compartilhar o livro com outras pessoas. O programa do Livro de Mórmon denominado “De família a família” incentivava os santos a escrever seu testemunho na parte de dentro do livro antes de dá-lo a alguém. Inicialmente, os santos tinham que comprar seus exemplares do Livro de Mórmon, mas em 1990 a Igreja criou um fundo de doação a fim de fornecer o livro gratuitamente para qualquer pessoa no mundo.

Desde que havia se unido à Igreja, 16 anos antes, Celia já tinha lido o Livro de Mórmon várias vezes. Ultimamente, uma colega de trabalho estava passando por dificuldades no casamento, e Celia acreditava que o livro seria capaz de ajudá-la. Ela colocou um exemplar numa caixa de presente, embrulhou-a com um belo papel e amarrou um laço em volta. Dentro da caixa, ela também deixou um cartão postal, no qual escreveu seu endereço e testemunho do Livro de Mórmon. Ela estava levando o livro à Igreja naquela noite para mostrar às irmãs na Sociedade de Socorro uma maneira de compartilhar o Livro de Mórmon com outras pessoas.

Quando estava perto da capela, Celia decidiu pegar um atalho por trás de um parque. Ao passar por um portão, um rapaz alto a abordou com uma faca. Ele a empurrou, e ela caiu para trás no mato úmido.

“Você está agredindo uma serva do Senhor”, disse Celia a ele.

O rapaz não disse nada. Em um primeiro momento, Celia achou que o homem iria matá-la. Mas ele pegou sua bolsa e a vasculhou até que encontrou a nota de cinco dólares e o Livro de Mórmon embrulhado. Um sentimento de calma tomou conta dela. Ela sabia que o jovem não iria machucá-la.

“Senhor”, orou em silêncio, “se foi esse o caminho que escolheste para que esse rapaz se converta ao evangelho, ele não vai me matar”.

Segurando a faca, o rapaz pegou o dinheiro e o Livro de Mórmon e fugiu noite adentro.


Enquanto isso, do outro lado do oceano Atlântico, Willy Binene ainda estava morando com sua família em Luputa, Zaire. Não era a vida que ele tinha imaginado enquanto estudava engenharia elétrica em Lubumbashi. Luputa era uma comunidade rural e, enquanto o conflito étnico durasse em sua cidade natal de Coluezi, ele e sua família ficariam em Luputa trabalhando na terra.

Felizmente, o pai de Willy havia lhe ensinado a cultivar quando ele era pequeno, então ele já sabia o básico do cultivo de feijão, milho, mandioca e amendoim. Até a primeira colheita de feijão, porém, sua família tinha pouco para comer. Eles cultivaram para sua própria subsistência e venderam o pouco que restou da colheita para comprar sal, óleo, sabão e um pouco de carne.

Dentre os santos que haviam fugido de Coluezi por questão de segurança, cerca de 50 se estabeleceram em Luputa. Não havia nenhum ramo no vilarejo, mas eles se encontravam semanalmente em uma grande casa para adorar. Apesar de vários homens do grupo portarem o sacerdócio, incluindo o antigo presidente do distrito em Coluezi, eles não se sentiam autorizados a realizar reuniões sacramentais. Em vez disso, eles realizavam aulas da Escola Dominical, e os élderes se alternavam para liderar as reuniões.

Durante esse período, Willy e os outros santos fizeram de tudo para entrar em contato com a sede de missão em Kinshasa, mas não tiveram sucesso. Ainda assim, sempre que os santos recebiam dinheiro, eles separavam seu dízimo, esperando pelo momento em que poderiam doá-lo para um líder autorizado da Igreja.

Certo dia, em 1995, a família de Willy decidiu mandá-lo de volta para Coluezi a fim de tentar vender sua antiga casa. Sabendo que lá ele encontraria com o presidente do distrito, os santos em Luputa viram nessa viagem uma chance de pagar o dízimo. Eles colocaram o dinheiro em envelopes, entregaram a Willy e a outro membro da Igreja que viajaria com ele e se despediram.

Ao longo dos quatro dias de viagem de trem para Coluezi, Willy escondeu a bolsa com os envelopes de dízimo por baixo da roupa. Ele e seu companheiro de viagem estavam nervosos e aflitos durante o trajeto. Eles dormiram no trem e só desceram nas estações para comprar fufu (prato típico feito com farinha de mandioca) e outras comidas. Também estavam preocupados com a chegada em Coluezi, que ainda era hostil ao povo de Cassai. Mas se consolaram com a história de Néfi recuperando as placas de latão. Eles confiavam que o Senhor os protegeria e também protegeria o dízimo.

Quando finalmente chegaram a Coluezi, encontraram a casa do presidente do distrito, que os convidou para ficar lá. Dias depois, os novos líderes da Missão Zaire Kinshasa, Roberto e Jeanine Tavella, chegaram à cidade, e o presidente do distrito os apresentou a Willy e seu companheiro de viagem.

“Eles eram membros do Ramo de Coluezi”, explicou o presidente de distrito. “Eles se mudaram para Luputa por causa do que aconteceu. E agora voltaram. Eles queriam conhecer vocês.”

“Conte-me mais”, disse o presidente Tavella. “Você é de Luputa?”

Willy contou ao presidente sobre sua viagem e a distância que tinham percorrido. Então ele pegou os envelopes de dízimo. “Este é o dízimo dos membros que estão em Luputa”, disse ele. “Eles separaram o dízimo porque não sabiam para onde levá-lo.”

Sem dizer uma palavra, o presidente e a síster Tavella começaram a chorar. “Quanta fé vocês têm”, disse, por fim, o presidente de missão com a voz trêmula.

Willy foi inundado por sentimentos de paz e alegria. Ele acreditava que o Senhor abençoaria os santos em Luputa por pagarem o dízimo. O presidente Tavella os aconselhou a serem pacientes. “Quando voltarem, digam a todos em Luputa que os amo”, disse ele. “Eles são abençoados pelo Pai Eterno, pois nunca vi tamanha fé.”

Ele prometeu enviar um de seus conselheiros a Luputa o mais rápido possível. “Não sei quanto tempo vai levar”, disse ele, “mas o conselheiro vai chegar”.


Pouco tempo depois de ser assaltada, Celia Ayala de Cruz verificou sua caixa de correio. Dentro dela encontrou uma carta de uma página sem nenhuma identificação. “Perdão! Perdão!”, dizia a carta. “Você não pode imaginar como estou arrependido por ter assaltado você!”

Celia continuou lendo. O rapaz explicou como o Livro de Mórmon que havia roubado mudou a vida dele. Quando viu o livro embrulhado para presente, achou que era algo que poderia vender. Mas ele abriu a caixa e leu o testemunho que Celia tinha escrito para sua colega de trabalho. “A mensagem que a senhora escreveu no livro encheu meus olhos de lágrimas”, disse a Celia. “Desde a noite de quarta-feira, não consigo parar de ler.”

O rapaz ficou emocionando principalmente com a história de Leí. “O sonho daquele homem de Deus mexeu comigo”, escreveu ele, “agradeço a Deus por ter encontrado você”. Ele não sabia se Deus iria perdoá-lo por roubar, mas esperava que Celia o perdoasse. “Estou devolvendo seus 5 dólares”, disse ele, “pois não posso gastá-los”. O dinheiro estava com a carta.

Ele também escreveu sobre seu desejo de aprender mais a respeito da Igreja. “Quero que saiba que ainda voltará a me ver, mas não vai me reconhecer, porque, quando isso acontecer, serei seu irmão”, escreveu ele. “Não sou da mesma cidade que você, mas preciso encontrar o Senhor aqui onde moro e ir à Igreja a que você pertence.”

Celia se sentou. Desde que havia sido atacada, ela orava pelo rapaz. “Se for o desejo de Deus”, disse ela, “que aquele garoto seja convertido”.

Alguns meses se passaram e um novo ano se iniciou. Na Escola Dominical em toda a Igreja, iniciou-se o estudo do Livro de Mórmon, que duraria o ano todo. Para ajudar os santos em seus estudos, o Church News dedicou sua primeira edição do ano ao livro. A edição continha uma visão geral dos ensinamentos do Livro de Mórmon sobre Jesus Cristo, vários gráficos e artigos para ajudar os leitores a entender melhor as pessoas e os eventos descritos, e a informação sobre uma nova fita VHS com nove curtas sobre o Livro de Mórmon para complementar as aulas da Escola Dominical. Celia permitiu que a última página do jornal trouxesse um pequeno relato de sua experiência com o rapaz, incluindo a carta dele na íntegra.

Em fevereiro de 1996, Celia recebeu outra carta do jovem rapaz. Ele ainda se envergonhava demais do assalto para contar a ela seu nome, mas ele tinha visto a história no Church News e queria que Celia soubesse que ele passava bem e estava tentando mudar de vida. Ele pensava com frequência sobre ela e o Livro de Mórmon. “Sei que ele é verdadeiro”, escreveu ele. Inclusive, ele tinha se juntado à Igreja e recebido o sacerdócio recentemente. “Estou trabalhando para o Senhor”, disse a ela.

Ele contou que agora vivia perto de um templo e que o havia visitado recentemente. Apesar de não ter entrado, lá ele sentiu fortemente o Espírito e então soube que era a Casa do Senhor.

O rapaz assinou a carta enviada a Celia como “irmão na fé”. Ele expressou o amor dele por ela e sua família. Ele sabia que o Senhor tinha um propósito para ele.

“Não quero abandonar o caminho do Senhor”, disse a Celia. “Estou muito feliz.”

  1. Hunter, diário, 15 de dezembro de 1994; Scott, diário, 14 de janeiro de 1995; Hinckley, diário, 8 e 15 de janeiro de 1995; 1º, 9 e 14–15 de fevereiro de 1995; 3 de março de 1995; Monson, diário, 3 de março de 1995; Gibbons, Howard W. Hunter, p. 165; Dew, Go Forward with Faith, pp. 504–505.

  2. “President Hunter Is Eulogized”, Church News, 11 de março de 1995, p. 4.

  3. “Milestones in Pres. Hunter’s Life” e “Nine Busy Months for 14th President”, Church News, 11 de março de 1995, pp. 8, 18; Hinckley, diário, 11 de agosto de 1994; Área África, relatórios históricos anuais, 1994, p. 4.

  4. Faust, diário, 1º de novembro de 1994; Gerry Avant, “He Wanted to Visit the Holy Land ‘Just One More Time’”, Church News, 11 de março de 1995, p. 9. Tópico: Howard W. Hunter.

  5. Hinckley, diário, 9 de março de 1995. Tópicos: Gordon B. Hinckley; Templo de Salt Lake.

  6. Gray, entrevista de história oral, pp. 227–228, 232–233, 290–296; Nelson, Elijah Abel Freedman’s Bank Project, pp. 4–5.

  7. Allen, Embry e Mehr, Hearts Turned to the Fathers, pp. 289–311, 324–334; Nelson, Elijah Abel Freedman’s Bank Project, pp. 6, 8. Tópico: História da família e genealogia.

  8. Gray, entrevista de história oral, pp. 231, 234–235, 290–291, 295–298; Nelson, Elijah Abel Freedman’s Bank Project, pp. 5–8, 10; Gray, entrevista, outubro de 2022, pp. 14, 16–17.

  9. Gray, entrevista de história oral, pp. 232, 236–237, 291, 296; Nelson, Elijah Abel Freedman’s Bank Project, pp. 12–13; Taylor, entrevista de história oral, pp. 7–8.

  10. Allen, Embry e Mehr, Hearts Turned to the Fathers, p. 290; Nelson, Elijah Abel Freedman’s Bank Project, pp. 6, 8; Gray, entrevista de história oral, pp. 229–230; Taylor, entrevista de história oral, pp. 21, 26; Gray, entrevista, outubro de 2022, pp. 16–17. Tópico: Selamento.

  11. Gray, entrevista de história oral, pp. 229–230, 296–297; Gray, entrevista, outubro de 2022, p. 16.

  12. Hinckley, diário, 5 e 13 de abril de 1995; 8 de junho de 1995; 10 e 16 de agosto de 1995; 14 de setembro de 1995; 4 e 12 de outubro de 1995; 15 de novembro de 1995; 14 de dezembro de 1995; 11 de janeiro de 1996; 8 de fevereiro de 1996; 14 de março de 1996; “Ground Is Broken for Hong Kong Temple to Serve 18,400 Members in Mission, Four Stakes”, Church News, 5 de fevereiro de 1994, p. 3.

  13. Departamento Missionário, relatórios mensais de progresso para missão de tempo integral, janeiro de 1955; Deseret News 1997–1998 Church Almanac, pp. 345–347, 349–350, 375–377, 393–395, 404–405, 525; Harper, “First Decade of Mormonism in Mongolia”, pp. 19–46; Chou e Chou, Voice of the Saints in Mongolia, pp. 59–77; “Church Recognized in Cambodia”, Ensign, maio de 1994, p. 110; Gill, “The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints in India”, p. 75. Tópicos: Japão; Coreia do Sul; Filipinas; Camboja; Índia.

  14. Lu, reminiscências, pp. 1–2; Laury Livsey, “Well Schooled”, New Era, outubro de 1995, pp. 28–32. Tópicos: Taiwan; Reuniões sacramentais.

  15. Urtnasangiin, entrevista de história oral, pp. 1–12; “The Church in Mongolia”, 9 de agosto de 1994, em Carmack, diário, 31 de agosto de 1994; Chou e Chou, Voice of the Saints in Mongolia, p. 63; Briana Stewart, “Mongolia”, LDS Living, novembro e dezembro de 2012, p. 73; Don L. Searle, “Mongólia: Na escala da fé”, A Liahona, dezembro de 2007, p. 19. Tópico: Mongólia.

  16. David Mitchell, “The Saints of Thailand”, Tambuli, maio de 1993, pp. 41–43; Joan Porter Ford e LaRene Porter Gaunt, “The Gospel Dawning in Thailand”, Ensign, setembro de 1995, p. 54. Tópico: Tailândia.

  17. Cruz e Cruz, entrevista de história oral, pp. 5–7; “O jovem do livro precioso” para Celia Cruz, 10 de fevereiro de 1996, Celia Cruz, entrevista de história oral, Biblioteca de História da Igreja; Cruz, entrevista de história oral, outubro de 2022, pp. 1–2; Cruz, entrevista de história oral, dezembro de 2022, p. 1.

  18. Cruz, entrevista de história oral, outubro de 2022, p. 2; Cruz, entrevista de história oral, dezembro de 2022, p. 2; Deseret News 1997–1998 Church Almanac, pp. 317, 380; Fraticelli, “Brief Chronological History of the Church of Jesus Christ of the Latter Day Saints in the Caribbean”, pp. 31, 241–260; Deseret News 2012 Church Almanac, pp. 418, 425–426, 428, 467–468, 487–488, 491, 502, 549, 555, 596; “Pres. Winder Visits Guantanamo”, Church News, 30 de maio de 1964, p. 7; Departamento Missionário, relatórios anuais, 1995, p. 18; “Temple to Be Built in the Caribbean”, Church News, 4 de dezembro de 1993, pp. 3–4. Tópicos: Porto Rico; República Dominicana.

  19. Cruz, entrevista de história oral, outubro de 2022, p. 1; Cruz, entrevista de história oral, dezembro de 2022, pp. 2–3; Cruz e Cruz, entrevista de história oral, p. 7; John L. Hart, “When I Pray about It, I Feel All Warm Inside”, Church News, 30 de julho de 1988, p. 5; “Personalized Copy Puts You on Mission”, Church News, 21 de agosto de 1982, p. 14; Ezra Taft Benson para presidentes de estaca e outros, 11 de maio de 1979, Quórum dos Doze Apóstolos, cartas circulares, Biblioteca de História da Igreja.

  20. Departamento Missionário para autoridades gerais e presidentes de missão nos Estados Unidos e no Canadá, 18 de julho de 1994, Conselho Executivo Missionário, materiais da reunião, Biblioteca de História da Igreja; Primeira Presidência para líderes e membros da Igreja nos Estados Unidos e no Canadá, 19 de dezembro de 1990, Primeira Presidência, cartas circulares, Biblioteca de História da Igreja; “New General Fund Will Provide More Copies of Book of Mormon”, Church News, 29 de dezembro de 1990, p. 3; ver também Primeira Presidência para autoridades gerais e outros, 17 de dezembro de 1992; Primeira Presidência para autoridades gerais, 20 de dezembro de 1993, Primeira Presidência, cartas circulares, Biblioteca de História da Igreja.

  21. Cruz, entrevista de história oral, dezembro de 2022, pp. 2–3; Cruz e Cruz, entrevista de história oral, pp. 1–8; Cruz, entrevista de história oral, outubro de 2022, p. 1.

  22. Cruz, entrevista de história oral, outubro de 2022, pp. 1–2; Cruz, entrevista de história oral, 2023, pp. 1–2; Cruz, entrevista de história oral, dezembro de 2022, pp. 1, 3; Cruz e Cruz, entrevista de história oral, pp. 7–8; “Seu amigo secreto” para Celia Cruz, agosto de 1995, Celia Cruz, entrevistas de história oral, Biblioteca de História da Igreja.

  23. Lewis e Lewis, “President Sabwe Binene’s Story”, p. 2; Willy Binene, entrevista de história oral, 2019; Vinckel, “Violence and Everyday Interactions between Katangese and Kasaians”, pp. 78–79.

  24. Willy Binene, entrevista de história oral, janeiro de 2023; Willy Binene, entrevista de história oral, 20 de maio de 2020, p. 9; Lewis e Lewis, “President Sabwe Binene’s Story”, p. 2.

  25. Willy Binene, entrevista de história oral, 20 de maio de 2020, pp. 8–11; Lewis e Lewis, “President Sabwe Binene’s Story”, p. 2; Willy Binene, entrevista de história oral, 2019; Willy Binene, entrevista de história oral, 2017; Willy Binene, entrevista de história oral, janeiro de 2023.

  26. Willy Binene, entrevista de história oral, janeiro de 2023; Willy Binene, entrevista de história oral, 20 de maio de 2020, pp. 11–12; Willy Binene, entrevista de história oral, 2019; Willy Binene, entrevista de história oral, 2017; “New Mission Presidents Assigned”, Church News, 18 de março de 1995, p. 9; Directory of General Authorities and Officers, 1996, p. 70.

  27. Willy Binene, entrevista de história oral, janeiro de 2023; Willy Binene, entrevista de história oral, 20 de maio de 2020, p. 11; Willy Binene, entrevista de história oral, 2019; Willy Binene, entrevista de história oral, 2017. Tópicos: Dízimo; República Democrática do Congo.

  28. Cruz, entrevista de história oral, outubro de 2022, p. 2; “My Life Has Changed”, Church News, 6 de janeiro de 1996, p. 16; “Seu amigo secreto” para Celia Cruz, agosto de 1995, Celia Cruz, entrevistas de história oral, Biblioteca de História da Igreja.

  29. Cruz, entrevista de história oral, 2023, p. 2.

  30. William O. Nelson, “Christ’s Teachings Explained Clearly”, “A Chronology of the Book of Mormon”, “Book Is ‘Record of God’s Dealings’”, “Teaching Tool” e “My Life Has Changed”, Church News, 6 de janeiro de 1996, pp. 4–5, 8–10, 13–14, 16; Cruz, entrevista de história oral, 2023, p. 3. Tópico: Escola Dominical.

  31. “O jovem do livro precioso” para Celia Cruz, 10 de fevereiro de 1996, Celia Cruz, entrevistas de história oral, Biblioteca de História da Igreja.